Capitulo 12 - O Cálice Mais Desejado
— Meu Deu, você é muito gostosa!
Júlia soltou quando saí de cima dela e rolei para o lado. Busquei meu celular na cabeceira da cama e forcei os olhos para conferir a hora… Duas e quarenta da manhã e eu não queria virar a noite com mais uma sessão de reflexão pós sex* que meu cérebro teimoso e inconveniente fazia sem meu consentimento, por isso me ajeitei tentando pegar logo no sono. A respiração ofegante de Júlia ainda dava para ser ouvida quando ela se virou me abraçando pela cintura, seu pequenos cachos negros me fizeram cócegas no braço e eu sorri brincando com meus dedos em seu rosto.
— Você também é muito gostosa. — Respondi beijando sua boca e depois seus dedos que pousavam em meu peito.
— E essa carinha?
Júlia era afiada como um bisturi, nada passava desapercebido por ela, claro que havia reparado em meu jeito mais distante e eu não queria que ela se incomodasse com isso, ela era legal demais comigo e eu sinceramente amava ela e sua companhia.
— Cansada… — Bocejei para dar mais veracidade às minhas palavras. Ela pareceu acreditar por que passou a acariciar meus cabelos e sussurrar uma música que eu não conhecia. Dormi agradecida alguns minutos depois.
Acordei com um cheiro maravilhoso de café e pão na chapa e meu sorriso foi tão espontâneo quanto meu estômago roncando.
— Bom dia raio de sol! — Ela me saudou com aquele sorriso branco contrastando com sua pele de ébano quando entrei na cozinha. Parecíamos o casal perfeito.
— Você sabe como conquistar uma mulher pela barriga. — Abracei seu corpo afundando meu rosto nos seus pequenos cachos.
Júlia era uma grande amiga que conheci em um dos cursos de fotografia que fiz no meu primeiro ano de intensivo nesse ramo. Apesar de ser uma psicóloga muito bem renomada e não fazer ideia do que fazia em um curso de fotografia, se aventurou sem medo buscando novos ares e também se apaixonou, mantendo o hábito apenas como passatempo. Achávamos engraçado uma psicóloga perdida tirando fotos aleatórias, mas seu jeito espontâneo e carismático conquistou toda a turma e nos envolvemos assim que o curso terminou. Era um relacionamento leve e sem cobranças, ela tinha seus envolvimentos com outras mulheres, enquanto eu vivia entre minha câmera, alguns trabalhos e Beatriz. Essa última sendo a que mais me causava dor de cabeça, pelo ciúmes desnecessário pela psicóloga.
Eu estava um tanto inquieta o que Júlia percebeu de pronto. Tentei disfarçar, mas ela sabia mais sobre mim do que eu mesma. Consequências de se relacionar com uma profissional do psiquê.
— É aniversário dela, não é? É por isso que a senhorita está inquieta… — Júlia me puxou para seu colo desarrumando meus fios recém penteados. Me ninou como um bebê e eu ri desconfortável. — Liga para ela, boba!
— Eu não teria coragem… E mesmo se tivesse, não saberia o que dizer. — Isabella faria vinte e dois anos naquele ano. Era o ano que também se formaria em Fisioterapia pela USP de Ribeirão Preto, eu me orgulhava tanto que mal me continha, queria poder dizer como estava feliz por ela ter conquistado o que desejava, seu esforço nos estudos não fora em vão.
— Tenho certeza que vai saber, você é ótima com as palavras… E com a boca também, admito.
Aquele sorriso safado de Júlia, sua mão entre minhas pernas… Nos beijamos, entrelaçadas em braços, pernas e línguas, mas meus olhos fechados visualizavam apenas uma cor. Azul.
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— Bella, seu celular está tocando.
A voz do tio Fábio me deu um pequeno susto, meu coração obviamente disparava como em todas as vezes que meu telefone tocava na semana do meu aniversário e eu me sentia uma perfeita idiota por ainda esperar que ela ligasse, mesmo ciente de que ela não tinha meu número. Me sentia tão ingênua que revirava os olhos para mim mesma. Larguei os livros de Fisioterapia Funcional Infantil aos quais eu mergulhava para meu TCC e corri em busca do meu celular que tinha ficado no sofá da sala. Atendi apressada em não deixar a ligação cair.
— Alô? — Tampei a boca com a mão, minha respiração pesada e ofegante. Fechei os olhos quando ouvi a voz do outro lado.
— Oi Bee, nossa que demora, hein? — Ulisses, meu melhor amigo da faculdade, parecia estar dentro de algum banheiro, no outro lado da linha.
Engoli em seco, ao mesmo tempo aliviada e decepcionada.
— Diz pra mim que você não está fazendo o número dois enquanto fala comigo... Já avisei que não curto essas “paradas” suas. — Eu queria sacudir esse ser humaninho de um metro e noventa que não tinha o menor Semancol e sempre me ligava nessas ocasiões, intimidade é mesmo uma merd*.
— É o único momento que posso falar a vontade com você, do banheiro aqui de fora eles não escutam. Bee, você fez o trabalho da Jorgette?
Os pais mega ultra religiosos não aceitavam a sexualidade do meu amigo de faculdade, e o pobre coitado do Ulisses vivia fingindo o perfeito hétero, mesmo possuindo todos os trejeitos e efeitos que uma mona destruidora poderia ter. Apesar dos esforços, ele só arrasava mesmo na pista, por que na faculdade vivia pedindo ajuda em quase todas as matérias. Eu não o culpava, Fisioterapia era um curso que exigia uma dedicação extrema e eu tinha um carinho e paixão imensos pelo curso que havia escolhido, já meu amigo não seguira exatamente seu desejo, que desde a infância era fazer Teatro… Coisa que os pais jamais aprovariam.
— Sabia! Afinal, por qual outra razão você ligaria... — Fui para o quarto e depois de fechar a porta me joguei no colchão do chão. — Uli, preciso conversar...— Soltei antes que ele dissesse algo.
— É sobre ela, não é?
— Aham.
Pelos próximos trinta minutos fui obrigada a ouvir o sermão agudo do meu amigo, sobre como eu precisava me “empoderar” mais, ter mais confiança em mim mesma, além de parar com a frescura (e eu guardei muito bem essa palavra) e ligar de uma vez para Micaela e tentar fazer ela perceber que éramos adultas e livres para fazer o que bem entendêssemos. Realmente Ulisses às vezes era demasiadamente sensato, claro que isso não excluía o fato dele ser extremamente irritante quando tinha razão. Mas ele esquecia de um pequeno detalhe, que de pequeno não tinha nada e esse detalhe tinha nome e sobrenome. Maria Paula. Conheci a Mapê em um Lual que Fernando me levou alguns anos atrás e nosso relacionamento se baseava em sex*, ciúmes doentio que ela tinha por qualquer ser vivo que eu direcionasse a palavra e muitas, mas muitas brigas e idas e vindas. Namoramos sério cerca de um ano, apresentei ela para mamãe e tio Fábio, mas sem entrar em detalhes, simplesmente era uma amiga que dormia aos finais de semana comigo. Infelizmente nunca questionaram sobre esse assunto, era implícito e ninguém se atrevia a dizer ou perguntar. Mas eu desejava ardentemente que fizessem, somente para ter o gostinho de mostrar que não era Micaela que me “fazia” assim. E tirarem ela de mim foi a coisa mais dolorida que já passei na vida, mas eles fingiam que ela era apenas uma amiga.
