Capitulo 42
A Última Rosa -- Capítulo 42
Sem dizer uma só palavra, Jessica meneou a cabeça e saiu para rua à procura do delegado. Nilson era um homem discreto quando se tratava de trabalho e sua presença raramente era notada pelos moradores da cidade, uma vez que crimes eram raridade em Hills. Talvez por esse motivo Nelson fosse quase um estranho para a maioria da população.
Jessica, trêmula, atravessou a rua e parou diante do delegado que estava recostado no pilar de um ponto de táxi.
-- A tia disse que o senhor queria falar comigo.
Nilson endireitou o corpo e colocou as mãos no bolso da calça.
-- Sim, minha garota. Ontem o detetive Fernandes recebeu a visita do advogado da dona Marcela.
-- Advogado da Marcela? O que ele queria?
-- Queria nos dar algumas informações que achava pertinentes ao caso. Fernandes me perguntou o que eu achava a respeito e como não sabia ao certo o que deveria responder ao sujeito, achei melhor vir conversar com você -- ele limpou a garganta e lhe entregou um papel, fez uma pausa e olhou para ela, obviamente dando um tempo para que Jessica terminasse a leitura.
O rosto da perfumista ficou pálido como a folha de papel que segurava.
-- Porque?
-- Você não sabia disso?
-- Não, jamais imaginei -- ela engoliu em seco, tentando aliviar a tensão na garganta, mas ainda assim sua voz saiu um pouco embargada.
O delegado passou uma das mãos pelo queixo, e, em seguida, voltou a enfiar as duas mãos nos bolsos.
-- Vamos caminhar um pouco, Jessica. É a melhor maneira de evitarmos os olhares curiosos.
Jessica hesitou por alguns instantes, depois caminhou ao lado dele na calçada estreita.
-- Eu dificilmente daria ouvidos ao que a doutora disse. Mas o fato é que agora surgiu um motivo. E um dos grandes.
-- Serei presa?
Os lábios de Nilson se abriram num sorriso.
-- Não, não creio que a coisa vá tão longe, minha garota. Fernandes parece muito convencido de que você tem algo haver com o assassinato, mas disse a ele que me responsabilizo por você,
-- Quer dizer que vou ficar em liberdade vigiada de agora em diante?
-- Sim, quer dizer, faremos de conta. Não vejo necessidade de colocar um policial vigiando você.
-- Claro que não!
-- Você não tem nada, nem uma pista que nos ajude na investigação?
Jessica negou com um movimento de cabeça.
-- Não tenho nada. Por enquanto é a minha palavra contra a da Augusta. Tudo o que posso lhe dizer é que ela é uma doida.
-- Também acho, nós achamos, mas o juiz não está nem aí para o que nós achamos. O que importa são as provas e o motivo.
Diante do que acabava de ouvir, Jessica sentiu como se todos os seus planos de felicidade estivessem caindo por terra. O coração batia descompassado em seu peito e ela tinha dificuldade em respirar. Precisava encontrar o assassino, era sua única chance.
-- Acho que devemos voltar, a Michelle e a tia Inês já devem estar preocupadas.
-- Claro, claro -- o delegado deu a sua tradicional gargalhada e jogou os braços pesados sobre o ombro de Jéssica -- Vou pagar um sorvete gigante para a Inês. Quero ela bem cheinha -- Nilson falava enquanto caminhavam em direção à sorveteria -- Sabia que mulheres gordinhas tornam os homens 10 vezes mais felizes nos relacionamentos?
-- Não sabia, mas acredito.
-- Um estudo aponta que os homens que têm um relacionamento com garotas com excesso de peso têm mais facilidade em conversar sobre a relação e, consequentemente, resolvem os problemas com mais facilidade. Por outro lado, os homens que têm um relacionamento com mulheres magras tendem a ser menos sociáveis e são mais cautelosos quando se trata de expressar o que sentem.
-- Sério? Então, eu e a Michelle estamos ferradas.
-- Ah, não leve as coisas tão à sério -- ele estendeu a mão e espalhou os cabelos dela. Jessica o empurrou irritada.
-- Que saco!
Nilson riu de novo, mas ficou sério quando viu Inês se aproximar.
-- Vou te pagar um sorvetão de pimenta -- ele disse, animado.
-- Urgh, que horror! -- Inês cobriu a boca com a mão.
Ele puxou ela pela mão.
-- Horror que nada. Vamos logo!
Jessica e Michelle ficaram olhando enquanto eles entravam na sorveteria discutindo.
