CAPÍTULO 56 A SURPRESA
À noite na festa.
Marina e Biatriz estavam mais distantes, em uma mesa com as amigas da faculdade de Biatriz, que agora estava no oitavo semestre de medicina e já trabalhava efetivamente em um hospital enquanto Marina, por fazer uma faculdade de direito, prestou concurso para a polícia e passou entre as primeiras. Foi a única policial efetivada com apenas dezoito anos.
As duas usavam alianças de casadas sem nunca terem feito um pedido formal ou dado uma festinha para a família. Simplesmente apareceram de aliança no dedo.
— O que significa isso, Marina, no seu dedo? — Fabiana perguntou.
— Mamãe, eu e a Bia já nascemos casadas. Ela viu essas alianças, gostou e comprou. Eu que mandei gravar nosso nome. É linda, né? — Levantou a mão e olhou o dedo, exibindo o anel.
— É muito linda. Só acho que eu e Luiza, como mães, deveríamos saber que nossas filhas estavam casando. Era o mínimo a fazer.
— Não foi por mal, mamãe. É que, se a gente falasse da nossa vontade, vocês logo fariam uma festa, um churrasco, uma reunião, qualquer coisa. E a gente queria que fosse uma coisa só nossa. A senhora entende? — Abraçava a mãe, distribuindo beijos em seu rosto.
— Era o correto a fazer. Afinal, nossa família é imensa e todo mundo iria querer fazer parte desse momento.
— Ah, mamãe, nós nem sabemos se vamos estar vivas amanhã, então aceleramos as coisas. O que importa é que estamos felizes. E nos amamos.
— Se depender de mim, minha sogra, eu e Marina vamos viver aqueles contos de fadas. Eu não vejo outra mulher na minha vida — Bia falou, abraçada a Marina.
Fabiana, agora vendo as duas sentadas, tinha certeza. Elas já nasceram casadas.
— Está lambendo a cria de longe, minha deusa negra? — Luiza chegou com uma fralda pendurada no pescoço enquanto a babá levava os filhos para brincar.
— Estava lembrando do dia em que elas chegaram de alianças.
— Bia tem razão, elas se pertencem uma à outra. Como nós duas nos pertencemos.
— Mas elas não tiveram de passar pela metade do que nós passamos. — Ela segurou na mão da esposa.
— Mas nós também sempre estivemos ligadas, de um jeito ou de outro. Nunca nos afastamos. E eu viveria tudo outra vez para ter você do meu lado.
— Se eu pudesse mudar o destino, eu teria todos os meus filhos, mas de outro pai. Por falar nisso, eu não estou vendo o Marcelo. Você viu? — Olhava tudo ao redor em busca do filho. Luiza sorria ao ver os cuidados de Fabiana.
— Ele e a esposa foram buscar Mateus e a mulher no aeroporto.
— Aquele é outro que toda noite dorme aqui ou na casa da mulher sem querer casar no papel. O que está acontecendo com essa geração, minha vida?
— Eles são jovens e têm outra mentalidade. Ainda bem que levam seus relacionamentos a sério. E o Mateus só casou porque a mulher fez jogo duro com aquele lance de casar virgem. — Luiza se lembrou do enteado buscando formas de chegar ao prazer sem tirar a virgindade da noiva.
— Amor, você já imaginou como vai ficar a nossa casa nos fins de semana e feriados? O filho do Mateus, as gêmeas do Marcelo, a filha da Gerusa e agora o bebê que ela está esperando, os nossos gêmeos. Daqui a pouco, os filhos da Marina e da Biatriz. Eu já ouvi as duas planejando para depois da formatura — Fabiana falava e contava nos dedos a criançada.
— Mas isso vai demorar ainda. Faltam uns dois anos para que elas se estabilizem. Além do mais, podem aparecer mais crianças por aí — Luiza falou cheia de suspense, atiçando a curiosidade da morena.
— Pelo amor de Deus, não venha me dizer que as loucas da Virgínia e da Helena estão pensando em filhos, loucas como elas são. — Fabiana quase levantou da cadeira para tomar satisfação da filha, sendo impedida por Luiza.
— Calma, amor, não é a Virgínia, e, desde já, aviso que também não são o Marcos e a Sabrina.
Luiza foi baixando o tom de voz com a chegada da garota linda. Sabrina usava um conjunto de terno e gravata na cor preta e azul claro. Bem larga, a calça dava um ar de elegância e beleza. Faziam poucos meses que tinha retirado os dreads e seu cabelo normal todo encaracolado e vermelho como fogo evidenciava ainda mais seus os olhos alaranjados.
— "Sogras", vou logo avisando sobre as próximas crianças que chegarem. Eu não vou dar conta de brincar com tanta pestinha. Duas já me enlouquecem, imaginem cinco. Vai ser de enlouquecer. — Sabrina saiu da mesma forma que chegou, toda sorridente e linda. Lá na frente, Marcos a abraçou e saíram para sentar na mesa de Marina, onde todos se conheciam.
— Você ouviu, amor, cinco?! De onde vem tanta criança? Eu não pretendo ter mais. Minha fábrica fechou, e então...
