Capitulo 9
Capitulo 9°
Virginia
Se existem dias de azar, esse sem dúvidas está sendo o meu. Acordei atrasada para uma reunião com a minha chefe que não tolera atrasos. O bendito do meu carro quebrou e agora estou eu em um Uber, que aparentemente carregou algum cafetão. Ou ele próprio seria o cafetão, o carro estava impregnado com um cheiro de perfume barato.
- Você quer uma bala? – “Só se for na minha cabeça.” Pensei.
- Não.
- Posso aumentar o ar se quiser.
- Na verdade adoraria que você abrisse os vidros, gosto do cheiro da cidade. – ele fez o que eu pedi logo após parou em um farol. Para meu desespero havia um contêiner de lixo, e de repente o perfume do cafetão nem me pareceu tão ruim.
Tenho certeza que a divindade suprema estava adorando zombar da minha cara hoje. Cheguei à agência e corri apressada até a sala de reunião. Como eu imaginei já haviam começado e todos os olhares se voltaram para minha direção logo que atravessei a porta.
O olhar gélido que Amélia Cardoso me lançou me fez paralisar aonde eu estava. Nem sei por que aceitei esse emprego, essa mulher parece me detestar com todas suas forças. Mas ter seu nome em meu currículo me ajudaria muito futuramente.
Ela começou a falar novamente e logo todos voltaram sua atenção a ela. Vou ser sincera, Amélia é uma mulher linda, elegante, inteligente, mas tem uma personalidade difícil. Deve ter seus 40 anos, dois casamentos falidos, sem filhos. A mulher vive para o trabalho. Ela fazia questão de ser discreta com sua vida pessoal, afinal todos ali pouco sabiam sobre quem era ela ou sobre seus relacionamentos.
- O que você acha senhorita Morais? – escutei sua voz pronunciar meu nome.
- Eu? – comentei surpresa.
- Sim. Vejo que a senhorita tem problemas com horários e concentração. – senti meu rosto corar. – Questionei o que acha de as fotos serem feitas ao ar livre.
- Claro, seria ótimo. Só precisamos torcer parar que tenha um bom tempo.
- Então ficamos acertados, as modelos serão selecionadas amanhã. Obrigada a todos. – um a um as pessoas foram saindo. Quando chegou a minha vez escutei a voz firme me chamar.
- Senhorita Morais, poderíamos conversar? – acenei. – Sente-se. – apontou a cadeira a minha frente. – Não é de hoje que tenho reparado no seu trabalho. – “Ótimo serei demitida.” – E tenho que reconhecer todo o seu potencial. Você sem dúvidas tem um talento nato. Um olhar perfeito eu diria.
- Obrigada. – respondi surpresa já que ela nunca elogiava ninguém.
- Não tem que me agradecer. O talento é seu. – comentou inclinando o corpo e apoiando-se sobre os braços. – Tenho pensado seriamente em te dar uma promoção. Mas preciso de alguém que seja pontual. – o elogio foi bom enquanto durou.
- Senhora, geralmente eu sou pontual. Hoje eu acordei com o pé esquerdo. Foi isso.
- Não quero explicações. Você acha que consegui chegar até aqui como?
- Trabalhando. – respondi o obvio.
- Isso! Não importava a circunstância eu sempre estava pronta para trabalhar. Não importava a hora, nem a data. Nem meus dois casamentos importaram. Eu fiz o possível e o impossível para estar aqui. Quero que você faça o mesmo, então vou te dar seu primeiro teste. – me estendeu um pen drive. – Aqui estão algumas fotos que eu preciso para amanhã de manhã. Espero que possa dar seu toque especial.
- Pode deixar.
- Agora pode ir. – me levantei. – Virginia. – me chamou pelo primeiro nome. – Eu não espero menos do que a perfeição.
- Sim senhora.
