Capitulo 40
A Última Rosa -- Capítulo 40
A luz da manhã penet*ava no quarto quando Jessica acordou e olhou para a delicada criatura que dormia com a cabeça apoiada em seu peito.
Um sorriso distendeu seus lábios quando, ainda dormindo, ela murmurou seu nome. Virou-se e passou um braço pela cintura dela.
-- Amor, acorda -- Jessica se lembrou que acordar Michelle nunca foi uma tarefa fácil -- Ei, acorda preguiçosa.
-- Já é manhã? -- ela perguntou sonolenta.
-- Já são mais de nove horas.
-- Hum, que droga! O tempo passa rápido demais -- Michelle bocejou e deixou a cabeça cair novamente sobre o peito de Jéssica.
A loira riu e a deitou novamente.
-- Sei que não deixei você dormir muito essa noite.
-- Quase nada -- ela se aninhou nos braços de Jessica, sentindo-se aquecida e feliz -- Vamos dormir só mais um pouquinho -- bocejando, ela fechou os olhos. Embora nunca tenha sido uma pessoa preguiçosa, acordar cedo não estava sendo nada fácil para ela. O prazer de se aninhar ao corpo quentinho de Jéssica a fazia sentir vontade de ficar o dia inteiro na cama.
-- Eu tenho que fazer algo, não posso ficar esperando pela polícia de Hills.
Michelle animou-se e sentou-se na cama.
-- Você tem razão. Devemos parar de chorar em cima do leite derramado e agir.
Jessica sorriu de leve.
-- Agora você falou igual à tia Inês.
-- Sua tia é uma mulher sábia, então, vamos à luta.
Jessica a observou enquanto saía da cama e ficou em pé diante dela.
-- O que pretende fazer?
-- Vou atrás do assassino. É isso que vou fazer.
Michelle sentou-se na beira da cama.
-- O enterro da Marcela é às 3 da tarde.
Jessica levantou a cabeça. Ela tinha o olhar mais doce que Michelle já tinha visto, doce e triste. Um anjo que tinha descido à Terra. Com a boca perfeita e os olhos nos quais poderia se afogar sorrindo.
-- Para onde a gente vai depois que morre? Para o céu, para perto de Deus, de volta para a Terra ou para nenhum lugar: a vida acaba ali e a gente não se lembra mais de nada?
-- É uma pergunta muito difícil, Jess. Em que você acredita?
-- Se Deus é todo amor e todo poderoso, por que há tanta maldade no mundo? Ele não pode fazer nada sobre isso? Ele escolhe não fazer? A maldade no mundo é um resultado de seu desejo de nos dar liberdade? Se Deus é amor, por que ele permite que um bandido invada a casa de uma pessoa inocente e arranque dela o direito de viver?
-- Deus sabe o que faz. Para nós, ainda tão pequenos, é difícil compreender. Mas é preciso enxergar com os olhos espirituais, pois as aparências sob o olhar físico enganam. Tudo tem uma razão de ser, Jess. E se Deus é justo, a razão do sofrimento haverá de ser igualmente justa.
Michelle beijou-a de leve no rosto, querendo ser capaz de ajudá-la a superar o sofrimento e a descrença.
-- Queria tanto ter a mesma certeza que você, May.
-- Minha fé é vacilante, Jess. É normal, é humano, por isso deve-se sempre dizer: -- Senhor, eu creio, mas aumenta a minha fé!
O aroma apetitoso do café recém-coado atraiu Jessica e Michelle até a cozinha. A mesa estava posta e Inês, com um avental xadrez amarrado na cintura, cuidava dos ovos na frigideira, enquanto Valquíria tirava pãezinhos do forno. Sem erguer os olhos, a jovem senhora falou:
-- Chegaram bem na hora, meninas.
-- Eu já ia subir para acordá-la -- contou Valquíria.
-- Dormiram bem?
-- Muito bem, tia -- Jessica puxou uma cadeira para Michelle e ofereceu-lhe um copo de suco de laranja.
