Capitulo 1
Larry Bloom saltou da cama de forma bem silenciosa, temendo que sua acompanhante anônima acordasse. Ele colocou os dois pés no chão, calculoso. Ali estava mais uma de suas múltiplas conquistas de uma noitada só. Todos os dias eram assim. Às vezes, Larry não tinha a necessidade de trans*r até a exaustão, apenas bastava o corpo nu e cru de uma mulher em sua cama. Larry era viciado em jogos e confusões, desfruindo do dinheiro de sua família rica de Nova Orleans para poder safar-se. Ele tinha pouca consideração pelas mulheres, menos respeito pela lei, e nenhum respeito pelas regras que governavam a vida. Bloom estava preocupado, já que se encontrava em meio a uma dívida de quarenta mil a um moneylender.
Larry já havia sido preso por algumas incompetências, tais como: Dirigir embriagado, resistir à prisão, excesso de velocidade e jogo ilegal. Ele nem sempre foi um cara júbilo com seu estilo de vida hedonista. Larry encontrou nos jogos ilegais uma forma rápida de se divertir, desestressar, apostar alto. A brincadeira teve fim quando o ex-administrador faliu sua empresa de marketing. Tornou-se um cara ferrado na vida, mal tendo dinheiro para se sustentar, e graças ao trabalho como faxineiro em um hospital psiquiátrico, Larry conseguia fazer pequenas apostas, sempre colocando em risco a sua liberdade condicional. Não estava nem aí, gostava de ser um fracassado assumido, mas via humor nisso. Seus movimentos com o taco de golfe acordaram à jovem loira com quem havia voltado de uma casa de striptease, noite passada.
– É... – Ele sorriu cafajeste. – Bom dia. – Larry largou o taco e puxou por sua blusa que estava em cima de uma cadeira velha. Seu apartamento era de uma desordem só, mas ninguém, inclusive ele, ligava para isso.
– Bom dia! – Ela respondeu com a beleza de uma felina espreguiçando-se. – Você ficaria lindo preparando o meu desjejum.
– Seria legal. Bem bacana, mas eu estou saindo.
A mulher não gostou, pela cara... Larry não estava preocupado em agradá-la. Ele pensava em como se livraria da nova dívida.
– Por um acaso.. – Ele ia falando, devagar, todo calmo. – Você se importa de trancar a porta quando for sair?
– Então não rolará o café da manhã, não é? – Ela sentou na cama prendendo o lençol acima dos seios, procurando pela blusa.
Larry sorriu.
– Não. – Dito isso, ele saiu ignorando as reclamações dela, e dirigindo-se até a boate de striptease. Após perder o carro, Larry andava a pé, em alguns casos, ele conseguia uma carona com o motorista de ônibus, Karl, que também era seu amigo. A família de Bloom era distante, eles mantinham contato com o rapaz por telefonemas. Larry descrevia a eles uma vida pacata e ocupada, tendo compreensão por isto, visto que, todos da família se mantinham ocupados e trabalhando arduamente.
Às pessoas nas ruas de Kansas passavam por ele todas sorridentes, algumas falavam ao celular, outras discutiam altamente sobre seus trabalhos, mas nenhuma delas falava sobre apostas, jogos, Larry não entendia o funcionamento de suas vidas. Ele fez hora para atravessar a faixa de pedestres, escutando um coro de buzinas. Saindo do transe, entrou pelos fundos da casa noturna e diurna, encontrando alguns clientes, stripers dançando, outras bebendo, e Mike, o segurança alto, moreno e mal encarado. A lei de Murphy estava á seu favor, apostaria nela.
– Ei, ei... – Ele empurrou Larry. – O que faz aqui? Está banido depois da noite passada.
– Cara, quer saber, eu nem me lembro da noite passada. – Explicava-se. – Só sei que acordei com uma loira do espirito faminto me pedindo o café da manhã na cama.
– Não lembra?
– Eu não lembro cara, estou te falando.
– Você subiu no palco.
Larry coçou a cabeça. Só faltou rir.
– Não...
– Sim...
– Mas o quê? – Certo, ele zombava de si, do segurança e da maldita bebedeira.
– Deu o maior show, colocou um cara Russo para dançar em seu colo. E ele não queria dançar.
– Sério?
– Nem queria mesmo. – Empurrava-o para fora. – Não volte mais aqui!
Na rua algumas pessoas ficaram a olhá-lo; acostumado com as olhadas céticas, Larry andou até o apartamento com o pensamento de usar os últimos trocados, apostando em uma corrida de Jockey. Apesar dos apesares, Larry nunca pediu um tostão à família, sempre se virou muito bem sozinho. Sua última saída seria vender o apartamentinho que havia comprado após sua graduação. Em último caso, lembrava. E por pensar no lar, a loira desconhecida havia saído e bagunçado o apartamento todo. Bela de uma filha da puta, Larry não negava e admirava a ousadia dela. Sem se preocupar, ele foi atrás da jaqueta e da carteira, saindo em seguida.
O esperado aconteceu: Apostou no cavalo errado e perdeu toda a grana do mês. Ficaria sem mantimentos, sem roupas limpas e sem paciência para esperar o próximo salário. Apostando no cartão de crédito, o rapaz sorridente foi até um cassino da cidade, beber, esvaecer.
– Olha, mas ora, ora, se não é Larry. – Black Cindy sorriu atrás do bar. – Toca aqui seu merdinha. – Os dois se cumprimentaram. – Tudo bem?
– Muito bem, muito bem. – Ele deu uma de suas fiscalizadas, procurando alguém interessante. – Preciso de um Whisky duplo com bastante gelo, por favor.
– Aé? Eu soube por aí que você está quebrado, hein. – Cindy cruzou os braços, vendo qual que era a dele.
Larry riu do jeito dela.
– Às pessoas falam merd* pra caralh*.
– Hm. Tô sabendo. – Ela passou um pano pelo balcão. – Vai pagar como?
– Está bem, sua danadinha, está bem. – Ele fuçou a carteira, procurou por uma misera nota de um dólar... Nada. Só restava mesmo era o cartão. Deu-o a ela. – Aqui está.
Cindy revirou os olhos, desconfiada.
– Aguarde um instante só, preciso testar seu cartãozinho aqui.
Torcendo para que o cartão não fosse recusado, Larry fez o favor de pensar positivo. Quase suplicante. Uma mãozona se fechou em seu ombro, e a voz infernal de George Mendez fez um sorriso ferrado nascer em sua boca. Não faltava mais nada. Foda-se Murphy e sua maldita lei, amém!
– E aí, Larry Bloom... Quanto tempo. – Ele forçava a amizade, a simpatia, tudo. Inclusive, forçava Larry a olhar o brutamonte de seu segurança, ao seu lado direito. E trouxe o cachorro de guarda. Bloom mal podia esperar para brindar àquilo.
– Quanto tempo, Mendez. Quanto tempo. – Larry sorria, porque estava fodido até as bolas. Chorar para que? O bom da vida era se ferrar, mas manter o sorriso nos lábios. – Como você está? Espero que bem. – Ele olhou para o balcão, esperando que Cindy voltasse com boas notícias. – Eu ia mesmo te ligar. – Riu, reparando no segurança. – E aí, cara.
– E aí.
Mendez retirou as mãos dos ombros de Larry, encontrando a carteira dele. Sem avisos, ele a abriu, vendo apenas cartões telefônicos, cartões com nomes de mulheres, um bilhete de Jockey, interessante, por sinal, mas nada de dinheiro vivo.