Sai da sala e os olhares continuaram em minha direção, com certeza todos esperavam que eu saísse de lá chorando e pronta para receber minhas coisas no RH. Mas não foi nada disso. Eu ia ganhar uma promoção. Espera! Eu posso ganhar uma promoção.
- Você está bem? – Leticia, a modelo gata que Cadu tinha um crush me perguntou.
- Sim, eu só preciso sentar. – procurei a cadeira mais próxima e atirei meu corpo.
- Quer água? Posso pegar para você.
- Não. Não é necessário. Já estou bem. Obrigada. – sorri.
- Lets, vamos? – outra modelo a chamou.
- Eu tenho que ir.
- Vai lá, eu estou bem.
Pela grande porta de vidro sentia o olhar curioso de Amélia sobre mim. Dei um sorriso de canto ao qual ela não fez menção nenhuma em retribuir. Liguei meu computador e fui olhar o tal pen drive.
As fotos estavam horríveis, me questionei quem teria sido o profissional tão ruim que havia as tirado. Não era atoa que Amélia me pediu um milagre. Só isso para salvar alguma coisa daquelas aberrações. Suspirei pedindo aos céus que meu dia começasse a melhorar.
Me atolei na função e nem percebi que a noite chegou. Haviam poucas pessoas ali. Apenas a sala de Amélia estava ocupada. A mulher apagou a luz e caminhou em direção a minha mesa.
- Está na hora de ir. – falou firme.
- Você me mandou operar um milagre. E hoje percebi que milagres demandam tempo, por isso Deus não se importa com o meu azar. – tentei brincar.
- Você tem senso de humor. – comentou me fitando. – Você precisa de um banho, e trocar essas roupas. – apontou para minha camiseta que estava suja de algum molho do almoço.
- Tudo bem, vou chamar um Uber. Enquanto ele chega eu termino aqui.
- Aonde está seu carro?
- Como eu disse mais cedo, meu dia hoje não começou bem. Meu carro está na oficina.
- Eu te levo. – comentou e eu me assustei, ela fazendo duas coisas gentis no mesmo dia era algo completamente inusitado. Será que o mundo acabou e eu estou vivendo em uma dimensão paralela? – Não tenho a noite toda, senhorita Morais. – falou alto enquanto caminhava até o elevador.
Juntei minhas coisas rapidamente e a alcancei. Ao chegarmos ao estacionamento fomos para o carro e seguimos caminho em silêncio. Não posso negar que estar a sós fora da empresa com ela me deixou muito nervosa. Tão nervosa que nem consegui me mexer.
- Você pode respirar. – comentou divertida e foi a primeira vez que eu vi um riso se formar em seus lábios.
- Estou respirando.
- Não é o que percebo. Está agindo igual a um cão assustado. Não vou te raptar.
- Você não teria a quem pedir resgate. – respondi rapidamente.
- Oh! Me desculpe, não quis ser indelicada. – agiu como se me ofendesse.
- Não precisa se desculpar. Estou acostumada a ser sozinha. – confessei.
- Eu gosto de estar sozinha. Mas as vezes me sinto solitária. – comentou sem tirar os olhos da pista.
- Mas você tem o seu trabalho. E aparentemente faz dele sua prioridade sempre. – comentei sem dar importância.
- Verdade. Mas nas noites frias uma boa conversa acompanhada de um vinho faz falta. E nesse ponto o trabalho não pode me fazer companhia. – seu tom pareceu mesmo triste.
Não soube o que responder e ela percebeu, então ficou em silêncio apenas mantendo atenção na pista. Parou em frente ao prédio aonde eu moro.
- Está entregue. – comentou estacionando o carro.
- Obrigada pela carona. – sorri gentil.
- Não tem o que agradecer. Você precisa de carona amanhã? - questionou e eu virei rapidamente para olha-la. – Que foi?
- Me desculpa a sinceridade, mas você está doente?
- Eu? Porquê? – indagou confusa.
- Você foi gentil comigo hoje. E você não é uma pessoa...