Antes de Luiza falar qualquer coisa, um grito infantil ecoou e todos levantaram quando reconheceram a vozinha de Luca chorando.
Fabiana levantou o filho, que tinha caído e arranhado o joelho. Biatriz já vinha com a mala de primeiros socorros e suas amigas estavam ao redor. Depois de limparem o ferimento, que não tinha sido nada demais, voltaram a suas mesas.
— Dona Fabiana, me perdoe. Ele soltou da minha mão e correu atrás do filho do delegado. Antes de eu o pegar, ele caiu. — A moça estava realmente muito nervosa.
— Eu sei que meus anjinhos são impossíveis, mas não os perca de vista da próxima vez, principalmente esse rapazinho aqui. — Passava a mão na cabeça do filho enquanto o passava para o braço da babá. Procurou Luiza com os olhos e a viu na mesa onde Biatriz estava sentada conversando e segurando a pequena Louise pela mão, que tentava se soltar e correr.
Louise e Luca, da mãe biológica, só tinham os olhos e o sorriso, a cor da pele era mais puxada para a cor de Fabiana e os cabelos dos filhos eram encaracolados, porém pretos. Pareciam com as duas mães, o que as deixava bastante felizes com a escolha do doador na época da fertilização, um negro para os óvulos de Luiza e um branco de olhos verdes para os óvulos de Fabiana.
Independente da escolha, as crianças iriam ter as características das duas. Tinha que conversar com Luiza sobre os embriões dos óvulos dela, que ainda estavam congelados. Tinham que doar para pessoas que não podiam ter filhos.
LUÍZA
— Bia, meu bem, eu preciso falar com você. Me empresta ela um instante, Marina — foi falando e puxando a filha para um canto.
— Que tá pegando, mãe? A senhora parece agitada.
— Preciso que você saia e vá no shopping aqui perto e compre um par de sapatinhos todo branquinho o mais rápido possível — já foi falando e entregando o capacete à filha e encaminhando-a para a saída. Só Marina percebeu.
— Marina, a Bia deu uma saidinha para comprar uma coisa pra mim. Já, já tá de volta.
— Aconteceu alguma coisa, tia? A senhora parece agitada. A Louise tá bem? — Marina quis saber, já que Luíza ainda continuava com a criança nos braços.
— Tudo bem, né, meu amorzinho. — A menina olhava pra mãe e sorria como se entendesse. — Eu que quero fazer uma surpresa para sua mãe antes da noite acabar — explicou.
— Tudo bem, então. Vá lá, olha a mamãe chamando. Vou ficar aqui com as meninas. Boa sorte na surpresa.
Biatriz chegou e entregou o pacotinho para a mãe, que correu e guardou, saindo do quarto antes que Fabiana viesse ver o que ela estava fazendo ali sozinha.
Quando saiu, avistou a mulher procurando por ela ao redor da piscina.
— Venha, só falta você para começar os parabéns. — Fabiana foi puxando Luiza para ficar atrás das crianças e dos dois imensos bolos da Liga da Justiça.
Todos cantaram parabéns e as crianças se assustaram, chorando o tempo todo. Quem apagou a vela foram as mães, que logo em seguida fizeram as honras servindo a todos os convidados. Em pouco tempo, os gêmeos dormiram e Fabiana foi ajeitá-los no berço, saindo quando Luiza entrou.
— Eles não aguentaram, acabaram desmaiando. — Puxava a coberta para cobrir o pequeno Luca.
— Amor, eu quero te dar um presente — foi dizendo e tirando do guarda-roupa uma caixinha com um laço e entregou a Fabiana, que ficou olhando.
— O que tem aqui, amor? Não é nem meu aniversário — ela perguntou, desconfiada.
— Abra e veja. — Luiza estava nervosa.
Fabiana abriu a caixa e dentro tinha um par de sapatinhos de recém-nascido. Olhou para Luiza, que estava com um brilho intenso tornando seus olhos verde-esmeralda, tão parecidos com os olhos dos filhos. Ainda não entendia o motivo do presente.
— O que significa isso, meu amor?
— Significa que vamos ser mães outra vez. Eu fiz a inseminação dos seus óvulos, os quatro de uma vez. Não sei quantos vingaram, só sei que estou grávida de cinco semanas — enquanto falava, colocou o palitinho do teste de gravidez marcando as duas listrinhas na mãe de Fabiana.
Fabiana sentou na cama olhando para o teste, a caixinha e Luiza, tudo ao mesmo tempo.
— Me perdoa, amor, eu queria ter dito. Mas você podia não concordar. E eu queria muito um filho seu...
— Cala a boca, amor, e vem cá. — As duas se abraçaram. — Eu te amo tanto, minha branquinha. De onde tirou a ideia de que eu não ia gostar? Vou amar cada momento, afinal, é a primeira vez que minha mulher engravida de um filho meu.
As duas caíram na gargalhada, abraçadas, mas logo levantaram. Tinha uma multidão de convidados lá fora.
Fim do capítulo
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