– Eu esperava encontrar 40 mil para mim.
– É, pois é, mas eu costumo fazer pela internet o meu serviço de banco.
– Ouça, cara, eu soube de uma coisa bem maneira. – Ele dizia, tornando a apertar o ombro de Larry.
– Soube, é?
– Sim, eu soube. – Respondeu tranquilo. – E isso me deixou magoado...
– Poxa, eu lamento, hein. – Balançava a cabeça, descrente. – E o que foi?
– Segundo um amigo meu do sul, a sua família tem tanto dinheiro que nem sabe o que fazer com ele.
É claro que tinha, mas o dinheiro não o pertencia. Larry sorria ao lembrar-se bem disso.
– Irei explicar. – Ajeitou-se, olhando-se no espelho à frente. – Bem, a minha família e eu tomamos caminhos diferentes.
– Sei...
– É por isso que pedi dinheiro emprestado.
Mendez fechou os punhos, louco para acertá-lo no nariz.
– Irmão, seu cartão foi recusado. – Cindy deslizou-o até os dedos de Larry, sentindo cheiro de confusão. Sempre que o cara pintava por ali, havia pancadaria.
– Merda. – O infeliz ria da grande encrenca em que se metera. Mendez o agarrou pelo colarinho, todo cheio de ódio, dizendo:
– Presta bem atenção. – Bloom o encarou, sátiro. – Eu sei onde você mora, sei onde você trabalha, sei onde você faz suas apostas, sei como joga dinheiro no lixo. Sei aonde vai para responder à condicional, cara, eu sei tudo. – Larry começou a sentir o drama. – E se não tiver a minha grana até o mês que vem, nós vamos acha-lo, e vou arrebentar a droga da tua cabeça. Não tenho problema algum com isso.
Larry revidaria, mas o segurança do bigodudo o puxou, dando-lhe diversos socos no estômago, jogando-o no chão. O cassino parou para assisti-los, e embora os socos do camarada fossem fortes, Larry levantou, mirou a cara dele e acertou-lhe um murro no nariz, derrubando-o também. A confusão estava armada! Os seguranças à paisana chamaram a policia para Bloom, e ele foi levado até o departamento de condicional de Los Angeles.
Natalie Figueroa recebeu-o de modo enfatizado, lendo sua ficha, lembrando-o de que tinha de se manter na ordem ou ele iria automaticamente violar sua liberdade condicional.
–... Lesão corporal grave. Ele é briguento, desordeiro, problemático, e tem um desprezo geral por normas e regulamentos simples. – Larry ria discordando daquele monte de baboseiras. – Ele também parece incapaz de obedecer à lei.
– Quem escreveu isso aí, se me entende bem, só queria me ferrar.
– Lhe ferrar? – Ela o fez assinar os papeis, indisposta a lidar com ele. Larry levava tudo na goz*ção. – Assine essas folhas, dê o fora, fique na linha, entendido?
Aquele era o mundinho de Larry, banhado em confusões, desordem e preocupações.
***
Na seguinte manhã, o rapaz acordou bem cedo e foi para o trabalho. Mendez mandava-lhe fotos de seu rosto, dizendo e provando o quanto não estava nada feliz com o seu jogo para com ele. O bigode sugeria que ele usasse o dinheiro dos pais para cobrir sua dívida. Larry pensava a respeito enquanto rodeava o esfregão pelo chão do hospital. Antes de ir embora, ele correu até o vestiário, encontrando os colegas de profissão. Pediu dinheiro emprestado a alguns, tomou vários ‘’nãos’’, ainda por cima, soube que Mendez esteve atrás dele. Santa merd* mesmo! A única notícia boa era que John, seu irmão, se casaria. Dizia a si mesmo: ‘’Consiga um smoking e voe para a festa. Todos felizes e o talão de cheques do papai aberto. ’’ Ele pensou nisso a noite toda, decidindo que ligaria para os pais no dia seguinte.
Com um cigarrinho e alguns biscoitos de café da manhã, Larry ligava para a mãe, feliz por escutá-la.
– Sim, mamãe. Acho que vai dar para eu ir ao casamento.
– Que bom, meu filho! – ela fazia aquele escândalo de mãe. – O casamento será na semana que vem. Espere, fale com seu pai.
– Não, mãe... Olha, eu... Não... Mãe...
– Alô! – A voz toda alegre de seu pai cantarolou ao telefone.
– Olá, pai.
– Larry. Como você está?
Ele levantou, nervoso por falar com seu grande pai, Howard Bloom.
– Eu estou bem. Tenho acompanhado a fusão pelos noticiários. Parecem bem promissoras. – Precisava entrar em um assunto que interessasse seu pai.
– É, meu rapaz.. E os planos por aí?
– Tão indo muito bem. Incrível, na verdade. Eu disse à mamãe que consegui um novo emprego. Uma posição administrativa em um grande hospital psiquiátrico daqui.
– É mesmo?
– Exatamente. Eu conheci alguém também, ela é linda. – Andava pelo duplex, recolhendo as roupas caídas com os pés. – É ótima. Mamãe iria adorá-la.
– Ela tira a roupa para ganhar a vida?
Larry deu uma risada nervosa, porque afinal das contas, seu pai tinha um humor do caralh*.
– Não, Papai, não. Ela não tira a roupa para ganhar a vida. Ela é enfermeira... – Ele mal terminou de dizer, já se sentindo em uma merd* de uma encrenca. Uma namorada, uma enfermeira, que não existe...
– Devia trazê-la ao casamento. – soou a voz inexpressiva. –
Porr*!
– Levá-la... Levá-la ao casamento? – Larry gesticulou como se espancasse a própria cabeça.
– É exatamente, meu filho. Ficaríamos felizes em conhecê-la.
– Então.. Pai.. – Faltavam-lhe palavras. – Ela é muito envolvida com o trabalho, não irá conseguir uma folga... É, eu acho que não.
– Eu e sua mãe achamos que deveria trazê-la.
‘’Se vira! Otário...’’ – Falava-lhe a mente.
– Hm.. Está bem. – Sem saída. Precisava ser mais convencional. Seu pai era esperto. – Nós estaremos aí.
– É mesmo? – A voz ganhou uma entoação animada. – Que bom, meu rapaz. Que bom.
– Diga à mamãe que nós iremos e ficaremos aí, ok?
– Ok, meu filho. Até breve.
Larry encerrou a ligação. Respiração cheia de problemas.
– Droga!
Dali por diante, ele seguiu para o trabalho procurando uma mulher ideal que pudesse preencher o cargo de uma enfermeira e namorada, até nos pontos de ônibus. Nada! Ele estava tão arrependido, que cogitou a ideia de ligar para os pais, dizendo que a namorada foi morta por terroristas. O esfregão rodava no chão, igualmente comparado a seus pensamentos. Larry fez uma pausa para poder respirar. Ele se encontrava no hall do hospital. Parou e limpou o suor que escorria de sua testa, devido à pressão de seus pensamentos. Ao ver uma das enfermeiras, ele revirou os olhos, voltando ao trabalho. Ela saía da enfermaria, risonha.
– Ei, Faxineiro. Mostre ao chão o poder do seu esfregão..
– Ok, ok, ok... – Larry a mandaria à merd*, caso pudesse. Ele recuperou a autoestima e se aproximou de Marisol Gonzales, a enfermeira que vinha segurando um prontuário, fazendo algumas observações. Era a sua chance. Embora ela não fizesse muito do seu tipo. – Meu Deus... Puxa vida. – Larry fez o favor a si mesmo, de sorrir. Voz sedutora. – Você está maravilhosa hoje.
