Capitulo 38
A Última Rosa -- Capítulo 38
Jessica estacionou o carro no pátio e, após sair do veículo, observou que as luzes do jardim estavam apagadas. As lâmpadas eram a base de energia solar, elas são carregadas durante o dia e acendem sozinhas quando escurece.
-- Será que a Marcela me chamou por causa disso? Era só o que faltava -- subiu os degraus de pedras resmungando e por alguns segundos olhou para a porta -- Vou aproveitar e devolver as chaves que ainda estão comigo -- tirou a chave do bolso e enfiou na fechadura. Mas ela não precisou da chave para abrir, a porta já estava aberta! Jessica quase voltou correndo os quatro lances de escada em direção ao pátio. Hesitou, de repente, percebendo o silêncio e a escuridão dentro da mansão. Com cuidado, empurrou um pouquinho a porta e colocou um pé dentro. Silenciosamente abriu a porta por completo. Ninguém. Silêncio. Apertou várias vezes o interruptor e nada.
Ela ligou a lanterna do celular e avançou decidida pela sala.
-- O que estava acontecendo, Marcela nunca... -- Ela se calou rapidamente. Levou ambas as mãos à boca, depois as deixou pender lentamente. Olhou para a mulher caída aos seus pés. Estava curvada, com os joelhos dobrados quase lhe tocando o peito, os braços sobre a cabeça, como se tivesse tentado se proteger de algo. O vestido azul-claro, antes elegante, estava sujo de sangue e rasgado debaixo dos braços.
-- Marcela! -- foi só o que conseguiu pronunciar. O terror fechou sua garganta. Sem palavras, ela a encarava presa ao chão -- Meu Deus! -- finalmente acrescentou, com voz pastosa.
Jessica ajoelhou-se ao lado do corpo da mulher e ajeitou, delicadamente, os braços endurecidos. Avaliou que ela deveria ter morrido logo após a ligação. Ela pressionou de leve os dedos sobre o pescoço da ex- esposa. Porque tentava encontrar a pulsação, não saberia dizer. Talvez estivesse esperando por um milagre, mas, claro, não havia batimento nenhum, apenas um corpo frio e morto. Desolada, sentou-se no chão e a abraçou com força.
-- Não! -- ela gritou, como uma louca, piscando as lágrimas quentes em seus olhos. A dor e o choque haviam feito seus olhos ficarem vidrados, olhando hipnotizada para a poça de sangue no chão.
Quando conseguiu se colocar em pé e caminhar pela sala, deixou um rastro vermelho no chão.
-- Preciso chamar a polícia! -- trêmula, procurou pelo celular no bolso, mas não encontrou -- Onde foi que eu deixei? -- ela olhou ao redor, procurando pelo aparelho. Lembrava-se de ter usado a lanterna dele, mas não lembrava onde havia largado? -- Droga! droga...
-- Marcelaaa... -- Augusta gritou da porta da sala. Ela cobriu o rosto com as mãos e em seguida apertou uma delas de encontro à boca para abafar os gritos desesperados que teimava em lhe sair garganta afora -- Marcela, meu amor! -- a médica jogou-se sobre Marcela, usando o próprio corpo para cobri-la -- Maldita! -- ela vociferou -- Vai se arrepender por isso! -- sua respiração ficou tão pesada que a cada expiração ela franzia o cenho com a dor que lhe atravessava o peito.
Jessica olhou para ela com expressão aparvalhada.
-- Eu -- ela balbuciou, sem saber o que dizer. O medo a envolveu e lançou um bafo gelado que lhe desceu a espinha, mas ela o dominou -- Está maluca? Eu não tenho nada a ver com isso. Quando cheguei ela já estava morta -- a palavra morta ecoou no ar silencioso e abafado -- Meu Deus, Marcela está morta -- Jessica estava em choque. O batimento cardíaco dela e o mundo ao redor pareceram desacelerar -- Isso é surreal.
-- Porque você fez isso? -- Augusta insistia em acusar Jessica, por isso, ela explodiu:
-- Cala essa maldita boca! Eu já disse que ela estava morta quando cheguei.
-- Você está toda suja de sangue.
-- Você também está e nem por isso foi você que a matou -- Jessica deu um passo, mas se deteve. Um pouco mais adiante, viu um revólver ensanguentado, jogado no chão. Qualquer resquício de calma evaporou e seu estômago embrulhou.
Transtornada, Augusta se levantou e pegou o celular na bolsa, enquanto Jessica perambulava pela sala em busca do seu aparelho.