-- Quando será que esses dois vão juntar as escovas de dente?
-- Se depender do delegado, amanhã mesmo -- respondeu Jessica, sorrindo.
Michelle retribuiu o sorriso tocando o rosto dela com as duas mãos.
-- Vai me contar o que o delegado queria com você? Ou será que não posso saber?
-- Claro que você pode saber. Vou lhe contar tudo. Só estou um pouco confusa, preciso colocar meus pensamentos em ordem.
-- É tão perturbador assim?
-- Você não faz ideia -- ela deu um passo atrás e segurou as mãos de Michelle -- Vamos entrar, quero contar a novidade a todos -- declarou Jessica, começando a entrar na sorveteria.
Assim que entraram, ouviram a voz inconfundível de Pepe.
-- Amizade boa mesmo é aquela que a pessoa paga 1 açaí, 3 pastéis e 1 Coca-Cola bem gelada pra mim.
-- Você não presta, Pepe.
-- Na verdade, Val, eu tenho saudades de quando eu não prestava. Nessas horas eu já tinha uns 5 esquemas marcados.
-- Até parece -- disse Jessica, puxando uma cadeira para Michelle -- Preciso contar uma coisa para vocês.
-- Coisa boa ou coisa ruim? -- perguntou Vitória.
-- Ainda não sei -- Jessica respondeu calmamente, mas sua expressão demonstrava preocupação.
-- Como assim, Jess?
-- É que antes eu não tinha um motivo para assassinar a Marcela, agora eu tenho.
Todos olharam para ela sem entender. De repente, começaram a falar ao mesmo tempo, deixando Jessica nervosa.
-- Calma pessoal! -- ela exclamou, dando um leve tapa na mesa.
-- Então conta logo, Jess.
Aquela voz macia e curiosa desviou o olhar de Jessica das demais pessoas à frente. Ela sorriu, admirando aqueles olhos castanhos inquisidores.
-- O advogado da Marcela esteve ontem na delegacia -- Jéssica fez suspense por alguns segundos e continuou -- Sou a única beneficiária do testamento da Marcela.
Durante um longo tempo, os amigos se entreolharam em silêncio, até que, afinal Michelle comentou:
-- O promotor vai usar isso contra você.
-- Vai mesmo -- afirmou Nilson.
-- Você nunca desconfiou que ela tinha feito um testamento?
-- Não Mi, isso nunca passou pela minha cabeça.
Inês permanecia sentada em silêncio, ouvindo atentamente. Seus dedos apertavam com força a taça de sorvete.
-- O advogado me disse que vai amanhã à sua casa. Com certeza pra explicar quais serão os próximos passos -- afirmou Nilson, lambendo o dedo.
-- Mesmo com o caso rolando e a Jéssica sendo a principal suspeita, ela poderá receber a herança, delegado?
-- Não, Valquíria. Com certeza a herança ficará bloqueada até o encerramento do processo. Se a Jessica for condenada, batam na madeira, por favor -- todos bateram na mesa -- A Justiça decidirá que a Jessica é indigna de receber a herança.
Um suspiro escapou dos lábios de Jéssica.
-- Dou a mínima para essa herança.
-- Pois deveria dar -- Inês que estivera em silêncio até aquele momento, resolveu intervir -- Ela é sua por direito.
-- Esse dinheiro não me pertence, tia.
-- Não estou falando em dinheiro, minha filha. Estou falando das pessoas que dependem da Empresa Parker para sobreviver. Dos fornecedores, dos agricultores, do comércio local. A empresa será leiloada, o que vai acontecer caso ela caia em mãos erradas?
-- Inês tem razão, Jess.
-- Meu bolinho de chuva sempre tem razão -- disse Nilson, fazendo coraçãozinho com os dedos.
Valquíria olhou de lado para ele.
-- Você está ferrada Jessica, olha o nível da polícia local.
-- Marcela não tem nenhum parente vivo? -- perguntou Michelle.
-- A Marcela me disse que não -- respondeu Jessica apoiando uma das mãos sobre a mesa e a outra no encosto da cadeira de Michelle -- Ela não disse nada além disso e, confesso que não me interessei em perguntar.
-- Vamos embora, Jess? -- Michelle afastou a taça vazia para recostar-se na cadeira, com ar cansado -- O dia de hoje foi complicado.
-- Espero que os próximos sejam mais tranquilos -- Jessica olhou ao redor, à procura de Pepe, mas não o viu em lugar nenhum -- Onde esse cara se meteu? Estou super curiosa para saber o que eles descobriram lá na locadora de carro.
