Capitulo 6 - A toda poderosa
O dia não poderia ter amanhecido mais lindo, estava perfeito, e eu não pensei duas vezes ao sair da cama. Acordei uma hora antes do programado, coloquei o tênis e resolvi fazer algo que não fazia a muito tempo, correr. Nada me dava mais satisfação mental do que correr e depois sentar para ver o mar.
Eu sempre fazia minhas caminhadas ou corridas, em uma estrada de terra batida, que liga duas praias que são mais do que conhecidas para mim, e muitas vezes fiz esse trajeto, a pé, de bike, e as histórias dessas aventuras são inúmeras.
Hoje seria uma corrida rápida, mas seria o suficiente de ativar toda a adrenalina possível e me dar energia suficiente para enfrentar o segundo dia na construtora.
Como de costume, fui diminuindo o ritmo, quando estava retornando para casa, e para a minha surpresa vi a que caverna estava. Obviamente, fiquei preocupada, porque o digníssimo proprietário e amigo, costuma virar as noites e só fecha quando o ultimo cliente fecha a conta.
Mesmo sabendo que ele está chateado comigo, me aproximo do bar e chamo por ele.
_ Caverna, tudo bem por ai ?
_Nossa achei que o whisky estava me causando alucinações_ Meu amigo me responde.
_Bom dia, estava voltando, vi a caverna aberta, está tudo bem ?
_Sim, uma turma de turistas do Nordeste acabaram de sair, esses seus conterrâneos não dormem?
_Nascemos ligados no duzentos e vinte_ Respondi
_Posso passar aqui a noite, preciso conversar com você?
_Nunca fechei a porta pra você, muito pelo contrário, você que fechou a sua vida pra mim.
_Passo aqui a noite, senti a sua falta!!!
Acenei e sai de cabeça baixa, não tinha como ser diferente. Eu sabia que tinha magoado muito o meu grande amigo. Ele é o tipo de pessoa que acolhe todo mundo, da bronca, e mesmo sendo tão bruto, seco, ninguém consegue ficar longe dele, acho que só eu consegui essa façanha.
Paulinho, é muito amigo da Luciana, e pra não criar um clima chato entre os dois , e evitar contato com ela, eu resolvi me afastar. Sentia a falta dele todos os dias, das nossas conversas regadas a whisky, que por sinal é a minha bebida preferida, mas parei de beber por motivos óbvios. Eu bebia mais socialmente, quando reunia a turma lá em casa, e por causa do tratamento abri mão de tudo isso, whisky, farras, noites mal dormidas...
Segundo dia na construtora e eu chegaria no limite do horário, que para a construção civil, geralmente as atividades começam as sete da manhã, alguns chegam mais cedo, para tomar café e se organizar para começar as atividades.
Mais uma vez não iria conseguir tomar o café da manha em casa, e também não daria tempo de passar na casa do meu casal preferido. Mas como, trabalho no sábado até o meio dia. Vou tentar mascar um almoço no domingo, que por sinal, cozinhar, é uma das minhas paixões.
Me arrumei bem rápido, e apesar da obra, ser um local onde é muito fácil sair coberta de poeira, resolvi colocar uma calça mais clara e uma camisa branca, já sabendo como vou ficar durante o dia, coloco outra roupa na mochila.
Cheguei na obra pontualmente as sete, provavelmente a maioria dos funcionários já estavam iniciando suas atividades. E como estávamos na fase inicial, iria rapidamente fazer uma vistoria pra me certificar que todos estavam seguindo as minhas orientações do dia anterior no que estava relacionado a proteção individual.
Coloquei o capacete, que por sinal tinha uma plotagem, na parte de trás, uma foto linda da Adele, outra paixão na minha vida, sou completamente fascinada por essa mulher.
Conforme ia caminhado pela obra, ia cumprimentando os funcionários, e verificando se todos estavam usando EPI’s e se todos os pontos de atenção estavam sinalizados ou isolados.
Em obras desse porte era muito comum, acidentes acontecerem por falta de atenção, por quebra de processos, e dependendo da situação o dano pode ser extenso, grave, e tirar a vida de uma pessoa.
Finalizei a vistoria e sai em direção ao refeitório, era visível, os olhares de curiosidade em minha direção, alguns eram indecifráveis, outros apenas naturais. Uma mulher na função de Engenheira de Segurança do Trabalho, na Construção Civil, lésbica, um capacete nada discreto, uma calça justíssima, um metro e setenta tem distribuídos em uma calça justíssima e uma blusa com alguns botões abertos, mostrando uma inseparável regata branca, despertava no mínimo curiosidade.