– Legal. – Ela respondeu sem olhá-lo. – Visto isso todos os dias.
– É... É mesmo? – Ele manteve-se seguro, apoiando o cabo da vassoura junto ao peito. – Quer dizer... Não sei... Hoje parece que você está especial.
A mulher riu. Larry era um coitado.
– Está solteira, não é? – Direto.
– É... Sou solteira. – Ela olhou bem para aquele rapaz dentro daquele uniforme azul, sentindo muita pena.
– Bem, uau... Eu também estou solteiro... E isso... – Usou um sorriso para não parecer interessado demais. – Isso é ótimo.
– Larry, você é solteiro porque é um otário.
Larry, sem se preocupar, ainda tentou.
– É... Mas um otário interessante. – Ela nem ligou. Tornou a olhar o prontuário. – Ok! Eu vou direto ao assunto. – Partiu para o ‘’tudo ou nada’’. – Meu irmão se casará em Nova Orleans este fim de semana... E eu estava pensando, se você não estiver ocupada nem nada, você e eu...
Ela o olhou... Debochada.
– Cara, você está falando sério?
– Isso aí é um sim? – Se não fosse tão idiota, teria notado a ironia na pergunta dela. Ela olhou para os lados, demonstrando à ele que era melhor nem respondê-lo. O deixou, indo até uma paciente. – Merda... – Larry estava quase recorrendo ao plano suicida, quando seus olhos encararam uma mulher loira, descalça, carregando uma bolsa de pano. Ela usava um vestido acinzentado... O ar sereno. Parecia um anjo. Olhar azul. Tão, tão inocente.
– Esta é Piper Chapman. – Os enfermeiros conversavam entre si.
Ela olhava para Larry com curiosidade, como se ele fosse a terceira pessoa que ela via na vida. Uma ideia abriu os pensamentos do faxineiro. Flaca, a enfermeira sabichona, notando seu olhar para cima da pobre moça, o expulsou.
– Já está liberado, faxineiro.
– Ok.. – Ele saiu arrastando o carrinho com produtos químicos e os pensamentos.
Larry foi até um andar vago do hospital, mais parecido com um depósito, cheio de armários, latas de tintas... Janelas e bancos. Dois dos pacientes com quem ele era acostumado a manter uma espécie de "amizade" os aguardavam. Ele gostava de desabafar e beber na companhia deles, mesmo sabendo que eles eram esquizofrênicos, o que constava para si, era só a presença física, precisava dela para desabafar... Pessoas para escutar. Kalil adorava roubar suas bebidas. Ele era ansioso, chegando a comentar que só permanecia na clinica por não querer viver no sistema... Rupert, ele era à sombra de um homem. Vivia sentado, calado.. Mudo. Se ele pudesse se expressar, diria à Larry que só visitava aquele andar por gostar do reflexo do sol nas paredes.
Bloom voltava ao trabalho, quando outro faxineiro lhe deu um aviso, dizendo que Joe Caputo o aguardaria em sua sala.
– Joe... Eu não faço ideia do que aquele imbecil lhe disse.
– Você está dando álcool e pornografia aos meus pacientes.
– Eles são meus amigos... – Larry explicou o óbvio, sem levar em conta que seus amigos eram os pacientes do médico mais durão daquele hospital. Bem... Ele não se importava com nada.
– Eles são de várias formas psicóticos, catatônicos, maníacos e delirantes. – Joe coçou o bigode, doido para desonrar seu papel de médico, e voar no infeliz. Entretanto, escorregou as mãos para os bolsos do jaleco. – Eles são também da minha responsabilidade.
Apesar de tudo, Larry entendia.
– Daqui para frente você não terá contato com estes pacientes, exceto para limpar o chão sob os pés deles. Estamos entendidos?
– Claro... Estamos. – ele respondeu num profundo lamentar.
Joe se sentou e apontou-lhe o dedo.
– Ouça meu caro. Eu estou plenamente consciente que se você perder esse emprego, vai violar a sua condicional.
Larry esfregou o rosto.
– Se deixar isso acontecer, você irá se estrepar todinho.
– Eu posso-
– Eu já acabei. Dê o fora...
– Ok. – Larry concordou. Por dentro, o mandava tomar no cu. Ao sair do consultório, ele encontrou-se com Piper, a bela moça de olhos confusos, parada à porta com uma enfermeira. Ela o olhou, acanhada. Sem pensar em arrumar uma mulher, pelo menos naquele momento, Larry a ignorou, seguindo em frente com seu carrinho de bugigangas.
Piper entrou no consultório de modo perambulante. Olhou cada detalhe do espaço. Uma poltrona diante de uma mesa lhe pareceu convidativa. De olhos baixos, ela venceu a timidez e a ocupou, prendendo as mãos juntas entre as pernas, sem encarar o médico.
– Piper Elizabeth Chapman, certo? – A voz dele a fez balançar a cabeça. – Srta. Chapman, você sabe onde está?
Ela negou. Olhos profundos. Tristes.
– Tudo bem. – Joe fazia sua análise. – Aqui é um hospital psiquiátrico. O relatório policial diz que sua mãe faleceu... E você deixou um bilhete para o carteiro, perguntando a ele o que deveria fazer.
Piper derrubou o olhar e as lágrimas para as mãos. Lembrava-se de sua mãe. Ela não era uma pessoa fácil. Não lhe deixara ter contato com o mundo... E ele era tão assustador.
– Srta. Chapman... – Falava-lhe o médico. – Você está consciente do tempo? Você sabe o dia, mês, ano?
– Eu... – sua voz estava tão trêmula... Não conseguia se expressar. – Eu não estou exatamente certa que dia é.
– Está tudo bem. – Ele usou um sorriso estratégico. – Você sabe por que está aqui?
A lágrima escorreu solitária no rosto dela.
– Eu suponho... – Hesitou – As... As vozes.
– Tudo bem filha... – Joe se retirou da cadeira, fazendo um sinal para a enfermeira. – Vão levá-la até o quarto. Você precisa descansar.
Piper deu um aceno de cabeça. Ela estava confusa demais.
A enfermeira a levou até um quarto amplo, cheio de camas e divisórias. As outras pessoas que estavam ali, não a encararam. Continuaram em seus mundinhos privados. Silenciosos. Piper sentou na cama e escondeu a bolsa debaixo do braço. A respiração ficou acelerada. Sentia falta de casa. De sua mãe. Lágrimas rolavam de seus olhos, molhando as pontas de seus cabelos cacheados. Chamou pelas vozes em sua cabeça, recebendo um eco do silêncio. Pensou que pudesse ouvir Carol Chapman. Nada. Nada. O choro ganhou força. Um enfermeiro adentrou o dormitório. Ele era alto, bem parecido com um urso... Barbudo. Ele sorriu-lhe, arrastando uma cortina pelos trilhos acima da cama.
– Olá, boneca.
Piper parou de chorar. Arregalou os olhos e se encolheu em cima da cama.
– Eu estou aqui para fazer alguns testes.
– Eu... Devia estar dormindo.
– Eu sei, eu sei. Não vai demorar. – Ele tocou-lhe o rosto. Mão pesada. Áspera.
– Você... Você é médico? – Ela perguntou num fio de voz.
