Lorrayne Vanucci

Só quem já sofreu por amor sabe o quanto é complicado e acho que não tenho muita sorte. Infelizmente, já precisei juntar os cacos do meu coração algumas vezes, até achei que depois de rompimentos, traição e indiferenças, hoje estaria calejada, ledo engano.

Aos meus trinta e sete anos, tenho maturidade para lidar com diversas questões, mas, quando o assunto envolve sentimento, ainda sofro como se fosse o meu primeiro amor. No meu último relacionamento, se é que eu posso chamar assim, levei um dos piores foras da minha vida. Nunca vou esquecer o que ouvi da Joana.

- Lorrayne, desde quando nos conhecemos te avisei, não confunda tesão com paixão. O teu problema foi esse, confundiu as coisas, colocou expectativa em algo sem futuro, sou muito simpática e comunicativa, o ruim é que as pessoas acabam me interpretando mal. Quando eu disse sobre gostar de você, não foi no sentido de namorar, eu adoro ser livre, sou nova e quero aproveitar muito tudo que eu tenho direito. Vou ser franca, não quero ter nada sério contigo, amizade colorida eu topo, mas, sem cobranças e muito menos compromisso. Além disso, já te falei que não gosto de rótulos e não daríamos certo, somos muito diferentes. Espero que você tenha me convidado para esse jantar, só para nos encontrarmos, saborear a culinária deliciosa daqui e por favor, nem venha novamente com história de namoricos.

Ela disse tudo isso sem cerimônia, antes mesmo de jantarmos, fiz questão de fazer uma reserva no restaurante favorito dela, a humilhação só não foi maior pelo fato de não ter tirado a aliança do bolso, ouvir tudo aquilo doeu, não consegui mais fingir que estava tudo bem, levantei e fui embora, não queria chorar na frente dela, mas, depois chorei muito, coloquei toda a dor para fora. Nos dias que se passaram, pelas redes sociais vi que ela estava curtindo muito a vida e sem sentir a minha falta, resolvi vender o par de alianças que tinha comprado, não fazia sentido deixar guardado e o melhor era esquecê-la, para o meu próprio bem, bloqueei a Joana de tudo, com objetivo de colocar um ponto final e parei de frequentar a academia que ela trabalha, local que nos vimos pela primeira vez e que ela faz estágio, por conta do curso de educação física.

- São três anos treinando no mesmo lugar, estamos acostumados e vamos sair por conta de uma garota que você conheceu ontem.

- Léo, foram cinco meses ficando com ela e acabou nem dando em nada, preciso superar e prefiro me afastar.

- Gata, foi melhor ela ser sincera, pensa comigo, seria pior se ela tivesse te iludido.

- Nem precisa de ninguém para fazer isso comigo não, eu sozinha já me iludo (lamentei).

- Ainda bem que sou piranha, Deus me livre ser romântica igual a senhora, com tanto homem gostoso disponível.

- Você diz isso até se apaixonar e farei questão de ser madrinha (comentei e convenci meu melhor amigo para mudarmos de academia).  

Decidi focar toda a minha atenção no trabalho, enquanto tenho azar no amor, sobre a minha profissão não tenho queixa alguma, tenho estabilidade financeira, sou jovem e já tenho uma carreira consolidada; atuo como fotojornalista e coleciono prêmios desde os primeiros concursos que participei, ainda na faculdade. Descobri a minha paixão por fotografia na adolescência, a minha mãe sempre me incentivou, me colocou em diversos cursos e na minha área sou conhecida por ter um olhar apurado, experiente e criativo; já fiz muitas viagens e exposições, tenho paixão em fotografar as brasilidades e almejo um dia ser referência dentre os grandes nomes do fotojornalismo brasileiro.

Uns três meses depois da minha tentativa frustrada de iniciar um novo namoro, resolvi que precisava de novos ares, já tinha um bom tempo que eu não fazia um mochilão, fiz algumas pesquisas e desta vez escolhi como destino, Portugal, anteriormente quando fui foi a trabalho e queria ter aproveitado mais, por isso, resolvi voltar. Comecei meus passeios pela bela Lisboa, que eu já conhecia e a cada dia comecei a conhecer outras cidades, passei por lugares maravilhosos, repleto de pessoas interessantes e culturas diferentes; decide curtir a minha viagem intensamente, em Sintra conheci uma ruiva que vive como nômade, chamada Tatiana Fyonjy, passamos uma noite inteira juntas, papeamos, jantamos, fui até parar no hotel dela e tivemos momentos muito prazerosos; se não fizermos loucuras na vida, não teremos histórias para contar e depois dessa noite intensa, me senti até mais leve e tive a certeza que tinha superado a minha última frustração. Continuei o meu mochilão e foram dias incríveis, funcionaram até como terapia. No penúltimo dia em terras portuguesas, notei que uma moça tirou uma foto minha e ela ficou com a face toda vermelha quando me aproximei, observei a câmera Yashica, conheço bem o equipamento que estava pendurado em seu pescoço e que ela também segurava com uma das mãos, reparei no esmalte vermelho descascando na ponta das unhas, depois subi o olhar, me concentrei naquele rosto lindo e sorri.

- Boa tarde, estou no meu horário de almoço e estava tirando fotos daqueles pássaros, quando te vi passando, achei a senhora muito elegante, agora estou até envergonhada (explicou).

- Por ter tirado a foto sem pedir autorização (destaquei admirando a beleza dela).

- Desculpa (falou acanhada).

- Não tem problema, espero não ter ficado feia na foto (disse com objetivo de tranquiliza-la).

Ela voltou a me olhar, sorriu tímida e eu senti muita vontade de provar daquele lábio rosado.

- Prazer, Lorrayne Vanucci (estendi a minha mão direita e ela apertou com suavidade).

- Meu nome é Kimberli, mas, pode me chamar de Kim.

- Sou do Rio, você também é brasileira?

- Sim, nasci no interior da Bahia, tem quatro anos que moro aqui em Portugal, não vejo a hora de voltar para o Brasil, estou com muitas saudades da minha família e estou tentando guardar dinheiro para voltar no final do ano (contou com simplicidade).

- Se quiser pode voltar comigo, retorno amanhã e não precisa se preocupar com a passagem.

- Mentira! Só pode ser brincadeira (falou com os olhos brilhando).

- Acabamos de nos conhecer, entendo se você ficar com medo, mas, te garanto que não vou lhe fazer mal, posso te auxiliar, não vai me fazer falta e gostei de você.

Feliz ela me abraçou como se fossemos velhas amigas, não consegui me segurar e uni os nossos lábios, que beijo maravilhoso, foi neste dia que encontrei a mulher da minha vida e deixei de ser azarada no amor.    

Fim do capítulo