Capitulo 8 - Aline Caire
Minha vida sempre foi muito certinha, tive uma infância feliz, uma adolescência como todas as outras garotas. Estudava, tinha namoros curtos, alguns amigos, a maioria cresceu comigo, estudaram comigo e já adultos, cada um trilhou por um caminho.
Sou a filha caçula, Médica, apaixonada pela minha profissão, cai no segmento da Medicina do Trabalho, digamos, que foi mais por necessidade familiar.
Meus pais Tereza e Marcelo, minha mãe era Médica e o meu pai Engenheiro Civil. Dessa união nasceram:
O mais velho Igor, 40 anos, casado com Fernanda, pai de dois filhos, Gabriel e Vitória. Seguindo os passos do nosso pai, se tornou um dos melhores engenheiros do estado do Espirito Santo.
E eu, hoje Dra. Aline Caires, que desde sempre sabia que Medicina era a minha paixão, segui os passos da minha mãe e escolhi a Pediatria, sou louca por crianças. Porém, com a morte dos meus pais, assumi a área médica da construtora Caire S.A, além de administrar o hospital. Para a minha sorte, a equipe administrativa é extremamente competente, o que me permite, dividir o meu tempo entre o hospital e a construtora.
A cinco anos atrás, meus pais voltavam da nossa chácara em Guarapari, quando sofreram um acidente de carro e tiveram morte instantânea. Ao receber a noticia da morte dos dois, fiquei em choque, jamais imaginaria que tão cedo, precisaria me acostumar a viver sem a minha base, sem o meu alicerce. E uma dor insuportável, dilacerante.
Decide continuar morando na casa que antes dividia como os meus pais, uma propriedade relativamente grande, muito bem planejada por meu pai, que fez questão de ter conforto e dispensou o luxo. Pensando em Igor, meu irmão, fez uma quadra de tênis e em mim, uma piscina. Eu, como todo, ou quase todos os cancerianos, adoro água.
Após a morte dos meus pais, decide dar uma pausa em praticamente tudo, principalmente em um namoro abusivo, que já durava 3 anos. Precisava seguir em frente, ajudar o Igor a tocar os negócios da família, e focar no que realmente era importante.
Eu jamais imaginei o quanto seria difícil, cuidar do hospital e da construtora sem os meus pais. O Igor, sempre teve um jeito mais durão, mas eu sabia o quanto estava sendo difícil pra ele, seguir em frente. Ele buscava forças na Fernanda, uma jornalista brilhante, e nos filhos, Gabriel com sete anos e Vitória com três, que não chegou nem a conhecer os avós paternos, fato que deixava o meu irmão ainda pior.
Em acordo com o meu irmão, deixei ele a frente da construtora e eu dava suporte apenas na área médica e cuidava das contratações administrativas, enquanto ele cuidava dos contratos, projetos e contratações operárias.
No hospital, ele me ajudava com os fornecedores, e eu cuidava de todo o restante, e ainda encontrava tempo para dar os plantões na pediatria, coisa que eu jamais abriria mão.
Passei alguns dias afastados da construtora, mas sempre estava em contato com a equipe que cuidava da saúde dos operários, alguns assuntos eles conseguiam resolver facilmente, mas outros eu fazia questão de participar. Embora minha especialização fosse a pediatria, fiz uma pós em Medicina do Trabalho, justamente pra cuidar dessa área na construtora, e ajudar o Igor de alguma forma.
Duas semanas atrás, recebi uma ligação do meu irmão, na qual ele me informou, que o contrato com o Engenheiro do Trabalho havia encerrado, e não seria renovado porque o mesmo iria morar fora do país, ou seja, iria começar a batalha para encontrar outro profissional.
Justamente naquela semana, eu estava extremamente sobrecarregada no hospital, e pedi a Alice, a secretária da construtora, que me enviasse por e-mail, todos os currículos, que eu, como de costume iria tentar selecionar os melhores.
Jamais imaginei que seriam tantos, mas precisava ser muito cuidadosa na escolha, afinal de contas Engenheiro de Segurança do Trabalho, tem a responsabilidade de manter todos em segurança, de zelar pela vida de todos e fazer com que as atividades sejam executadas de forma que minimizem os riscos de acidentes e doenças ocupacionais.
Reservei uma manhã inteira só para analisar os currículos, e por volta do meio dia, ainda não tinha encontrado o profissional que enchesse os meus olhos. Sempre que abria um processo seletivo, todos os currículos eram enviados para o meu e-mail corporativo. Mas adquiri o hábito de selecionar os melhores, e imprimir, sentir o papel, me dava a sensação de sentir a energia do profissional. Não dizem que de Médico e louco todo mundo tem um pouco?
Claro, que a escolha propriamente dita, era feita pelo RH, que cuidava das contratações tanto do hospital, quanto da construtora. A minha tarefa era selecionar os melhores e a deles escolher o melhor dos melhores.