-- Você conversa com ele mais tarde, Jess.
Jessica empurrou a cadeira para trás e se levantou da mesa.
-- Tá certo! Quem vai com a gente?
Minutos depois...
-- O Pepe vai se ver comigo -- disse Jessica ao ligar o carro.
--Tenho quase certeza que ele encontrou um dos seus ficantes e já tomou outro rumo. Lembra daquele dia lá no shopping? -- recordou-lhe Valquíria franzindo o cenho.
-- Ele sumiu e só apareceu no dia seguinte -- Jessica parou o carro em uma intercessão -- Não me surpreenderei se ele só aparecer amanhã.
-- Se você esperou até agora, poderá esperar até amanhã -- disse Michelle brandamente.
O semáforo mudou e o carro alcançou velocidade. Jessica concentrou sua atenção na rodovia, enquanto Michelle apreciava as luzes do outro lado da baía. A cena era digna de um cartão postal, e ela não cansava de admirá-la.
O carro seguia em frente, a cidade ficou para trás e tudo se tornou escuro, com apenas os faróis do carro iluminando a estrada em frente. Não estavam mais em uma rodovia movimentada, ocasionalmente passavam por um carro.
Jessica subiu as escadas assim que chegaram em casa. Um longo banho de banheira, diminuiria a tensão do corpo e a ajudaria a relaxar.
Encheu a banheira, colocou sais relaxantes e muita espuma. Acendeu algumas velas, entrou e sentou-se.
Aquilo era uma benção, reconheceu Jessica enquanto inclinava a cabeça contra um suporte para pescoço e fechava os olhos. Michelle estava certa, era o que ela precisava.
Mas a lembrança de Marcela repentinamente causou-lhe um arrepio por todo o corpo.
Assustada, Jessica abriu os olhos. A chama das velas ao redor do cômodo tremiam e dançavam freneticamente, a toalha caiu no chão, a lâmpada do quarto acendeu e apagou sozinha.
Desesperada, ela saiu da banheira, enrolou a toalha ao redor do corpo e correu para o quarto.
-- O que foi Jessica? -- perguntou Michelle, acendendo a luz do quarto.
-- Aiii... Meu Deus! O que faz aí parada? -- Jessica sentou-se na cama, branca como um papel.
-- Vim ver como você está.
Jessica respirou fundo, abraçando o próprio corpo, como se estivesse sentindo frio.
-- Desculpa, por trazer mais problemas à sua vida.
Disse Jessica com um sorriso lento que roubou o fôlego de Michelle. A ruiva tocou o rosto dela com as duas mãos, beijou-a levemente e, em seguida disse com ternura:
-- Guarde bem o que vou dizer, meu amor, não importa as tempestades pelas quais passaremos em nossa vida. Nada, nada, será maior que a felicidade que encontramos nos braços uma da outra.
Uma grande emoção tocou o peito de Jéssica. Obedecendo a um impulso, segurou-a pelo pescoço e puxou-a para junto de si. Seus lábios se roçaram, os olhos verdes examinando-a como se quisessem ver-lhe a alma.
-- Acabo de descobrir que você é a mulher do meu coração.
Michelle fez biquinho.
-- Descobriu isso só hoje, amor?
-- Não. Eu repito isso há 3.530 dias.
-- Não entendi Jess.
-- Faz 9 anos e 80 dias que nos conhecemos, 3.530 dias que eu te amo. Hoje é só mais um dia que eu me apaixono por você, como se fosse a primeira vez.
Michelle não resistiu e envolveu-a nos braços.
Feliz Dia dos Namorados.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 13/06/2021
Oi Vandinha
E a cada capítulo a Jessica fica enrolada.
Pq ela não comentou do cara que andava bisbilhotando a frente da mansão??
Pepe deixou uma mulher curiosa na ansiedade, tenho pena quando ela aparecer kkkkk
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Olá Mille.
Pensamentos negativos atraem situações negativas.
Beijos.
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NovaAqui
Em: 13/06/2021
Agora ela está ferrada: única herdeira? Será que o testamento é verdadeiro?
Vamos esperar os próximos!
Abraços fraternos procês aí!
Resposta do autor:
Olá NovaAqui.
Agora vamos conversar sobre sentimentos ruins. Os espiritos desesperados, encosto para alguns, aproveitam-se de nossos momentos de fragilidade e tornam a vida da pessoa um inferno. Quando Jessica vencer a sua descrença, se sentirá mais forte para enfrentar os problemas.
Abraços fraternos.
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