Capitulo 57 SEGUNDA CHANCE
Capítulo 88 - Segunda chance
O lugar parecia estranho, nada ali era familiar. Uma dor apertava sua cabeça do lado direito. Passou a mão na cabeça e olhou. Não tinha marca de sangue, então por que doía tanto? Olhou para todo lado. Pelo visto, estava em uma fila sem fim. Não estava entendendo nada. Lembrava de um sorriso lindo e nada mais.
— Oi, novato, chegou agora ou já faz muito tempo? — um homem branco, loiro de olho azul, aparentando mais ou menos 50 anos, não sabia ao certo, perguntou, todo sorridente e cordial.
— Não sei, só tenho a noção de poucos minutos. Aliás, onde eu estou? Isso é um banco? Por que uma fila imensa? Outra coisa, quem me deu essa senha que eu não lembro? — O homem alto e de pele clara, nada sorridente, mostrava uma senha ao loiro.
— O encarregado das senhas, quem mais poderia ter sido? Deixe eu ver seu número. 3B5M225M. — Ele balançava afirmativamente a cabeça enquanto examinava o número.
— Puxa vida, cara, até que enfim você chegou. Faz um tempão que eu te espero. — Abraçou forte o recém-chegado, que no mesmo momento o afastou bruscamente.
— Que é isso, companheiro? Dê-se ao respeito. Onde já se viu um homem com a sua idade se agarrando com outro? Só pra que fique bem claro, eu sou macho com H maiúsculo.
— Fale baixo, pelo amor do Santíssimo. Se alguém te ouvir falar assim, você vai ser castigado. — O loiro deu uma gravata no pescoço do moreno ao mesmo tempo em que tapava sua boca com a mão.
O moreno tentou de todo jeito sair do aperto e respirar livremente — estava ficando sufocado —, mas não conseguia. Ficou parado, tentando entender o que estava acontecendo. Não lembrava de nada do que passou antes. Tirando o sorriso e o par de olhos que ele lembrava, do resto não lembrava nada, nem mesmo seu nome sabia. Quando se acalmou, o loiro o soltou.
— Onde nós estamos? — fez a pergunta para todos e para ninguém ali da mesma fila. O silêncio foi a resposta que obteve. As pessoas nem se viraram para olhar para ele.
— Eles não vão te responder — o loiro falou, olhando as unhas das mãos.
— E por que não? Autoridade do ambiente, posso saber? — Ele já estava perdendo a paciência com esse velho intrometido.
— Não deveria dizer, mas vou. Não porque você mereça, mas, enfim, estou aqui há tanto tempo, te esperando, que é minha obrig...
— PARE... Por favor, só explique. Pare com essa ladainha e fale de uma vez. Que lugar é esse? Por que eu não sei quem eu sou? Por que eu tenho uma senha? Por que você diz que está me esperando? Por que estamos numa fila sem fim? Quem é o encarregado da senha? Quem são essas pessoas e por que elas não falam ou olham pra algum lugar? Pode me explicar isso? — Baixou o tom de voz quando percebeu que estava gritando, que ninguém dava a mínima e que, quanto mais se agitava, mais a cabeça doía.
— Realmente são muitas perguntas, mas se ficar calmo e sentar aqui do meu lado, nessa cadeira que tem o número da sua senha e está destinada a você, eu te explico.
O homem alto olhou para a senha em sua mão e para a cadeira. A numeração era a mesma e a cadeira vizinha tinha a mesma numeração, com a diferença no último número. O dele terminava em 5M e, na outra cadeira, era 6M no final. O loiro, vendo para onde seguia o seu olhar, mostrou a própria senha.
— Olha. Essa é a minha senha. Estou há um bocado de tempo te esperando. Aí, do nada, o cara da senha passou e disse que você chegava hoje.
— Isso é o que, um hospício? E como é que esse cara sabia que eu ia chegar se nem eu mesmo sei onde eu estava?