-- Obrigada, Jess.
Valquíria começou a providenciar as xícaras, pratos e travessas para o café da manhã.
-- Não quero ser desagradável, mas vocês vão ao enterro da dona Marcela?
-- Sim, vamos -- Michelle respondeu sem olhar para ela.
-- Vai ser uma barra -- disse Inês, olhando para a sobrinha -- Todos que estiverem no enterro vão olhar para você de rab* de olho. Notícias graves assim não são mantidas em segredo por muito tempo. Provavelmente os rumores já se espalharam pela cidade. Você tem que desmentir essa bruxa o mais rápido possível.
-- Eu sei, tia -- praguejando baixinho, Jessica sentou-se ao lado de Michelle -- Rezo para conseguir controlar minha raiva quando a encontrar.
Michelle permanecia em silêncio enquanto tomava tranquilamente seu café com pãozinho. Naquele momento, comemorava o fato de ter guardado uma carta na manga. Se a Augusta quer guerra, guerra ela terá.
Terminado o café, levantou-se e levou a louça até a pia.
-- Já terminou? -- perguntou Jessica, limpando os lábios com o guardanapo -- Você não comeu quase nada.
-- Estou com um pouco de pressa, vou sair com a Valquíria.
-- Comigo? -- a moça perguntou, sem entender.
-- Você não quer comprar uma blusa preta para ir no enterro?
-- Quero?
Michelle fez um trejeito discreto com a boca, Valquíria entendeu o recado.
-- Ah, é verdade. Quero sim. Só tenho blusas exageradamente coloridas, nada apropriadas para a ocasião.
Jessica jogou o guardanapo na mesa e se levantou.
-- Eu levo vocês.
-- Não! -- a voz saiu mais alta do que Michelle tencionava -- Quero dizer, você tem que agir, Jess. Não pode ficar passeando no shopping enquanto a acusam de assassinato.
-- A Michelle tem razão, minha filha. Nós sabemos que você é inocente, mas a polícia não.
Jessica apertou os lábios e balançou a cabeça, concordando.
-- Eu vou até a delegacia conversar com o detetive e ficar a par dos detalhes do processo. Quero saber se eles tem alguma prova, ou estão apenas se baseando no depoimento da Augusta.
-- Isso mesmo amor, faça isso. Ah, vou levar o seu carro.
-- E eu?
-- Vai com o carro da tia Inês -- ela deu um leve beijo na boca de uma Jessica surpresa e saiu apressada.
-- Pode isso, tia? -- bicuda, Jessica balançou a cabeça.
Inês não conseguiu reprimir o sorriso quando saiu da cozinha.
Michelle olhou seu relógio nervosa e golpeou os dedos ritmicamente no volante.
O tráfego, naquela manhã de sexta-feira, estava horrível. As duas pistas da estrada estavam entupidas de ônibus e automóveis, todos se dirigindo para as praias do centro de Hills.
-- Droga de semáforo!
-- Agora me fala a verdade -- pediu Valquíria -- Aonde estamos indo?
Michelle se virou para ela enquanto aguardava o semáforo ficar verde.
-- Vou dar uma prensa na Augusta.
Valquíria deu uma risada gostosa.
-- Sério? Aleluia, até que enfim alguém resolveu tomar uma atitude.
-- Me segurei o máximo. Estava esperando o momento exato, não podia gastar a única arma que temos contra ela.
-- Vai ameaçar denunciá-la à polícia?
-- Sim, ela cometeu vários crimes. Tentativa de assassinato, laudo falso sobre a saúde do paciente e muitos outros. Vamos ver até onde vai a coragem da doutora bruxa.
Decidida, Jessica bateu à sólida porta de carvalho, depois abriu-a e entrou.
O detetive analisava um documento e parecia estar muito concentrado. Ela deu alguns passos e parou diante da pequena mesa.
-- Bom dia!