Escolhi cinco currículos e espalhei em cima da minha mesa, precisava escolher com urgência, o cargo era de extrema importância, a vaga precisava ser preenchida ainda naquela semana.
Bati o Marcelo, e só precisava informar a Alice, quais os selecionados para o processo seguinte. Relaxei um pouco na cadeira e mentalmente pedi ao meu pai que ajudasse na melhor escolha, ele mais do que ninguém cuidava dos seus “garotos”, como ele mesmo costumava falar.
Ainda estava de olhos fechados, quando escuto a impressora fazer um barulho e logo em seguida, sai algumas folhas e caem no chão, provavelmente, era alguma impressão pendente.
Tirei o Scarpin que estava usando, me aproximei da impressora, me agachei e apanhei as folhas, voltando logo em seguida para a minha mesa.
Comecei a analisar o currículo, e de imediato senti um arrepio tomar todo o meu corpo. Sou católica, respeito todas as crenças, e aprendi com os meus pais a não ignorar os sinais, sejam eles qual forem.
Tem um fato que acontece algumas vezes comigo, que eu nunca consegui decifrar, é uma sensação muito estranha, acontece quando estou tensa, nervosa, agitada, e quando peguei as folhas que haviam caído, senti com uma intensidade absurda. As mãos ficam geladas, começam a formigar, é algo tão forte que tenho a sensação que estou congelando por dentro, chega até a doer a palma das mãos. Isso eu nunca consegui descobri o que é.
Sem pensar duas vezes reenviei o currículo para a Alice, e pedi que a Sra. Nicole Oliveira fosse entrevistada, junto com os outros, ainda essa semana, e que precisava de um contrato fechado até sexta, que provavelmente na segunda ou terça iria conhecer o novo Engenheiro de Segurança do Trabalho.
Apesar do restante da semana, ter transcorrido normalmente, durante todo o final de semana estava sentindo uma ansiedade sem explicação, não conseguia fazer nada sem me distrair, sem perder a noção do tempo. E por esse motivo resolvi ficar em casa, mesmo sentindo a necessidade de sair, curtir um pouco a noite capixaba, de tomar um bom vinho, ou quem sabe beijar uma boca gostosa, coisa que eu não fazia a muito tempo.
Meu relacionamento com o Frank deixou marcas difíceis de serem apagadas. Palavras duras, bebedeiras que geralmente terminavam com uma discussão e por fim um tapa, esse foi o ápice que levou ao termino. Desde então, não me envolvi sério com mais ninguém, apenas aventuras e trans*s ocasionais. O sobrenome Caires, tem um peso considerável na sociedade capixaba, e atraia na sua maioria homens que enxergam primeiro as cifras, antes de qualquer coisa.
Um hábito que eu tinha quando estava sozinha em casa, era andar pela casa, sempre descalça, na maioria das vezes apenas de camiseta e calcinha, tomando um bom vinho e ouvindo uma boa música. Esse hábito era praticamente um ritual, sempre aos domingos a noite, era uma forma de relaxar e me preparar para mais uma semana. Segunda feira, por mais que eu tentasse mudar algumas coisas, sempre era um dia agitado, e como eu havia marcado de conhecer o novo Engenheiro na segunda no primeiro horário, iria quebrar uma rotina. Que geralmente começava no hospital, as segundas eu geralmente visitava uma creche, prestando serviços como Pediatra voluntaria, porém, deixaria essa minha tarefa para a terça, e o motivo nem eu mesma sabia.
Terminei de tomar uma taça de vinho, nunca passava disso, apenas uma, e subi para o segundo andar da casa, onde ficava o meu quarto, tomei banho sem pressa, e liguei o ar condicionado, e entrei embaixo do edredom. Não importa como esteja o tempo lá fora, que geralmente, é quente. Eu sempre durmo com o ar ligado e com um edredom, seria melhor ainda, uma boa companhia, mas nem sempre temos tudo que desejamos.
Eu não costumo sonhar com frequência, e quando sonho, dificilmente lembro. Mas, naquela noite, eu tive a sensação de estar vivendo aquela cena.
Meu pai, sentado embaixo de uma árvore e eu do lado dele, questionava porque era tão difícil tomar decisões. Ele tinha um jeito todo especial de falar comigo, sempre olhando nos meus olhos, quando o assunto era sério. A última frase que ficou gravada no sonho foi: Eu vou mandar um anjo pra te ajudar!!!
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Fim do capítulo
Trabalhar em pleno domingão é preciso...kkk
Quase duas mil visualições, nada mal.
Capitulo prontinho, posto quando bater dois mil....kkkk, não esquecendo os comentários, a autora agradece muitisssimo.
Comentar este capítulo:
olivia
Em: 05/07/2021
Que maravilha de capítulo, gatissima essa Aline ,quero saber tudo cor dos olhos altura , cabelo !! Amando cada parágrafo!! O amor é lindo!!!!??????????
Resposta do autor:
Se eu nao estiver enganada, no capitulo 9, falo um pouco da Aline, mas prometo que irei explorar mais essa beleza de mulher.
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