Capitulo 2
Alex sanou as batidas na porta assim que Larry lhe cedeu permissão para adentrar o quarto. Um sorriso preguiçoso se estendeu nos lábios vermelhos, sendo direcionado até o primo. Larry se zangava ao tentar dobrar o lenço de lapela no bolso do smoking, próximo ao espelho do leito. Alex ronronou e sentou em uma ponta da cama, cuidadosa.
- Faz quanto tempo que você vem tentando manipular a arte de lidar com lenços? Aposto até que você não aprendeu como dar nó em suas gravatas.
Ele tirou o lenço do bolso, embravecido.
- Ótimo vê-la, querida Alex Vause.
Alex fez um pequeno movimento com a cabeça.
Larry conteve a rincha com o fato de não conseguir ajeitar o maldito lenço no bolso, sorriu e admirou a bela Alex. Ela destilava um vestido sexy profundo, com mangas longas e um decote em V. Os cabelos estavam delicadamente presos de lado. A maquiagem era sempre escura, como se ela quisesse manter a incógnita por detrás da sombra negra abaixo de seu sobrolho. Larry e John sempre tentaram tirar vantagens com Alex, mas ela era astuta, frígida e objetiva, sem contar à preferência que tinha por mulheres. O homem ficou parado diante do sorriso debochado, mas discreto, de Alex.
- Não vim até aqui para dar um jeito em seu lenço, meu caro. - Empurrou-o.
- Já que está aqui, não custa nada. - Larry alcançou o lenço prateado, o agitou e o passou para Vause. Ela o dobrou em menos de dez segundos, levantou e o colocou no bolso apertado do smoking.
- Quem é aquela mulher que o acompanhará no jantar? - Ela o perguntou, dando os últimos ajustes na ponta do lenço. Larry sorriu, motejado. Alex Vause era ótima.
- Piper?! - Ele precisou caminhar até o espelho, para não parecer nervoso. Larry sabia que aquele tipo de questionamento ocorreria. Alex resmungou. - Ela é minha namorada.
- Sabe que é idiotice me enganar, não é?
Larry a olhou com espanto.
- Eu sou feio demais para conseguir uma namorada?
- Não se trata de venustidade, Larry. - disse. - Há algo errado com ela!
- Há algo de errado com todos nós. - Ele deu risada, abandonando o espelho. - Vamos descendo? - Ele a deu permissão para sair à frente, e em seguida trancou a porta. No corredor ambos se depararam com Howard.
O pai de Larry sorriu indo dar um breve abraço no filho.
- Finalmente. - O soltou para poder continuar a falar e a olhá-lo. - Você ficou há muito tempo sem nos dar notícias.
Larry balançou a cabeça, dando uma rápida, mas significativa, olhada em Alex. Ela cruzou os braços, impassível.
- Sua mãe pensou o pior.
- Eu só estive muito ocupado, pai. - Apesar de tudo ele não mentia. Mas não estivera ocupado com coisas proveitosas, no entanto. Houve um breve silêncio. Howard tinha a precisão de observar bem as pessoas com quem conversava. Depois de sua análise, ele inquiriu:
- Então, quando vou conhecer a sua nova namorada?
Alex sorriu sarcástica.
- Se me permite dizer, tio Howard, eu já tive o desprazer de conhecê-la. - Ela disse. Larry amoleceu as costas, quase se apoiando no ombro do próprio pai. Notando seu desconforto, Alex Vause tentou soar mais proveniente. - Pelo simples fato de ela desorganizar o meu dormitório.
Howard franziu as sobrancelhas. Ele sabia o quão reservada Alex era com seu espaço.
- Sua tia me contou a respeito, querida Alex. Em nome dela, eu a peço perdão. Não sabíamos de seu retorno ainda hoje. - Ele a fez sorrir. Olhando Larry, esperou.
- O senhor a conhecerá agora, papai. No jantar.
- Certo. Perfeito. - Deu um aperto no braço dele. - Sua mãe disse que ela é muito bonita.
- Ela é... Sim... - Olhou Vause, como se a pedisse para encerrar o assunto, visto que, seus pais a tratavam como uma mulher recatada e equilibrada. Ela sabia manusear e encerrar os diálogos da família... Quando queria. - Piper é muito bonita. Ela me fez repensar o meu futuro.
- Inteiramente. - Vause não podia deixar de debochar. Ela não havia memorizado os traços do rosto de Piper, mas o azul profundo de seus olhos ainda permanecia bem visível em sua lembrança.
- Torço para que você esteja nos dizendo à verdade. - Howard olhou bem para o rosto de seu filho.
- Boa noite! - Diane Vause, bela e sorridente, caminhava pelo corredor, com um cigarro preso entre os dedos. Ela usava roupas apertadas, com um decote bem generoso. Howard, seu irmão, revirara os olhos. - Larry, Larry, Larry... - Mudou o cigarro de mão, dando uma corridinha na ponta dos saltos. Perto do sobrinho, o abraçou. - Querido. - O balançava, soltando uns gritinhos. - Você está muito bonito. - Deslizou os braços por cima dos ombros dele, podendo assim o ver de frente. - Fez plástica?
- Uma ou duas. - Larry brincou e ela deu risada, jogando o corpo para trás.
- É bom saber que a família estará reunida nesta noite. - Apertou o queixo do sobrinho. Em uma rápida estudada em Alex, ela estendeu um sorriso nos lábios avermelhados. - Não me dará um abraço?
- Eu os vejo na sala de jantar. - Howard se retirou. Ele amava a irmã, mas não tinha muita paciência com o jeito de perua que ela tinha.
- Acompanharei meu tio. - Alex contou, planejando fugir das frescuras e doidices de sua amada mãe. As duas tinham uma relação tranquila, mas assim como Howard, Vause não tinha muita paciência com as lorotas que Diane soltava. A via como uma mulher burguesa, uma mulher adaptada ao luxo. Ela agia como se fosse uma eterna adolescente. Adorava fumar, beber e badalar. Sempre que podia aparecia com um novo namorado, tendo o dobro da idade deles. Ela nem sempre fora tão imprudente. Após a morte do marido, Diane perdera completamente o bom senso. Desde então, ela era uma eterna teenage girl.
- Meu bebê! - Mesmo sabendo que Alex era acanhada demais, Diane a abraçou. - Estou feliz que tenha voltado a tempo para o jantar.
Vause a separou de si, sendo educada.
- Espero não me lamentar por ter tomado esta decisão.
- Larry? - John o foi abraçar. - A mamãe contou que você viria, mas eu não acreditei!
- Milagres acontecem! - Larry encerrou o abraço. - Como vai?
- Eu estou ótimo! - Ele disse e mudou a taça de champanhe para a outra mão, olhando Alex Vause se aproximar. - Ei, priminha. Você sempre volta mais bela para casa.
