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Barefoot por biasnow

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Palavras: 5217
Acessos: 379   |  Postado em: 21/06/2021

Capitulo 3

 

Piper estava sentada na cozinha, pensativa e descascando uma pilha de alhos. Ela conseguia sentir as vibrações pesadas que rondavam cada canto da enorme mansão. Não era fácil lidar com a morte... Não era fácil lidar com o buraco que ela deixava a partir do momento em que levava um ente querido, demorando anos e anos para que tudo fosse aceito e entendido. A morte repentina de Maritza deu uma rasteira em todos. Piper ainda têm na lembrança o estado em que Alex havia ficado. O telefone próximo à orelha, a respiração agitada, os olhos parados na vidraça da porta da sacada... Ela parecia refém do pânico, pronta para gritar... E foi o que aconteceu naquela manhã, um dia atrás. Maritza havia sofrido um acidente de carro e morrido na mesma hora. Ela estava acompanhada de dois homens, esses que não tiveram a identidade revelada. Piper sentiu compaixão de toda a família, mas não se intrometeu em nada. Ela temeu se aproximar de Alex. A morena estava arrasada, massacrada. Apenas Nicky quem a acompanhava de perto, sempre a consolando e a abraçando.

O casamento de John e Daya precisou ser adiado; a noiva, irmã da vítima, estava em estado de choque. Piper, com seus olhões atrevidos queria ajudar a todos, dizer que entendia daquele sentimento, afinal, ela havia perdido a mãe... Entretanto ela seguiu o conselho de Larry, ficando em seu canto sem chamar a atenção. No dia do funeral, ela se escondeu para não ter que ir ao cemitério. Morria de medo! Havia memorizado o clip Thriller do cantor Michael Jackson, imaginando que os mortos voltassem à vida como zumbis e agarrassem seus pés. Ela revelou para Larry, o matando de rir.

- Que belo trabalho minha jovem! - Red sorriu da forma de como Piper deu um salto da cadeira.

- Me desculpe Dona-

- Há! Dona? - Encarou a pobre loirinha.

Piper se encolheu e roçou um pé no outro.

- Red! - Logo se agitou. - Me desculpe por me intrometer na sua cozinha... É... Que eu... Não queria ficar andando por aí, né. - Ela mordeu o lábio, ansiosa - Larry pediu para que eu fosse discreta. A família está de luto e eu não tenho onde ficar.

- Não seja bobinha, Piper. - Red extraiu as cascas roxas que o alho havia perdido e jogou tudo no lixo, procurando uma tupperware para guardar os alhos - Você é bem vinda, meu bem, e pode ficar onde bem entender. Amy a adora. Deu permissão para que você explorasse a casa. Não entendo o porquê de você insistir tanto em ficar rondando pelas cozinhas.

- Adoro cozinhas... Adoro cozinhar. - Ela já passava um pano úmido pela mesa - Gosto de limpar. Adoro serviços domésticos.

Red estranhou e ergueu as sobrancelhas.

- Red, como é que ela está? - Mudou de assunto, se aproximando para segurar na mão da governanta.

- Alex?

- Alex... Como é que ela está hoje? Se sente melhor?

- Oh, querida. - Ela passou a mão no rosto de Piper - Alex irá sobreviver. Ela já passou por algumas perdas significativas. Fica um tanto apimentada até se acostumar com o dano. - Tomando o pano das mãos da moça, Red caminhou até o interfone do cômodo e o apertou, falou com alguém e voltou-se à Piper, sorrindo.

- Ela não me notou, eu disse que sentia muito. Maritza era uma mulher incrível, você não acha?

- Não! - Red cochichou.

Piper assustou-se, gingando os ombros; olhos e boca espantados.

- Aquilo era uma megera. - sorriu ciente de que estava sendo maldosa. O que poderia fazer? Não suportava a defunta! - Ela não merecia morrer daquela forma, mas... já que morreu... O Diabo que a carregue.

- Uh! - Piper se benzeu todinha - Credo, Red! Não diga uma coisa dessas porque eu fico toda com medo.

A governanta riu juntando as mãos. Piper era um doce.

- Posso te perguntar uma coisa?