– Eu sou o seu médico especial. – O homem sorriu e passou as mãos pelas coxas dela que, mesmo por cima do vestido barato, eram grossas e bem macias.
– Espera... Espera. – Piper se debateu. Algo não estava certo. Sua mãe teria lhe dito sobre aquilo. – Oh... Para... Por favor. – Se desesperou.
– Solta dela! – Uma voz gritou por trás das costas do grandalhão. O faxineiro se mostrou e derrubou o enfermeiro com um murro no nariz.
– Meu Deus! Meu Deus! Meu Deus! – Piper se desesperou. Olhava o homem caído no chão, com o nariz sangrando. Aquela cena era, no mínimo, pior. Mas ela não estava gostando das carícias do homem. Confusa. Foi assim que ela se viu. Queria voltar para casa e ficar sozinha. Era seguro. Mesmo sem a mãe. O mundo fora de sua residência era louco. Louco. – Eu sinto muito. Eu sinto muito. – Ela chorava.
– Tudo bem. Tudo bem. – Larry disse, segurando no braço dela, onde uma pulseira de identificação se destacava.
– Eu não queria causa nenhum problema. – Mais choros.
– Você não fez nada de errado. Esse desgraçado é um monstro.
Ela tinha tantas definições de monstros em sua cabeça. Nenhum se igualava ao que estava no chão, a propósito.
– Ele ia machucar você.
– Mas ele é um médico.
– Não, não. Ele não é médico. – Larry limpou o rosto dela, arriscando acalmá-la. – Agora, ouça-me. Você tem que se proteger aqui dentro, está bem?
Ela fungou.
– Você é o homem do esfregão!
– Mais uma... – ele deu uma coçada na cabeça. – Eu sou o Larry.
– Onde está o seu esfregão? – Piper o imitou. Coçou a cabeça, como se minimizasse o ocorrido ali, por querer saber do esfregão dele. Era um detalhe importante. Era de sua característica. Ele não podia andar por ali sem o esfregão.
– Não importa. – Ele disse. – Eu tenho que sair daqui. Você vai ficar bem?
– Uh-hum. – Ela fez que sim, unindo as mãos.
Ela era tão linda e inocente. Larry sorriu, notando que uma idosa se aproximava do enfermeiro caído no chão.
– Senhorita, Norma! Volte para a cama, por favor!
– É hora de levantar, faxineiro!
– Não, benzinho. Está na hora de dormir. – Contrapôs. Ela prosseguiu rezingando. Larry a esqueceu, voltando-se à Piper. – Ei! Tenha cuidado, ouviu bem? – Ele deu um beijo na testa dela, passou pelo enfermeiro caído, suspirou e caiu fora.
Ele pensava em conseguir uma mulher ainda naquela noite. Com o cartão de acesso à porta de emergência, Larry saiu, pensando em ir até a casa noturna que frequentava.
Piper, alarmada, agarrou a bolsa e correu para fora do quarto, seguindo por um corredor vazio. Ela viu que a porta pela qual Larry saiu, estava para se fechar. Correu o mais rápido que pôde, e conseguiu passar por ela.
– Ei! – ela gritou por ele, lá fora. A noite estava fria. Outra vez, ela sentiu saudade de casa.
– Puta que pariu! – Larry perdeu a fala. Não podia ser. Era só o que lhe faltava. – O que deu em você? O que está fazendo?
– Eu vou com você. – Ela apertou a alça da bolsa, ansiosa.
– O quê? Você não pode sair! É uma paciente. – A sirene da ambulância soou do outro lado da rua, já fazendo o retorno para entrar na garagem.
– Eu não gosto daqui! – Ela se desesperou.
– É, eu entendo.. – Larry, apressado, se virou para verificar a distância em que o veículo estava. – Você não pode ficar aqui fora.
Piper se contraiu de frio.
– Onde eu devo ficar, homem esfregão?
– Ah, porr*... – Ele andou até ela, levando-a até o outro lado da rua, antes que seus problemas aumentassem. Ao caminharem, ele notou que ela estava descalça. Estranhou. – Qual é o seu nome?
– Me chamo Piper Elizabeth Chap-
– Ok. Ok. Entendi. Entendi... – Suspirou. – Onde estão os seus sapatos?
– Eu não tenho nenhum.
– O quê? Como você pode não ter sapatos?
– Eles machucam os meus pés. – Ela tinha o olhar franco, ambíguo e honesto.
Olhando o grau de problemas da moça, Larry se agitou.
– Olha... Você, Piper, você tem que voltar lá dentro. Ok? Volte lá e conte o que te aconteceu, certo? Por favor!
Ela começou a fungar, como se estivesse se afogando no próprio desespero.
– Ei... O que foi? Fala!
Piper ia perdendo o fôlego.
– Jesus! Caralh*! O que deu em você? Piper! – Ela não parava. Sirenes ecoavam pelas ruas. – Está bem. Está bem. Respire.
A respiração dela ficava ainda pior. Larry estava prestes a dar-lhe um tapa.
– Olhe para mim. Olhe para mim. Respira, Piper. – Ela foi se acalmando. – Isso... Bem. Muito bem. – Larry olhou para a rua quase deserta. – Olha, não ligo se você não voltar. Você pode fazer o que quiser, está bem?
Piper tremia o queixo, concordando.
– É isso aí, garota. Olha... – Ele tirou a carteira do bolso, vasculhando-a. Encontrou uma nota de cinquenta dólares, suspirou e deu a ela. – Pegue um táxi. Ligue para alguém. Sei lá... Faça alguma coisa.
– Para quem eu devo ligar? – Ela segurou a notinha, muito triste, desesperada. Não tinha mais ninguém além de Carol. E ela estava morta.
– Querida... Eu não sei. Você deve conhecer alguém. Esta bem?
– Está... Está bem.
– Isso. Beleza... – Foi se afastando. – Então se cuida. E compre alguns sapatos. – Ele atravessou a rua, bufando. Era muito para a sua cabeça. E, para piorar, uma viatura policial vagava pela rua. Larry respirou fundo e manteve a caminhada segura. Ele lembrou que já passava da hora de estar no apartamento. Se fosse pego pelos tiras, adeus tudo. Entretanto, seu bom senso o fez pensar na jovem loira atrás de si. Ela era muito confusa, inocente, seria um alvo fácil nas mãos de algum aproveitador. Parou de caminhar e, mesmo sob os protestos, ele se virou. – Ok! – Ele gritou. – Venha!
Piper o achava engraçado. Larry era todo desconjuntado, impaciente. No entanto, ele se mostrava diferente das outras pessoas que ela conhecera nas últimas horas. Eles entraram em um táxi, mas não conversaram. Piper estava com as mãos no vidro da janela, curiosa, olhando a cidade bonita e iluminada, por onde o carro passava. Havia tanta coisa que sua mãe nunca lhe dissera. O carro parou em uma rua cheia de bares, Larry pagou pela corrida e saiu do veículo, levando Piper consigo.
– Você mora por aqui?
– Não. Não. Vamos andando. Não olhe para estes caras.
Piper se encolheu quando um dos caras tentou tocar seus cabelos.
– Venha! Ande!
– Espere, homem esfregão. – Ela corria para acompanhá-lo. O beco que tomaram era estranho. Estreito. Assustador. Cheio de entulhos. Caixotes. Ventava bastante, também. Larry parou diante de uma porta de alumínio, forçou, forçou e forçou mais um pouco e a abriu. Ele sorriu para Piper, puxando-a.