No refeitório, fui muito bem recebida por Maria e as outras meninas, e ainda consegui tomar café, o dia seria corrido, pra variar, e ainda havia inúmeras situações que eu precisava me familiarizar, e antes de qualquer outra coisa, precisa ver como andava o planejamento para a vacinação na sexta.
_Bom dia Alice!_ Falei entrando no escritório.
_Bom dia Nicole!_ É impressão minha ou o olho dessa garota brilha quando me ver?-_ Falei com os meus botões.
_Conseguiu ver com a equipe da saúde a compra das vacinas? _Perguntei já sentada, folheando minha agenda.
_Dra. Aline informou que conseguiu comprar, porém, só conseguiu a entrega para a segunda.
_Dra. Aline? Quem seria ?
_É a Médica do Trabalho, responsável por todas as obras da construtora. Tudo tem que passar por ela, ela decide tudo relacionado a saúde de todos os funcionários. _ Falou erguendo uma das sobrancelhas, o que eu entendi como deboche.
_ Certo, você sabe qual o dia que posso falar com ela? Acredito que ela não entendeu que a obra não deveria ter iniciado sem que todos estivessem vacinados ?
_Ela estará aqui amanhã! Mas adianto que ela é a queridinha do chefe, a intocável.
_Perfeitamente, mas isso não isenta ela de responsabilidade, correto?
_Vou ao almoxarifado, verificar se o restante dos equipamentos chegou, a fase de alvenaria tem prazo pra começar e o trabalho em altura é impossível de ser feito ser proteção adequada. Avise-me caso consiga confirmar a presença da toda poderosa na obra amanhã_ falei em tom de brincadeira, mas sentindo que teria problemas com a Dra. Aline.
Quanto me aproximo do almoxarifado, escuto o barulho do portão principal sendo aberto, e pelo carro deduzi que poderia ser o Dr. Igor, afinal de contas, nós reles mortais, não teríamos grana pra comprar um carro daqueles, recém lançado no mercado, um Hyundai Palisade branco, um carro com capacidade para oito pessoas, enorme. E até onde eu sei não seria certeza ser lançado no Brasil.
Em um piscar de olhos, ouvi outro barulho e quando olhei novamente, a imagem que eu tive foi da minha moto caída ao lado do carrão.
Me aproximei do lado do passageiro, e ergui a moto, procurando ver se tinha danificado alguma coisa, meu coração estava disparado, aquela moto era a minha paixão, só não foi pior porque eu estava isenta de culpa, e no terreno tinha bastante areia, o que acabou amortecendo a queda.
Eu tentava tirar o restante da terra que ficou na moto, quando escuto o barulho de uma porta sendo aberta, e ouço alguém falando:
_ Bom dia, vou pedir pra alguém levar a moto na oficina, me desculpe pelo transtorno, manobrei para dar ré e não vi a moto.
A cena que se seguiu foi no mínimo ridícula. Fui erguendo o corpo aos poucos, e por cima da moto tive a visão mais especular de toda a minha vida. Na minha frente, estava uma morena, com um corpo de dar inveja a qualquer mulher, perfeita. Os olhos cor de mel, o cabelo preto que ia até o meio das costas, um cheiro maravilhoso que eu nunca havia sentido igual.
E eu toda suja de poeira, de capacete, as mãos sujas de terra e com uma cara de idiota, que só vendo pra crer.
_Sou a Dra. Aline, muito prazer, você é a Nicole, vi o seu currículo, bem vinda a construtora.
Acredito que fiquei de boca aberta e ela com a mão estendida por quase um século, e se o Felipe não tivesse gritado por mim, provavelmente teria ficado o restante do dia admirando aquela Deusa.
_Desculpa, Dra. Aline, sim sou a Nicole, Engenheira de Segurança_ Falei limpando a mão na calça e estendendo para cumprimentar ela.
_ A moto não sofreu nenhum dano, não se preocupe.
_Eu achei que a Sra só viria amanhã, precisamos mesmo resolver o problema das vacinas _ Falei ainda envergonhada.
_Já está tudo no carro, só preciso que alguém guarde na geladeira, podemos marcar o dia da vacinação coletiva, só preciso dar uns telefonemas antes da nossa reunião.
_Fique a vontade, só vou ajudar o Felipe a guardar tudo e estarei na obra, mande alguém me avisar.
_Com certeza, eu te acho!!!
A visão agora tinha melhorado sem por cento, que mulher era aquela, que bunda, que cabelo. Só parei de olhar porque ela entrou no escritório. Foi aí que tive a certeza que estava completamente ferrada.
Olhei para o céu e falei: É sério que você vai fazer isso comigo?
Fim do capítulo
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