- Sim, vamos lá, pergunte.

- Acha mesmo que, você sabe quem, leva as pessoas mal-humoradas com ele?

A carinha de ansiedade misturada ao medo fez Red sorrir ainda mais.

- Acredito que sim, Piper, mas você não deve se preocupar com isso. É religiosa?

- Sou! Eu sou, Red. - Ela deu meio sorriso mas depois voltou à carinha de angustia - Deus é bom e ele também é misericordioso.

- Aleluia! - Nicky ao entrar na cozinha levantou as mãos para cima, fingindo orar.

Piper simpatizou com a cena, quase pulando e balançando os babados do vestido que lhe fora emprestado por uma das cozinheiras.

- Me chamou? - Nicky esfregou a mão na curva do rosto e revelou o quanto estava abatida.

Red afirmou com um gesto de cabeça.

- Estão preparando o jantar de Alex.

Escutando o nome, Piper deu um passinho de nada até Nicky.

- Alex está bem?

- Ela está dormindo. - Respondeu para as duas - Tomou um banho e os remédios. Ela só deve acordar amanhã de manhã.

- Eu queria poder tanto fazer alguma coisa. Você acredita? - Ela segurou as mãos de Nicky, fazendo uma prece com seus olhos aflitos.

- Ei garota, não se preocupe, Alex vai sair dessa bad. - Devolveu o aperto nos dedos macios. Olhando-a de perto, Nicky suspirou. Piper era linda...

- Nós três poderíamos rezar! - a ideia veio como um relâmpago. Piper rezava todos os dias ao lado de Carol; sua mãe era uma mulher bem rígida e religiosa.

- Rezar? - Nicky e Red inquiriram juntas, quase espantadas. Elas nem sabiam direito o que era rezar.

- Sim! Podemos rezar para a alma de Maritza... Ah, e rezar para que Alex fique boazinha. Ela disse que me mostraria uns desenhos, estava tão feliz e agora, pobrezinha, ela se sente triste.

- Nem com reza brava, Piper. Mas eu gostei da tua atitude.

- Você não é católica? - Ela investigou o rosto de Nicky.

- Eu não acredito nessas coisas.

Piper, assustada, olhou Red.

- Deus! Você ouviu o que ela acabou de dizer, Red?

- Nicky é a reencarnação do próprio Diabo, querida.

Nicky deu uma encarada no corpo de Piper, comprovando o que a governanta dissera. De pressa, Piper se colocou atrás do corpo da russa.

- Red, querida... - Amy entrou na cozinha carregando um lencinho junto ao nariz. Ela se policiou ao notar que Red estava acompanhada. - Avise aos cozinheiros de que o jantar foi cancelado.

- Avisarei.

Amy se virou e tocou o braço de Nicky.

- Alex está melhor?

Nicky repetiu toda narrativa. Amy deu um suspiro entristecido.

- Se sente muito angustiada, não? - A perguntinha foi feita por Piper.

A mãe de Larry apertou o lenço entre o nariz e os lábios, enchendo os olhos de lágrimas. Levemente, Piper colocou a mão no rosto dela, afofando-o.

- Nós podemos rezar. Vai aliviar e Deus vai te escutar.

- Eu acho que sim, querida.

- Ela é alguma fanática religiosa? - Nicky perguntou e Red deu de ombros.

- Não é preciso ser para conversar com Deus, Nicky. - Piper disse - Ele escutará os corações angustiados.

Nicky sorriu levemente.

- Você tem razão.

- Podemos? - Piper insistiu, olhando Amy. - Se quiser eu mesmo te ensino a rezar.

- Seria um enorme prazer, Piper. - Amy conseguia encontrar um alívio nos olhos expressivos da moça. - Sua mão cheira a alhos.

Piper escondeu as mãos, embaraçada.

- Ela estava com um monte deles, Amy.

Amy sorriu e foi à vez dela de tocar o rosto da loira.

- De onde será que essa criatura surgiu?

- Não faço a mínima ideia, Nicky, querida. De qualquer modo, gosto dela. É uma menina no corpo de uma mulher.

- E que mulher... - Nicky não perdoou e abraçou os ombros da amiga. - Ela é um encanto. Minha mãe aprovaria. - Elas seguiram até a segunda cozinha.

