Capitulo 2
— Mas que porcaria de internet! Dois minutos para enviar um e-mail. — Esbravejava Tailine, sentada na cama com o notebook no colo, já estava pronta para o dia de trabalho.
— Que? — Respondeu Ana Paula, ainda de roupão, com o secador de cabelos ligado.
— Se arruma logo! — Gritou Tailine.
— Psicólogo?
A jovem jornalista apenas bufou e fechou o notebook. Foi na direção da colega e berrou.
— Te arruma logo! Espero lá embaixo! — E saiu.
Encontrou Sérgio e Joaquim fumando ao lado dos equipamentos, no pequeno saguão da pousada, ambos bebiam café preto em copos descartáveis.
— Bom dia, quero muito esse café, onde arranjo café? — Disse Tailine entediada.
Um deles apontou com a cabeça na direção do balcão da recepção, onde havia uma garrafa térmica e copos. Os dois se entreolharam com um risinho contido.
Ela sentou no sofá soprando seu café, os dois homens continuavam de pé, recostados e fumando.
— Já podemos subir pra buscar o cadáver? — Brincou Sérgio, o gordinho sarcástico da dupla.
— Quantas horas essa mulher leva para se arrumar? — Disse com indignação Tailine. — Mal dormi essa noite, ela ronca o tempo todo, e agora fica lá se arrumando como se estivesse indo receber a faixa de miss.
— Espero que não esteja falando de mim. — Disse Ana Paula descendo as escadas.
— Se você demorasse mais um pouco poderíamos fazer uma ótima externa noturna, adoro fazer externas noturnas. — Disse debochada Tailine.
— Não vou entrar no seu papo. Podemos ir, meninos?
O quarteto montou seu ponto para filmagem e entrevistas bem na praça da cidade, onde alguns curiosos já se aproximavam. Após conversar com alguns moradores, finalmente alguém aceitou ser entrevistado na frente das câmeras.
— Há quanto tempo você mora em São Pedro do Passa Quatro? — Perguntou Ana Paula.
— Sessenta anos, desde que nasci, e desde sempre a gente ouve os causos daquela casa, ninguém consegue morar mais de um ano lá, sai tudo afugentado, nunca vi disso. — Respondeu o senhor que usava um boné vermelho de um posto de gasolina local, novinho em folha e que não servia direito em sua cabeça.
— Mas que tipo de histórias o senhor ouve, de assombração?
— Tem essas coisas de fantasma lá, né? Gente que morreu lá e quer se vingar, morreu muita gente lá.
— Na época da escravidão? Eu soube que era uma grande fazenda de café nos idos passados, com muitos escravos.
— Num sei desse ido não, mas morreu o Sebastião, o caseiro na época que Seu Mané morava lá, acharam o corpo no poço.
— Quando foi isso? No século 19?
— Não, foi ano passado.
Tailine arregalou os olhos, não sabiam desse passado tão recente da casa, achavam que eram apenas lendas antigas sem o menor fundamento, mas agora com uma morte recente, passou a se interessar de verdade no caso.
— Ano passado? E esse poço fica próximo da casa? — Perguntou Ana Paula.
— Fica sim, debaixo de um pé de ipê roxo, já morreu mais gente nesse poço.
— Temos que ir lá hoje. — Sussurrou Tailine.
— O senhor conheceu alguém da família que deu origem a casa, os Valverdes? — Questionou a repórter.
— Quando eu era menino ainda morava um ou dois da família lá, mas depois venderam, os que sobraram da família foram morar na capital, não tem mais nenhum deles aqui em São Pedro, não.
Findada a entrevista, as duas trocaram de posição e agora Tailine entrevistaria uma moça, que trabalha na imobiliária. Ana Paula se aproximou de Tailine e abriu o botão de cima da camisa branca da colega.
— Assim fica mais atraente para o vídeo. — Murmurou para Tailine, que não teve reação.
— Gravando! — Disse Sérgio.
— Muitas pessoas estão ligando interessadas em comprar a casa? Como está a procura? O preço é questionado? — Perguntou Tailine de microfone em punho.
— Não apareceu ninguém não, moça.
— Você poderia no emprestar as chaves para que a gente possa gravar de dentro da casa?