-- Alô, é da polícia? Venham logo pra mansão dos Parker, houve um assassinato. A Jessica atirou na...
Com extrema agilidade, Jessica arrancou o celular da mão dela e a puxou pela gola da blusa.
-- Se continuar me acusando sem saber o que realmente aconteceu, vou quebrar todos os dentes da sua boca. Pega esse celular e termina a chamada.
Augusta ergueu a cabeça, arregalou os olhos azuis como safiras e obedeceu.
Assim que encerrou a ligação, Augusta olhou para Jessica. Nunca um olhar contiveram tanta raiva, tanto rancor.
-- Eu vou te matar -- a médica deu dois passos em direção à arma, Jessica se antecipou à ela e pegou o revólver no chão.
-- Tente se acalmar, Augusta. Pare de agir como uma louca.
Ao ouvir o barulho da sirene, Jessica deu um suspiro, largou a arma no chão e atravessou a sala com passos lentos.
Desceu os degraus de pedra e caminhou de cabeça baixa até o jardim. Estava arrasada. Mesmo o casamento tendo acabado, sentia admiração e um carinho imenso por Marcela. Foi ela quem a acolheu nos momentos mais difíceis de solidão. Quem e porque fez isso com ela, pensou desejando entender o motivo de tanta crueldade.
Ela piscou várias vezes quando a luz do giroflex feriu seus olhos sensíveis.
Um homem, alto e grisalho, saiu do carro e caminhou até ela. Em seguida, outras duas viaturas estacionaram no pátio e seus ocupantes entraram apressados na mansão.
-- Boa noite -- o homem estendeu-lhe a mão, num gesto amigável -- Sou o detetive Fernandes.
-- Boa noite -- ela devolveu o cumprimento -- Sou Jessica, a ex esposa da Marcela.
-- Hum, entendo -- ele olhou ao redor atento a todos os detalhes -- Está bem escuro por aqui.
-- Sim, foi o que observei assim que cheguei. Marcela tinha verdadeira obsessão pela iluminação da parte externa da mansão, por isso, mandou instalar lâmpadas à base de energia solar, elas acendem sozinhas quando escurece.
-- Hum, entendo. Há algum lugar mais tranquilo onde possamos trocar algumas palavras? -- perguntou Fernandes.
-- Podemos usar o escritório da Marcela -- respondeu ela -- Quer dizer, que era da Marcela -- corrigiu ela, com tristeza.
Jessica conduziu Fernandes até a sala, e depois por um corredor estreito até o escritório. Marcela gostava demais daquele cômodo da mansão. Na verdade, era o lugar que passava a maior parte do seu dia. O dia começava a amanhecer, a luz aos poucos expulsa para longe a escuridão do céu. Jessica sentou-se à escrivaninha, enquanto Fernandes escolheu uma poltrona de couro. O detetive examinou os quadros de arte moderna que decoravam as paredes.
-- Bem, pelo menos aqui há um pouco de luz -- disse ele, tirando do bolso um bloquinho de anotações -- Vamos logo ao assunto. Todos os indícios levam-nos a crer que houve um assassinato -- ele olhou para Jessica -- A moça que ligou para a delegacia acusou você, Jessica.
Jessica engoliu em seco, sentindo um nó na garganta.
-- Eu sei -- Jessica olhou para Fernandes, e sustentou o olhar com firmeza -- Ela está chocada e tirou suas próprias conclusões. Marcela me chamou e eu vim, quando cheguei, ela já estava morta.
-- Hum, entendo -- Fernandes tomou nota em seu bloco.
-- Eu acho, detetive, que quem o senhor deveria procurar já deve estar bem longe daqui -- disse com toda a calma.
-- Por quê diz isso?
-- Porque, se não foi eu, não foi Augusta, o verdadeiro culpado está aproveitando o caminho livre para fugir -- Jessica tentava manter a calma e a concentração -- Detetive, é óbvio que há um assassino, um desequilibrado, solto nas ruas. O senhor precisa encontrá-lo antes que saia da cidade.
-- Hum, entendo.
Jessica estava começando a ficar irritada com aquele homem que repetia sempre a mesma coisa.
Estava tão entretida com essas considerações que só ouviu a pergunta do detetive quando ele a repetiu:
-- Indaguei se tem alguma coisa para me contar?
-- Como? -- Jessica escutou, mas não entendeu.
-- Você parece perturbada.