- Gosta dela? De Piper...

- Eu a acho muito interessante. Investir em alguém como ela seria como mergulhar em uma comédia romântica. - Roubou uma banana da fruteira. - E além do mais, meu vício é em sex*, eu já lhe contei.

- Quanta tolice. - Red ajeitou os cabelos, recostando-se as lavadoras de pratos. - Alex comentou alguma coisa?

- Nada... - Ela enfiou o ultimo pedaço de banana na boca. - Hm... Sabe o que é nada? Então... Ela está muito quebrada. Quando voltar a funcionar, santa merd*... Vai atrás do caso.

- Pobre da minha criança. - Ela fez uma expressão de dor. - É a segunda companheira que ela perde.

- É melhor não tocarmos neste assunto... Vamos esquecer.

- Você tem razão. - Ela passou a mão no avental e se recompôs. - Bem, eu preciso ir dar o recado aos cozinheiros.

- Certo... Eu tenho que ir para casa. Estou aqui desde a noite passada.

- Vá descansar menina. Se Alex acordar, eu lhe aviso, não tem problema.

 

Tarde da noite Piper olhava de um lado para o outro no quarto de hóspedes. Ela estava estranhando o tamanho do cômodo, a cama alta, o silêncio profundo. Oh, céus! Que medo sentira... Amy havia lhe emprestado roupas de dormir, lhe levado um lanche e saído do aposento, em seguida. Piper não conseguia agarrar no sono. Pensava em Carol, em sua casa... Queria voltar para lá e esquecer o mundo adventício em que se metera. Carol nunca lhe permitiu sair de casa. Piper nunca teve amigos, nunca teve contato com outras pessoas além da mãe e do velho carteiro... Carol era quem resolvia tudo. Piper só a ajudava dentro de casa. Apesar da rigidez de sua mãe, a moça de vinte e seis anos era completamente feliz com a mãe que tinha. Carol não era de demonstrar amor, mas Piper sentia-se amada por ela. Em casa, Piper tivera aulas de piano, pintura, literatura, dentre muitas ulteriores. A mãe era a responsável pela educação da moça. Então, o mundo exterior ainda era um incógnito doloroso para Piper. Carol nunca havia lecionado a realidade dele... Ela nunca imaginou que a filha pudesse sair e descobrir o mundo. Esperava que Piper envelhecesse em casa, sem ter acesso à maldade que atormentava a raça humana. Queria privá-la, criá-la apenas para si... A morte interrompeu-lhe os planos. Piper, infelizmente, havia ficado sozinha e despreparada para enfrentar a realidade sem as asas da mãe. Ela chorava baixinho, refletindo a situação. Esfregando um pé no outro, ela se zangou e levantou da cama.

- Deus! Eu não estou conseguindo dormir. - Secou o rosto e andou até as janelas do quarto. Lá fora neblinava bastante, mas a noite ainda estava tão bela.  - A atmosfera está baixa... Acho que amanhã fará sol. - Bateu o nariz no vidro, embaçando o mesmo com sua respiração. Olhou o enorme pomar, as plantações, as quadras... Que lugarzinho enorme. Que fortaleza. Seus olhos não alcançaram nem a metade daquela big propriedade. Talvez ela tivesse até um mapa. Os círculos de luzes das áreas mais baixas do casarão estavam todos acesos. Os irrigadores giravam na grama... Os seguranças davam uma incidida por ali de vez em quando. Tédio! Piper se virou e ficou pensando se Alex estaria dormindo. Ela jogou o robe por cima do pijama e saiu do quarto. O corredor ficava tão assustador durante a madrugada. Talvez fosse por conta dos quadros de arte renascentista... Embora conhecesse de perto a cultura renascentista, Piper, ainda assim, tinha muito medo. Abraçando a si mesma, ela começou a caminhar. Desceu até a sala da ala norte e admirou os retratos de família, as estantes cobertas por livros, a coleção de CDs, vinis e DVDs. Suspirou. Seguiu para a sala de música... Um piano branco lhe arrancou um sorriso nostálgico. Seus dedos vibravam... Oh, como queria se sentar ali e tocar as primeiras notas. Cogitou a ideia, mas ficou com medo de não gostarem. Aquela seria uma atitude que faria Carol lhe dar um belo de um tapa nas faces. Segurando o rosto, relembrando o passado, ela saiu dali às pressas. Na sala principal, Piper encontrou Shelby. O cachorro reclamou assim que viu a sombra dela, mas após a reconhecer, ele saltou por cima das poltronas, simpático e atencioso.