Depois que terminei com Maria Paula, pelos motivos mais óbvios que um relacionamento tóxico possa ser, acabei por deixar a carência me levar em alguns “remembers” com ela. Era bom e ao mesmo tempo horrível, pois eu sabia que ela nutria esperanças de reatar enquanto eu nutria apenas vontade de saciar minha sede que era de uma só pessoa. Esse amor platônico e adolescente um dia ainda me mata. Mas isso não era tudo, eu tinha plena certeza que Micaela seguira sua vida, eu não podia simplesmente aparecer cobrando algo que nunca tivemos ou tentando reatar um romance fadado ao fracasso antes mesmo de ter começado.
— Eu odeio quando você minimiza tudo, sabia? — Eu quase rosnei de volta quando ele finalmente deu uma pausa. — Faz anos que não falo com ela, não é tão simples assim, ela deve ter seguido a vida dela.
— A Camila quer saber se você vai no aniversário dela na sexta-feira... — Ele ignorou completamente minha fala, direcionando ao assunto de próprio interesse como sempre e eu quis entrar no telefone e agarrar seu pescoço.
— Não sei não Uli... Não quero dar falsas esperanças para ela, sabe? E a Mapê tá na minha cola, tem me ligado todos os dias.
— Garota ela só quer uns beijos, credo! Vocês sapinhas acham que tudo já é motivo pra ter cuidado de “não se envolver”... Envolver no quê, minha filha? Não vão virar sócias não, nem casar, credo! Só bater uns bifinhos e tirar o atraso. E eu nem vou te dizer que nunca mais falo contigo se você voltar com essa jararaca da Maria Paula, por que isso já é óbvio!
— Eu amo a sua sutileza. — Eu realmente gostaria de poder matar a vontade que estava de beijar uma boca, contudo a única boca que eu queria estava há mais de trezentos quilômetros distante de mim. — Dar uns beijinhos seria muito bom mesmo, mas queria outra boca... — Acabei soltando sem pensar.
— Aaaaahhhhh minha Santa Rosinha das Sapatões Obcecadas e Reprimidas!!! Isabella, você vai esperar essa garota até quando? Isso é doença, sabia? Você vai acabar virando livro ou série com essa doideira, credo!
— Se você falar “credo” mais uma vez, eu deixo você fazer esse trabalho sozinho! — Ameacei ciente de que tudo que ele disse era a mais pura verdade, porém euzinha jamais admitiria.
— Vou avisar Camilinha que você vai! Só para ela não esquecer de “bater a Gillete”… E a senhorita vê se muda de número, essa monstra ainda vai te dar dor de cabeça. Melhor era pedir uma medida protetiva.
Eu gargalhei achando um absurdo como ele maximizava algumas coisas e minimizava outras, eu adorava assim mesmo esse maluco purpurinado.
Assim que passei quase todas as respostas do trabalho para Ulisses e fiz ele prometer, jurando por todos os seus CDs da Madonna, que ele iria mudar a escrita para não dar na cara que foi cópia, finalmente desligamos. Mas não me levantei de imediato, fiquei vários minutos olhando para o aparelho, mordendo a lateral do lábio, tentando tomar coragem para o que sempre desejava fazer, mas nunca fazia.
E assim como em várias centenas de outras vezes, desde que estávamos separadas e eu não consegui ligar, acabei sonhando com ela. Acordei desolada, pois sabia que estava entrando naqueles períodos em que ela não me saía da cabeça nem por um segundo sequer e meu desejo alcançava patamares assustadores que me fazia ter pequenos “blackouts”. Quem me conhecia e sabia da minha história com Micaela já não se surpreendia e eu agradecia aos meus amigos mais íntimos, principalmente Fer e Uli, que me mantinham sã e longe de períodos depressivos. Com certeza se ela estivesse ali diria algo como “Curta o momento, esqueça o passado”, mas como esquecer os melhores momentos da minha vida?
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É hoje. Depois de cinco longos anos voltarei para Ribeirão Preto, apenas para revê-la. Inacreditável como meu coração ainda não havia infartado ante tantas pontadas que eu levara aquela semana. Suava frio, mas valeria totalmente a pena todo aquele estresse de ansiedade pré evento, por que poderei matar a saudade do azul oceânico e o cheiro do cabelo mais cheiroso do mundo, assim como o som da sua voz. Se estou nervosa?
— Micaela, por favor se acalma! — Júlia pegou em meus ombros me fazendo parar. Eu rodeava a sala, dando voltas ao redor do sofá.
— Calma… Como é isso mesmo? — Eu estava uma pilha de nervos. A colação de grau seria agora pela manhã e nós viajaríamos de carro até Ribeirão Preto, chegando pelo final da tarde a tempo de não perder a festa de formatura ao qual Fernando já comprara os convites. — Tem certeza que quer mesmo ir comigo?
— Eu não vou deixar você sozinha nesse momento, olha a sua situação?! Acha mesmo que consegue dirigir mais de trezentos quilômetros sem bater ma primeira árvore?
— Eu posso ir de ônibus…
— Não, eu vou com você! É um dia muito importante e eu quero poder ajudar no que você precisar.
— Tá… Mas, não é como se eu fosse pedi-la em casamento, ok?! — E eu senti aquela pontada no peito que me fazia perder o fôlego. Fechei os olhos e me sentei no sofá, a última coisa que precisava era ter Júlia como babá.
— Claro que não, mas pelo menos vai dizer o que sente… Ou sei lá, tentar se aproximar novamente. Você não pode simplesmente ignorar o que tiveram e o que você ainda sente, concorda?
— Eu vou conversar com ela! Conversar… E só!
Levei minha cabeça até meus joelhos, tentando fazer o sangue voltar ao meu cérebro, minha pressão caía e eu estava a ponto de explodir com a cobrança e pressão da Júlia. Senti ela se sentar ao meu lado e me puxar.
— Minha linda, eu te amo muito… Mas você precisa ser mais determinada em suas ações, deixar um pouco o medo de lado. Não quero te forçar a nada, você faz o que tiver vontade, no tempo em que sentir que deve fazer. Mas não pode fugir de você mesma para sempre.
Ela tinha razão. Eu não discordava, porém o ser humano é complexo em um nível galáctico demais para tentarmos entender certas decisões e ações, ainda mais quando isso vem respaldado por sentimentos não compreendidos ou não admitidos. E para Júlia a mente humana era fácil demais de se entender, sua visão era de um prisma totalmente racional e objetivo, mas a vida não é nada racional ou objetiva. Meu lance com Isabella não era absolutamente nada racional e objetivo, pelo contrário, lembrar do nosso passado era puro fogo, emoção e momento.
Saímos de São Paulo por volta das duas da tarde e chegamos no início da noite na cidade interiorana mais quente do estado. Júlia notou e não conteve sua sinceridade absoluta.
— Olha, só mesmo uma mulher pra te fazer ficar nessa cidade mais que um dia… Que calor infernal é esse???
— Você não imagina como é de dia…
A noite estava abafada e sem ventos, estávamos saindo da rodovia em direção às luzes da cidade. Ribeirão era conhecida por seu ponto forte; o comércio. Sendo assim, mesmo com o cair da noite era comum ver as pessoas aproveitando os bares, boates e lazeres que a cidade prometia. Micaela sentiu o calor subir pelo corpo ao visualizar pontos em que já esteve com a caipira em algum lugar do passado. Foram poucas escapadas, mas inesquecíveis, de momentos em que podiam demonstrar tudo que sentiam sem a necessidade de esconder ou ficarem alertas.
— Aquilo é um canhão?