Ela arrematou um sorriso animado. Gostava das babaquices que John soltava. Dentre ele e Larry, ela o preferia. Mas, apesar de tudo, ela amava os dois, pois sabia que ambos possuíam ótimos corações... Embora fossem dois cafajestes.
- Sempre que volto, eu o encontro cada vez mais imbecilizado.
John tocou na armação dos óculos dela.
- Desculpem o atraso. - Maritza chegou por trás deles, já se desculpando. Ela abraçou John, deu um leve beijo nos lábios de Alex e, por último, cumprimentou Larry, sem esconder a surpresa por recebê-lo ali. - É bom vê-lo, Larry. Havíamos perdido a esperança em vê-lo por aqui.
- Ele veio e trouxe a namorada. - Zombou Nicky, descendo as escadas, podendo escutá-los. Eles estavam tão próximos ao elevador. - Ei, Bloom... - Ela deu um longo abraço nele. Em seguida ela beijou os dois lados do rosto de Maritza. - Por que estão reunidos aqui? - Seus olhos vagavam pelo hall e pela enorme sala de estar. Havia pouquíssimos convidados.
- Larry está namorando? - Mostrando sua face surpresa, Maritza recostou-se á Alex, saboreando a novidade. Ela era muito intima daquela família. Os conhecera no segundo mês de noivado com Alex Vause, cinco anos trás.
- Vocês são problemáticos ou o que? - Larry inquiriu de modo geral. - Parece que a grande novidade da noite nem é o jantar, mas sim o meu namoro.
- Você é novidade para nós, meu querido. - Alex ainda sorria de modo centrado. - Sua namorada também.
- Tanto mistério com a namorada de Larry. - John engoliu o líquido de sua taça, estalando a língua. - Hm... Mamãe comentou que ela é muito bonita. - Nicky concordou com a fala dele. - E que ela esteve ocupando o quarto de Alex.
No mesmo instante Maritza girou o corpo, buscando uma explicação direta de Alex.
- É verdade?
- Tia Amy a colocou para ficar em meu quarto, pois não fazia ideia de meu retorno.
- Tia Amy sabe o quão incomodada você fica quando alguém entra em seu quarto sem permissão. - Ela falava e brincava com o colar de Alex. - Espero que a enxerida da namorada de Larry - olhou para ele - tenha dado o fora.
Nicky deu uma risada. Alex, em sinal de suplica, lhe pediu discrição através do olhar. Ela não tinha medo das reações de ciúmes de Maritza, só não queria dramatizar - mais - o ocorrido.
- E então? - Maritza voltou seus lindos olhos à direção de Nicky. A tenista sorriu e deslizou dois dedos na gola do blazer. - O que há de tão engraçado aqui?
Nicole nunca gostara de Maritza. Ela era audaz, calculista e abrutalhada. Alex a conheceu em uma viagem à Grécia, onde apresentaria sua coleção de outono-inverno. A produtora de moda apaixonou-se por Vause, conseguindo então, chamar a atenção dela. Nicky notara que a latina era ainda mais apaixonada pelo status financeiro de sua melhor amiga. Contudo, Nicky nunca se voltara contra o relacionamento das duas, mas não escondia de Alex o seu desagrado. Alex Vause era completamente interessada em Maritza, e ela também era focada demais em sua profissão, dividindo a atenção entre a noiva e a moda. Vause não vivia por aí espalhando o seu amor por Maritza. Ela não era o tipo de pessoa que romantizava o tempo inteiro. Via-se controlada em se tratando de amor e suas consequências.
- Não foi nada... Maritza, meu amor. - Nichols piscou o olho para ela, recebendo uma respirada profunda, em resposta.
- Chamarei Dayanara. - John se apressou em dizer. - Você precisa conhecê-la, Larry.
- Daya é minha irmã.
Larry olhou para Maritza, espantado.
- Legal... Vejo que estamos todos em família. - Ele sorriu. - Você e Alex já juntaram os trapinhos?
- Nós estamos noivas. - Vause o respondeu, parecendo entediada. Nunca gostou de colocar em pauta o seu relacionamento com Maritza, porque sabia que a família a adorava e lhe pressionava para que o casamento fosse concretizado.
- Quem sabe Alex não se empolga com o casamento de John e-
- Agradeceria se nós nos focássemos no jantar de noivado de meu primo, Nicky! - Alex conhecia a melhor amiga, e sabia como ela adorava se destacar e zoar com seu desconforto no assunto.
Nicky gingou os ombros rindo dos olhos furiosos da amiga. Ela sabia que podia irritar Alex. Sempre o fez. Desde a infância. As duas eram como irmãs. Sempre estiveram presentes uma na vida da outra, nos piores e melhores momentos.
- Com licença, meus jovens. - O pai de Larry se aproximou com um copo na mão, direcionando-o ao filho. - Você não parou de beber, eu suponho.
Todos sorriram.
- Não... A menos que seja uma bebida sem álcool.
Mais risadas. Um garçom se aproximou e todos os que estavam sem bebidas apanharam uma taça de champanhe.
- Brindemos ao John e Dayanara. - Alex os incentivou, içando sua taça para cima, levemente. Os outros se juntaram a ela, sorvendo delicadamente a bebida, após.
- Então, Larry, onde está a sua namorada? - Maritza perguntou. Howard deu-lhe suporte na investiga, produzindo um sorriso irrequieto para o filho.
Larry olhou Alex e Nicky. A melhor amiga da prima queria dizer que Piper se preparava no quarto de Vause, com a ajuda de uma camareira. Se soltasse a língua, Alex teria problemas. Os três se entreolharam. Vause e Larry desconfiavam que Nicky sabia do paradeiro de Piper... Alex também sabia que ela ainda se mantinha em seu quarto. Sua cabeça já ameaçava de latejar, doer. Odiava aquela situação toda.
- Hm... Ela... Já vai descer. - Ele sorriu e convidou as outras duas a sorrirem com ele. - Ela é um pouquinho tímida.
Howard apontou por cima do tronco do filho. Instintivamente, os demais se viraram. Piper descia as escadas. Ela esfregava as duas mãos um pouquinho apreensiva. Descalça, a loirinha sorriu quando bateu os olhos em Larry. Por outro lado, o pequeno grupo a analisava. Piper começou a puxar a roupa para baixo. A veste mais se parecia com uma camisola sensual. Nada bobo, o pai de Larry deu um sorriso, aprovando o belo par de pernas da namorada do filho.
- Aqui está ela.