— Isso aqui é uma sala de espera. Todos aqui estão esperando o seu destino, que é decidido e uma senha é entregue. Nela vem a explicação de para onde devemos ir. — O loiro sentou e tirou uma poeira inexistente de suas vestes brancas. Foi então que o homem alto percebeu que também estava vestido de branco e todo mundo ali vestia a mesma cor e tinha o mesmo corte, parecido com as batas de hospital, e teve a certeza de que estava no hospital. Então sentou, desanimado. Realmente estava em um hospício.
Nesse momento, parou do lado de fora um ônibus de última geração, desses que só vemos em filmes de ficção, e o motorista desceu, deixando todas as portas abertas. Já ia levantando para subir no ônibus quando uma voz forte ecoou dos megafones espalhados no ambiente.
— Atenção! Todos que tiverem na senha, junto à numeração, a letra P. Se dirijam ao transporte e sejam bem-vindos.
O homem olhou para a senha e voltou a sentar, observando a quantidade de pessoas que ia para o ônibus. Nele não ia caber tanta gente. Eram homens, mulheres e rapazes. Cadê as crianças? Por que não tinham crianças?
— Por que não tem criança?
— Elas não vêm pra cá. Vão para outra sala, fazer a purificação e seguir seu destino.
Ele já ia fazer outra pergunta quando chegou um ônibus lotado de pessoas. As portas abriram e todos desceram olhando para todo canto sem entender nada, cada um com uma senha na mão, e uma mocinha levou todos lá pra frente, para as cadeiras desocupadas. Quando todos já estavam alojados, ele não se conteve e perguntou:
— Por que eles sentaram na nossa frente se acabaram de chegar? E de onde eles vêm?
— Espera. Ei, Celeste! — A moça parou, já quase dentro do ônibus.
— O que aconteceu dessa vez que veio tanta gente?
— Um terremoto devastou uma cidade na América do Sul. Meus parabéns! Eu soube que a pessoa que você esperava chegou hoje, e agora é só esperar a liberação para partirem e cumprirem a missão de vocês, que é evoluir. Não esqueça e veja se aprende dessa vez. Tenha paciência com ele Seu maior defeito foi a intransigência e a soberba, mas o mais importante está dentro dele. O amor está lá bem trancado e todos nós esperamos que ele consiga aprender. É sua última chance e você será o seu mentor para ensinar o caminho certo.
— Pode deixar comigo. Eu fiz aperfeiçoamento de aceitação, vi os meus erros e dessa vez vou focar nos acertos. Quero fechar meu ciclo e evoluir — falou, calmo e tranquilo.
— O mesmo já não posso dizer do seu companheiro de jornada. Ele vai dar um trabalho dos grandes para aceitar. Boa sorte. — Celeste subiu no ônibus e partiu. O loiro voltou e sentou ao lado do moreno.
— Vamos ter fé e paciência. Você sabia que paciência é a melhor das virtudes do ser humano? — Ficou pensativo. Também não se lembrava da vida passada, só sabia que tinha que esperar seu amigo de jornada chegar para partirem juntos e juntos tentarem evoluir.
— Você consegue se lembrar de alguma coisa? Nome, rua, uma esposa, um filho, qualquer coisa. Lembra? — o senhor perguntou.
— Não. Só de um sorriso e de uns olhos lindos, quase da cor de mel. Mas não sei de quem são. Estou com uma dor insuportável na minha cabeça. — Passava a mão no lado direito da cabeça, sem entender o motivo da dor.
— Tem sorte. Eu não me lembro de nada, mas tudo bem. O que importa é o que vai acontecer daqui pra frente. O que ficou para trás não importa. — Os olhos brilhavam de esperança.
— Atenção! Visitantes com a terminação 225M e 226M se dirijam à portaria branca.