Júlia apontou o monumento ao qual dava o nome à praça que estava localizado. Eu sorri conseguindo visualizar perfeitamente Isabella recostada em um banco abaixo da maior árvore do local, e uma Micaela jovem, inocente e apaixonada que lhe mostrava como fazer um “heelflip” no skate e claro com o chão quadriculado da praça me garantindo alguns desequilíbrios que arrancavam risadas da pirralha mais linda que já conheci. Eu respirei fundo controlando a ansiedade que me batia forte no estômago. Soltei o ar pela boca, repetindo por pelo menos dez vezes até me acalmar, assim como Júlia havia ensinado. Ela nada disse, apenas observava, com uma mão no volante e outro em meu joelho esquerdo, me dando o apoio que acreditava poder me ajudar. O GPS orientando por onde ela deveria ir, até chegar ao hotel que reservamos.
— Até que enfim chegaram! Pô, demoraram pra caralh*!
— Da próxima você me busca!
Bufei desacreditando na falta de tato do meu primo favorito. Nos abraçamos forte em seguida, sem me importar em apresentar Júlia, eu só queria matar a saudades que estava daquele maldito que eu tanto amo. Fer estava lindo! Sua barba rala dera lugar a um rosto peludo quadrado e masculino, com os pêlos alinhados e bem aparados, seu semblante demonstrava que amadurecera, pelo menos um pouco nesses últimos anos. Tinha duas pequenas entradas nas laterais da testa, que lhe davam um ar mais adulto, ao mesmo tempo os olhos ainda tinham aquele brilho jovem e brincalhão, além de estarem empoçados por lágrimas que ele não fazia questão de segurar. Me levantou do chão me beijando todo rosto e me arrancando caretas de incômodo por aquele ralador estar me espetando a cara.
— Argh, que nojo dessa barba!
— A mulherada gosta! — E ele fez um biquinho ridículo enquanto esfregava aqueles pentelhos faciais e já lançava olhares nada inocentes para minha amiga e psicóloga.
— Pode tirar o cavalinho da chuva que ela gosta do que a gente gosta, mais do que nós dois juntos.
Júlia riu levantando as duas mãos para cima, admitindo a culpa. Fernando estendeu a mão cumprimentando e puxando ela para os dois beijinhos tradicionais.
— Você é o famoso Fer…
Ela analisava ele, eu a conhecia o suficiente para notar seus olhares analíticos.
— E você a famosa Jú, que tanto Mica fala… Valeu por ajudar minha prima em Sampa, ela não deve ter agradecido ainda, já que é uma mal educada, mas eu faço as honras.
— Sua prima é quem me ajudou, na verdade… — Ela o encarou por um instante antes de soltar a pérola . — Vocês são idênticos e eu estou um pouco chocada com isso, confesso! — Ela riu sozinha sem deixar de avaliar suas reações. E eu pude ver algo raro, meu primo ficando enrubescido e tímido.
— Bom, a conversa tá ótima, mas eu preciso me arrumar. — Eu esfreguei as mãos, visivelmente ansiosa e Júlia percebeu de imediato. Ela me jogou um beijo e saiu, indo buscar no cardápio do hotel qual seria seu jantar daquela noite, visto que Fernando conseguira apenas um convite a mais para acompanhante.
Assim que vi Júlia se afastar puxei Fernando pela mão até o corredor do hotel.
— Como ela tá?
— Se eu ganhasse um real para cada vez que você pergunta isso…
— Fer, é sério!
— Ei, calma… — Ele me pegou pelos ombros.
— E se eu ganhasse um centavo para cada vez que alguém me fala isso… — Eu explodiria a qualquer momento de ansiedade, eu explodiria, eu com certeza explodiria…
— Eu sei, mas você vai acabar estragando tudo… Ela acha que eu vim buscar uma mina que tô pegando, se ela souber que você está na cidade… Sério, ela surta!
— Não quero estragar esse momento dela, eu sei o quanto significa e o quanto ela lutou pra isso.
— Ela vai amar te ver, cabeção! Só que eu preciso preparar o terreno antes… Seu pai e Silvia vão ficar na mesa dos convidados, nós vamos entrar depois que eles já tiverem feito as fotos! Se ela te ver antes vai dar na cara, todo mundo vai perceber.
— Ok! Eles não podem me ver de jeito nenhum!
Eu ofegava numa tensão clara e um pavor iminente penetrava em minha pele, eu não costumava ser uma pessoa nervosa ou ansiosa, na verdade era extremamente controlada e fria nas minhas emoções, o que me tornava cruel e rebelde em algumas vezes, no entanto Isabella bagunçava meu auto controle, ela conseguia minar qualquer tentativa minha de prever desastres. Fernando era imprescindível para que tudo saísse como planejado. Eu peguei sua mão, olhando no fundo dos seus olhos.
— Obrigada por tudo, você é como um irmão para mim… Eu te amo muito, jamais vou poder agradecer por tudo que fez por mim. — Meus olhos empoçavam embaçando minha vista, retirei meus óculos, antes de esfregar os olhos com as costas da mão.
— Seja homem e engole esse choro! — Ele brincou constrangido me abraçando apertado, beijou minha cabeça antes de me soltar. — Vou ligar avisando do atraso, beleza? Daí chegamos e você já entra assim que eu te dar um toque, fechou?
— Ok, combinado! — Me recompus focada no plano.
Me arrumei sentindo a excitação crescer em cada minuto que se passava. Eu sequer ouvia o que Júlia dizia, eu já estava na porta do quarto, andando de um lado para o outro, enquanto Júlia ajeitava os cachos em um lado só do rosto, num penteado que lhe dava um ar ainda mais sensual. Dobrei as mangas da camisa sentindo o calor me sufocar, o ar condicionado trabalhando incansável e eu bebendo todo estoque de água do frigobar.
— Você vai ficar bem aqui, sozinha? — Eu olhei para ela com todo carinho que eu tinha por ela. Mais do que amiga, mais do que parceira, Júlia havia sido meu braço direito no pequeno estúdio de fotografia que abri há dois anos, mas era também minha confidente e conselheira. Eu jamais conseguiria agradecer por tudo que ela já me fez.
— Amigaaa, quem disse que vou estar sozinha? — E ela me mostrou um flyer de uma balada lgbt.
— Juízo! — Eu ri abraçando-a rapidamente, depois que meu celular passou a tocar com o nome do Fer na tela. — É agora. — Eu franzi o rosto, estava a ponto de chorar, e isso era um fato inédito para Júlia. Ela me retribuiu o abraço fortemente e depois segurou meu rosto beijando meus lábios com carinho.
— Vai dar tudo certo! — Soprou de encontro a minha boca.
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— Você está espetacular, filha!
Eu sorri para a figura ao meu lado, que dizia aquilo sem perceber que sua beleza ofuscava qualquer outra naquele saguão. Minha mãe possuía uma elegância e sensualidade que beiravam o desconcertante, as outras mães e mulheres, de braços dados com seus pares, olhavam com desdém e seus gestos demonstravam claramente como se sentiam ameaçadas. Uma rivalidade desnecessária que eu nunca entenderia por que existia entre nós mulheres.
— E você está maravilhosa, mamãe! — Eu abracei ela sentindo a quentura maternal de seus braços.
— MI SE RI CÓR DI A!!!
Eu me virei dando de cara com Ulisses que vinha de encontro à nós em seu terno rosa claro, seus sapatos Mocassim em tom azul royal e uma gravata rosa escuro que finalizava seu figurino com perfeição. Enquanto isso mamãe se afastou indo buscar tio Fábio que devia estar com problemas em achar uma vaga para estacionar, mas no fundo eu sabia que ela evitava encontros com Ulisses, assim como sempre fugia de assuntos relacionados ao tema sexualidade.