- Te colocam para dormir aqui? Você pode subir e me fazer companhia? Estou estranhando estar aqui. É tão grande...

O cachorro de Alex batia a pata no colo dela.

- Está querendo dizer alguma coisa? - Sem tirar os olhos dele, Piper se sentou no braço de uma poltrona luxuosa. Shelby deu um salto e se sentou nos pés dela, tornando a bater a pata em suas pernas. - Está com fome?

Ele latiu. Ela sorriu e abraçou o pescoço dele.

- Você é o cachorro mais fofo do mundo. Eu só não tenho nada para lhe dar. - Ela se desculpava com o cachorro. - Só restaram as migalhas do meu sanduíche... Estão lá em cima.

Ela deu ao cãozinho uma atenção especial. Acarinhava o focinho dele, fazendo os grandes olhos pretinhos brilharem.

- Quantas salas esta casa possui? É tão grande que caberia muitas pessoas. - Apreciava o olhar do bichinho. - Ai! Você é muito lindinho. Eu quero te apertar bastante. - O fazia. - É bom abraçar você, cachorrinho. Eu estou me sentindo muito triste. Alex e a tia Amy estão muito fragilizadas. Daya... - Ela desfez o abraço. Shelby enfiou o focinho no meio das mãos dela. - Eu não tenho ninguém. A única pessoa que eu tinha faleceu. - Ela fez carinho no nariz gelado de Shelby. - Larry deve ser o meu amigo, não? Ele me defendeu e me trouxe para cá. Você acha que eu sou digna de ter amigos? Mamãe dizia que não. Ela dizia que eu não teria pessoas confiáveis além dela.

O cachorro lambeu os punhos dela.

- Bem, Shelby, eu devo subir. Não tenho permissão para ficar transitando pela casa. Tia Amy pode não se alegrar.

Uma risada infeliz e baixa se fez ouvir. Piper, assustada, caiu para trás. Shelby foi socorrê-la puxando-a pelo robe.

- Levante. - Alex estendeu a mão a ela, manifestando sua corporatura majestosa. Ela usava roupas casuais. Parecia voltar de uma caminhada... Ou algo assim. Não era importante a veste dela, e sim, o semblante. Ela parecia fanha de tanto que havia chorado. Os olhos ainda estavam vermelhos. Os cabelos presos em uma trança lateral. Estava sem óculos. Piper segurou no braço dela e foi levantada.

- Alex! Puxa! - Ela ficou um pouco feliz em vê-la. Esfregava a cabeça... Doía um pouco. - Ei! Você estava aqui? Não tinha visto você. Eu juro que não estava mexendo em nada. Está tudo no lugarzinho certo. Só me sentei aqui com o cachorrinho.

Alex foi até a parte traseira do estofado, abaixou-se e apanhou uma garrafa de uísque.

- Eu estava aqui atrás quando você entrou. Shelby me fazia companhia. - Evitou olhá-la. Apesar de se sentir um lixo, Alex não podia esquecer a conversa que escutara. Ela saberia um pouco mais se não tivesse soltado uma risada. Enfim, deixou passar. Queria ficar sozinha. - Pode ir se deitar.

- Está triste? Não bebe isso, Alex. Deve ser tão horrível.

Alex se sentou no sofá e acendeu um cigarro, desinteressada no que lhe causaria mal.

- Eu quero ficar sozinha.

Piper esfregou os pés, mordendo os lábios, sem sair do lugar. O cheiro insuportável da fumaça causou-lhe uma sequência de espirro. Shelby pulava, pensando que ela brincava de espirrar, contente.

- É alérgica?

- Não sei. - Ela respondeu. - Apague isso daí. Fede demais. Como chama? Eu esqueci o nome.

