CAPÍTULO 53 AS DORES DO PARTO
Fabiana acordou sentindo um aperto no peito e tonturas. Não queria alarmar ninguém, mas estava apavorada, e, quanto mais nervosa ficava, mais sentia as palpitações aumentarem e respirava com dificuldade. Cutucou o braço de Luíza.
— Amor, não estou me sentindo muito bem — conseguiu dizer em meio ao nervosismo, Passava a mão na barriga, acalmando os filhos que estavam agitados, dando chutes para todo lado.
Luíza pulou da cama sem pensar duas vezes. Estava desorientada, mas pegou o livro que estava lendo, abriu ao meio e ficou abanando próximo ao rosto de Fabiana.
— O que você está sentindo, quais os sintomas? — perguntou, tentando ficar calma.
— Estou com tonturas, falta de ar e um calor subindo das pernas para cima. Nossos filhos estão agitados, parecem que estão com medo. Oh! Meu Senhor, não deixe acontecer nada com meus bebês. Me leve, mas deixe meus filhos virem ao mundo e verem essa mãe linda deles. — Fabiana chorava baixinho e passava mão na barriga enquanto fazia uma prece.
Enquanto tirava de qualquer jeito uma blusa e um jeans para vestir, pegou junto um vestido florido, bagunçando tudo dentro do guarda-roupa. Vestiu-se às pressas e foi para o lado de Fabiana ajudá-la a se vestir. Em momentos como esse, concordava com os mais antigos que não se deve dormir da forma em que veio ao mundo. Caso acontecesse uma emergência, ficaria feito uma barata tonta. Chegou perto da morena, que estava suando frio.
— Anda, me ajuda, levanta os braços. — Com um pouco de esforço, conseguiu passar o vestido por sua cabeça e arrumou no corpo da morena.
Foi até o quarto de Biatriz chamá-la para que ela fosse a motorista, já que não se encontrava em condições e Marcelo tinha ido dormir com Danielle, o que tinha se tornado uma rotina. Matias e Marcos tinham ido passar o fim de semana na praia com as namoradas, então a sorteada da vez era Biatriz.
— Bia, Marina, acordem.— Deu três batidas na porta sem muita força para não acordar a casa toda.
— O que houve, mãe? — Bia abriu a porta com cuidado para não acordar Marina.
— Fabiana não está passando bem. Preciso que dirija e nos leve para o hospital urgente.
Voltou às pressas e agradeceu à providência divina por quando brigou com a esposa para construir o quarto delas e dos bebês na parte de baixo da casa, bem em frente à piscina, no local que era usado como vestiário. Todo o espaço virou uma suíte para casal e um quarto amplo para os bebês, caso contrário não tinha como ajudá-la a descer as escadas, não com aquele barrigão. O oitavo mês de Louane Marcela e Fabiano Luca estava maltratando Fabiana na hora de dormir, para andar, ir ao banheiro. Havia noites em que ela passava as horas deitada em uma rede, sem achar posição para dormir; em outras, dormia toda em cima de Luíza, que se tornou o colchão mais confortável.
Caminharam bem devagarinho, com Fabiana se apoiando na parede, com a respiração forte e as mãos pegando fogo.
Biatriz já estava no carro, buzinando freneticamente para que se apressassem, e Marina foi ajuda-la com Fabiana.
— Não se preocupe, mamãe, a gente chega já no hospital. Fique calma, pense nos bebês correndo por essa casa, derrubando as coisas...
— Chorando a noite toda, sem deixar a gente dormir. Vinte mamadeiras para aprontar. Trocar fraldas a todo instante... — Luiza completou.
— Você não está ajudando amor... — Fabiana reclamava enquanto as meninas, com certa dificuldade, ajudavam ela a se sentar no banco de trás e Luiza sentou ao seu lado, segurando sua mão.
— Por favor, minha filha, vá rápido e cuidado com os buracos. Marina, ligue para a clínica e tente saber se a doutora Margareth e o doutor Isac estão de plantão. O número está no meu celular. — Esticou o braço com o celular na mão e voltou sua atenção para a morena, que chorava e conversava com as crianças.
Na entrada da clínica, um rapaz com credenciais aguardava na porta com uma cadeira de rodas. Sentaram Fabiana praticamente à força enquanto ela reclamava que estava bem e não havia necessidade de tudo aquilo.