Fernandes levantou a cabeça e olhou para ela.
-- Bom dia! -- ele levantou-se, estendendo a mão, que ela tomou sem hesitar -- Que bom que veio.
-- Novidades?
-- Sente-se, por favor -- ele apontou para a cadeira vazia à sua frente -- Acabei de receber o laudo de exame papiloscópico para identificação de digitais gravadas na arma encontrada no local do crime.
Jessica se remexeu na cadeira.
-- Então?
-- Sua impressão digital foi identificada por toda a arma.
Soou uma voz profunda às suas costas. Agitada, ela virou-se, quase caindo da cadeira.
-- Você me assustou, delegado.
Apesar de nervoso, Nilson sorriu.
-- Você faz ideia da encrenca que se met*u, Jessica?
-- Como é possível isso? -- Jessica fechou os olhos, fazendo uma rápida reconstituição da cena.
Flashback:
-- Eu vou te matar -- a médica deu dois passos em direção à arma, Jessica se antecipou e pegou antes dela.
-- Tente se acalmar, Augusta. Pare de agir como uma louca.
Ao ouvir o barulho da sirene, Jessica deu um suspiro, largou a arma no chão e atravessou a sala com passos lentos.
-- Não! -- Jessica sentiu vontade de bater na própria cabeça. Como pode ter sido tão descuidada?
-- O que tem a dizer em sua defesa, Jessica?
-- Que eu sou uma burra, delegado -- seus olhos mostravam um certo cansaço, e foi com desânimo que acrescentou: -- Eu peguei na arma.
-- Meu conselho de amigo é que contrate um advogado urgentemente, Jessica. Volte semana que vem com ele. Precisamos tomar o seu depoimento -- Nilson colocou a mão em seu ombro e a guiou em direção a porta -- Não se preocupe, mantenha a calma que tudo dará certo.
-- Como se isso fosse possível -- comentou Jessica antes de sair.
Assim que ela saiu Nilson se virou para o detetive Fernandes.
-- Você precisa aprofundar as investigações. Acelerar os depoimentos.
-- É o que farei, delegado.
Nilson semicerrou os olhos e cruzou os braços.
-- Preciso de mais do que palavras e umas digitalzinhas para acusar Jessica. Ela é uma menina doce e honesta. Passou anos cuidando pacientemente da Marcela. Não tomarei nenhuma atitude antes de obter provas concretas contra ela. Não correrei o risco de cometer uma injustiça.
-- Hum, entendo.
-- E que motivos ela teria para cometer o crime?
-- Que tal este -- Fernandes largou um documento sobre a mesa.
O delegado se aproximou da escrivaninha, pegou o papel e leu com atenção.
-- Mas que droga é essa?
Jessica chegou em casa e foi direto para o quarto. Trancou a porta, encostou-se na parede e respirou fundo. Porque é tão difícil ser feliz? Perguntou a si mesma, num misto de tristeza e raiva. Eu nunca fiz mal a ninguém.
Deitou-se na cama com lágrimas nos olhos. Ela mordeu o lábio para não soluçar. Aprendera a não se lamentar, mas ser acusada de assassinato, era pressão demais para a sua cabeça. Não podia entregar-se ao desânimo nem entrar em pânico. Tinha pouco tempo para provar a sua inocência. Encontrar o assassino seria difícil, mas não confiava na polícia local, eram inexperientes, acostumados a lidar apenas com pequenos delitos. Com certeza eles não têm conhecimento das modernas técnicas de Investigação Policial e suas inovações, os sistemas já disponíveis e em utilização, além das alterações legislativas no combate e controle da repressão de criminosos, o uso da tecnologia pelo policial no âmbito de suas diligências para a coleta de provas mais eficazes e objetivas. Essas conjecturas a deixaram em pânico. Nervosa, abriu a porta que dava para a sacada e saiu do quarto. O mar brilhava do lado de fora da janela da bela casa, lambendo a areia branca da praia. Lindas palmeiras sacudiam com o vento forte que vinha do mar.