— Bicha, a senhora está destruidora MESMO! — Ele falava em um tom afetado que chamava ainda mais a atenção de quem estava ao redor, mas não se importava nem um pouco.
— A senhorita também não está nada mal. — Eu beijei seu rosto, limpando em seguida o resquício de batom.
— Nada mal? Viado, eu tô um ARRASO, dá licença que vou tirar umas fotos antes que meus algozes cheguem e eu tenha que me comportar.
— Cadê Camilinha? — Ele procurou por ela atrás de mim, aquela mão afetada afastando o ar, indignado por não estar encontrando sua alma gêmea feminina. Camila e Ulisses possuíam uma amizade tão íntima que se ambos não fossem do vale com certeza eu diria que se casariam um dia. Eu e Cami havíamos começado a namorar há algumas semanas e estava tudo muito recente, mas muito intenso. Pegávamos fogo na cama, mas nossas vidas atribuladas de estudos, estágios e trabalho não nos permitia aproveitar mais do que algumas noites pelos motéis da cidade.
— Ela vai chegar um pouco mais tarde, teve que cobrir uma amiga no plantão, a moça perdeu o pai…
— Ain amiga, que chato. — Ele pegou em minha mão sabendo do meu histórico com meu pai, mas eu sequer lembrara disso, já tinha superado a morte de papai há muitos anos.
— Seus pais já te viram? — Apontei sua roupa rosa chiclé pensando nos pais dele e ele apenas gargalhou.
— Mon amour, meu uniforme de presidiário já está a postos com meu bofe.
Ele apontou um garoto asiático aparentemente mais novo, mas com uma altura e corpo que diziam explicitamente que de jovem era só o rosto. Ele segurava um cabide com uma capa protetora que deveria esconder o terno comportado da versão hétero do Ulisses. E eu sorri de lado um tanto melancólica por ser tão escancarado a situação que pessoas como nós viviam. Olhei ao meu redor notando alguns colegas de classe com seus respectivos pares, todos felizes e a vontade com seus pais, avós e amigos. Era notório a felicidade da família quando o casal “padrão” subia ao pequeno local onde estava estruturado para as fotografias. Eu me perguntava se eles continuariam sorrindo se Ulisses também subisse ao local com seu namorado ou se eu e Camila também nos beijássemos na foto, como minha colega de classe fazia naquele momento com seu namorado. O mundo era hipocrisia pura e eu lamentava que talvez pessoas assim jamais saberiam o que se passa na vida e na mente de uma pessoa homoafetiva, para elas esse tipo de problema não existia, simples assim.
Mas existia entre nós, “Ulisses”, que botavam a cara a tapa e sem vergonha ou hesitação alguma quebravam essa barreira de pensamento, dando voz para milhões que como eu, viviam na surdina. Após alguns cochichos com o fotógrafo, meu amigo subiu no pequeno local fazendo todas as poses possíveis e merecedoras que um formando de Fisio mereceria, afinal foram centenas de noites mal dormidas e dias intermináveis de estudo e muito café para manter a mente funcionando. Ele chamou seu par que não recusou o convite e eu vibrava por dentro, feliz por saber que pelo menos enquanto os pais conservadores de Uli não chegassem, ele poderia ser quem ele era.
— Uau!
Me virei sorrindo e Camila me puxou para um abraço carregado de sensualidade e segundas intenções. Eu apertei sua cintura não me contendo e lancei um olhar ao redor procurando Dona Silvia que já se demorava demais. Era automático, eu havia aprendido da pior forma possível que era sempre bom estar alerta e evitar qualquer confronto.
— Você está linda! — Eu mordi o lábio inferior segurando o sorriso safado que já permeava em meus lábios, aquele vestido tomara que caia preto, tão curto quanto seus cabelos, fazia minha imaginação fluir facilmente.
— Queria poder arrancar o seu agorinha…
Ela me puxou pela cintura e claro que Fernando tinha que aparecer nesse exato momento… estava atrasado como sempre.
— Fer! Cadê seu par? — Ele estava um pouco mais agitado que o normal, o que não era de todo incomum, mas era evidente que algo acontecia.
— Ela já vem! Foi… Foi terminar de se arrumar.
E desviou o olhar, sem nem mesmo cumprimentar a Camila. Estranhei sua atitude, mas não disse nada. Me afastei um pouco dela quando percebi mamãe e Fábio chegando com os avós de Micaela. Eles eram tão sérios que acho que jamais me acostumaria, mas estava agradecida por estarem ali, me prestigiando de alguma forma. Tia Silvia vinha de braços dados com vovó Cecília, os cabelos ruivos de química faziam seu trabalho escondendo os fios da idade. Mamãe era parecida mais com vovô, mas os cabelos castanhos claros puxaram à família de Dona Cecília. Meu querido avô apoiava as costas de vovó com a mão, sempre preocupado com sua garota, sempre cuidando para que ela não tropeçasse em nenhum degrau. Era interessante como Tia Elisa se dera tão bem com meus avós, de tal forma que ela os visitava frequentemente, quase tanto quanto visitava os próprios pais. Eu achava aquele carinho tão fofo e de uma sensibilidade incrível… Fernando era praticamente um filho para eles, que mais de uma vez tentaram me dissuadir a dar uma “chance ao rapaz”. Eu apenas ria imaginando o que eles pensariam se eu dissesse que minhas chances com a prima dele, lá na capital, eram maiores do que eu me relacionar com o pateta do Fernando.
Tiramos dezenas de fotos, eu e Camila tiramos algumas comportadas e outras mais ousadas que arrancaram carrancas de Tio Fábio. Ele não dizia nada, mas mexia a boca bem incomodado, seu cenho lembrava Micaela quando brigava comigo assim que nos conhecemos. Mamãe disfarçava tão bem que ninguém parecia desconfiar, estávamos femininas demais, as pessoas supunham ser apenas duas garotas alegres com o dia da formatura. E eu aproveitava, aqueles momentos raros em que eu podia ser fotografada com minha namoradA, estando com a mão em sua cintura. Um ato revolucionário perante minha família. Ulisses apareceu depois, já com seu terno comportado, mas a gravata rosa choque em seu devido lugar, como em um gesto de protesto silencioso, ou nem tão silencioso assim. Tiramos muitas fotos juntos, e ele com os pais, sempre com o sorriso ensaiado e forçado, que ele dizia ser sua “boca de macho”. Eu e Camila gargalhávamos cientes daquilo e das pessoas nos olhando e estranhando nossas reações.
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— Tô me sentindo um espião…
Eu revirei os olhos, por que obviamente meu primo amado e querido havia ganhado apenas atributos físicos em seu amadurecimento para vida adulta. Continuava o mesmo gigante bobo, viciado em games e pornografia. Entrávamos na festa com mais de duas horas de atraso. Ele me buscara no estacionamento, assim que o táxi partiu. A recepção vazia com apenas alguns convidados espalhados pelo gramado da entrada, algum casal fogoso no sofá do hall e as recepcionistas forçadamente simpáticas conferindo minha entrada e a pulseira de Fernando que já havia entrado e saído várias vezes enquanto aguardava minha chegada. Ele parecia tão mais nervoso do que eu, o que não me ajudava em nada e me fazia querer que Júlia estivesse ali, segurando minha mão. Pois é, eu já fui uma pessoa mais destemida e era isso que Júlia não entendia. Meu único tendão de Aquiles tinha nome, e eu estava prestes a revê-la a qualquer momento.