— A imobiliária não abre dia de segunda, amanhã passa lá e fala com o chefe.
— Mas você trabalha lá, não pode pegar a chave para nós?
— Posso não, moça.
Encerradas as entrevistas, os equipamentos eram guardados enquanto as repórteres discutiam o próximo passo.
— Vamos para lá, gravamos ao lado do poço, vai dar uma continuidade ótima ao depoimento do seu Armindo. — Disse Tailine.
— Mas vai chover, não vai dar pra fazer externa.
— Não vai chover tão cedo, o céu está firme, vamos comer algo e tocamos direto para lá, amanhã a gente pega as chaves e grava dentro.
— Virou apresentadora do tempo, agora? Ok, a parte de comer algo foi o que me convenceu, estou morta de fome, vamos.
Noventa minutos e quinze quilômetros de estradinha esburacada depois, a equipe chega até a propriedade. À primeira vista uma casa branca enorme, cheia de janelas azuis, com sinais do tempo e aparência de abandono. Como não podiam entrar, foram logo procurar o poço onde algumas mortes teriam ocorrido. Ou talvez fosse tudo criação do imaginário popular.
— Por que não tira esses saltos para andar na terra? Medo de sujar os pezinhos? — Tailine zombou de Ana Paula, que caminhava com dificuldade na terra.
— Estou bem assim, obrigada. Cadê esse maldito poço?? Tem um milhão de pés de ipês roxos aqui! Ai! — Um dos saltos afundou totalmente no terreno, Ana quase caiu.
— Não vá cair de cara no chão de novo. — Provocou Tailine.
Os dois cinegrafistas riram e Ana Paula bufou irritada. Após caminhar por uns vinte minutos, os dois resolveram cair fora.
— Olha só, vai cair uma baita chuva e os equipamentos não podem molhar, estamos voltando para o carro.
— Pois eu vou encontrar essa porcaria de poço. — Disse Ana Paula um tanto irritada, tentando limpar a lama dos sapatos.
— Podem ir, só saio daqui depois que achar o poço, vai que tem um corpo dentro. — Completou Tailine.
Agora sozinhas, continuaram andando pelo terreno irregular e pedregoso até finalmente avistarem o poço, e para infortúnio do cabelo cheio de laquê de Ana Paula, a chuva chegou.
— Vamos voltar! — Disse Ana Paula tentando se proteger da chuva debaixo de uma árvore.
— Não, agora que chegamos aqui, vamos ver esse poço. — A puxou pelo braço.
Finalmente chegaram ao poço, já encharcadas. Tailine acendeu a lanterna do celular e apontou para dentro do antigo poço de pedras, mas para sua decepção, apenas folhas secas selavam o fundo dele.
— Nada! Nem um cadáver de um cabrito! — Disse irritada.
— Que bom, né? Ninguém morreu. Agora por gentileza, vamos embora daqui! — Exclamou Ana Paula.
— Mas amanhã a gente volta. Vamos.
As duas saíram correndo na medida do possível, o córrego que era apenas um fio de água no caminho de ida, agora havia aumentado de volume com a chuva, Tailine pulou com desenvoltura por cima, mas Ana Paula hesitava a beira do agora pequeno riacho.
— Anda! Pula logo! — Gritou Tailine.
— Não consigo!
— Dê uns passos para trás e pegue impulso.
Tailine resmungou algo inaudível e foi até a beirada do córrego.
— Vem, eu te puxo. — Disse ela estendendo a mão.
— Não! Você vai me derrubar na água!
— Pare de besteira, estou tentando ajudar! — Estendeu mais um pouco na direção dela. — Segure firme e venha.
Ana Paula finalmente baixou as defesas e pegou a mão de Tailine, que fez uma contagem regressiva. No três, Ana Paula deu o impulso e foi puxada firmemente pela colega, aterrissando de encontro ao corpo dela, onde se segurou. O choque dos corpos deixou um clima estranho, se entreolharam e nada falaram, apenas seguiram o caminho até onde estava o carro, em frente à casa.
— Já ia chamar uma equipe de resgate. — Brincou Sérgio. — Com cães farejadores, para dar mais emoção à reportagem.