A entrada silenciosa de Pepe afastou Jessica dos pensamentos sombrios. Sorrateiro, o rapaz se movia sem causar nenhum ruído, entretanto, seu perfume inundou o ambiente.
-- Você parece um gato, Pepe.
De mãos nos quadris, ele deu um passo à frente e fitou-a.
-- Eu não queria assustá-la.
-- Não assustou -- Jessica tirou do rosto uma mecha de cabelos loiros agitados pelo vento forte que entrava pela janela e se virou para ele -- O que você quer?
-- Quero falar com você sobre o assassino da Marcela.
A frase chamou sua atenção e ela olhou para ele curiosa.
-- Continua.
-- Lembra do cara que a gente estava atrás? Aquele que estava rondando a mansão.
-- Sim, o que tem ele?
-- A chefe não acha que é muita coincidência, isso acontecer justamente depois que ele apareceu?
Jessica se virou para olhar o mar. Suspirou, pensando na possibilidade de Pepe estar certo. Nunca tinha visto aquele homem, tinha certeza, que ele estava planejando algo, achou estranha a presença dele no portão da mansão. Sem dúvida era um bom ponto de partida para a sua investigação.
-- Chama o Nicolas, Pepe. Quero que retornem à locadora de veículos e arranquem do gerente todas as informações possíveis sobre aquele homem. A coisa agora é séria, não deem mole, façam ele falar.
-- Deixa com a gente, pequena gafanhoto. A gente arranca dele até o que ele não sabe.
Assim que Augusta abriu a porta do consultório, Michelle foi para cima dela, empurrando-a contra a parede. A médica tentou se afastar, mas os braços fortes da ruiva a apertaram ainda mais.
-- Então, doutora morte, tem um horário para mim em sua agenda?
Créditos:
https://super.abril.com.br/ideias/para-onde-a-gente-vai-depois-que-morre/
Vacina para todos.
Fim do capítulo
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HelOliveira
Em: 07/06/2021
Michelle agora vai dar um aperto na Augusta, mas será que vai ajudar ou vai piorar ainda mais...
Olha que Pepe foi esperto dessa vez...
E estou bem curiosa pra.saber o que tem aquele papel...
Bjão
Resposta do autor:
Mistérios Hel, mas logo saberemos.
Beijos
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Mille
Em: 07/06/2021
Doutora morte kkk vai conhecer a fúria da ruiva.
Pepe agora usou a cabeça e falou sério.
Bora agochar esse vendedor Pepe e Nicolas.
Bjus e até o próximo
Ah parabéns pelo seu Fluminense.
Resposta do autor:
Olá Mille.
Meu Flu está bem. Finalmente me dando alegrias. Agora ninguém nos segura.
Beijão, garota.
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NovaAqui
Em: 07/06/2021
Agora a trupe precisa ajudar Jess.
O delegado sabe que não foi a Jéssica, mas agora aparece esse motivo aí.
Vamos ver o que vem por aí
Vacina no braço e comida no prato
Viva o SUS
Boa semana
Abraços fraternos procês aí
Resposta do autor:
Sim, NovaAqui. As coisas ficam mais faceis quando temos amigos ao lado, né.
Abraços fraternos irmã.
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Lea
Em: 07/06/2021
O que descobriu Fernandes?? Será um seguro de vida em nome de Jéssica??
Jéssica linda,foi pegar a arma no desespero de se defender da Augusta! Deu merda.....
A Augusta se intimidará com "a prenssa" de Michelle/Maya? Pois a mesma não tem nenhuma prova concreta contra a Augusta!!
Detalhe,seria a Michelle/Maya no lugar da Marcela, a estar morta,se ainda estivesse na mansão Parker!
Obs: acho a Jéssica tão fofa!!
Resposta do autor:
Hum, verdade Lea. Provas concretas ela não tem, mas será que Michelle não pensou nisso?
Beijão querida.
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