— Vem por aqui… — Ele me arrastou para o lado esquerdo do salão, me levando até os fundos onde ficavam mesas menores com vários homens barulhentos. Meu coração batia na minha boca, eu poderia jurar que todos ali ouviam. Garanti para mim mesma que meu olhar seguiria fixado nas costas largas do meu primo, não me arriscaria a vê-la, nem mesmo de esgueira, para não ser atingida pelo choque que seria reconhecê-la entre as pessoas.
De repente aquilo tudo me pareceu ridículo, eu estava ridícula. Passei a mão nos cabelos em um gesto exasperado, não sabia o que fazer. Aquelas pessoas bebendo e dançando, sendo felizes e eu ali… Destruidora de lares, aparecendo como um fantasma do passado para estragar o momento mais importante para ela. Peguei o celular e disquei para Júlia, enquanto Fernando me posicionava estrategicamente atrás de alguns pilares e vasos. Uma bebida apareceu em minhas mãos e eu nem me certifiquei do que se tratava, mandei para o fundo da garganta em um gole sôfrego. Senti arder um pouco e a secura deu lugar a uma umidade agradável. Estendi o copo para Fernando que assentiu e saiu para buscar mais, obediente.
— Jú?! — Respirei aliviada por ela ter atendido.
— Eu sei! Não, você não está errada e merece sim rever ela. Tudo bem que ambas foram teimosas em não manterem um contato, pelo menos telefônico. Mas isso não tira seu direito de revê-la, ela afinal faz parte da sua família também, não é? — Eu sequer disse o que me perturbava, ela era quase uma vidente.
— Sim, mas… Eu é que não faço mais parte da minha família pelo visto, já avistei até meus avós aqui, e eu não recebi sequer um comunicado dessa formatura. Se não fosse o Fer me avis…
— Micaela! Não deixe as pessoas ditarem onde ou com quem você deve estar… Os incomodados que se mudem! Vai até ela logo, por que essa ligação não existiria se você já tivesse ido.
— Tá tudo meio estranho, eu tô me sentindo muito estranha… — Fernando reapareceu com outro drink que teve o mesmo fim que o anterior.
— Deixa eu falar com seu primo!
Passei o telefone pra ele sem nem pestanejar, meus olhos traidores passearam pelo lugar, em busca de um só alvo.
— Ai desculpa! — Eu desviei a tempo de evitar que o líquido vermelho atingisse minha roupa. Em um reflexo eu segurei o pulso da garota de cabelo curto e rosa, contendo o arco que seu copo fazia, com o susto que ela levou ao nos trombarmos.
— Cuidado! — Eu estava impaciente e nem se eu quisesse conseguiria ser educada com ela.
— Fer, o que tá fazendo aqui? A Bella tá te procurando há um tempão!
A garota felizmente ignorou propositalmente meu mal humor e para minha supresa se dirigiu ao meu primo com uma proximidade interessante.
— Puta merd*!
Nós duas olhamos para ele de boca aberta, por razões diferentes, mas igualmente surpresas. Ele coçou a cabeça num gesto meio desesperado, depois me puxou pela mão em meio a multidão que dançava na pista. Eu sem entender nada acompanhei, me esgueirando entre os corpos já suados da galera animada e assim que paramos ele se virou pegando meu rosto um tanto forte demais, aproximou a boca do meu ouvido quase gritando.
— É a namorada da Isa!
O “Bella” então fez todo sentido e meu semblante mudou imediatamente. Fiz que ia me afastar, mas ele me segurou com força, talvez já instruído pelo que a Júlia havia falado no telefone para ele.
— Você sabia que ela estava namorando, mano! Não tem nem por que agir assim, Mica…
— Saber é uma coisa, ver é outra!
Eu suava frio, minhas costas estavam molhadas, de tensão e ansiedade. A galera se remexia nos pressionando cada vez mais, eu me focava em respirar.
— Vem! — Ele me chamou mais uma vez e puxou meus braços ao redor da suas costas, tentei me afastar por que não conseguia ver onde estávamos indo, ele me escondia por inteiro. Belisquei sua barriga com toda força que meu polegar e indicador eram capazes de fazer, para tentar de alguma forma chamar sua atenção, me soltar e sairmos dali, quando finalmente me soltou, se virou para mim com um sorriso no rosto.
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— Meu bem, vou buscar mais um, quer?
Cami disse em meu ouvido e eu agradeci com um gesto de cabeça, eu e Ulisses performávamos uma música que eu amava e com os olhos pedi que ela não se importasse em ir sozinha. Ela piscou me lançando um beijinho com aquela boca carnuda e nossas mãos se tocaram entre a gente, discretamente.
Gargalhávamos e fazíamos poses seguindo a batida da música, eu puxava meu vestido que era acima do joelho, ainda mais para cima, permitindo melhor movimentação das pernas. Suada e ofegante, ria até ficar rouca quando Ulisses exagerava intencionalmente se jogando nos braços de Dênis, seu bofe daquela noite. Seguíamos em uma felicidade genuína e totalmente merecida, a música e a iluminação trazendo uma intimidade ao ambiente, deixando as pessoas a vontade para se beijarem na pista. Camila tentara me arrancar alguns beijos semelhantes ao que o casal ao lado demonstrava com tanta eficiência, porém nossa mesa estava muito próxima e eu temia que um dos avós ou meus pais desconfiassem de algo.
Senti uma pegada forte no ombro e já franzi o cenho disposta a enxotar o idiota que se atrevia em me interromper naquele momento. Me virei dando de cara com Fernando, ainda com o mesmo semblante preocupado, porém agora com um sorriso largo que eu não entendi. Abri a boca para perguntar onde diabos ele estivera durante toda festa, ele perdera inclusive a dança dos formandos. Mas ele se afastou puxando um braço em minha direção, a pessoa atrás dele claramente incomodada com a forma com que ele agia, estava espremida entre ele e o casal beijoqueiro. Talvez fosse sua acompanhante, mas que forma de tratar uma garota, eu teria uma conversa séria com ele dep…
***
Os olhos se encontraram entre vãos de braços, Fernando e o casal. O sorriso de Isabella morrendo em seus lábios ao reconhecer a pessoa que lhe ensinou sobre sentimentos em todos os sentidos. A morena paralisando ao identificar para onde estava sendo praticamente arrastada. A música mergulhada, abafada como que aguardando se poderia submergir e voltar ao normal. A tensão palpável capaz de fazer o casal se soltar e observar o que estava acontecendo. Isabella deu um passo para trás, sem perceber, enquanto Micaela dizia milhões de coisas em um só olhar. A boca de Fernando se mexendo, dizendo algo que não poderia ser ouvido naquele momento, sequer se quisessem.
A morena correu os olhos por toda mulher que Isabella se tornara, os cabelos amarrados em um coque frouxo, caindo em desalinho por seu rosto e pescoço, úmido pela movimentação que estava ao dançar. Os olhos de azul infinito e a boca semi aberta, rosada e pronta para ser devorada. O vestido azul escuro de alças finas que corajosamente sustentavam seus seios fartos e arrepiados. A ausência de sutiã jogou Micaela ao passado com toda força. Agia feito uma adolescente vendo uma mulher pela primeira vez. Não queria olhá-la daquele forma tão explícita, porém seus olhos buscavam todo pedaço de pele dela para gravar em sua mente.
— Você… Você, veio?! — A caipira foi a primeira a falar, felizmente para a morena que havia perdido totalmente a função da fala. Não saberia expressar tampouco um pedido de socorro se precisasse.
