O apagão
O dia ainda não tinha amanhecido, e Liz já estava desperta há horas, mexendo em seu computador, na cozinha. Já fazia semanas que sua rotina era essa: noites insones e dias atribulados, que iam até tarde, com muito trabalho. Nos últimos tempos sua vida se resumia basicamente a pesquisar e rever tudo relacionado ao caso 5863/21, e aquela era uma verdadeira corrida contra o tempo – que tinha corrido ligeiro, e novamente era dia 17. 17/07. O grande dia.
- Oi, Jurema! Te acordei? – Liz pergunta, ao ver a mulher entrar na cozinha, apenas de calcinha e camiseta, da banda The Doors. Fechou rapidamente a tela do notebook, antes que a namorada se aproximasse.
- Amor, esse apelido é horrível, você sabe, né – Marcelle retruca, alisando seu rosto, bebendo um gole de seu café. Fingiu não perceber o cuidado de Liz, desligando o computador antes que ela pudesse ver o que ela estava fazendo. Como se escondesse algo.
- Eu adoro apelidos – Liz se defende, a puxando.
- Você diz isso porque o seu nome é um apelido! – Marcelle retruca, se desvencilhando – E aí, muito trabalho? – ela pergunta, sondando a mulher.
- Até que não... Mas hoje quis começar cedo, estipulei uma meta muito difícil e importante, que quero muito alcançar!
E ela ia conseguir êxito! Graças ao seu raciocínio lógico, ao seu faro policial – e talvez, neste caso, à ajudinha de Felipa. Uma pequena contribuição, claro. Afinal, foram horas estudando fotos, relendo depoimentos e acessando informações que chegavam e que mais a deixavam perdida do que mais próxima de solucionar o caso. Liz estava incomodada porque algo ainda lhe escapava – e aquele era um detalhe fundamental para resolver o crime e prender finalmente o assassino. Com sorte, antes da quinta vítima.
Na tarde anterior discutiu o caso com Felipa, como sempre, que aparentava nervosismo com a proximidade da data . Já tinha aceitado a teoria da parceira, de que o assassino escolhia com cuidado o local do crime, no intuito de formar uma estrela no mapa, semelhante à das vítimas, e no dia seguinte teriam a oportunidade perfeita para abordá-lo.
- Temos dois hotéis aqui – Felipa diz, apontando o mapa com uma caneta – Ambos são próximos da estação de metrô, e se eu fosse apostar em algum hotel, seria neste – ela circula de vermelho o local indicado – Esse outro é fora de mão, essa rua é deserta, aqui se escuta só os passos das pessoas e até os seus pensamentos, se duvidar, tamanho o silêncio.
E foi nessa hora então que Liz desvendou o caso. Ela bateu palmas, e fez um movimento como se pretendesse socar a outra policial.
- É isso! É esse o detalhe que faltava – ela exclama, sem contudo dizer ao que se referia – Se eu fosse apostar em algum hotel – Liz repetia o tom de Felipa – Certamente seria neste – ela conclui, fazendo um círculo maior no mapa, seguido de setas, para deixar bem clara sua opinião.
Aí Liz achou justo que, por ter descoberto o que motivava o assassino, caberia a ela ser a isca, no dia seguinte. Amanheceu, por isso, cheia de expectativa, o que chamou a atenção da namorada, que fingiu dormir enquanto ela separava algumas roupas e um sapato que nunca usava.
Marcelle estava certa de que estava sendo traída, e era como se Liz sempre fornecesse novos motivos para aumentar a sua desconfiança. Para ela, aquele também era um dia importante: pretendia flagrar a namorada com a amante.
Horas mais tarde, ao trocar de roupa na delegacia, Liz se viu alvo de assovios entre os colegas, que mexiam com ela, vestida de um jeito totalmente não usual: além da maquiagem (inédita!), se equilibrava com desenvoltura em cima de 15 cm de salto.
- Senhores, como sabemos esta é uma noite importante, vamos tirar das ruas de Ecila um criminoso perigoso – Liz começa, chamando a atenção dos presentes – Reduzimos nosso foco de atenção nesta área para esses dois hotéis. Nosso objetivo é acertar o alvo antes que ele chegue aqui – ela aponta para o hotel, onde tinha circulado antes – Uma equipe fica aqui, outra vem para cá, e quero uma terceira de prontidão aqui, caso ele tente fugir – o mapa foi ganhando círculos, conforme ela falava, e os policiais, quase 30, movimentaram a cabeça, confirmando entendimento.
Se dividiram em vários carros, sem no entanto parecer um comboio. Não queriam chamar atenção. Liz foi uma das últimas a sair da delegacia, e logo que chegou à calçada foi flagrada por Marcelle, que a esperava há horas.
- Eu não acredito que você mentiu para mim – ela diz, e Liz ficou um tempo sem reação, ao ver a namorada ali. Não tinha nem como inventar algo, já que o bendito distintivo estava pendurado no pescoço.
- Amor, eu posso explicar – ela começa, mas nem sabia o que dizer. Tinha mentido, mesmo. A namorada jurava que ela na verdade trabalhava como fotógrafa. De imóveis. Para uma imobiliária virtual. Atividade que Liz realmente desempenhava, mas apenas como disfarce. Mas como explicar, naquele momento, que não só ela era policial, como estava prestes a prender um assassino perigoso?
- Você usa até salto! – Marcelle apontou para seus pés, parecendo realmente incrédula.
- Não! Quer dizer... – Liz buscava as palavras, que tinham sumido (assim como seus colegas, já a caminho da emboscada que ela própria tinha armado) – Amor, não posso falar agora.
De repente, todas as luzes começaram a se apagar, progressivamente – das casas, dos comércios e dos postes. Desde o alto da Torre da Lua, virando a esquina dos Jardins do Paraíso, toda a região de Vilamaior, onde ficava a delegacia, tudo foi mergulhando rapidamente numa escuridão total. No breu, o que se via era a parca iluminação gerada por velas, que iam iluminando aos poucos as residência ao redor das duas.
Fim do capítulo
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Zaha
Em: 12/02/2025
Nossa senhora!!!
Liz foi pega, mas não traindo, nos sentido "amoroso", mas sim omitiu um fato importantíssimo...o que fazia pra viver ... coitada de Marcelle...pra piorar, estou preocupada.. o plano vai vazar e Marcelle pode virar vítima...
N sei se às luzes apagaram porque fazia parte do plano ou foi o assassino....
Marcelle parece inocente...tô duvidando até dela kkkkk. E se for mulher? Raiaia
brinamiranda
Em: 28/06/2021
Olha Caribu, adorei, excelente capitulo...Se pegaram o Lázaro vai ser fichinha esse bandido....rsrsrs.
Desculpe a demora, o inverno sempre me derruba.
bjsss
Resposta do autor:
Na ficção, a polícia é ótima rsrs
Que bom que gostou!
Espero que vc fique melhor, pq o inverno ainda vai longe rsrs
Beijos!
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Saraivas1993
Em: 23/06/2021
Eita que quero ver como a Liz vai se explicar pra Jurema (senhor que apelido, socorroo rs). Tomara que pegue esse bandido, ansiosa pelo final!!
Resposta do autor:
Ah, o apelido é bom vai!
Mas há melhores, msm. Meu preferido é "pãozinha" rsrs
Semana que vem desvandaremos esse mistério!
Beijos!
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ruthcbraga
Em: 23/06/2021
Super curiosa pra ler o fim dessa história!!
Resposta do autor:
rsrsrsrs
Espero que vc goste! Me diz depois se vc já desconfiava rsrsrs
Beijos!
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