- Cigarro! - Alex revirou os olhos. - Você é esquisita, Piper.

Agora ela alisava os braços.

- Nicky disse que você só acordaria amanhã.

- Acontece que eu não tomei os malditos remédios. - Disse agressivamente. - Eu só queria que ela parasse de se preocupar comigo, que me deixasse ficar sozinha! Eu quero ficar sozinha!

- Por favor, não grite. - Ela pediu num fio de voz.

- Eu grito sim! - Elevou a voz.

Assustado, o cachorro começou a latir.

Piper odiava gritaria. Ela entrava em pânico. Usando as duas mãos, ela as apertou nas orelhas, ajoelhou-se e se encolheu, se protegendo dos latidos assustados do cachorro.

- Shelby! - Alex ainda gritou. - Cale-se! Cão tolo!

Ele resmungou, rebol*ndo e se sentando sobre as duas patas traseiras. Penalizada, Vause apagou o cigarro em cima da capa de uma revista e ajudou Piper a levantar-se. A moça tremia.

- Não! - Ela sentia tanto medo que evitou ser tocada por Alex.

- Fique calma! - Exclamou e sacudiu os braços da outra. - Eu não vou machucá-la.

- Gritou comigo, Alex. - Disse num lamento agudo, por muito pouco não chorando. Os olhos de Alex não eram fáceis de desvendar. Ela lhe olhava de modo nunca visto antes; mistura de compaixão, curiosidade e tristeza... Talvez nem isso.

- Eu só quero ficar sozinha. - Desistiu e soltou a moça.

- Por quê? Ainda está triste? Nós podemos orar um pouquinho.

- Orar? - Se viu sorrindo. - Quem disse a você que eu preciso orar... Sua... 

Piper abriu a boca. Alex completaria com "doida varrida", mas a moça só tentava ser gentil.

- Ouça Piper, eu quero que você saia já daqui! Deixe-me em paz. - Ela agarrou a garrafa de uísque que estava no chão e bebeu no gargalo. - Me deixe sozinha com minhas enfermidades.

- Está tão brava.

Alex riu.

- Descobriu isso sozinha?

- Não... De jeito nenhum. - Fungou. - Não gosto de presenciar a tristeza. Você é bonita, não precisa gritar com pessoas que querem te ajudar.

- Me acha bonita? - Foi só isso o que ela escutou.

- Sim. Se parece com sua mãe. Eu gostei de tê-la conhecido. É muito boa e sempre me escuta.

Vause voltou à realidade.

- Não fale em minha mãe. Ela não se importa com ninguém. Não se deixe enganar.

Piper sentiu o peso daquelas palavras.

- Ei, só não fique triste.

- Por que você se importa? Nem me conhece para tal afoitamento.

Fitando os pés, Piper disse:

- Eu também fico bem triste com algumas coisas. - Ela começou a mexer nos dedos das mãos, tímida. - Não existe alguém que possa me pedir para não ficar assim. Então, gosto de consolar outras pessoas, me sinto bem e é como se eu me ajudasse.

Alex respirou profundamente. Estava arrasada com a morte de Maritza, não escondia, entretanto, escutar aquilo que Piper dissera... Partiu-lhe mais ainda. Deu um tempo. A loirinha de pés descalços ainda brincava com os dedos, cabisbaixa. Ela seguiu o silêncio e alcançou os olhos de Vause. A morena ainda estava sentada, garrafa largada e apoiada em seu corpo. Piper quase se desculpou e se retirou... Teve uma ideia.

- Gosta de música?

- Hm.

- Gosta?

- Sim... - Alex respondeu sem vontade.

- Escute uma música alegre. Alivia um pouquinho disso que você está sentindo.

- Eu não preciso ouvir nada.

- Precisa sim, boba.

Vause arqueou a sobrancelha para a ousadia da outra, mas ela o fez de forma inocente... Deixou passar. Piper se agachou e passou o braço por cima do pescoço de Shelby. - Você também pode tocar piano, Alex.

Sem nada dizer, Alex se levantou com a garrafa e seguiu até a sala de música. Shelby a seguiu e deixou Piper para trás. Movida à curiosidade, ela se aproximou e ficou um pouco contente quando Alex a deixou entrar e a pediu para fechar a porta. Ela encarava o piano, pensando se tocava...