- Olá! - Piper respirou fundo, ansiosa. Ela tinha as bochechas rosadas, cabelos soltos e um pouco armados. Conforme olhava os que estavam próximos de Larry, encontrou o olhar avaliativo, mas zombeteiro, de Alex. Ela estava tão bonita. Piper pensou que pudesse elogiá-la, mas não o fez. Ela ainda estava chateada pela gritaria. Sem deixar de perceber, observou a mulher que estava escorada no corpo dela. As duas pareciam tão intimas. A moça lhe olhava com uma careta enjoada, como se visse a pessoa mais grotesca da vida. Chapman ficou bem amuada, dando um passo para o lado de Larry, que barrava a visão de Alex e Maritza, em seu corpo. Ela viu a sombra de Nicky ao lado de Howard, e lhe sorriu. Ela era tão boazinha. - Eu... Eu sou enfermeira.
- Oh, bem, isso é ótimo. - O mais velho disse todo sorridente. - Na verdade, eu não estou me sentindo muito bem. - Esfregou o peito por cima do smoking. Piper abriu a boca, avaliando se ele falava a verdade. Ela ficou bastante preocupada.
Alex encarou o tio, observando bem a cara de cafajeste que ele fazia. Dando uma negada de cabeça, ela suspirou e chamou a atenção de Maritza, que a olhou por um momento.
- Papai, meninas, esta é Piper.
Ela esfregou as mãos na roupa que vestia, sorrindo forçadamente.
- Oi! - Acenou para eles.
- Me chame de tio. - Howard ofereceu sua mão para um aperto. Piper o cumprimentou e, inocente, repetiu o gesto para Maritza.
A noiva de Alex arcou a sobrancelha, se rejeitando a segurar na mão daquela mulher contestável. Ela mobilizou o pescoço, em negativa.
- Olá. - Foi o cumprimento seco e sem cumprimentos físicos.
Piper encolheu o braço, olhando para Alex. Será que ela também reagiria assim?
- A Nicky - apontou-a, usando um sorriso cheio de certeza. - eu já conheci.
A própria acenou para ela.
Voltando-se á Alex, Piper apagou o sorriso acriançado.
- Alex... Alex também. - Mordeu o lábio, indecisa. A mulher que tomava a frente do corpo de Alex, a olhou, ultrajante.
- Hei! - John estava de volta, acompanhado por Daya.
- Oh, sim. - Howard o puxou para mais perto. - Este aqui é o meu filho John, o noivo.
Piper sorriu para ele.
- Olá! - Circundou a mão dele.
O pai dos garotos prosseguiu com as apresentações:
- E está é Dayanara, a noiva.
Sorridente, Piper a congratulou. Puxa! Quanta gente! Ela não estava tão acostumada com tal acontecimento.
- Sou Piper! - Ela olhou os noivos. - Sou enfermeira.
Daya segurou a mão dela. Não sabia o porquê, mas adorava a inocência de seu olhar, de sua roupa e seus pés descalços.
- Muito obrigada por terem vindo. - Desta vez, olhou Larry. - John me contou sobre você.
- Então é tudo verdade.
Eles sorriram. Alex e Maritza ainda continuavam analisando Piper.
- Foi uma grandiosa surpresa saber que vocês vieram. - Daya finalizou e balançou a mão de Chapman. - John disse que você e Larry se conheceram no hospital.
Larry sentiu um frio no estômago. Piper, nem tanto. Ela sorriu e afirmou. Afinal, ela não mentia. Gostou de saber que não mentia. Era um ponto bom.
- É uma longa história. - Sua forma apressada de dizer confirmava a Alex, sua mentira.
- É! - Piper soltou os dedos de Daya. - Nós nos conhecemos no hospital onde sou enfermeira.
Nicky mordeu o lábio para não gargalhar. Piper não cansava de repetir sua suposta profissão.
Alex sorriu do primo. Queria dizer o quão mentiroso era ele. Porém, ela ainda analisava os sinais de Piper. Ela era muito linda. Sorria com tanta honestidade, que parecia ser de outro planeta. Como se pressentisse a pressão de seu olhar, ela ligou seus olhares. Vause suavizou e relaxou os músculos de seu rosto, transmitindo à outra, segurança. Piper lhe sorriu, acenando. No mesmo minuto Maritza buscou o semblante da morena. Alex Vause fora rápida, desfazendo o semblante alegre. Tudo que a noiva encontrara fora a cara de tédio.
- Piper, eu acho que eles já entenderam essa parte, querida.
Ela se virou para ele, o tocando entre o ombro e o braço.
- Você contou a eles a parte em que você me salvou de um médico que não era realmente médico?
Os demais ficaram sem entender. Alex comprimiu o corpo, aprofundando os olhos no delicado rosto de Piper. Estava tão óbvio de que ela era uma moça singular, uma moça sem maldade dentro de si, uma moça que precisava ser protegida e amparada. Seus lábios ficaram secos. Ela achou que fosse melhor sair dali. Em um pedido de licença, ela se afastou da noiva e seguiu para a sala de jantar, bebericando seu champanhe.
- Um conselho, minha querida. - Nicky se manifestou. - Nunca namore um médico. Eles são tão distantes emocionalmente.
- Você já namorou um médico? - Piper se aproximou dela, curiosa.
- Médica. - Respondeu e foi culpada pelo tom avermelhado no par de bochechas da loira.
- Concordo com Nicky. - Daya disse e chamou a atenção de Piper.
- Nossa! Você é tão sarada. - Olhou o decote dela, sem maldade. - Seus seios são enormes.
A noiva só faltou saltar de tanta alegria.
- Obrigada! - Foi capaz de abraçá-la.
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Sentados à luxuosa mesa, Larry conversava com John, enquanto ao seu lado, Piper observava os lustres e pendentes lá no alto. Ela apoiava os cotovelos à mesa, medindo os pendentes, imaginando aquela coisa cheia de pequenas lâmpadas caindo na cabeça de Larry. À sua frente Alex estava sentada entre Nicky e Maritza. As três observavam a sua alienação.
- Hey, Piper-girl, você está bem? - Nicky perguntou e Piper a olhou.
- Esta coisa ali é segura? - Tornou a inclinar os olhos para cima. - Pode cair em cima de nós e acabar com tudo.
Alex sorriu e esfregou a lateral do rosto, disfarçando.
- É claro que é! Você pode até se pendurar nele.
Piper fez que não e olhou o cumprimento da mesa. Aos poucos os convidados foram ocupando os seus lugares. Distraída, ela passou a se apoderar de uma taça de champanhe. Experimentou e fez uma careta. O gosto era muito horrível... E libertador.
- Uau... - Ela gem*u, chamando a atenção dos devassos à mesa. Alex agarrou as laterais de seu prato, como se não desse corda ao arrepio que sentira em seus ombros. De repente, Piper e sua bebida viraram a atração da mesa. - Gente! É como beber perfume.