-- É claro que estou perturbada -- admitiu, depressa -- E quem não estaria, ao ver uma pessoa rodeada por uma poça de sangue? Ainda mais quando essa pessoa é a sua ex-esposa.
O detetive lançou outro olhar penetrante a Jessica, mas não conseguiu detectar nenhum tipo de reação. Guardou o bloco no bolso do paletó, antes de levantar.
-- Basta por enquanto -- começou a sair, mas ainda virou-se para trás -- Não saia da cidade, espero você às 15 horas na delegacia.
-- Claro. Ficarei feliz em ajudar -- Jessica ergueu-se também, como se fosse acompanhar o detetive até a saída. Fernandes recusou -- Pode deixar, eu encontro a saída sozinho.
Michelle estava se controlando para não se debulhar em lágrimas, olhando tão fixamente para a parede branca e nua a sua frente que não percebeu que Inês se levantava da cadeira. Só notou a presença dela quando sentiu a mão delicada em seu ombro.
-- Michelle -- murmurou Inês, muito perto dela. Michelle não conseguiu responder e cobriu a boca com a mão para abafar o choro -- Michelle, o que foi?
Ela não conseguia responder. Simplesmente deixou que as lágrimas escorressem por seu rosto.
-- Você está me deixando preocupada -- ela disse, fazendo-a se virar de frente para ela -- O que aconteceu?
Michelle levantou o queixo e respirou fundo.
-- A Marcela foi assassinada -- disse num ímpeto -- Ela morreu.
Por um instante a sala girou vertiginosamente ao redor de Inês, que se amparou em uma cadeira.
-- A senhora deve sentar -- disse Michelle preocupada, enquanto a conduzia na direção da poltrona.
-- Meu Deus, isso é horrível! Como aconteceu? A polícia já pegou o assassino? A Jessica... Jesus... ela foi até a mansão -- Inês estava tão nervosa que todo o seu corpo tremia.
-- Calma, tia Inês. Está tudo bem com a Jessica. Ela está voltando para casa e vai nos contar tudo o que aconteceu.
Valquíria, Pepe e Vitória entraram na sala ofegantes e tensos.
-- É verdade que a Marcela foi assassinada?
-- A Natália acabou de ligar.
Pepe passou a mão pelos cabelos castanhos-claros, para tirá-los da testa.
-- Estão dizendo que a chefe é a principal suspeita.
-- O que? -- Inês e Michelle perguntaram juntas.
-- Foi o que a Natália contou.
-- A Jessica não seria capaz de matar uma mosca -- protestou Michelle -- Esse povo não sabe o que fala.
-- Não sei de onde eles tiram essas ideias. A coitadinha saiu daqui tarde da noite para atender um chamado da Marcela e ainda tem que ficar ouvindo uma besteira dessa.
-- A Natália também disse que a doutora da morte chegou na hora que a chefe estava atirando na coitada, assassinato com requintes de crueldade.
Michelle olhou para ele assustada, mostrando no rosto a apreensão que sentia.
-- Não brinque com coisa séria, Pepe.
-- Não estou brincando, Mi. Estão todos comentando na cidade.
-- As pessoas contam a versão da história que lhe convém. Não acreditem em tudo que dizem por aí -- Jessica disse em voz alta, enquanto fechava a porta.
Michelle se levantou num rompante e correu até ela, abraçando-a com força durante um instante.
-- O que aconteceu, Jess? -- meio a contragosto ela se afastou para encará-la -- Estão falando coisas horríveis a seu respeito.
Jessica sorriu de leve ao responder:
-- E com certeza vocês não acreditam.
-- Claro que não, minha filha -- disse Inês, puxando a sobrinha pelo braço até a poltrona -- Mas que coisa horrível, tadinha da Marcela. Quem seria capaz de tal crueldade?
Jessica sentou-se ao lado de Inês e viu Michelle se sentar na outra poltrona.
-- Não faço a minima ideia tia. Mas podem ter certeza de uma coisa: Não descansarei enquanto não descobrir a resposta, e enquanto não jogar esse assassino na cadeia. Juro.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 02/06/2021
Oi Vandinha
Esse Maicon é do mal, e já fez uma vítima.
E a Augusta nem vai lembrar que ficou cara a cara com o assassino do amor dela, já tem a Jessica como a vila.
Bjus e até o próximo
Tudo bem graças a Deus.
Resposta do autor:
Olá Mille
Inesperado né. E tem muito mais ainda.
Beijos.
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