- É tão bonito. - Piper ficou parada ao lado do instrumento. - Você vai tocar? - Mostrou-se ansiosa.

- Você não me deixa pensar, indivídua. - Alex fazia círculos nas têmporas.

- Ops. - Piper sorriu. Olhando Shelby, piscou. - Shiu. Alex precisa pensar.

- Ainda estou ouvindo você...

Piper fez mímicas para o cachorrinho. O mesmo procurou por um assento e por lá ficou.

- Posso-

- Zippt!

- Mas-

- Silêncio!

- É quê-

- Caralh*, Piper!

A loirinha ficou vermelha. Ela engordou as bochechas com o ar preso em sua boca. Alex a olhou e deu uma única risada... A risada pura, sincera e... Feliz? Repensando o conceito da felicidade, ela endureceu as costas e deixou de sorrir imediatamente. Alcançou a garrafa já pela metade de uísque, concentrou-se e tomou um gole encorajador.

Atraída pelas teclas do piano, Alex começou a tocar Better in Time, de Leona Lewis. Piper achou a melodia muito dramática. Tocou-a no ombro, fazendo-a errar uma ou duas notas.

- Você precisa de alguma coisinha mais alegre. - Vause forçou os olhos em seu rosto. - Eu posso falar, não é? - Deu um sorriso forçado, engraçado. Alex revirou os olhos. Desistiu de tocar. - Posso tocar um pouco?

Surpreendida, a morena quase deslizou para fora do banco ao olhar, espantada, Piper.

- Como assim? Você toca piano?

Tímida que só ela, abaixou a cabeça, envergonhada, mexendo os dedinhos dos pés.

- Eu sei tocar um pouquinho. Aprendi aos dois anos... Eu acho. Não! Espera... Eu tinha três. Três anos! - Ela deu um saltinho, balançando as mãos.

Alex começou a esquecer das lástimas... Pelo menos por enquanto.

- Veja só... - Alex cedeu o lugar a ela. Piper passou por si rapidamente, meia sem jeito. - Vai tocar o quê? High School Musical?

- Não sei o que isso significa. - Deu um sorriso maravilhoso ao piano. - Não tocarei nada do que acabara de dizer.

- Tem certeza de que você toca alguma coisa?

Alex sentou nas costas do piano. Piper a olhou. As duas se olharam... Vause ficou idiotamente hipnotizada. Piper sorriu e piscou os olhos.

- Eu sei. Não garanto que vá gostar. Mamãe não gostava dessa música. Dizia que era muito alta...

- Deixe-me descobrir.

Piper ficou corada. Não entendia a confusão que nascia em seu peito cada vez que olhava para Vause. Gostava de quando ela estava fleuma e atenciosa. Novamente sorrindo, Chapman tocou algumas teclas buscando em sua memoria, a partitura da obra.

Em Lá maior, Piper deixava a morena de boca aberta. Ela estava de olhos fechados, movimentando o pé nos pedais e as mãos sobre as teclas do piano. Os dedos pareciam brincar de correr e espalhar a suave e alegre música clássica. Piper tocava Turkish March, Mozart, concentrada. O rosto dela tinha um aspecto diferente... Maduro. A postura rija. Os olhos acompanhando cada movimento dos dedos. Era incrível demais. Alex sentiu um impacto muito profundo. Ao terminar, Piper sorriu.

- Você gostou?

Alex estava sem resposta. Ela se sentia idiota por isso... Claro... Não era para menos.

- Não gostou? Eu sinto muito. Eu-

- Você tocou Mozart... Sem uma maldita partitura.

Chapman não sabia se a observação era boa ou ruim. Esfregou as mãos.

- Eu nunca consegui tocar nem o começo... - Vause seguia divagando. - Você é profissional. Não é qualquer enfermeira que toca uma obra dessas... Nunca!

- Ah, mas-

- Você também canta ópera?

Piper mexeu o nariz. Opera? Não! Alex seria tão boba de pensar aquilo? Sorriu.