Isabella fez a pergunta retórica, ciente de que não haveria resposta. Com Micaela era sempre tudo muito incerto e sem confirmações, era mais o sentir que comandava as coisas, do que precisamente palavras. Sentiu um aperto no ventre, como há muito tempo não sentia. Ver a morena naquele terno sexy e extremamente pecaminoso, a calça slim deliberadamente apertada que delineava suas pernas e quadril. O paletó estrategicamente feito para ela, era visível que aquela vestimenta não fora comprada em qualquer liquidação. A lapela longa mostrando a camisa branca e aberta que ia por baixo, a pele entre os seios à mostra, atestando sua indagação silenciosa, sim ela também estava sem sutiã.
— Ah, até que enfim apareceu a Margarida!
A voz de Camila trouxe Isabella de volta como um sopro fraco em meio a tempestade.
— Meu bem, não tinha mais Marguerita…
— Cami, você viu o bartender da ilha da direita? — Ulisses também se aproximava escandalosamente, quase caindo de tantos drinks que já havia ingerido. Dênis ao seu lado, não se importando com sua fala, obviamente já acostumado com o jeito do amigo de Isabella. Nenhum deles havia percebido seu estado, e ela agradecia aos céus por isso.
Micaela seguia muda, os olhos negros ainda a olhavam, sem disfarçar, enquanto Isabella desviava os seus, fugindo da intensidade daquela escuridão sugadora que a tirava de órbita. A ficha caindo aos poucos, sim, sua morena estava ali. Era real e ela aos poucos estabilizava as emoções, resultado de anos tentando esquecer o inesquecível.
— Cami, Uli, essa é… — Isabella finalmente chamou a atenção da namorada e do amigo. — Micaela, filha do meu padrasto.
Todos ao redor se calaram então, cientes do que aquela informação significava. Todos ali conheciam a história das duas, talvez mais do que elas mesmas.
***
— Eu juro que se fumasse estaria tragando um maço inteiro agora. — Micaela andava de um lado para o outro, com Fernando como espectador de suas reações pós Isabella. Estavam na lateral das escadas, em um canto mais discreto, onde muitos iam para fumar sem incomodar aos outros.
Ele nada dizia, apenas dava seu apoio moral naquele momento que sabia estar sendo bastante intenso para as duas.
— Você acha que ela odiou? Por favor, seja sincero! — A morena pediu quase em desespero, parando em sua frente. Tão pequena, tão frágil. Ao mesmo tempo o primo sabia o quanto Micaela era uma fortaleza por resistir às suas emoções por anos, simplesmente por que em sua concepção Isabella estaria melhor sem ela.
— Mica… Não faz isso com você, mano. A Isa mudou muito. Ela… ela…
— Acho que posso dizer por mim mesma.
A voz de Isabella paralisou a morena pela segunda vez naquela noite. Ela estava linda. Era linda. Maravilhosa. Com a luz dos postes a morena conseguia ter uma visão melhor do quanto Isabella estava espetacular naquele vestido. Formidável.
— Isa, eu sei que não avisei, mas…
— Não, não avisou. Mas não me surpreende que não tenha feito, acho que eu me surpreenderia mais se você tivesse avisado. — Isabella interrompeu rindo baixo e se aproximando mais deles.
Fernando deu uma desculpa qualquer e saiu dando privacidade as duas.
— Você está linda. — Micaela mordeu o lábio inferior depois de dizer o que segurava desde o primeiro contato de seus olhos, olhou para o chão, tentando esconder seus olhos e expressões.
— Você também! — Isabella riu puxando seu queixo para cima. — Você nunca foi tímida, então nem pense em me enganar com essa Micaela…
O sorriso de Micaela fez o coração dela pulsar num ritmo alucinante e quase tóxico. Engoliu em seco, controlando firmemente os efeitos que seu corpo estava tendo.
— Meus parabéns, pela conclusão do curso… Pelo TCC que Fer disse ter sido um sucesso! Eu não esperava menos de você. — Os olhos de Micaela transmitiam o que seus lábios diziam, ela realmente se orgulhava pelo que Isabella se tornara.
— Obrigada. Não vou negar que mereço mesmo… — E riu achando graça de si mesma. — Foram anos, digamos que… bem intensos. — Inspirou fundo sorrindo, querendo contar em segundos tudo que tinha vivido, aprendido, lutado, sofrido. As palavras chocando-se aos lábios cerrados, impedidas de saírem livres e soltas ao encontro dela.
— Eu imagino. — E Micaela imaginava mesmo, ela sabia quase cada detalhe do que Isabella vivera, pelo menos o que Fernando estava à par e lhe contava.
— E você… ? — Isabella perguntara sem pretensões, realmente gostaria de saber tudo sobre ela, mas sua aparição levava seu cérebro racional à buscar motivos óbvios e não conseguia entender até então, qual era o objetivo de Micaela ali.
— Não me formei! — A risada rouca de Micaela arrepiando Isabella de forma indecente. — Quer dizer, não em faculdade… Sou fotógrafa.
Isabella ergueu as sobrancelhas de forma surpresa. Não esperava por isso, Fernando nunca lhe contara esse detalhe. Aliás, ele praticamente não lhe contava nada sobre ela. Era extremamente discreto quanto a morena, o que levara Isabella a fazer o pequeno acordo que fizera, anos atrás, ao aceitar ir em uma festa como sua namorada de mentira. E assim ela pedia que ele sempre “fofocasse” o que ela fazia para a morena, na intenção clara de que ela sentisse algo parecido com ciúmes, e talvez a fizesse mudar de ideia em se manter distante. Mas o acordo ficara no passado, ela acreditava que Fernando nada contaria, seguira então sua vida.
— Você fotografa o quê, exatamente? — Isabella sentou-se ao seu lado na mureta alta que dividia a grama e a estreita calçada da entrada.
— Tudo que me encanta. — A morena olhou em seus olhos. — Mas faço grana com festas e pequenos eventos. — Ela desviou os olhos focando no poste com luz trêmula que iluminava as duas. — Tenho um pequeno estúdio em São Paulo, é recente, mas graças a bons amigos e bons contratos, minha agenda para esse ano e ano que vem está preenchida.
— E você gosta?
A pergunta trouxe o encontro dos seus olhos novamente. Por um milésimo de segundo Micaela ponderou finalmente libertar o que ia em sua alma, mas o medo, seu companheiro mais fiel, minou qualquer possibilidade.
— É meu trabalho, o que me sustenta… e sou apaixonada por fotografia, mas artisticamente me realizo fotografando pessoas de idade.
A garota sorriu ainda mais surpresa com aquela informação.
— Pessoas…
— Velhinhos, sim! — Micaela riu junto com ela, também cúmplice de sua incredulidade. — Quando comecei eram paisagens, animais, pessoas… Tudo me fascinava e eu ficava horas refletindo sobre as fotos. Até fotografar um casal de idosos, em um ponto de ônibus… E isso me tirar dias, meses, de reflexões diárias sobre quem eram, o que viveram… Se sorriram tanto quanto gostariam, se choraram mais do que previam, se eram pessoas boas, ruins… Se tinham família ou se eram sozinhos. Eu sei que parece estranho e já tive minha cota de amigos me zombando de todas as formas possíveis sobre isso. — Ela deslizou os dedos pelos próprios fios negros em um gesto que Isabella se lembrava nitidamente. À vontade, continuou descrevendo como amava o que fazia, mas era consciente de que somente esse amor não pagava suas contas, era necessário muito mais conhecimento para vender seu produto, seu trabalho. E ela conseguira separar muito bem as duas coisas, não se incomodava em não vender o que amava e apenas lucrar com o que sabia fazer muito bem.
Os minutos se passaram rapidamente e sem que percebessem estavam mergulhadas nelas mesmas, alheias ao resto do mundo e do tempo. Conversavam sobre tudo e sobre nada ao mesmo tempo, apenas ouviam suas vozes. Apreciavam aquele momento tão aguardado, tão esperado, tão desejado.