No final da mesa, o pai de Larry começou a dizer:
- Sim, querida. Apenas custa um pouco mais do que um mero perfume.
- O que há de errado com essa garota? - Discretamente Maritza se inclinou para o lado de Alex, investigando o porquê de achar Piper uma completa imbecil. - Seu primo a encontrou à beira da estrada?
Alex apertou os lábios, mirando o dançar do fogo nos pavios das pequenas velas em cima da mesa. Enfadada, ela separou os lábios e deixou a respiração sair.
- Eu não sei. - Ela respondeu com um enorme desinteresse. Diria à Maritza para não ser tão deselegante, no entanto, deixou para lá.
- Beba tudo o que quiser, querida. - Amy Bloom deu permissão à Piper.
A loira estendeu o olhar até ela no final da mesa. Com um aceno, lá foi ela experimentar um pouquinho mais da bebida com gosto de perfume. Piper foi provando e arrastando os olhos por cada rosto. Ao descansar a vista no semblante de Vause, ela conseguiu engasgar. Algo naquela mulher a intimidava e a deixava desconfortável. Sentia que ela era uma boa pessoa, mas que não lhe era muito aberta quanto à Nicky e Amy.
- Levante os braços dela. - Amy, em desespero, pediu à Larry.
Larry fez o que lhe fora instruído e ajudou Piper a respirar melhor, sem aquelas tosses. Alex se manteve tranquila, olhando-a e esperando que aquele jantar se iniciasse de uma vez por todas.
- Peço a atenção de todos. - Howard organizou os talheres ao lado do prato, arrastou a cadeira para trás e levantou, segurando a taça. - Eu gostaria de fazer um brinde. - Esperou que todos o olhassem. - Ao John e Daya.
Os noivos sorriram. Apesar de tudo, a noiva lamentou por seus pais não estarem presentes. O voo que eles tomariam à Nova Orleans acabou por atrasando. Persistindo, Howard sorriu.
- Daya, nós estamos gratos e felizes por recebê-la em nossa família, assim como o fizemos com Maritza, sua irmã.
Maritza balançou um sorriso nos lábios, o entregando em uma provocação à Piper. A loirinha achou estranho, e demonstrou em um unir de sobrancelhas. Com um sacudir de ombros, Piper tomou mais um golinho do champanhe. O gás forte começou a subir em sua garganta, fazendo-a elevar a mão até a boca e barrar um arroto. Novamente, Alex sorriu contra sua vontade. Que mulher era aquela, afinal?
- Oh, meu Deus! - Diane Vause apareceu à sala de jantar, atrasada e segurando a coleira do cachorro de Alex. - Eu saio para fumar e vocês se adiantam?
Vause ofegou, abafando a vontade de sorrir. Sua mãe lhe deixava tão entediada. Howard parou o discurso e franziu o rosto à irmã, esperando ela ocupar uma cadeira.
- Nossa! - Piper, a inocente da língua solta, exclamou. - Você é tão linda! - Ela estava espantada com a beleza original de Vause mãe. No mesmo instante ela olhou Alex, comparando os dois rostos. - Vocês são irmãs? - Apontou-as.
A mãe de Alex não conhecia a moça ao lado de Larry, mas sabia que já a adorava! Alguém com o humor solto por ali. Agradeceu a Deus e saiu arrastando uma cadeira para o lado de Piper. As duas não se importavam com os olhares dos demais.
- Aquela ali é a minha filha. - Depois de acomodada, Diane se virou para ela, dando às costas ao irmão e seu comunicado.
- Vocês são lindas demais. - Piper sorriu encantada. - Seus olhos são ainda mais bonitos do que os de Alex.
Larry limpou a garganta, mas as duas não perceberam.
- Obrigada...? - Diane escorregou a coleira do cachorro para fora do pulso, sem deixar de sorrir e adorar a figurinha à sua frente.
- Piper Elizabeth Chapman. Sou enfermeira.
- Meu Deus... - Maritza sorriu. - Ela até parece àquelas bonequinhas de camelôs. - Outro sorriso para não parecer cética demais. - Aquelas bonecas com apenas dez frases.
Alguns dos convidados sorriram. Red, a governanta que estava à esquerda da mesa, cutucou Nicky no ombro. Elas eram bem amigas, e Nicky sabia que Red sempre a cutucava quando não gostava de um comentário.
- Você também é muito bonita, enfermeira Piper. - Diane fez questão de ignorar o comentário não requisitado de Maritza. - Eu me chamo Diane Vause. Sou tia de Larry.
- Muito prazer. - Piper deu a mão a ela, sorridente. Seu sorriso se aumentou quando ela viu o cachorro. - Que lindinho. Eu nunca tinha visto um cachorro tão de perto. - Ela distendeu o braço até o focinho do cachorro. Ele começou a cheirar seus dedos, fazendo-a sorrir.
- Ela adora brincar. - Larry estava tão nervoso. - É claro que já viu outros cachorros.
Olhando-o, Piper fez cara feia.
- Eu nunca tinha visto um cachorro! - Sentindo a pressão dos olhares em seu rosto, tentou amenizar. - Eu só os via em minha televisão.
Diane não sabia se sorria ou se perguntava de onde aquela joia rara havia saído. O coração de Alex começou a se agitar. Ela precisava saber de quem Piper realmente se tratava.
Howard tentou retomar a fala, mas Diane o interrompeu.
- Que seja, querida. Este aqui se chama Shelby, e ele é um pastor alemão. É adestrado, também. - Ela pediu ao cachorro para se sentar e ele o fez, depois apresentou mais algumas gracinhas. Nossa! Piper ficou enlouquecida de amores. Do outro lado da mesa, Vause teve a certeza de que Shelby, seu cãozinho, nunca tivera tanta atenção. Piper o abraçava e alisava suas orelhas. Ela só retornou à poltrona quando Larry a chamou. Depois de alguns minutos, o anuncio de Howard se reiniciou.
-... E eu quero desejar a ambos toda a felicidade que o dinheiro não pode comprar.
Piper fez uma careta de ‘'É, nada ruim'', fazendo Larry sorrir.
- Saúde! - Eles brindaram.
- Humm... - Chapman passou a sorver a bebida como se usasse um canudinho, fazendo aquele barulho irritante. John a olhou e depois buscou um contragolpe no rosto de Alex. A morena deu de ombros.
Os empregados adentraram a sala de jantar trazendo pratos com medalhões de salmão e caviar. Piper encarou aquele jantar estranho, depositando a taça de champanhe à mesa. Ela foi aproximando o nariz, no intuito de sentir o cheiro do alimento. Nicky, rindo da cena, deu uma cotovelada em Alex. Piper aspirou o cheiro horrível, grunhiu e voltou às costas ao encosto da cadeira.