Os olhos azuis ficaram espertos. Ele a levou para um lugar estranho, aos seus olhos, pelo menos. Lá dentro havia música alta e algumas mulheres com roupas íntimas dançando em um palco. A luz era vermelha, baixa, diferente das que piscavam sem parar em cima do palco.
– Que lugar é esse?
– É um clube... – Larry respondeu, andando e procurando alguma striper conhecida.
– Que tipo de clube?
– Ah, é um clube de dança.
– Para gente que gosta de dançar?
– Sim.
– Oh! Por que é tão escuro?
– Porque é um clube para pessoas que gostam de dançar no escuro. – Ele estava de saco cheio. Maldita hora em que a pegou. Por outro lado, já que estava tudo fodido, daria continuidade na idiotice.
Chapman olhou para o lado, vendo uma dançarina seminua. Os olhos ficaram chocados.
– Faxineiro! Aquela senhora está sem roupa! – ela cobriu uma parte do rosto, envergonhada.
– Jura? Eu nem tinha percebido. – Ele a fez sentar em um banquinho perto do bar.
– Muita gente aqui está sem roupa. – Sorriu.
– Está bem. Sente-se aqui. Eu vou falar com algumas pessoas.
– Está bem...
– Não se mova. Tudo certo?
– Hum-hum.
Ela o viu desaparecendo em meio às pessoas. Anelou, balançando a bolsa. Apesar de não estar acostumada com aquele tipo de ambiente, Piper foi até o palco. Ela parou e ficou admirando uma mulher dançando. Era tão bonito o jeito como ela se movia. O salto altíssimo lhe chamou a atenção.
– Moça! – ela chamou. – Por que você está usando esses sapatos?
A dançarina nem a escutou. Prosseguiu com sua dança, defronte a um monte de marmanjos babões. Piper se aproximou de um gorducho, cochichando.
– Ela dança lindamente.
– Você é linda demais, boneca. Não quer dançar para mim?
– Mas.. Mas eu não sei dançar, senhor.
– Tente! Suba no palco.
Os olhinhos dela brilharam.
– Segure minha bolsa. – Ela o entregou. – Obrigada. – Sem ajuda, Piper subiu no palco e começou a rodopiar, sempre sorridente. Um segurança grandalhão se abeirou pronto para interrompê-la.
– Ei, docinho, você tem que sair.
– Mas o Larry disse que este é um clube de dança. – Ela só não entendia o porquê de algumas pessoas lhe estenderem notas de cem dólares.
– Larry?
– Sim! Nós entramos pelos fundos. Ele disse que não queria que o segurança nos visse.
O segurança fechou a cara.
– Escuta, sua doida, você tem que descer. – Segurou no braço dela. – Vamos.
– O quê? Não, não. Não, não, não, não. Pare! – ele lhe puxou para o colo. – Não, não, não. – Piper queria chorar.
– Ei, ei, eeeei! – Larry a tirou dos braços do segurança.
– Vocês vão sair daqui agora!
– Está bem, pega leve, cara. Já estamos indo. – Larry empurrou Piper, devagar. – Você está bem?
– Uhum.
– Legal.
– Um homem gordo me ofereceu 100 dólares por um trabalhinho manual. – Ela balançou a cabeça. – Eu nunca tive um emprego.
Larry esfregou a mão no rosto todo. Do lado de fora, ele teve de perguntar.
– Tem certeza que não tem ninguém que você possa ligar?
Diante da pergunta, Piper juntou as pernas, abaixou a cabeça e confirmou.
– Você não tem amigos? família? Você.. Você não tem ninguém?
Com os olhos mais tristes do mundo, ela negou com a cabeça e coração.. Deus. Ela nunca se sentira tão só.
– O que supõe que eu possa fazer com você?
Ela deu de ombros. Ele a olhou dos pés descalços à cabeça de longos cabelos loiros. Ela era linda demais, mesmo confusa. Larry pensou... Pensou. Lembrou-se do ''não'' que recebera no camarim das striper... – Não... Não... – Piper uniu as sobrancelhas. – Sim. – ali estava a sua namorada. Era só vesti-la e ajustá-la bem. – Tudo bem... Vamos para casa.
– Casa?
– Sim. Amanhã bem cedo, viajaremos. – Ele acenou para um táxi.
– Larry, eu não gostei do seu apartamento. É bagunçado. – Piper disse lá da cozinha, onde Larry improvisou uma cama a ela.
– Fique quieta. Boa noite.
– Você tem uma goteira na pia?
– Durma bem.
– Eu só gostei de não dormir no hospital.
Larry cobriu a cabeça com três travesseiros, respirou fundo e dormiu.
Sua sorte, é que ele não trabalhava às sextas-feiras, emendando-as com o final de semana. Ele acordou e encontrou o apartamento todo organizado, como nunca fora antes. Piper terminava de passar um pano em cima da mesa.
– Ei! O que você fez?
– Fiz errado? – ela perguntou, amuada.
– Não... Não... É que... Esquece.
– Preparei panquecas. – Ela disse, orgulhosa.
– Ótimo. Obrigado. – Ele sacou o celular e ligou para Leah, uma das stripers. Pediu a ela que emprestasse algumas roupas à Piper. Ela reclamou, mas aceitou o desafio.
Horas depois, a caminho do aeroporto, dentro de um táxi, Larry perguntou à Piper:
– Você tem carteira de identidade? Você precisa mostrar a identidade na segurança.
Piper começou a vasculhar dentro da bolsa. Tirava peças de roupas coloridas. Brilhantes. Micros.
– Eu. . Eu tenho. Está aqui dentro. – Ela começou a ficar nervosa.
– Devagar, Piper. Qual o problema?
– Uhm... Eu... – Desistiu. – Eu não tenho nada.
Santa Merda... De novo.
– Tudo bem, eu tenho um plano, e é um dos bons.
– É?
– Você só vai precisar sorrir e comer alguns petiscos, e quando as pessoas disserem: Ei, o que você faz?
– Hã...
– Você responde: Eu sou enfermeira.
– Mas eu não devo mentir. – Ela foi sincera.
– Não é uma mentira. – Larry a alisou no rosto. – Não é mentir, Piper. É fingir, o que é legal.
Confusão! Era o que definia o rosto da loirinha. Ela analisou, mas não conseguiu distinguir uma coisa da outra.
– Qual a diferença?
– É... Eu te explico mais tarde.
– Ah... Está bem.
– Está bem?
– Sim. - Larry lhe ajudou a colocar as roupas dentro da bolsinha.
O difícil era andar pelo saguão do aeroporto naquele salto alto. Piper se sentia diferente. Usava uma minissaia e uma blusa de manga longa que deixava sua barriga à mostra. Todo mundo reparava em si.
– As dançarinas, suas amigas, não ligaram mesmo de eu usar as roupas delas? – Ela inquiriu, caminhando e puxando uma mala.
– Não, Piper. Elas só queriam ajudar.
Um velho passou pelos dois, crescendo os olhos em cima da loira.
– Tem certeza de que eu estou vestida bem? – Ela parou, ajustando a saia no lugar.
– Você está fantástica! É sério, está ótima.
Piper se olhou, fazendo uma careta.
– Só veste o meu casaco aqui.. – Larry o tirou e passou para ela. Desequilibrada, Piper quase caiu.
– Uh. Eu quase me arrebentei no chão. – Se apoiou nele.
– Ok, vamos.