- Gentil. Eu sei. – falou com a voz firme. – Só quis te ajudar. Apenas isso.
- Eu sei. Mas por quê?
- Por nenhum motivo especifico. Mas se isso te deixou desconfortável não me importo em te tratar como as outras pessoas. Posso começar descontando do seu salário o atraso de hoje.
- Você não pode fazer isso, eu fiz hora extra. Então compensei o atraso. – respondi rapidamente.
- Por isso eu gosto de você. Tem esse jeito rápido de raciocinar e não parece ter medo de mim. – me fitou.
- Medo e respeito são coisas diferentes.
- Então você apenas me respeita. – concluiu.
- Exatamente. Mas também te admiro.
- Admira? – questionou.
- Sim. – nos fitamos e eu fiquei completamente desconcertada com o olhar que ela me lançava. -Você quer subir? – ela sorriu de canto.
- Não posso, tenho um jantar para ir.
- Ah! Eu estou te atrasando. Mais uma vez obrigada pela carona.
- Disponha. – abri a porta do carro, e antes que eu pudesse entrar escutei novamente sua voz. – Virginia.
- Sim. – me virei em sua direção.
- Esse é meu número pessoal. – me entregou um cartão que e pessoal não parecia ter nada. – Caso precise de carona amanhã basta me avisar.
- Tudo bem. Boa noite.
Deu partida e saiu me deixando confusa com tudo o que aconteceu. Amélia nunca era não simpática assim. Estava acostumada a vê-la aos berros com outros funcionários, já vi até suas assistentes chorarem após saírem de sua sala. O que deu nela hoje?
- Alô. – atendi sem nem ao menos saber quem era.
- Boa noite, Vi.
- Oi Cadu. Você não sabe o que aconteceu hoje.
- Sua chefe comeu teu fígado pelo atraso? – questionou risonho.
- Pelo contrário. Ela acabou de me deixar em casa.
- Amélia te deu uma carona?
- Sim. Você acredita? Ela estava gentil comigo hoje.
- Isso não é gentileza. É tesão. Ela só quer te comer.
- Claro que não. Amélia é muito profissional. E eu acredito que ela seja hetero. E mesmo que não seja eu sou muito nova para ela. Jamais me olharia dessa forma.
- Virginia, as vezes você é lerda. E sei que se você quiser, ela fica com você.
- Ei! Vamos parando com as ofensas. O mais estranho foi que ela me deu um trabalho e disse que dependendo do resultado vai me dar uma promoção. E para de achar que eu sou a cura hetero.
- Claro que vai. Uma promoção para a cama dela. – brincou e eu bufei.
- O que você queria garoto?
- Sair com você.
- Não posso. Tenho prazo para amanhã. Beijos.
Desliguei e fui direto para o banho. Pensei muito nos motivos que fizeram Amélia me tratar tão bem aquela manhã, porém não consegui encontrar nenhum. Após o banho voltei ao trabalho. Estava tão focada em terminar que nem percebi o avançar das horas e o quanto eu estava faminta.
A tela do celular acendeu indicando uma ligação. Eu estava pronta para xingar o Cadu, mas para minha surpresa era Alice. Segurei o aparelho e minha respiração ficou pesada. Precisava atender. Mas e a minha promessa ao Cadu?
- Alô. Alice? –atendi receosa.
- Oi. Sou eu. Desculpa, você estava dormindo? Não queria te incomodar. – comentou rapidamente.
- Não estava dormindo. E não é incomodo você me ligar. É bom ouvir sua voz. – saiu quase sem querer.
- Digo o mesmo. – escutá-la dizer aquilo me deixou feliz de um jeito inexplicável.
- Mas e aí, está tudo bem?
- Sim. Só queria alguém para conversar, os meninos não atenderam.
- Está dizendo que sou sua segunda opção? – comentei em tom divertido.
- Na verdade terceira, liguei para o Miguel e a Anna.