- Que horror! - Ela falou um pouco baixo, mas chamou atenção dos que estavam bem próximos. Olhando Larry, soltou: - Eu não posso comer isso!
- Por que não? - Diane indagou, animada.
Chapman girou o traseiro na cadeira, voltando-se á ela.
- Uh... Eu... - Ela engulhava, esfregando o punho no nariz, dificultando a fala. - Eu acho que é ração para gatos!
A mãe de Alex ficou a sorrir. A maluquinha sorriu também, mas buscou por Amy no fim da mesa. Seus olhos se fixaram nela.
- A senhora vai comer isso?
Amy fora simpática em sorrir.
Alex deixou que sua risada rouca, escapasse. E ela não se importou de ser vitima do olhar investigativo de Nicky e Maritza.
- Oh, querida. Na verdade, é o favorito de John.
John olhou à mãe.
- Nem tanto, mamãe.
- Eu já vi um documentário a respeito do caviar. - Daya disse. - Eu literalmente chorei de emoção.
- Awn! - Os olhos de Piper brilharam.
Cansado daquele jantar um tanto... Estranho, Howard suspirou.
- Que se dane. - Ele disse. - Tragam as malditas saladas.
Depois que o jantar fora - novamente - servido, estava todos bem humorados. Piper deu um tempo e passou a devorar a salada. Diane lhe contava algumas coisas de como era seu trabalho na empresa em que dividia com o irmão.
- Hei, Larry. - John chamou o irmão e atenção dos demais. - Conte-nos sobre este seu novo trabalho.
Filho. Da. Puta. Larry pensava. Que a mãe o perdoasse, mas não tinha outra hora para que John tocasse no assunto? Sem se deixar levar pelo nervosismo, Larry ajeitou o smoking.
- Uh... Não... Não é nada glamouroso, é só administração hospitalar.
- Bem, pelo menos você não está esfregando chão. - O pai dele disse.
Piper deu uma risadinha, mas se conteve ao olhar Alex. Era incrível... Ela parecia lhe analisar desde quando o jantar se sucedera. Piper achou melhor não cooperar com a força dos olhos verdes, e encarou o prato de Diane.
- Na verdade, pai, eu estou procurando alguns novos empreendimentos. - Já que adentrara o inferno, o que custava abraçar o capeta?!
- Oh! É mesmo, filho? - A mãe dele disse. - Que maravilha.
- Que tipo de empreendimentos? - Curioso e um pouco desconfiado, Howard perguntou.
- Esporte e entretenimento, mais novos aplicativos de jogos.
Aquela conversa estava deixando Piper entediada. Ela suspirou e deu às costas à mesa, oferecendo à Shelby, uma massagem nos pelos. Entretanto, ela não deixou de escutar o assunto.
- O que isso significa?
- Bom, eu estou interessado em uma pequena empresa. - Larry disse, sustentando o olhar do pai. - Ela tem um aplicativo para fazer apostas em tempo real.
- Jogo de apostas? - Alex perguntou. - Que belo plano para o seu mestrado.
Larry queria matá-la.
- O capitalismo é baseado em jogos de apostas, não é, priminha?
- É... Isso parece interessante. - Diane dissera.
- Oh... - Piper deu o último afago em Shelby, e retornou à mesa. - Larry também está envolvido em uma boate.
O homem ficou transparente.
- Então foi lá que ele a conheceu? - Maritza perguntou.
Piper ficou mexida. Ela olhou Larry, olhou Vause e Amy.
- Qual é o seu problema com a moça? - Diane a enfrentou. - Talvez Alex tenha encontrado você em um dessas boates.
As mãos de Piper esconderam o formato de ‘'O'' que se fizera em seus lábios. Maritza engoliu em seco. Alex pediu para que ambas se comportassem. Uma dúvida nascera em seu interior. Apesar de achar a ofensa de Maritza desnecessária, ela ficou pensando se a noiva não intuíra certo.
- Você investiu em uma boate? - Nicky quis saber, olhando e redirecionando a pergunta à Larry.
- É... Mas eu não quero aborrecer todo mundo com isso. - Ele brincava de passar a ponta do dedo no pavio da vela. - Mas uma hora, pai, eu gostaria de sentar e conversar mais sobre isso.
Ironicamente, o pai dele sorriu.
- Então, você voltou por dinheiro?
- Não, eu não voltei por dinheiro. Eu voltei para ver meu irmãozinho se casar. Mas foi você quem me ensinou a sempre procurar novas oportunidades.
Alex balançou a cabeça. Larry era um enorme filho da puta! Era fã de sua cara deslavada.
- Meu filho, você tinha todas as oportunidades do mundo quando esteve aqui, só que você decidiu...
- Howard... - Amy o interrompeu. Não precisava de suas palavras para acentuar o jantar em algo mais bizarro, entretanto, ele decidiu soar mais afável.
- Eu também ensinei a você a ter um plano.
- Ele na verdade tem um plano, Howard, e é um muito bom. - Piper foi quem disse. - Só não podemos falar sobre ele agora. - Ela piscou os olhos para Larry.
- Você faz parte disso? - Alex afinou a voz ao perguntar, não queria deixar Piper mais intimidada.
- Sim. - Ela respondia como se fosse á pessoa mais ajuizada da mesa.
- Bom, então vamos conversas sobre ele mais tarde. - Howard tornou a dizer.
- Yeah! Vamos! - A loirinha respondeu.
- Maritza já foi embora? - Nicky apagou o cigarro e deu um salto do muro do jardim de inverno.
- Sim. Ela me fez uma lista de recomendações. - Alex libertou Shelby da coleira, deixando-o correr até as escadas que o levaria para dentro da casa. - Seus cigarros acabaram? Eu gostaria de fumar um.
Nicky empurrou as mãos dentro de sua bolsa até encontrar o maço de cigarros e o isqueiro.
- Você viu que Piper não bate muito bem dos pinos? Meu, ela é demais. Acho até que é minha alma gêmea.
- Pode apostar. - Vause escolheu se sentar em uma cadeira de balanço, olhando ao fundo, a quadra de tênis da residência. Enquanto fumava, raciocinava. - Larry está mentindo.
- Ah, gênio! - Ela deitou no jogo de estofados, mirando o rosto de Vause. - Isto é óbvio. Posso ser sincera?
Alex a permitiu.
- Para mim, Larry está metido em uma dívida.
- E a moça? Como você explicaria o papel dela na presepada de meu primo?
- Não acho que ela deva se met*r em apostas... - Tocou o queixo. - Viu as roupas dela em seu closet? E se ela for, de fato, uma striper?
Vause negou, expulsando uma corrente de fumaça da boca.