Conseguir que Piper viajasse sem documentos, não foi uma tarefa fácil. Larry conseguiu armar uma mentira barata, custou, custou, mas eles conseguiram embarcar. Conforme dormia no calor de sua poltrona, Bloom foi acordado por um comissário de bordo.
– Me desculpe senhor. A sua amiga está no banheiro há muito, muito tempo.
– Droga. . – Ele piscou. – Ok... Eu já estou indo. – Ergueu-se, indo até lá.
Com uma batida na porta, ele se identificou.
– Piper? Piper, sou eu, Larry.
– Oi, Larry. Aqui não tem descarga. – Ela disse.
– Bem... – ele olhou o comissário. – É o primeiro voo dela.
O outro homem riu.
– Tem sim, querida. – encostou a boca à porta. – É só um pouco diferente do normal. Está vendo o botão na parede acima do assento?
– Na verdade, é uma alavanca, senhor. – O comissário disse.
– Empurre isso, Piper.
– Está escrito: ''Descarga'' bem em cima dela.
Larry o olhou como se fosse mandá-lo dar uma voltinha.
– Mas as letras estão desgastadas, moço. – Piper dizia. Fala debelada.
– Mesmo assim, empurre-a.
Ela o fez. O barulho de descarga foi escutado. Finalmente, pensaram os dois homens.
– Ahhhh! – Piper abriu a porta aos gritos, pulando em cima de Larry e do outro homem.
Os passageiros, assustados, se voltaram para os três. Piper olhou cabeça por cabeça, parando os gritos.
– Lar, foi muito alto.
– Quer saber? Você mandou muito bem. – Ele a conduziu até o assento, ignorando o olhar assassino de alguns. – Vamos tentar dormir um pouco.
– Eu estou sem sono. – Ela sussurrou, balançando os dedinhos dos pés, livres dos saltos.
– Então coma os amendoins.
– Eu já fiz isso.
Ele suspirou, fechando os olhos. Onde foi amarrar o burro?
– Então coma os meus.
Piper virou o rosto, vendo-o de perfil. Ele era bonitinho.
– Eu já o fiz.
– Certo, Piper. Sabia que este voo é chamado de olhos vermelhos?
– Não... – Ela replicou cheia de inocência. – Por quê?
– Porque se não dormimos, vamos estar com os olhos vermelhos quando chegarmos à Nova Orleans. – Ele tentava ser convincente. Agia assim com os pacientes do hospital. – E você não quer estar com os olhos vermelhos quando conhecer a minha família, quer?
– Não... – Ela negou, horrorizada.
– Então, vamos ficar em silêncio.
Ela concordou, balançando a cabeça e pressionando os lábios. Larry aproveitou para fechar os olhos. Entediada até os cílios, Pipes olhou para cima, lados, um passageiro ao seu lado. Bocejou. Encontrou as luzes acima dos assentos. Sorriu e começou a brincar com elas. A luz era tão, mas tão forte, que incomodou o homem ao seu lado.
– Por favor, tenha modos, senhorita.
– Me desculpe, senhor. – Ela pediu, arrependida pelo que fez.
– Quieta, Piper.
– Desculpe. – suspirou.
Larry, novamente, caiu no sono. Como se fosse piada, ele fora acordado novamente.
– Me desculpe, senhor, temos outro problema.
Bloom olhou para o banco vazio. Imaginou o problema. Seguiu o cara até a primeira classe. Lá estava ela, linda e acomodada em um assento para lá de confortável e espaçoso.
– Venha querida. Você não pode sentar aqui.
Piper encolheu os olhos.
– Mas os assentos são muito pequenos lá atrás. – Explicava o erro.
– Eu sei, mas não pagamos pelos assentos grandes. – Larry sussurrou, prestando atenção em uma comissária, aproximando-se. Ótimo.
– Nós podemos pagar por eles agora?
– Não, não podemos pagar por eles agora.
– O que há de errado com ela? – A mulher uniformizada, quis saber.
Piper a olhou por cima do encosto.
– Com licença, não há nada errado com a minha namorada. Obrigado.
Namorada? Namorada? Piper fez uma cara confusa. Ela não era namorada de Larry. Ele era seu amigo. Não gostava dele como aquelas moças em filmes de romances que via junto de Carol.
– Vamos, meu amor. Estou sozinho lá atrás. Venha.
– Ah! Mas nós vamos ter que dormir?
– Sem dormir. Eu prometo.
– Legal. – ela o sorriu. – Podemos pegar algumas daquelas nozes gostosas no prato bonito?
– Pegue as minhas. – Um simpático senhor aparentemente rico, ofereceu, sentado logo atrás de Piper.
Ela lamentou e disse:
– Eu já peguei...
De volta ao assento, parte dois, como pensava Larry Bloom, Piper se manteve acordada, mas entendeu que não podia mais fazer um tour pelo avião. Ela se conservou sentadinha até o nascer do dia.
– Todo mundo está se movendo ao redor. Já amanheceu.
– É, querida. Estamos nos preparando para aterrissar.
– Larry... – mordeu o lábio. – Você me chamou de namorada. Sou a sua namorada? – Ela torceu o nariz.
– É... É sim. Você é minha namorada.
– Minha mãe me disse que eu nunca seria a namorada de alguém.
Ele estava muito pensativo para perguntar mais a respeito da mãe dela.
– Bem, eu acho que ela estava errada, então.
– Mas...
– Fique tranquila. Você é enfermeira e minha namorada.
Piper não repeliu. Ficou quieta até desembarcarem. Larry telefonou aos pais de dentro do táxi, anunciando a sua chegada.
Descendo do carro na propriedade da família de Larry, Piper abriu a boca. Era lindo demais. Aquelas casas belas, com chafarizes e um pomar grandioso em frente à porta principal, jardineiros espalhados por ali, podando parte de todo aquele verde vivo, lindo... Faltou-lhe expressões. Larry suspirou. Tanto tempo que não pisava ali. Agora, ele estava de volta... E com um plano em mente. Não queria morrer nas mãos de Mendez. O taxista o ajudou com as duas malas, recebeu pela corrida e se foi.
– Acho que vou ficar aqui fora, Larry.
– Vem. – ele segurou na mão dela, carinhoso. – Você vai ficar bem.
Piper segurou o ar dentro de sua garganta ansiosa. Larry deixou as malas com um mordomo, o qual a loira não fez questão de reparar. Aquela casa era tão bonita, refinada... Pareciam casas descritas em livros.
Abobada, Pipes não parou de reparar em nada. Ela nem disfarçava. Larry, apesar de tudo, gostava daquele jeito estranho dela. Eles seguiram por um corredor cheio de quadros e poltronas.
A mãe do rapaz estava de costas, conversando com uma decoradora na sala de jantar. Sentindo a presença do filho, ela se virou, risonha.
– Ei, mãe.
– Oh, meu Deus! Meu amor... – Ela correu para ele. Abraçando-o. – Você está realmente aqui.
– Ok... Mãe. Mãe. – Ela o apertava. – Chega...
Sorrindo, Amy Kanter-Bloom, o largou.
– Mãe, esta é Piper.
– Oh, sim. – Ela puxou Piper para um abraço, sem reparar em sua vestimenta. – Bem-vinda, querida.
Sem jeito, Piper corou.
– Puxa! – Amy pôde finalmente vê-la melhor. – Que saia bonita. – Ia analisando-a. – Oh, você está descalça.
– Mãe... – Larry interferiu. – Nós estamos tão exaustos.