- Ópera é um drama cantado, acompanhado por orquestra... É teatral. Não sei cantar muito bem. - Ela endureceu assim que Alex puxou seu braço e segurou em sua mão.

- Me conte mais sobre o gênero.

- Não há muito o quê se explicar. Gosto de tocar piano. Gosto das músicas que aprendi. - Tomou a mão, devolvendo-a ao piano.

Piper adorou entrar em um assunto tão conhecido por si. Ela não ficava sem jeito ao dialogar sobre. Era muito experiente quando se tratava de música erudita. Wolfgang Amadeus Mozart era seu compositor favorito. Carol nunca permitiu que ela tocasse outros tipos de músicas a não ser a clássica. Tinha vez que Piper dava as suas escapadas e embarcava em outras hierarquias musicais. Carol era muito exigente, e como pianista profissional, não admitia a falta de atenção de Piper quando errava uma nota. Ela a batia no rosto e a deixava de castigo. Mesmo diante de tanta severidade, Piper nunca sentiu ódio da mãe.

- Conhece essa? - Enquanto afundava os dedos nas teclas, o pé nos pedais, ela inquiriu a Alex, produzindo o som animado de Carmen Suite No. 1.

Alex sorria e balançava os braços.

- Garota, você é um gênio. Não sei se estou bêbada demais - esfregou o rosto - ou se estou diante da encarnação de grandes compositores da música clássica.

Ela ficou envergonhada. Finalizou a música e recebeu aplausos.

- Estou feliz! Você está mais risonha.

Alex fez uma careta. Porque tinha de lembrá-la? Sem nada dizer, saltou de cima do piano e passou a tocar Fur Elise.

- Eu adoro. Adoro bastante... Fur Elise... Toquei muito. É muito incrível. - Movida à empolgação, Piper se debruçou sobre as costas de Alex, apoiando o queixo no ombro dela.

O coração da morena batia de modo assustado. Ela relutou para não ficar arrepiada. Piper era tão inocente. A pobre nem notou seu desconforto, permanecendo onde estava. Vause, entretanto, sentiu como se um anjo repousasse em suas costas, espalhando e trazendo a paz celestial.

- Qual a mais difícil?

- Música?

Alex assentiu e diminuiu as notas.

- Quase nenhuma! A mais complicada para mim, Mmm... - ela saiu de cima de Vause. - É a Eine kleine Nachtmusik. - Tocou o queixo, observando algum ponto fixo da sala. - Serenade in G major, K. 525... É a minha favorita. - Espionou Alex. A dona dos olhos verdes lhe encarava de volta, deixando de tocar as teclas do piano. - Já ouviu?

- Não reconheço este tipo de música pelo nome... Exceto algumas. Mas deve ser incrível, como diz você.

- Muito! - empolgou-se. - Eu demorei sete anos para aprender a tocá-la sozinha. Ela é composta por uma sinfonia, o quê dificultou e fez com que eu demorasse muito. Você sabe o que é uma sinfonia, Alex?

Vause negou. Falando e explicando tudo aquilo, Piper parecia uma nerd da idade moderna.

- Sinfonia é o melhor e mais importante gênero musical. Dessemelhante ao concerto, não possui relevo de nenhum instrumento, sendo que cada um possui vários duelos ocasionais na melodia.

- É o tipo de melodia que possui todo tipo de instrumento ao mesmo tempo?

Piper coçou a cabeça.

- É... Quase isso.

As duas sorriram.

- Eu tive que me virar e tocar tudo isso em forma de tocata. Era o presente de minha mãe. Ela ficou muito contente quando eu pude tocar.

- Já te disseram que você fica muito diferente ao falar sobre este assunto?

Ela abriu a boca, várias e várias vezes... Nada saiu. Alex resolveu encerrar a noite.

 

- Obrigada por ter me distraído. - Alex a levou até a porta do quarto.

Aquela ruguinha no cantinho do olho direito de Piper fez Alex morder o lábio. A loira unia os lindos olhos, quase se desmanchando a cada agradecimento que recebia.

- Me desculpe por ter gritado com você.

- É uma gritona. - Cruzou os braços e depois deu risada, os descruzando. - Ei, se sente melhor?

- Um pouco. - Respondeu de forma cansada.