— O problema, mamãe, é que a senhora está pesada demais e pode cair, colocando em risco a saúde dos bebês. Senta aí, vai, e para de choramingar. Nem parece uma mulher que já pariu um time inteiro de futebol. Onde já se viu? — Marina ria enquanto ralhava com a mãe.
— Boa noite, moça, minha esposa está passando mal. — Entregou cartão e RG de Fabiana e ficou aguardando.
— Ronaldo, coloque essa pulseira na paciente e transporte-a até a sala do clínico geral. — A atendente entregou uma pulseira na cor vermelha e o tal Ronaldo, que era um jovem totalmente albino com seus vinte anos, a colocou no pulso de Fabiana.
— Marina, você e Bia fiquem aqui. Assim que sairmos da sala, resolveremos se avisaremos aos meninos ou não. — Luiza viu a preocupação estampada no rosto das duas, mas por enquanto nada podia ser feito.
Entraram na sala limpa e branca como todo consultório médico. O doutor era um senhor beirando os setenta anos, mas muito lúcido, o que demonstrava sua experiência na medicina.
— Boa noite, ou melhor, bom dia, senhoras. Qual das duas é minha paciente e o que está sentindo? — ele brincava para amenizar o problema.
— Bom dia. Sou eu. Acordei sentindo palpitações, tonturas e falta de ar. Além de um calor que subia dos pés pra cima. É sério, doutor? — Fabiana perguntou enquanto o médico saía da sua cadeira com o kit de aferir pressão arterial.
— Sua pressão arterial está acima do limite esperado. Vou receitar um medicamento para a senhora e observar como se comporta. Estou vendo aqui que está com vinte e nove semanas...Vacinas, ok. Peso, ok. Desenvolvimento dos fetos, ok. Pressão arterial, humm... Sua pressão arterial durante o período de gestação oscilou demais. Isso não me agrada. Vá lá tomar esse medicamento e, depois de 30 minutos, retorne.
Na enfermaria, após ser medicada e já se sentindo um pouco melhor, Fabiana chamou Luiza e sussurrou no seu ouvido:
— Amor, eu já estou bem. Vamos embora, esse médico está me assustando.
— Não posso, meu bem, seria irresponsável com você e nossos filhos. Ele é médico, deve saber o que está fazendo. Além do mais, a doutora Margareth está chegando, ela que vai te acompanhar.
— Eu quero ir para casa, amor... Já estou melhor — Fabiana insistia no pedido.
— Bom dia, dona Fabiana. Vamos para minha sala, quero fazer um exame na senhora.
A doutora mandou Fabiana deitar e começou o ultrassom e a escutar os bebês. Ao terminar, ajudando Fabiana a sentar, pegou um papel, limpou as mãos, voltou para sua cadeira, pegou uns papéis e começou a preencher.
— Dona Fabiana, vou providenciar o seu internamento. — Continuou escrevendo e carimbando o papel.
Fabiana apertou a mão de Luiza, desesperada ante a ideia de internamento.
— Eu não quero ficar... Diga pra ela, amor... Eu já estou melhor...
— Que isso, dona Fabiana, ora, se tem cabimento. Um mulherão desses com medo de hospital... — falava e piscava um olho para Luiza, que a tudo ouvia calada. — Seu internamento é necessário devido a sua pressão arterial estar muito oscilante, e isso pode acarretar em eclampsia na hora do parto ou pós-parto. Quero a senhora bem deitada e sem preocupação, sob meu olhar ou do meu pai. Se por acaso a senhora vier a ter outro aumento na pressão, faremos seu parto cesariano.
— Mas ainda faltam 3 semanas, doutora. Meus filhos ainda não estão prontos — Fabiana falava, com a mão segurando a barriga para proteger os filhos.
— Vamos esticar ao máximo esse tempo, mas, se fosse para fazer a cesária agora, já dava para ser feita sem grandes perigos para os bebês, que teriam que passar o restante do tempo na incubadora. Vamos rezar para que não seja preciso e deixar esses pacotinhos de amor o máximo de tempo possível aí dentro desse forninho. Vamos lá — a médica foi dizendo e já se levantando, caminhando e abrindo a porta.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]