– Claro, meu doce, claro. – Ela se apressou em dizer. – Mandarei Angie subir com as coisas.
– Mas nós não temos... Na verdade, coisas. – Piper olhou Larry, ao dizer.
– E a bagagem de vocês? – Amy achou esquisito. Porém, era comum. Sua família era toda maluca.
– É, nós viajamos assim.. – Larry indicou as roupas. – Mas... Trouxemos duas malas... Estão cheias de roupas... Bem...
– Estou confusa.
– Nós...
– Trouxemos. Estão com Jimmy. – Ele interrompeu Piper.
– Tudo bem, meu filho. Eu escolherei um terno para você.
– Ótimo.
Amy segurou o rostinho de Piper.
– E lembre-se, aqui é o Sul, então vocês vão ter dois quartos e...
Piper, apressada, respondeu:
– Oh, não, senhora. Eu não ficaria no mesmo quarto com um homem.
A mãe de Larry esfregou as mãos, tentando encontrar o quê sua consciência gritava. Tinha algo curioso. Piper era linda, ansiosa e confusa. Ela mostrava-se muito honesta. O tempo todo.
– É, nós não temos... Nós ainda não somos... – Larry queria abafar o caso. Confusos, eles riram.
– Entendo. – Amy segurou na mão da moça. – Você vai dormir na cama de Alexandra.
– Ah, não, não. – A loira disse. – Tudo bem. Ela pode ficar com a cama. Eu posso dormir no chão. Larry, em seu apartamento, fez uma cama no chão para mim. Eu fiquei com um pouquinho de dor nas costas. – alongou-se. – Mas está tudo bem.
Espantada, Amy olhou o filho.
– Ela é tão engraçada. Adora brincar. – O rapaz se colocou ao lado da ''namorada''.
– Ela é. Ela é. – A mais velha a roubou do filho, fazendo-a caminhar consigo. – Larry ficará no quarto dele e você pode ficar no quarto de Alex.
– Ela pode não gostar, senhora.
– Alex está em Nova York, meu bem. Ela chegará amanhã. Assim espero.
Elas pararam defronte a um elevador.
– Eu não posso subir as escadas. Estou em meio a um tratamento de varizes. – Amy esclareceu, virando-se aos outros dois. Ela olhou alguém além deles, sorriu e pediu. – Red, querida. Acompanhe Kasey Sankey até a porta. Eu ligarei para remarcarmos.
– Sim, senhora. – A governanta deu uma olhada em Larry. Ele a temia. Red era como uma tia malvadona, cheia de bronca. Os pais a adoravam. Ela era da família. Literalmente. Piper sorriu para ela, obtendo um sorriso de volta. Raridade. Visto que, Red não era de dar confiança a ninguém.
– Vamos subindo.
– Vocês são bem ricos. - Piper soltou a língua dentro do elevador.
Amy Bloom sorriu da inocência do comentário.
Eles pararam no luxuoso quarto de Larry. Piper se sentia uma formiguinha dentro daquela casa. Arrastando-lhe até um canto, Bloom lhe pediu para manter segredo sobre sua real identidade. Leal, Piper prometeu ficar em sigilo. Ela não queria voltar para a clínica.
As duas se despediram dele, e Amy a levou até o outro quarto.
As portas se abriram. Chapman teve uma visão dos deuses. O quarto era imenso. Maravilhoso. Parecia um quarto da realeza, como descrito em um de seus livros. O quarto contava com uma sala de estar, tendo a lareira acesa. Acima dela, um quadro fez a loirinha parar e admirá-lo. Uma mulher estava sentada à beira de um piano. Ela estava de costas, com um roupão branco, cabelos negros soltos por cima dos ombros.
– Aquela é Alex?
– Sim, meu doce. – Amy sentou em uma poltrona, pedindo a ela o mesmo.
– Ela não ficará chateada comigo aqui? Minha mãe disse que não devemos nos meter em quartos alheios.
– Sábia, sua mãe é sábia. – Sorriu, vendo o quão gostoso era conversar com Piper. Ela tinha algo especial. – Alex é minha sobrinha. Ela está viajando. – Contava. – Oh, sim! Os outros quartos precisam de cuidados para receber os outros hóspedes.
– Tudo bem, senhora.
– Amy, meu amor. Chame-me assim.
Piper concordou.
– É tudo tão lindo... Se me permite dizer.
– Tem razão. – disse. – Alex adora este tipo de decoração moderna. Ela é uma grande estilista, com uma dose de arquiteta. Engraçado, eu pensei que Larry havia mencionado a prima.
– Se ele o fez, eu já esqueci. – Suspirou.
– Muito bem, Piper. – Ela se preparou para sair. – Você pode ficar a vontade. Tome um banho. Descanse. Se me permitir, pedirei para que lhe tragam algo para comer.
– Eu estou faminta, Amy! – Ela se empolgou.
A outra riu.
– Não se preocupe. Pedirei para lhe prepararem um lanche apetitoso.
– Muito, muito, muito, muito obrigada. – Piper segurou nas mãos dela.
Amy a deixou para descansar.
Sozinha no quarto, ela viajou. Olhou cada detalhezinho, agarrada a uma almofada. Quando cansada, Pipes desabou na cama.
Assim que ela despertou, mais tarde, já era de noite. Ao lado da cama, uma bandeja cheia de coisas gostosas, esperava por ela. Tinha uma rosa e um bilhete de Amy.
"Espero que tenha gostado do lanche, meu bem.
Att,
Amy Bloom."
Piper abraçou o bilhete. Aquelas pessoas não se pareciam com as quais Carol, sua mãe, descrevia. Amy, pelo menos, era muito bondosa. Piper devorou tudo, deixando apenas um cestinho com tangerinas. De barriga cheia, ela tirou a saia e a blusa. Caminhou até a janela, pronta para apreciar a vista lá embaixo. – Deus! É tudo muito lindo. Larry é um rapaz rico. Só não é o meu namorado. – tomou distância da janela. – Se ele pensa que eu serei sua namorada, está muito enganado. – Anelou e olhou para o corpo. Apesar de viver trancada em uma casa nobre em LA, Piper se exercitava. Carol a ensinava tanto. Piper tirou um minuto para chorar. O fez. Parou e foi procurando pelo closet. Alguém lhe fez o favor de organizar as suas vestimentas em um cantinho. Suas roupas eram tão vulgares perto das de Alex. As dela eram elegantes... Percebia-se que ela amante de peças escuras. Jeans. Jaquetas. Piper zanzava por entre os cabides. Um sorriso nasceu em seu rosto, driblando as lágrimas de seus olhos. Uma batida de porta bem, mas bem forte, a fez dar um pulo. Ajeitando os cabelos, ela fez o caminho para o quarto, tirando a calcinha da garagem. Como incomodava!
– Amy? É você? – Ela ficaria chateada caso fosse Amy. Bater a porta daquela forma era muito feio.
As luzes da sala estavam acesas. Piper, inocente, foi até lá.
– Amy? Amy, eu-
A fala ficou bloqueada. Uma mulher bem altona parou diante de seus olhos azuis. Ela estava com os cabelos presos com a ajuda de uma caneta. Usava um casaco escuro e jeans da mesma cor. Piper se encolhia toda, sem deixar de olhá-la. O rosto alvejado dela... Ele era raro. Ela estaria zangada? Ela seria Alex? Aquele olhar cheio de criticas fez-lhe recuar para trás. A dona dos olhos verdes arrancou os óculos do rosto, seguindo Piper.