- Ela é especial... - Falou devagar, dando muitos sentidos à explicação. - É ingênua, ela tem tanta inocência e espontaneidade. Se ela for uma striper, eu morrerei de compaixão.
- Nós podemos forçá-la a nos dizer a verdade.
- Não vale a pena. - Ela encolheu as pernas, terminando os últimos momentos do fumo e após o apagou em um dos muitos cinzeiros disponíveis por ali.
- Como assim? Vause! É intrigante.
- Eu não me importo. - Tentava convencer a si mesma. - Eu só estive curiosa, mas agora, não é mais problema meu. Espero que Larry se resolva com meu tio. Eu preciso me concentrar em criar os novos desenhos para a minha próxima coleção. - Suspirou, removendo os óculos do rosto. - Oh... - O voltou para os olhos. - Também preciso me preparar para avaliar novos imóveis. Estou noiva e você sabe, preciso de um lugar para morar.
Nicky torceu os lábios.
- Você sempre morou aqui! A casa é enorme... Abrigará você, Maritza e os estados unidos, inteiro. - Mudou a posição, passando a se sentar. A iluminação da varanda fez com que o rosto de Alex ficasse mais corado. - Sem contar que Diane e tia Amy, morrerão com a sua partida.
- Minha mãe me enlouquece. Ela e Maritza não se dão muito bem. Não quero trazer desentendimentos para o lar de meus tios. Considero aqui como um lugar sagrado.
- Torque de companheira. - Deu um sorriso gigante. - Que tal?
- Não estou interessada. - E levantou-se. - Estou indo deitar. Amanhã bem cedo me levantarei para organizar os novos desenhos.
- Vause... Vause! - Exclamou. - Você precisa relaxar um pouco. Este final de semana não lhe cobrará nada, a não ser que se deleite dele, sem claro, se estressar com tanto trabalho.
Ela se recusou.
- Que mal lhe pergunte, onde diabos Maritza se met*u?
- Ela havia marcado presença na inauguração da galeria de Artes de Maria. - bagunçou os cabelos. - Só retorna amanhã.
- O que será da sua vida a partir de agora? Oh, você está tão tristinha por não poder trans*r com sua noivinha.
Alex deu risada.
- Me contentarei com uma masturbação sólida. - Piscou um olho.
- A casa de Maritza é logo ali.
- Obrigada por me lembrar. - Sorriu e se despediu de Nicky.
Alex chegou ao quarto, moída de cansaço. Ela jogou o celular em cima da cama, alongando o pescoço e os braços na ida até o closet.
- Eu estou aqui, viu? - A voz de Piper a recebeu.
Ela lamentou e passou a mão nos cabelos, demonstrando impaciência. Puxou uma das portas do closet, anelou e o adentrou. Piper estava retirando as roupas que a pertencia, dos cabides.
- Por que não deixa isso para amanhã? - Alex cruzou os braços, olhando a paciência em que a loira tinha em dobrar todas aquelas peças estranhas.
- Não quero mais ter que entrar aqui. - Ela ficou um pouco séria. - Vi como você gritou comigo. Não quero que se repita. Não gosto de quando as pessoas gritam comigo. Eu fico bastante assustada.
- Me desculpe. - Aproximou-se e verificou as roupas que eram empilhadas no cantinho da parede. - Me responda uma coisa...
Piper tremeu o queixo.
- Essas roupas são usadas por enfermeiras?
- Oh... - Piper escondeu uma saia xadrez, atrás das costas, como se Alex já não a tivesse visto antes. - Bem, depende do gosto de cada uma.
- Garota, não minta para mim! - Perdeu a paciência, mas não se aproximou dela, ficou parada, barrando a passagem, caso ela decidisse sair correndo, pois seus olhos indicavam o desejo em sair em disparada. - Se você não me contar toda a verdade, chamarei a polícia.
- Mas... - Piper largou a saia no chão, dobrou as pernas e sentou-se, prendendo lágrimas nos olhos. - Só se deve chamar a polícia quando alguém rouba alguma coisa. Eu não roubei nada.
- Sabidinha! - Abaixou-se, percebendo que a intimidara. Movendo os óculos para cima, Alex a forçou a encarar-lhe os olhos verdes. - Falsidade ideológica é crime, Piper. Eu posso e vou denunciá-la se você não me disser quem é você.
- Sou enfermeira! - Ela se zangou, mas não demonstrou, porque pela dureza do rosto de Alex, receou que ela lhe agredisse. - Pergunte ao Larry.
- Larry... - Deu um sorriso macabro, capaz de fazer com que Piper liberasse suas lágrimas. - Ele irá parar na cadeia também. É isso que quer? Pense bem. A cadeia é horrível. Você passará muito tempo por lá, não podendo ver seus amigos-
- Não tenho amigos. - Ela contou num fio de voz, secando abaixo dos olhos. - Eu não tinha mais ninguém até encontrar Larry.
Alex Vause se penalizou, passando a não pressioná-la mais. Ela parecia tão triste naquele chão. Era de repudiar qualquer vilão. Piper era um ser tão cheio de luz, que vê-la revelar aquilo com tanta veracidade, lhe fez sentir um vazio dolorido no peito. Alex chegou à conclusão de que Larry estava se aproveitando do fato de a pobre moça não ter mais ninguém, e se usufruir dela. A curiosidade lhe corroía. Queria saber mais, queria perguntar sobre sua família, queria lhe dizer para não chorar, queria lhe pedir desculpa por tê-la feito chorar. Era tanto querer.
- Por favor, não me entregue à polícia.
- Eu... - Alex a olhou no fundo dos olhos, enxergando-se em Piper. Aquela moça era uma mesclagem de emoções, ela não parecia ser uma maluca, uma doente, só alguém que precisava de uma chance para poder mostrar ao mundo, sua essência. Ela necessitava de ajuda para poder se situar na vida. - Eu não a entregarei. - Alex se recolheu dali.
Sozinha, Piper começou a chorar. Ela estava tão confusa, triste. Queria ir embora. Voltar para casa. Voltar para Carol... Mas ela havia ido embora para sempre. Literalmente, Piper não tinha mais ninguém. Com as duas mãos no rosto, ela as banhou de lágrimas. Não sabia se ficava ali, se juntava as roupas das stripers ou se corria sem rumo para um lugar que ela não precisasse mentir e ser pressionada por pessoas estranhas. A realidade fora de sua casa era monstruosa.
- Aqui! - Alex havia retomado e segurava uma caixinha de lenços. - Olha só, eu disse a você que não chamaria a polícia. Não fique aí chorando. - Tentou ser o mais durona possível, entretanto, era impossível. Alex nunca sentiu tanta urgência em consolar alguém, como sentia naquele instante. Ela se sentou e colocou a caixinha de lenços no colo, em seguida, puxou Piper. Ela estava com o corpo trêmulo, gélido. As duas se entreolharam. As pupilas azuis estavam tão dilatadas, que Vause quase ficara hipnotizada. - Me desculpe.