— Sua namorada… Ela se importa de você ficar aqui?
A morena perguntou sem olhá-la, a voz falhando ao pronunciar o adjetivo.
— Camila é um anjo, ela não me cobra dessa forma, estamos há poucas semanas juntas, mas nos conhecemos há mais tempo.
— Ah, sim…
— Namorei uma ciumenta antes dela, nossa… — Isabella fechou os olhos infeliz por recordar Maria Paula. — Ela era extremamente possessiva, terminamos da pior maneira… Ela me liga até hoje, não temos um bom histórico.
Micaela sabia. Conhecia Mapê e por centenas de vezes ameaçara Fernando a tomar uma atitude mais radical, pois ela não se conteria por muito mais tempo sabendo o que Isabella sofria com uma pessoa emocionalmente descontrolada como sua ex. Sabia pouco sobre Camila, o primo estava um pouco distante nos últimos meses, e era preciso quase implorar por alguma informação de Isabella.
— Sua mãe sabe? Papai sabe?
— Não explicitamente, digamos assim… Eles no fundo sabem sim, mas jamais vão admitir. Não para mim, pelo menos. Depois que você se foi… — E Isabella parou, talvez ciente de que aquilo não era um sonho. Despertando para uma realidade em que suas emoções talvez não fossem tão controladas assim. Se ergueu rapidamente, ajeitando o vestido e os cabelos. Olhou de soslaio para a morena que a acompanhava confusa com os olhos. — Preciso ir…
— Mas…
— É melhor eu voltar, todos estão aí e… — Ela deu o primeiro passo se afastando de costas, despedia-se dela.
— Espera, eu… — A morena tentou impedir.
— Você vai embora quando?
— Amanhã!
— Tá… Nos vemos então… outro dia? — Isabella fez uma careta, odiando-se por estar tão aparentemente instável.
— Isa!
Aquele tom, aquela voz…
Tudo em Isabella respondia e responderia ao chamado de Micaela, todos seus poros, suas artérias e células, suas enzimas e seus nervos. Ela então paralisou, os braços ao lado do corpo dobraram-se lentamente, cruzando um com outro, a frente dos seios, num gesto de defesa automático que Micaela aprendera com Júlia a identificar. A morena se levantou, estendendo a mão em sua direção. Nada foi dito, nenhuma palavra mais se fez ouvir, enquanto ambas se esgueiravam pelo estacionamento, entre os carros, depois entre as árvores escuras e silenciosas. Era óbvio demais o que desejavam, o que tornava ridículo contrariar. Isabella não resistiu.
Micaela então parou, a respiração pesada, rápida e evidente. A interiorana logo parou atrás do seu corpo, a milímetros dela. Os dedos de ambas se soltaram em comum acordo, para que a mão de Isabella a envolvesse pela cintura, num abraço tão íntimo que nem de longe quem as visse poderia confundir o que se passava. As mãos de Isabella deram a volta em sua cintura, a boca afundando em seu pescoço, sedenta por senti-la, pelo menos mais uma vez. Não havia constrangimento, não havia estranheza, nem um pingo sequer de dúvida, ela apenas… precisava. Micaela cerrou os dentes com força, girando em seus braços e também afundando seu rosto em sua clavícula, pescoço, nuca… Soltou seus cabelos, como sempre fazia, num gesto automático, os fios como cortina cobrindo seus olhos lacrimejados, os sons de suas respirações quebrando o silêncio da noite. Se alimentavam de suas texturas e cheiros, como que gravando cada nova fragrância que encontravam pelo caminho. As mãos ávidas se embrenhavam por entre elas e entre as roupas, não tinham pressa e ao mesmo tempo sentiam o tique taque ensurdecedor de um relógio invisível que as perseguiam. O vestido azul subiu acima da coxa, a mão da morena a puxou pela carne macia, trazendo-a ainda mais perto, Isabella gem*u lânguida e nada tímida, deixando Micaela ainda mais sedenta por ela. Os dedos passaram pelo elástico da calcinha e então seus olhos se encontraram, tudo pareceu tão certo, tão nítido e claro como uma água cristalina em meio ao caos poeirento e desafiador. Com as mãos livres Isabella segurou seu rosto com cuidado, como se segurasse o cálice mais valioso de um tesouro escondido, seus olhos se fecharam e ela se aproximou para enfim matar a sede de sua Micaela.
— ISABELLA!!!
O grito de Fábio as lançou para trás, milímetros antes de conseguirem saciar anos de sede e fome, como adolescentes elas se recompuseram, no exato momento em que Silvia e Fábio despontavam no estacionamento, acompanhados de um Fernando desesperado e uma Camila em choque. A boca de Ulisses formava um “O” perfeito, até mesmo Dênis parecia surpreso com seu rosto impassível. Alguns colegas de turma de Isabella se aglomeravam após o grito do homem, eles tentavam ver o que haveria de tão errado dentro da pequena mata, que fizera o homem gritar pelo nome da filha. Quando Isabella saiu em meio as árvores, acompanhada de uma garota explicitamente homossexual por seu estereótipo, tudo fez sentido. As expressões dos alunos eram audíveis e a Isabella sentiu o rosto queimar por raiva, vergonha e… Desejo reprimido.
— O que você faz aqui??? — O homem vocifera para a filha, num misto de confusão, culpa e saudades. — Sua mãe sabe que não está em São Paulo? O que veio fazer aqui, Micaela?
— Eu não devo a mínima satisfação, a nenhum de vocês! — E ela se dirigiu não somente à ele, mas a todos que ali estavam, o que surpreendeu Isabella de uma forma extraordinária. — E para seu conhecimento, eu não moro com Linda há anos.
O pai da morena se espantou por breves segundos, logo se recompondo.
— Vocês duas não deviam…
— O quê? — Isabella se postou na frente da morena, avançando em direção aos pais. — Termina o que o senhor ia dizer, por favor!
— Vamos embora! Isso já virou um circo… — Ele lhe deu as costas, com Silvia muda em seu encalço. Todas as suspeitas da mãe de Isabella caindo por terra ali mesmo, ao ver de longe a filha agarrada com alguém, até finalmente descobrir que esse alguém era sua enteada. O choque a impedindo de dizer qualquer coisa.
— Mãe?! — A garota chamou confusa, não queria acreditar que a pessoa que sempre apoiara em toda vida, também lhe virava as costas naquele momento. Mais uma vez e pelo mesmo motivo.
— Filha… Ouça seu pai, vamos embora. — Sua voz era baixa e fraca, não olhava diretamente nos olhos da garota, as lágrimas presas pela maquiagem, pelos cílios que pintara no salão mais caro da cidade, onde falara com a boca cheia sobre a formatura da sua filha! Sua menina que se tornava uma mulher. Mas Silvia não esperava que isso significasse ver tão explicitamente, a “mulher” que Isabella se tornara.
Aquilo foi como um soco para a garota, que tremia, revivendo momentos do passado, que por anos enterrara no mais fundo de si. Estava perplexa, incrédula… As pessoas não mudam! Elas simplesmente são o que são! A lembrança de Micaela lhe dizendo essa frase em um dia que discutiam sobre assumir ou não o que tinham… E essa lembrança a afetou de forma física, de uma maneira que ela jamais esqueceria após sentir o primeiro enjoo vigoroso que dobrou seu corpo ao meio, fazendo-a colocar para fora tudo que ingerira naquela noite.
— Isa!