- Então me lembra de agradecê-los por não terem atendido sua ligação.
- Pode deixar. Você está bem?
- Sim, estava aqui editando umas fotos.
- E eu te atrapalhando. Posso desligar se quiser.
- Não! – meu tom saiu mais desesperado do que eu queria parecer. – Não precisa desligar, eu acabei perdendo a hora e nem comi nada. Tá afim de sair? – essa era minha chance.
- Eu já jantei.
- Ah! Tudo bem. – respondi desapontada.
- Mas posso te fazer companhia. Se você quiser claro. – abri um largo sorriso.
- Por mim tudo bem. Podemos ir até a padaria. Estou doida por um delicioso pedaço de torta de frango.
- Quer que eu te pegue? – foi impossível conter o riso.
- Claro. – “Basta você querer.” Pensei divertida. – Mas não precisa vir me buscar, posso ir andando até lá.
- Certo. Até daqui a pouco então.
- Até.
Troquei rapidamente de roupa e desci para a rua. Escolhi uma mesa mais afastada e fiz meu pedido. Aguardei ansiosa pela chegada da loira. Até meus olhos avistaram sua linda feição me procurando no local. Acenei e ela me sorriu caminhando até mim.
- Pensei que não ia vir.
- Eu moro do outro lado da cidade.
- Nossa! Só marquei aqui porque pensei que morava aqui perto. Afinal você adora esse lugar tanto quanto eu. – notei ela ficar envergonhada. - Se soubesse não teria feito você atravessar a cidade essa hora. – não fazia ideia que ela morava do outro lado da cidade, já que sempre a via por ali.
- Não tem problema. – tocou minha mão levemente, me fazendo sorrir. – Vim de motorista.
- Claro, esqueci que você é patricinha. – impliquei e ela sorriu.
- Já pediu sua torta?
- Sim. Estão trazendo. Não vai mesmo comer?
- Não estou com fome. Só vim te fazer companhia.
- Isso sim é prova de amor. – brinquei e vi seu rosto ruborizar. – Ah! Lembrei, sou sua terceira opção. – contornei a situação para não deixa-la assustada. – Como você está? Não nos falamos mais desde aquele dia na boate. – nesse momento me lembrei do acontecido no banheiro aquele dia.
- Estou bem. E eu esperei que você falasse comigo.
- E eu esperei que você falasse. Mas pensei que com o que aconteceu no banheiro...-
- Espera. O que aconteceu? – indagou confusa.
- Você não lembra?
- Claro que não. – afirmou e eu senti verdade em suas palavras.
- Então é melhor a gente deixar assim. Você não lembra, eu finjo que nada aconteceu e nós continuamos nossa amizade. – conclui, se ela não recordava era por estar bêbada o que só me deu mais certeza que fiz a coisa certa ao negar seu pedido.
- Se eu te desafiar a contar? – sorri.
- Eu não vou contar. Se sua mente bloqueou é porque não foi importante. – constatar aquilo me causou uma sensação estranha, quase uma decepção.
- Mas eu nem sei o que houve, como vou saber se foi importante?
- Alice, vamos deixar para lá. – supliquei.
- Tudo bem. – concordou.
- Meu dia hoje tem sido estranho. – mudei de assunto. – Primeiro meu carro quebra, depois minha chefe foi gentil comigo. Depois você me liga.
- Eu ter te ligado foi estranho?
- Sim, já que você sumiu.
- Verdade. Mas quanto a sua chefe não é possível que ela seja tão ruim assim.
- Ela é... era pior. Hoje não sei o que pensar sobre. Me deu um trabalho quase impossível, e desse trabalho dependendo do resultado eu ganho uma promoção.
- Que maravilha. Aposto que você vai conseguir. O que tem que fazer?