Ela balançou o queixo, afirmando desculpá-la.
- Tome. - Passou a ela um lencinho. Devagar, Piper foi limpando o rosto.
- Terminarei de dobrar as roupas. - Piper fugiu do contato com Alex. Ela se sentia estranha perto dela. Era um estranho bom, mas não muito, porque tinha horas que Vause insistia em ser muito grosseira.
- Você dançava na boate de meu primo?
Piper fungou, fazendo um biquinho. Alex achou a cena mais acolhedora de toda aquela noite, apesar disso, ficou tranquila, não queria demonstrar que estava investigando a verdadeira realidade da enfermeira.
- Oh, no! - Ficou de joelhos e estendeu o braço para cima, puxando um vestidinho curtinho, do cabide. - Mas você sabia que um homem gordo me ofereceu 100 dólares por um trabalhinho manual?
- Sério? - Alex bagunçou os cabelos, mantendo o olhar nas expressões de Piper. Ela era muito bonita.
- Sim... - Outra fungada. - Eu nunca tive... - Ela diria que nunca teve um trabalho. Parou a tempo. ‘'Você não pode contar a ninguém que eu a tirei de uma clínica, Piper, ou eles irão fazer com que você volte para lá, e eu serei preso.'' A voz de Larry retornou à sua memória. Ele a pediu sigilo antes de deixá-la a porta do quarto de Alex.
- O que é que você nunca teve, Pipes?
Ela ficou bastante alegre com o apelido. Até sorriu. Sorriu e não respondeu nada.
Alex ergueu-se, indo até o outro lado do closet. Ela separou um pijama leve, sabendo e entendendo que Piper não a diria nada. Não a respeito de algo que ela nunca tivera. Ao invés de separar um pijama, separou dois. Piper não podia dormir com roupas de striper. Roupas que Alex sabia que não pertencia á ela. Ela tinha tanta decência, que seria grotesco compará-la a uma dançarina de boate.
- Já estou terminando! Prometo! Sairei para que não se zangue mais comigo. Prometo nunca mais entrar aqui.
- Não se preocupe. Já não estou mais zangada com o fato de você ter invadido o meu quarto.
- Não invadi, não. Olhe... - Piper arregalou os olhos e cochichou. - Foi Amy quem me colocou aqui. Deus e eu sabemos.
- Deus e você? - Lançou a ela um olhar divertido. - Que dupla. - Deu de ombros. - Okay, Piper. Eu emprestarei a você um pijama meu. Você não pode dormir com... - Apontou o vestidinho no corpo dela. Afinal, ele não era tão ruim... Nela. Sacudindo os pensamentos, Vause prosseguiu. - Esse vestido.
- Não precisa se incomodar. Eu dormirei nua!
Alex Vause perdeu a vontade de falar. Era como se alguém a agredisse no estômago, deixando-a sem ar, sem oxigênio. Piper notou que a morena estava vermelha.
- Eu disse alguma coisa errada? - Os olhos... Eles ficaram tão aflitos, que Alex teve a certeza de que aquela criatura era o ser mais inocente do planeta terra.
- Nada de errado foi dito, Piper. - Recuperada, Alex voltou para perto dela. - Vejo que você já terminou de dobrar suas roupas... - Olhou as vestes tão cafonas. Sentiu-se ofendida por ter aquelas peças em seu closet, mas... Fazer o quê?! - Então agora você poderá tomar um banho e vestir o conjunto de pijama. - O passou a ela.
- Obrigada! - Piper segurou no pulso dela, dando um apertãozinho. Sentindo-se estranha, Alex puxou a mão, sem parecer rude demais. - Amanhã eu o lavarei e a entregarei bem limpinho.
- Vamos... Não seja boba. Não precisa devolvê-lo com urgência. Eu possuo milhares de pijamas.
- Mas a minha mãe me ensinou que não devemos permanecer com os pertences dos outros por muito tempo. - Discutia, tranquilamente.
- Okay. - Alex notou que sorria demais na companhia de Piper. - Fique com ele pra você. É presente.
- Você jura? - Ela deu um pulinho, movendo os cabelos longos.
- Juro! É seu... Aproveite.
- Obrigada! - Piper resumiu sua alegria em um abraço em Alex. Quando sentiu o corpo dela enrijecer e ela suspirar em seu ombro, afastou-se e recolheu as roupas que lhe foram emprestadas. - Boa noite, viu? Obrigada por não me entregar à polícia e por ter me doado um pijama novinho.
- Chega de me agradecer. - A acompanhou para fora do closet.
- Nicky foi embora? E sua amiga?
- Nicky está dormindo em um dos quartos. Maritza, minha noiva, foi embora.
Uma sombra de rubor passou pelo rosto angelical, e Piper disfarçou, apertando o queixo na pilha de roupas em seus braços.
- Ela é muito bonita e elegante. - Referia-se a Maritza. - Parece até que surgiu de uma revista de pessoas influentes. - Exibiu os dentes perfeitos em um sorriso. - Ei! Você tem ideia de onde eu possa dormir?
- No quarto de Larry.
Piper ficou ofendida, a julgar pela careta que ela fez. Só faltou completar com um: ‘'ECA!''
- Tia Amy disse que nós não podemos dormir no mesmo quarto. É desrespeitoso.
- Vocês nunca dormiram juntos? - Vause sorria com o olhar, enquanto Piper improvisava em olhá-la nos olhos e admirar a armação de seus óculos.
A loirinha ajeitou a roupas nos braços e inclinou o queixo por cima delas.
- Sim! No apartamento dele, mas eu dormi na cozinha. E tinha uma goteira... Na pia. Fiquei com dor nas costas. - ela adicionou, meio sentida. As mãos de Vause formigaram. Sentia uma força absurda, um desejo recém-nascido de querer apertar aquela mulher.
- Eu me referia à outra coisa. - Ela jogou o pijama em cima da cama e teve a brilhante ideia de começar a se despir na vista da outra. Em pânico, Piper se virou para o lado da porta. - Vocês nunca tiveram uma noite de amor?
- Não posso contar essas intimidades a você. - Se sentiu esperta naquele quesito. - É vergonhoso. Não devemos falar dessas coisas. - Suspirou. - Terminou aí? Preciso que me ajude a encontrar um quarto. Se for incomodá-la, irei atrás da governanta. Qual é mesmo o nome dela?
- Red? - Alex puxou o lençol da cama, enrolando-o no corpo.
- Red! Isso!
- Se você quiser a minha ajuda, o que será óbvio porque Red já está dormindo, me aguarde na sala de minha suíte.