Micaela correu até ela, mas Camila estava mais próxima e já segurava seus cabelos para cima. A morena passou as mãos no cabelo, jogando os fios para trás, em um gesto de desespero e arrependimento.
— E corta!!! — Ulisses gritou falsamente bancando o diretor daquele teatro dramático, dispersou as pessoas curiosas e buscou um copo de água para a amiga.
Fernando rapidamente buscava seu carro, depois de estacionar perto delas e oferecer preocupado;
— Eu levo vocês em casa.
— Eu estou de carro! — Camila visivelmente irritada respondeu ao garoto.
— Melhor levarmos ela ao médico. — A morena se dirigiu à namorada de Isabella que a ignorou tacitamente.
Isabella seguia vomitando em convulsões incontroláveis, já não restava mais nada no estômago, mas mesmo assim as contrações involuntárias continuavam, deixando a morena seriamente preocupada.
— Meu bem, vamos para minha casa… Eu cuido de você lá. — Camila tentava convencer sem saber o que fazer com os espasmos da garota que não cessavam.
— Toma! — Ulisses apareceu com um balde de gelo e uma toalha úmida.
Sem hesitar a morena pegou dois cubos e colocou na nuca da caipira, que se assustou segurando a respiração.
— Vai deixar ela mais doente! — Camila gritou com ela afastando sua mão.
— É só um estímulo para tentar parar com os espasmos… Não vou machucá-la. — A morena olhou em seus olhos, implorando por uma confiança que talvez não merecesse, mas era necessária.
Ulisses concordou com a tática, acalmando a amiga, para alívio da morena que voltou a colocar os gelos em Isabella. Aos poucos seu corpo se acalmou e então ela se dirigiu até o carro de Fernando, um tanto cambaleante e insegura, ignorando todos que estavam ali.
— Fer, me leva no médico… Por favor!
A voz dela estava fraca, seu rosto pálido denunciava que não estava nada bem. Talvez algo que houvesse bebido ou comido na festa. Micaela deu a volta no carro sentando-se no passageiro. Fernando não pestanejou e obedeceu a amiga. Camila viu o carro se afastar, o coração em pedaços. Ulisses aproximou-se dela abraçando-a pelos ombros e beijando seu rosto.
— É amiga…
— Eu não significo nada para ela, não é?
Sua voz embargada denunciava a situação do seu coração, mas ela bravamente resistia as lágrimas que ardiam seus olhos, tentando em vão sair.
— Na verdade você significa sim, amiga… E muito! Mas aquela lá é… Diferente. — Ele abraçou a amiga que finalmente deixou as lágrimas caírem livres.
***
— Ela é… é… Ela é minha irmã! — A morena disse para a recepcionista do hospital, enquanto Fernando amparava a caipira com um pequeno balde que o hospital fornecera de bom grado, para evitar qualquer sujeira.
— Vou precisar de um documento dela!
— Moça, então… A gente estava numa formatura, estamos só com os documentos do meu amigo e um cartão meu. Não tem como achar o cadastro dela pelo nome? Ela está passando muito mal!
A morena se desesperava explicando para mulher que uma garota de vestido, logicamente não estava com os documentos naquele momento.
— Vou ver o que posso fazer…
A mulher torceu os lábios, a contra gosto. Mas após vários apelos de Micaela finalmente Isabella foi atendida. Após o exame básico inicial, Isabella estava deitada, de olhos fechados, falhando em evitar os pensamento que já se formavam, esclarecendo algumas dúvidas, e criando-lhe um medo que escalava níveis assustadores. Ela evitava abrir os olhos e lidar com os dois seres idênticos que se prostravam ao lado de sua cama. Já haviam chamado a atenção deles mais de uma vez, e nenhum dos dois abandonava o posto ao seu lado.
— Isabella Faria?
— Aqui! — Micaela se adiantou chamando atenção do médico ou enfermeiro que se aproximava com uma prancheta em mãos.
— Boa noite Isabella, está se sentindo melhor?
O homem conferiu a medicação que entrava em seus vasos lentamente, depois checou sua pulsação. Isabella apenas assentiu, os olhos azuis antes brilhantes, agora duas pedras opacas.
— Isabella, vamos pedir um exame de sangue para confirmar uma suspeita, mas pode ficar tranquila que é só para eliminar possíveis causas para seu enjoo, tudo bem? — Ele anotou algo na prancheta e perguntou. — Qual data da sua última menstruação?
O silêncio de Isabella, seus olhos arregalados e congelados… Tudo parecia tão distante naquele momento para todos. Era impossível conectar algo sem que não surgissem mais dúzias de dúvidas.
Micaela que aguardava pacientemente, apenas olhou do médico para ela, depois de volta para o médico. O frio do ar condicionado de repente diminuindo todos os graus possíveis, congelando aos poucos seus ossos e sua alma.
— Eu… Eu…
— Está atrasada? — O médico franziu o cenho abandonando a prancheta. Aproximou-se dela, segurando suavemente seu antebraço, como lhe passando confiança para o que ela precisava responder.
— Talvez. Eu… Eu não me lembro muito bem.
Ela estava confusa, parecia se esforçar ao máximo para lembrar e então… Seus olhos foram até Fernando, que ficou pálido imediatamente. Os olhos castanhos claros arregalaram-se devagar, ele disparou sem pensar nas consequências de sua fala.
— Mas nós usamos camisinha!
Micaela viu pela segunda vez seu mundo desmoronar, em uma escala jurássica. Isabella e Fernando. O olhar trocado, depois direcionado para ela, em uma fração de segundo. Ela permitiu que sua mente caísse no abismo seguro ao qual estava habituada, aquela realidade era milhões de vezes mais cruel do que todo sofrimento que tivera com a falta que sentira de Isabella. A pontada em seu peito, tão familiar, que a recebia de forma saudosa. Isabella... Grávida... Do Fernando? Não!
Fim do capítulo
Oi e tchau! ^-^
quero também agradecer por quem lê, comenta, avalia e compartilha s2
obrigada!
Inteh o/
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Srt_Lopes
Em: 09/07/2021
eu estava sem acesso ao meu login porém retornei.
É emoção demais para nossos corações uma hora tudo está bem e do nada uma grande reviravolta, seria pedir muito nossas meninas juntas novamente???
Que cabeça pequena essa da familia da Isa e todo esse preconceito foi bem pior pois ela começou a tratar seu corpo como NADA.
É difícil agora acreditar que a Mica vá querer insistir nessa história, a falta de comunicação lascou tudo e a mentira do primo.
ESCRITORA VOLTE LOGO, NÃO AGUENTO MAIS ATUALIZAR VÁRIAS VEZES
Resposta do autor:
De mente pequena são feitas as culturas mais perversas >.<
Quero abordar exatamente isso, como as pessoas podem ser preconceituosas e acharem estar amando, ao mesmo tempo. Isso é perigoso e acontece em muitas famílias.
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Paola Escorpiana
Em: 29/06/2021
Moça faz dias que queria comentar mais n lembrava meu login no site rs.
Eu tô amando essa historia e se já li no abcles não me lembrei ainda.
Venho todo dia pra ver se tem atualização, por favooor nao demore pq senão quem tem um
piripaque sou eu rs.
Deu dozinha da Mica.
Parabéns pela escrita e fico no aguardo dos proximos capitulos
Bjs Paola
Resposta do autor:
Ounn hahaha amei seu comentário, que fofaa obrigada por acompanhar!
No abcles a história era bem diferente, quis dar uma versão 2.0, quem sabe futuramente eu poste a outra aqui, ia ser interessante ^^
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Bibiset Em: 08/05/2023 Autora da história
A Mica não esperava mesmoo rs tadinha