– Quem é você? – Perguntou impaciente. – O que faz na droga do meu quarto?
Piper abraçou-se.
– Fale! – ela gritou. A voz pesada fez a loira tapar os ouvidos. Alex reparou na bagunça da cama, na bandeja virada no carpete... Nas peças de roupas pelo chão. – Você é muda? – Ela olhou Piper, enjoada. Não estava com cabeça para reparar na beleza única da loira. Só queria saber de quem ela se tratava. Brevemente, a estilista pensou que fosse uma das amantes dos primos. Larry e John possuíam uma coleção delas. Através de Red, ela soubera do regresso de Larry, imaginando o pior... E o pior estava em seu maldito quarto.. Chorando? A moça estava chorando? Ela parecia uma andorinha. Tentava se cobrir com os dois braços, lá no cantinho perto das cortinas. Alex passou a mão na cintura. – Só pode ser brincadeira.
– Alex... Sua tia é uma... Figura... – Nicky, aparentemente cansada por subir os degraus, entrou no quarto e olhou a moça estranha. – Você já agilizou, Vause? Pensei que dissesse que não queria trans*r com ninguém.
Alex não sorriu. Não quis brincadeira. Pediu a amiga para fechar a porta. Por mais louco que parecesse, ela não queria que vissem a chorona naqueles trajes.
– Quem é ela? Por que está chorando?
– Não sei de quem se trata. – Aproximou-se.
– Não. Não. Não. Não. Não. – Piper pediu. – Não.
– Quem é você?
– Eu... – Ela só sabia chorar. Estava fazendo uma cortina de vestido. – Não...
– Alex... Maritza pode chegar a qualquer momento. Ela achará que a garota é sua amante!
– Ela não é nada minha. Cacete! – Alex bufou. – Leve-a até o closet, vista algo decente nela. Tire-a daqui, Nicky.
– Ela está chorando! Parece uma menininha. Não vou chegar perto. – Nicky fez um esgar. Se Piper não estivesse chorando, teria sorrido.
– Eu saio a trabalho, quando volto encontro uma maluca em meu quarto! – Ela disse. Estava tão nervosa. – Vamos lá, garota! Chega de palhaçada! – Ignorou os protestos dela, segurando-a pelo pulso. – Isso só pode ser alguma brincadeira estúpida de Larry.
– Me solta... Não. Não! – Piper viu que ela se aproximava da porta. Oh, não! A tal Alex era uma bruxa. A jogaria para fora do quarto... E em peças íntimas. Seu corpo entrou em desespero.
Alex abriu a porta do quarto.
– Chega de brincadeiras! – Ela colocou o corpo para fora do cômodo e tentou puxar Piper. A pobre moça pranteava demais. Alex proibiu as próprias mãos. Ela enxergou a dor na alma daquele ser.
– Por favor. . Alex. – Piper pediu num suspiro. – Por favor.
Alex olhou Nicky, abriu os braços, demonstrando que não tinha o que fazer. Assombrada, Piper se jogou contra ela, abraçando-a.
– Não me tire daqui.
Os olhos de Nicky estavam a ponto de saltar.
Alex, sem saída, se deixou abraçar, mas não revidou, sentiu um formigamento no fundo do peito, como se precisasse consolar a garota.
– Ok... Certo. – Voltou com ela ao quarto. Piper agarrava seu corpo com força, medo. – Pode me soltar!
– Eu disse à senhorita Amy que dormiria no chão, que não tinha problema... Ela... Ela... – Contemplou Nicky, depois, Alex. – Me desculpe. Irei arrumar o seu quarto. Eu sou boa em arrumar. Pergunte ao Larry. Ele me colocou para dormir no chão... Eu...
– Ei, docinho. Não chore. – Nicky rolou por cima da cama e se aproximou de Piper. – Alex tem ciúmes do quarto dela. Apenas isso. – Nicky conseguiu ganhar a confiança da moça, secando os olhos dela com os dedos. A pele era tão macia. Aquele olhar amedrontado partiu seu coração brincalhão. – Ela não é má, embora pareça.
– Eu não queria irritá-la. Ela gritou a monte.
– Como se chama? – Nichols ignorou Alex resmungando atrás de si, e ajudou Piper a ganhar calmaria.
– Eu me chamo Piper Elizabeth Chapman.
– Muito prazer... – Apertou os dedos dela. – Nicky!
– Qual o seu sobrenome? – Perguntou com doçura. – É importante... Diz muito sobre quem você é.
– Eu te digo em outra hora. – Nicky olhou para trás, localizando Alex sentada na ponta da cama. – Muito bem Piper, você precisa se vestir.
– Eu farei isso, sim... Sim.
– Suas roupas estão aqui?
– Alguém as colocou no closet.
– Sério? – Alex pigarreou. – Eu perdi o quarto para uma estranha?
– Alex... – Nicky a observou. – Pare. Ela está assustada. Não vê?
Vause olhou no fundo dos olhos da loira. Eles eram puros. Sem maldade. Só tinha dor... Receio. Pobre mulher. Onde Larry teria encontrado alguém como ela?
– Tome um banho, Piper. Vista alguma coisa. Só não fique seminua em meu quarto. – Foi educada, no fundo lamentando pela calamidade em que a outra se encontrava, emocionalmente.
– Você gritou tanto comigo. É tão bonita, mas lhe faltam modos.
Num suspiro, Vause se levantou e deu um sorriso.
– Me desculpe. – Ela parou diante das costas de Nicky, apoiou o braço na cintura dela, anelou e mergulhou nos olhos azuis... – Eu só estou cansada. Trabalho demais. Gosto de voltar de viagem e encontrar o meu quarto desocupado. Ele é muito íntimo.
– Amy insistiu para que eu ficasse aqui. Não brigue com ela. É tão generosa. – Secou o rosto. – A culpa é minha.
– Chega de culpados. – Vause deu o veredito. – Tome um banho e se vista. Tia Amy dará um jantar. Se eu não tivesse chegado, aposto que viriam te avisar. – Deu de ombros, enfrentando a bagunça da cama.
– Tome um banho, Piper. – Nicky a incentivou. – Quer que eu a acompanhe até o banheiro?
– NÃO! – Alex exclamou em voz alta. Notou o que fazia, passou a mão pelo rosto e olhou Piper. – Fique a vontade. O banheiro esta no final da sala de estar. É por ali... – Apontou o caminho. Piper ficou olhando. Olhando. Apreciou Alex. Ela era uma mulher muito bonita... A imaginou sem os óculos, de cabelos soltos... Olhá-la era intrigante. Aquilo não estava escrito nos livros.
Nicky, olhando a conexão dos olhares das duas, elevou à mão à cintura, afoita.
– Olá?
Piper saiu do transe, balançou a cabeça e correu para o banheiro.
– Caramba! Que louca da porr*... – Nichols se jogou na cama, fingindo não notar a raiva de Vause. – Ela é louca e linda.
– É... É... Pode ser. – recolhia a bandeja do chão, pensando em uma forma de não querer matar todos os envolvidos naquela loucura toda.
– Estou encarregada de levar a toalha a ela no banheiro, ok?
– Por que você não dá o fora? Espera lá embaixo. Minha tia adoraria a sua companhia.
– Você é muito estressada. – A tenista sorria. – Só estou brincando.
– De onde será que ela surgiu? – Alex largou a bandeja em cima de um criado mudo.
– Descobriremos no jantar... – Nicky continuava a sorrir.
Fim do capítulo
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