— Somos nós dois, companheiro. Vamos lá ver o que eles querem dessa vez. — Passou o braço no ombro do moreno, que tratou de tirar, já querendo se irritar.
— Qual é seu problema para toda hora querer tá me agarrando? Já deu, meu. Eu não sou...
— Psiuuu, fique calado. Quer ir lá para o fim da fila? — O loiro tratou de calar o outro. Na portaria, ficaram aguardando um jovem aparecer e olhar os dois.
— 25M, 26M, vocês vão para a sala amarela. Tirem toda a roupa, passem pela purificação e fiquem em suas camas.
— Sim, meu senhor. Que a paz divina nos acompanhe. — Já ia saindo e puxando o moreno, que ficou em pé, sem nada entender.
— Amém.
Na sala com três camas parecendo incubadora neonatal, em uma delas tinha uma mulher dormindo e as outras duas estavam vazias. Eles entraram e em cada uma delas tinha o número da senha. Despiram-se. Eles podiam ouvir uma música, como o canto da ave Maria cantada pela voz de anjos, e uma calma tomou conta do ambiente. Todas as perguntas que o moreno tinha para fazer foram perdendo a importância e uma paz tomou conta do seu corpo. Só tinha vontade de dormir. Uma neve fina tomou todo o ambiente e os dois se encaminharam para a cama, onde deitaram e fecharam os olhos. Os dois sentiam tudo que estava acontecendo ao redor, como passos que se aproximaram e alguém parou ao lado da cama.
— Eles sabem o destino deles, Uriel? Chegaram a ser orientados?
— O mais velho fez todo o processo de aceitação junto com a garota. Eles sabem o que podem fazer pelo novato. Faz parte da evolução deles fazerem com que o novato aceite com mais tranquilidade as coisas como elas são e amar ao próximo independente das suas escolhas, essa vai ser sua tarefa.
— Deus abençoe a caminhada deles. Olha, eles já estão no caminho. Logo, logo, estará completo.
— Eu não entendo por que o novato, assim que chegou, já foi despachado outra vez.
— Eu também fiz essa pergunta ao meu mentor. A resposta que ele deu foi que, na hora da sua morte, ele ficou olhando para a filha e guardou na alma seu sorriso e olhar. E você sabe que os olhos são a janela da nossa alma. Ele trouxe a imagem da filha. Isso deu a ele o direito de voltar e acertar as coisas que ele bagunçou.
— Será que ele vai fazer a coisa certa dessa vez?
— Vamos rezar para que isso aconteça, Adriel. Segundo disseram, essa será a última tentativa. Caso dê errado, ele vai esperar ou descer. Olhe, eles já estão chegando. Veja, o moreno entrou no corpo da menina e o loiro também no corpo da outra menina, e a garota que estava aqui entrou no corpo do menino nasceram trigêmeos.
— Tudo conforme estava escrito. Eles nascerão no mesmo ambiente em que viveram. Num ambiente repleto de amor — Uriel falava enquanto organizava a sala para os próximos que iriam reencarnar.
— Nasceram de quem, você sabe?
— Claro. A mãe deles será uma tal de Luíza na América do Sul. Parece que foi onde eles tiveram as últimas duas vidas passadas.
Aqui está tudo organizado. Nossa parte aqui foi cumprida. Vamos para outra tarefa.
Os dois saíram caminhando lado a lado, sem pressa alguma, com o sabor na alma de dever cumprido.
FIM.
Fim do capítulo
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Lea
Em: 11/07/2021
O olhar da filha lhe deu mais uma chance de fazer o bem,e renascendo daquela a quem ele mais odiou em vida!
E os trigêmeas já foram "feitoS" do amor e em um ambiente que transborda mais do que amor!!
Fabiana e Luiza lutaram por um amor forte e verdadeiro! Tão verdadeiro que se fortaleceu por anos, até a plenitude as abraçarem!!
Construiram uma FAMÍLIA LINDA!!
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