Piper Chapman se virou e bateu os olhinhos curiosos nas tatuagens de Alex, já que ela utilizava o lençol em forma de vestido.
- Que lindas! São tatuagens? - Ela foi se aproximando, pois queria vê-las de perto. Alex bateu em seus braços, derrubando a muda de roupas em cima da cama. A morena já estava agoniada com elas nos braços de Chapman.
- São tatuagens. - Disse e puxou uma parte do lençol para cima, mostrando a coxa tatuada. Piper abriu a boca. Ela tinha a face bestificada.
- É tão bonita. - Ela dobrou os joelhos no tapete, hipnotizada pela obra de arte na coxa da prima de Larry. Instintivamente, seus dedos tocaram a pele, o desenho... Ela não sabia, mas aquele contato parecia tocar a alma de Alex, que, naquele momento, parecia ter perdido os movimentos do corpo. Ela queria se afastar e ir tomar banho, mas seus impulsos estavam à mercê do toque inocente de Piper.
- Gostou? - Conseguiu questioná-la.
Àquele par de olhos brilhantes sorriram. Piper se afastou.
- Demais! Você é diferente de algumas mulheres. - Bocejou. - Estou com muito sono. - Ela ficou piscando, piscando, coçando os olhos.
Vause saiu do transe que era admirá-la.
- Me aguarde aqui na sala. - Ela andou mais um pouco e empurrou a porta da sala, acendendo as luzes, todas elas, e depois procurou pelo controle do televisor. Encontrando-o, ligou o aparelho e deixou em um canal ocasional. Piper sentou comportadamente no sofá. - Se quiser, pode se acomodar aí.
- Gosto daquela foto. - Apontou. Alex seguiu o dedo dela, encontrando seu quadro. - Você toca piano?
- Sim, querida. - Ela se surpreendeu ao ser doce com a moça. - Bom, eu preciso me apressar. Aguente um pouco mais e eu a levo até o quarto de hóspedes.
Pipes concordou.
Alex demorou um bocado no banho. Quando terminara, ela saiu do banheiro com uma toalha enrolada no corpo e seguiu até o quarto, em silêncio para não despertar Chapman, do cochilo. Castigou-se por ter esquecido o maldito pijama em cima da cama.
- Piper? - Sua mão a tocou nos cabelos. Piper dormia com a cabeça depositada em cima dos braços, pernas encolhidas. - Piper... - Alex coçou a cabeça dela.
Aos pouquinhos, ela foi abrindo os olhos, mas não levantou. Alex riu do jeito dela.
- Tome um banho. - Assim, por cima da hora, ela decidiu que a loirinha dormiria em seu quarto. Ela olhava pelo lado positivo, sem pensar nas consequências de sua escolha. Afinal, não havia segundas intenções em sua decisão. Piper a deixava confortável, a energia que vinha dela lhe dava uma paz muito rara. Era como um amuleto.
- Já amanheceu? - Finalmente ela deixou de preguiça, e levantou.
- Ainda não! Vá tomar um banho. No banheiro há diversas toalhas e roupões.
- Você está muito bonita. Se parece tanto com sua mãe. - Sorriu. Cara amassada. Olhos vermelhos.
- Obrigada. - As bochechas se incendiaram. Até parecia que ela nunca tinha recebido elogios mais significativos do que aquele, no entanto, o de Piper era tão... - Enfim. - Deu fim aos pensamentos, antes que explodisse e saísse tratando a pobre moça, mal. - Faça o que acabei de lhe dizer.
- Poderei mesmo tomar outro banho aqui?
- Sim, Piper. Só não demore tanto. - Disse. - Apanhe seu pijama em cima de minha cama.
Minutos depois, Alex tomou um susto com a chegada mansinha da loira. Ao olhá-la, engoliu em seco. Piper estava com os cabelos úmidos e com rosto límpido. Seu pijama de outono se casou com as curvas da cintura dela, embalando os quadris e o traseiro, juntos. Ela parecia tão mulher... Tão mais feminina. Os músculos da testa de Vause, pulsaram, levando-a a levantar da cama.
- Eu sequei o banheiro inteirinho. Lavei as minhas peças íntimas e coloquei para secar na janela.
- Cuidado. O lobisomem pode roubar suas peças íntimas.
A boba até acreditou, chegando a levar a mão à boca, apavorada. Depois que Alex sorriu, ela soube que era uma brincadeira.
- Você pode se deitar. - Ela sumiu para dentro do closet, mas não demorou muito. Saiu de lá com um travesseiro macio aos olhos de Piper.
- Dormirei aqui?
- Sim. Há menos que queira dormir em outro quarto. - Jogou o travesseiro em cima da cama, no canto em que Piper dormiria, e foi até a porta, trancando-a.
- Meninas podem dormir juntas, não é? - Ela sentou na cama, e aos poucos, foi vencendo a timidez.
- Meninas? Nossa. - Alex sorriu e foi se deitando. Com um controlezinho ela levantou o braço e foi diminuindo as luzes do cômodo. - Você pode dormir com quem quer que seja, desde que se sinta confiável e confortável.
- Agora eu me sinto confortável. - Ela revelou, honesta. Reparou que Alex retirou os óculos e se virou para o lado dela, disparando uma pergunta:
- Você desligou a televisão?
- Sim. - Ela balançou a cabeça. De repente, a televisão fora ligada e aumentada, atrás de si, na sala. Piper, que estava de costas para a porta, fez cara de medo e se arrastou para frente, abraçando Alex. A morena queria apenas assustá-la de brincadeira, sem imaginar que ela ficaria tão ressentida. A pobrezinha começou a tremer de medo.
- Ei... Ei... - Alex trancou todos os sentimentos, arrepios, ou o que quer que fosse vir à tona com a aproximação de Piper em cima de seu corpo. - Eu quem liguei a televisão. - Empurrou-a de volta ao colchão e mostrou um controlezinho cheinho de botões. - Se soubesse que você ficaria tão assustada, não teria brincado. - Estava arrependida.
- Eu tenho muito medo. Nós podemos trocar de lugar?
As duas trocaram e Alex se desculpou de novo.
- Pode dormir tranquilamente. Eu estarei bem aqui.
Mesmo morrendo de medo e de sono, Piper pediu a ela:
- Posso segurar a sua mão?
Alex sentiu o poder do pedido inusitado. Nunca na vida alguém tinha lhe pedido algo parecido, porque geralmente ninguém se sentiria satisfeito em dormir apenas segurando em sua mão. Piper sorriu e apertou seus dedos entre os dela. O sorriso permaneceu no rosto angelical, e ela fechou os olhos, segurando bem firme a mão de Alex Vause, deixando a pobre morena de coração descompassado.
Fim do capítulo
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