Comecei a explicar o que eu precisava fazer para conseguir minha promoção e ela me escutava atenciosa. Falei sobre meu sonho de fotografar a África e ela quis me ajudar dizendo que poderia falar com suas mães. Coisa que neguei de imediato, imagina se Isabella patrocinaria algo para mim?
Já estava ficando tarde e decidimos ir embora. Brinquei sobre termos um próximo encontro e ela me pareceu bem receptiva com a ideia. Nos despedimos e eu gentilmente lhe estendi a mão, entretanto ela se atirou em minha direção me abraçando. Com o susto inicial acabei ficando sem reação, aos poucos voltei ao normal e retribui o gesto.
O cheiro de Alice era delicioso, me causando sensações maravilhosas. Podia sentir as batidas de seu coração junto ao meu. Mas abruptamente ela se afastou.
- Acho melhor eu ir embora.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não, só está tarde. Nos falamos depois.
- Tudo bem.
Observei-a caminhar até o carro aonde o motorista a aguardava. O automóvel saiu e eu continuei parada sem entender nada. Será que ela se arrependeu de ter me abraçado? Mas o que tem demais em um abraço?
Com tais questionamentos fui para casa. Atirei minhas chaves e voltei ao trabalho. Entretanto não consegui me concentrar, decidi então mandar uma mensagem para Alice.
“Espero que tenha chegado bem. Adorei sua companhia.” –V
Esperei uma resposta. Os tracinhos ficaram azuis indicando que ela leu a mensagem, mas não me deu uma resposta.
“Eu sei que você está aí, então não me deixa preocupada e me diz se chegou bem.” – V
“Sim, eu acabei de entrar em casa. Não precisa se preocupar. Boa noite.” - A
“Está tudo bem? Sinto que está chateada, fiz alguma coisa?” – V
“Não aconteceu nada, e você não fez nada. Só preciso descansar.” – A
Não sei se era impressão minha, mas ela me pareceu chateada comigo. Só que não faço a menor ideia do que fiz para tê-la chateado.
“Tudo bem, amanhã nos falamos. Beijos.” – V.
Respondi entendendo que ela queria espaço. Decidi então que na manhã seguinte falaria com ela. Me concentrei novamente no trabalho, precisava ganhar aquela promoção.
A noite foi mais curta do que pareceu. Passei boa parte da madrugada trabalhando nas fotos, acredito ter conseguido atingir o milagre que Amélia me pediu. Tomei um longo banho e agradeci assim que recebi a ligação do mecânico me dizendo que o carro estava pronto.
Tomei café e fui para a agência. Como ainda era cedo não havia ninguém por lá. Me aproximei da minha mesa, respondi alguns e-mails. Estava distraída na minha playlist que nem percebi que Amélia estava a minha frente me chamando.
- Você vive distraída. Faz meia hora que te chamo. – comentou com a voz cansada.
- Desculpa estava...
- Distraída. Fez o que pedi? – questionou ficando de costa e começando a andar em direção a sua sala.
- Lógico, sou a milagreira. – brinquei e ela arqueou uma sobrancelha.
Fiquei intimidada com seu olhar. Em nada parecia a mulher simpática da noite anterior. Ela ligou o computador.
- Vai mostrar as fotos ou vai continuar aí parada me olhando, Senhorita Morais? – falou fria sem tirar seus olhos da tela.
- Claro, desculpe. – sai do meu transe e lhe entreguei o pen drive.
- Pode sair. – fez um gesto com a mão.
Caminhei até minha mesa. Que mulher estranha, no dia anterior me trata bem e no dia seguinte pareço um saco de pancada para suas grosserias. Me sentei e fiquei olhando suas expressões ao ver as fotos.
Não consegui decifrar qual seu nível de satisfação ou insatisfação. Era impossível entender suas emoções pela fisionomia. Suspirei frustrada, girando a cadeira. Esperei longos minutos até que ela acenou me chamando. Fui rapidamente. Apontou a cadeira para que eu me sentasse.
- Então?