- Eu acho que dormiria com você, mas você precisa ficar sozinha.

Vause riu.

- Você é incrível. - Instintivamente ela colocou a mão no rosto angelical. Piper fechou os olhos e empurrou o rosto contra a mão quente. Acompanhando o ato, Vause quebrou o contato, limpou a garganta e apontou para baixo. - Shelby dormirá com você.

- Ei, você vai ficar bem?

- Ei, ei, ei... Quantos "eis". Eu tenho nome, sabe?

- Alex. - Ela ficou sem jeito, mas a timidez passou quando Alex soltou uma piscadela. - Você vai dormir bem sozinha?

- Não se preocupe com isso, gênio do piano. - Brincou com ela. Piper carregou a mão até o peito, aflita em pensar que Alex poderia se trancar no quarto e chorar até o nascer do dia. - Não chorarei. Se for isso que você está pensando.

- Acertou. - Ela respondeu. Alex deu um passo à frente. Piper de repente ficou vermelha demais, sorrindo disfarçadamente.

- O que há?

- É... Que você... Você está pisando nos meus pés.

Vause esbugalhou os olhos, afastando-se.

- Machucou? - Ela se curvou e olhou os dedos longos dos pés de Piper. Eram lindos... Ficou receosa por pensar que os pisou sem querer.

- Não... Não doeu. Estou bem.

- Tem certeza?

- Oh, oh, eu tenho, Alex, você não precisa se preocupar não, viu?

- Não irá precisar de uma ida ao cirurgião plástico? - Alex gostava de vê-la sorrir e ficar toda boba para saber se falava a verdade ou não. Piper era intrigante.

- Eu acho que não. - Ela conferiu os dedos em uma leve movimentação. Shelby deu uma lambida em seus pés. Agoniada e sentindo cócegas, ela se jogou para cima de Alex Vause, e as duas caíram no chão.

- Droga! - O resmungo de Vause se fez presente. Em cima de si, ela, Piper, lhe olhou nos olhos. Estavam próximas. A ponta do nariz dela tocou o seu, brevemente, espalhando uma ansiedade grande em cada partezinha de seu corpo caído no chão do corredor. As pupilas de Piper estavam dilatadas. Olhá-la tão de perto parecia ser uma obra dos céus, ou do inferno, porque Vause se sentiu tentada a fazer coisas que não estavam escritas no livro sagrado. Nem de longe. O peso do corpo dela. Os seios esmagados sobre os seus... A boca tão próxima, os cabelos que lhe faziam cócegas nos ombros.

Piper parecia confusa... Curiosa. Ela estava com os lábios entreabertos soltando a respiração que parecia ter se transformado em uma só. Vause inspirava e Piper, devagar, soltava o ar pela boca. Jamais em toda a sua vida ela tinha tido uma aproximação tão íntima com outra pessoa. A experiência não era ruim. Ela nunca havia beijado alguém, e Alex estava prestes a mudar isso. Shelby atrapalhou os planos da dona. Ele começou a pular e a lambê-la na bochecha, fazendo o mesmo com Piper. Alex se mexeu e a loira saiu de cima dela, ficando um tanto sem jeito.

- Ok, Piper, eu acho que devemos dormir. Sai de cima de mim, Shelby. - Ela se levantou. - Eu estou bem.

- Bateu com a cabeça no chão. Não formou um galinho? Coloque uma faca. Ajuda a diminuir.

- Não há galinho algum, Piper. - Alex quis dar um soco em si mesma. Desejou outra mulher no período de luto em que perdera a noiva. Sabia que o desejo por outras mulheres viria à tona, só não imaginou que fosse tão depressa... E com Piper! - Boa noite! - Fugiu dali o mais rápido de pressa. O cachorrinho a seguiria, Piper o chamou e ele voltou.

- Vamos tentar dormir. Você viu aquilo? Eu fiquei em cima dela e comecei a sentir um friozinho na barriga. - Fechou a porta do quarto e se apoiou à mesma. - Foi tão estranho.

O cachorro se acomodou na cama, lambendo as patinhas. - Puxa, que confusão! - Deu uma sacudida de cabeça. - Vou tentar dormir.

 

Fim do capítulo


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