— Tem uma toalha aí no carro? — Perguntou Ana Paula.
— Tem não. Bora?
— Espera, ainda são quatro da tarde, olhando bem essas janelas, parecem fáceis de abrir por fora. — Disse Tailine apontado para a casa.
— O que você está tramando?
— Por que não entrar? Vocês não têm curiosidade?
— Zero. Nada. Nadinha. — Disse Sérgio, e Joaquim concordou balançando a cabeça.
A ideia havia mexido com o faro investigativo de Ana Paula, que analisou por um instante a situação, observando a casa.
— Será que você conseguiria abrir uma janela do térreo?
— Com certeza! — Respondeu Tailine, animada.
Continua.
Fim do capítulo
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Zaha
Em: 28/06/2021
Oiee!!
Nossa, muito massa!! Quero mais!! Kkkk
Me matou a primeira frase do comentário "de arvoredavida", me poquei de rir da forma que se expressou!Haha
Externa noturna,essa Tai é engraçada,apesar de impaciente e pirracenta!!
Ana Paula é irritadinha tb, cheia dos frusfrus, quando tiver dentro da casa e se assustar vai correr desesperada, se n pular em Tailine!! Kkkk.
Ou será que essa Tailine é corajosa mesmo ou apenas curiosa?!!
Adorando!!!!!!
Eu já tô querendo um conto inteiro com essas duas! :)
Beijooo grande
Resposta do autor:
Arvoredavida coberta de razão, é tão bom escrever esse jogo de caça e caçador com 2 mulheres, dá até um orgulho de ser sapatão nessas horas ahhahahaa
sobre quem é corajosa, no terceiro conto vai ficar bem óbvio em saber qual é a cheia de coragem ;)
poxa, pior q eu tb estou começando a me apegar a eles e querendo escrever mais q o desafio...
Gio
Em: 28/06/2021
Eu já achei que ia ter uma tromba de água no córrego (a fatalista kkkkk).
Estou gostando, eu gosto dessas sutilezas, o lance de abrir o botão da blusa pra ficar melhor na câmera "Eu reparo em você, mesmo que conscientemente eu não admita".
Eu ri "Nem o corpo de um cabrito" XD
Vamos ver, invasão de propriedade privada no próximo capítulo rsrsrs
Resposta do autor:
Teria sido bem mais fácil se eu tivese matado uma delas afogada no córrego, nem precisaria escrever o resto ahahahha mas vc sabe q não gosto de escrever coisas trágicas.
eu preciso dar esses toques de humanidade e "carinho" em doses bem leves pq até ontem elas estavam se pegando no pau, não dá pra cair de amores logo assim né? XD
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Zaha
Em: 28/06/2021
Oiee!!
Nossa, muito massa!! Quero mais!! Kkkk
Me matou a primeira frase do comentário "de arvoredavida", me poquei de rir da forma que se expressou!Haha
Externa noturna,essa Tai é engraçada,apesar de impaciente e pirracenta!!
Ana Paula é irritadinha tb, cheia dos frusfrus, quando tiver dentro da casa e se assustar vai correr desesperada, se n pular em Tailine!! Kkkk.
Ou será que essa Tailine é corajosa mesmo ou apenas curiosa?!!
Adorando!!!!!!
Eu já tô querendo um conto inteiro com essas duas! :)
Beijooo grande
Resposta do autor:
Arvoredavida coberta de razão, é tão bom escrever esse jogo de caça e caçador com 2 mulheres, dá até um orgulho de ser sapatão nessas horas ahhahahaa
sobre quem é corajosa, no terceiro conto vai ficar bem óbvio em saber qual é a cheia de coragem ;)
poxa, pior q eu tb estou começando a me apegar a eles e querendo escrever mais q o desafio...
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ArvoreDaVida
Em: 27/06/2021
É muito bom ser sapatão, veio, na moral! Simplesmente amo o clima de gato e rato entre as duas. E tô ansiosa pra ler o próximo capítulo e ver o que essas duas malucas vão aprontar
Resposta do autor:
Eu estou adorando escrever essa temática de amor e ódio, não sabia q podia ser tão gostoso, e claro, só é assim gostoso pq é com duas mulheres... hehe
O terceiro conto tá on!
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