- Você é incrível. Como eu já havia dito. – comentou séria. – As fotos ficaram perfeitas. Você conseguiu me surpreender. – sorri satisfeita. – O próximo catalogo será seu. Desde a seleção das modelos, as ideias e todas as fotos e edições. – eu abri a boca surpresa. – Essa é a parte dois do seu teste. Se conseguir um bom trabalho será a coordenadora de todas as campanhas daqui para frente. Esse será o valor pago por essa campanha atual. – me estendeu o papel. Eu agradeci por estar sentada. Era três vezes o valor que eu ganho hoje. – O que foi? Achou pouco? – questionou me fitando.
- Não. Está perfeito. – respondi rapidamente.
- Ótimo. Então acho melhor você começar a analisar nossas modelos.
- Sim, senhora. – me pus de pé.
- Parabéns. – lá estava aquele ar gentil novamente. Ela esboçou um sorriso, mesmo sem me olhar.
- Obrigada. – sorri agradecida.
- Agora vai, eu preciso trabalhar. – logo assumiu sua postura soberana e fria.
Caminhei para o estúdio aonde aconteceria a escolha das modelos. Levamos a manhã toda para fazer a seleção. Me senti mal por todas as garotas que não foram selecionadas. Já era meio dia quando percebi a figura de Amélia nos observando no canto. Ela estava com o corpo apoiado na parede, mantinha os braços cruzados na altura dos seios.
- Acho que é isso. Entraremos em contato para marcar a data das fotos. – falei e as modelos saíram em seguida.
- Mandou bem Virginia. – Marcus um dos produtores comentou afagando meu braço.
- Obrigada. – sorri agradecendo.
- Terminaram? – Amélia veio para próximo de nós.
- Sim. – Marcus respondeu e ela lhe lançou aquele olhar frio. – Eu...eu estou indo. – falou nervoso.
- Por que você faz isso? – questiono guardando minhas coisas.
- Isso o quê? – questionou escorando-se a mesa e cruzando os braços novamente.
- Assustar as pessoas com esse seu olhar.
- O que tem o meu olhar?
- É um olhar mortal. Por isso eles tem medo de você.
- Não me importo. E também não tenho culpa se eles são covardes. Você não tem medo de mim.
- Não mesmo. Só te respeito, você é a minha chefe.
- Já consertou o carro?
- Sim. Hoje cedo.
- Por isso não me pediu carona?
- Exatamente.
- Entendi. Tem planos para agora?
- Não. Só preciso comer.
- Podemos ir almoçar.
- Isso é um convite?
- Não abusa. Você vem? – questionou dando as costas.
O que eu poderia fazer? Não tenho como negar um convite dela. Ainda mais agora que estou prestes a conseguir minha promoção e Amélia parece disposta a começar a me aturar por perto. Seguimos para um restaurante que ela escolheu. E eu agradeci por ter limite no meu cartão, pois teria que parcelar aquele almoço em três encarnações.
Gentilmente ela puxou a cadeira para que eu sentasse. E nesse momento comecei a achar que Carlos Eduardo tinha razão, minha chefe queria me comer. Assustei-me com tal possibilidade. Não é que ela não fosse uma mulher atraente, pelo contrário mais parece uma obra de arte.
- Se importa que eu peça?
- Oi?
- A nossa refeição, se importa que eu te indique algo?
- Não, pode ficar à vontade. – tentei sorrir, mas eu estava uma pilha de nervos.
Ela fez os pedidos, e eu continuei na minha dúvida. Talvez fosse apenas paranoia minha depois que meu amigo comentou sobre ela ter tesão em mim. Vai ver aquele convite foi apenas algo educado de sua parte e uma forma de comemorar a minha promoção.
- Você está bem? – indagou tocando minha mão. Meus olhos foram de imediato em direção ao toque.
- Sim. Sim. Acho que estou apenas com fome. – inventei a primeira desculpa que me veio à mente.
Abriu um largo sorriso e fez um pequeno afago em meus dedos.
- Amélia? – escutei uma voz atrás de mim. E Amélia retirou sua mão de cima da minha rapidamente. Me virei assustada com a possibilidade de existir no mundo duas Amélias. A mulher era muito parecida com minha chefe, só que em uma versão alguns anos mais nova.
- Rebeca, o que faz aqui?
- Vim para um almoço de negócios. E você quem é? – me fitou interrogativa. O olhar das duas era igual. Com uma diferença, não tinha medo do olhar de Amélia, mas essa tal Rebeca me deu um frio na espinha.
- Essa é Virginia Morais. Fotografa da agência.
- Virgínia. A famosa fotografa. – estendeu a mão e eu segurei. – Eu sou Rebeca, irmã da Amélia. – irmã? Foi isso mesmo que eu ouvi?
- Famosa? Eu?
- Não liga para minha irmã. Ela bateu a cabeça quando era pequena. – Amélia comentou séria. Rebeca fitou a irmã e deu um largo sorriso.
- Prazer. – respondi educada.
- Bom eu preciso ir. Minha companhia chegou. Espero te ver mais vezes, Virgínia.
Nos deu as costas e foi em direção à mesa. E para minha surpresa a pessoa que Rebeca foi encontrar era Larissa, mãe de Alice. A loira estava impecável como sempre, o estilo de Alice me lembrava muito a mãe.
- Sinto muito por isso. – indagou Amélia.
- Por ter me apresentado sua irmã?
- Não, quer dizer sim. Ela é...
- Tão intensa quanto você. – ela deu um meio sorriso.
- Eu sou mais bonita. – um sorriso se desenhou em seus lábios e ela levou a taça até a boca.
- Vou ter que concordar. – ela corou levemente. Eu me repreendi por ter externalizado meu pensamento. – Desculpa.
- Por dizer que eu sou bonita?
- Sim. Quer dizer... não. – me atrapalhei e ela deu uma longa gargalhada. Foi a primeira vez que vi ela perder completamente sua postura profissional.
- Relaxa. Não vou te processar por assedio. – continuou rindo e eu acabei acompanhando-a.
Agradeci quando nossos pedidos chegaram, assim nos ocupamos em fazer nossas refeições, sem mais conversar constrangedoras. Começamos a comer conversando sobre a campanha e isso me deixou mais relaxada, falar do que eu amo me acalma em qualquer circunstância. Com o rumo que a conversa levou tive noção de que o interesse de Amélia em mim era apenas profissional.
Fim do capítulo
Volteiiiiiii!
Espero que gostem do capítulo. E me digam o que acharam. Fico muito feiz com cada comentário que recebo. E só para constar vocês são demaisss.
Beijos e boa leitura.
Comentar este capítulo:
lay colombo
Em: 09/09/2021
Seria Rebeca a solução dos problemas de Lari e Isa, acho q a Lari tá procurando alguém pra assumir o posto da Samanta e por isso tá se encontrando com a Rebeca.
Virgínia meu anjo, eu diria q tua chefe tá dando mole sim viu, fique esperta
Resposta do autor:
Será sim. kkk. Rebeca vem para ajudar, mas antes vai bagunçar. kk
Baiana
Em: 24/06/2021
Tô achando que a Virgínia,por conta da "impossibilidade" familiar da Alice,ela vai acabar se envolvendo com a chefe,e sendo a irmã de Amélia próxima da mãe de Alice,isso vai virar um verdadeiro balaio de gato.
Resposta do autor:
Esse sangue baiano é mesmo arretado.rsrs
Vamos ver o que os proximos capítulos nos reserva.
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Marta Andrade dos Santos
Em: 23/06/2021
Alice se resolva fia a fila anda Amélia está no campo querendo marcar o gol.
Resposta do autor:
KKK, bem isso. Depois a Virginia aparece estuando chiclete com banana: A fila andou eu te falei....kkk
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