Vinte e um
Sem planejamento nenhum, ao contrário de praticamente todas as suas ações, sempre muito bem pensadas para serem bem executadas, Beatriz se viu dirigindo por ruas que não conhecia, que não tinha nenhuma familiaridade. Fernanda nem sempre se lembrava de ligar a seta, e ia entrando por ruazinhas que deixava nítido que aquele caminho só era conhecido por quem mora na região. O próprio GPS, ligado desde o último semáforo, parecia confuso, recalculando rota a cada esquina que Beatriz virava, algumas bem em cima da curva.
Seguia o carro da namorada, que ia à frente, engasgando nas partidas (nem parecia que tinha acabado de sair da oficina). O automóvel tinha amassados atrás e no lado do carona, e alguns Beatriz tinha ouvido a história por trás do ocorrido. A sua favorita era a que envolvia a batida no porta-malas, quando Fernanda bateu num poste, ao sair da academia. Ficou com tanta vergonha que nunca mais malhou (mas ainda pagava a mensalidade, meses depois). Beatriz se viu rindo com a lembrança.
Mas durou só alguns segundos. Ela estava bem atenta ao presente, e tudo o que estava acontecendo naquele momento. Ia conhecer os pais de Fernanda e nem tinha se preparado psicologicamente para isso. Pensou em ligar para Renato, para que o amigo a inspirasse com os conselhos que só ele dava, mas preferiu prestar atenção ao trajeto, e também porque precisava do celular mostrando o mapa das ruas que agora ela dirigia.
Estava calor, mas foi o nervosismo que a fez mudar a saída do ar-condicionado para suas mãos no volante, que estavam suando. Na primeira oportunidade, não viu no carro à frente os olhos apreensivos de Fernanda no espelho retrovisor – estava ocupada, tirando os sapatos. Precisou, porque se viu sambando nos pedais, com os pés suando, também.
Nem estava vestida para a ocasião, ela constatou, olhando rapidamente para a roupa amassada debaixo do cinto de segurança. Colocou o ar-condicionado no máximo, porque estava com suor acumulando debaixo do braço. Era só o que faltava, chegar lá mostrando para todos os desconhecidos o quão nervosa estava.
O que a acalmou foi confiar na possibilidade de ela nem desligar o carro. Fernanda deixaria a irmã em casa, guardaria o seu carro na garagem e iriam juntas para a clínica – ou não, porque agora sua vontade maior era ir para casa, tomar um banho fresco e beber uma merecida taça de vinho. Muitas emoções para um único dia! Santo chá de abricó!
Viu Fernanda fazer um gesto, ao diminuir a velocidade, e estacionou próximo de onde ela parou. Aquele era um bairro afastado da praia e parecia tranquilo, com casinhas que estavam, em sua maioria, com as portas e janelas abertas, algumas deixando escapar o som das televisões. Beatriz bebeu um gole grande de água, e o suor da garrafinha pingou na calça. Baixou o vidro quando a viu se aproximar.
- Olhe, preste atenção – Fernanda cochicha, apoiando-se na porta do carro, antes que Beatriz saísse – Nós vamos entrar bem rapidinho, só porque meus pais jamais me perdoariam de vir até aqui com você, e não os apresentar, não te convidar para entrar. Minha mãe vai insistir para que a gente jante com eles, mas em hipótese alguma nós vamos fazer isso, ok?
- Ok – Beatriz responde, com uma ruga na testa – Você está mesmo mais nervosa do que eu?
- Não é nervosismo. É só precaução – ela rebate, passando os dedos no cabelo de Beatriz – Primeiro porque te conheço, e sei que você gosta de planejar as coisas, com o máximo de antecedência possível, para dissecar as possibilidades que envolvem qualquer que seja a decisão. Segundo porque quero te poupar de cenas que você não precisa viver, que não está acostumada. Minha irmãzinha já deu uma mostra de como pode ser divertido (só que não) – ela conclui, sorrindo. Parecia um sorriso sincero, e Fernanda tinha no rosto uma expressão que Beatriz nunca tinha visto. Estava linda.
- Tá certo.
Beatriz seguiu a moça pela escadinha que circundava o pequeno jardim na entrada da casa. Talita estava a alguns degraus de distância, e pareceu que tinha esperado por elas para entrarem todas juntas. A diferença de idade entre ela e Fernanda deveria ser de uns sete anos, e Beatriz reparou que ela usava o tênis que tinha visto na namorada na primeira noite em que ficaram.
Aquele era o tipo de coisa que Beatriz admirava, com os olhos de quem nunca vivenciou nada parecido. Nunca teve uma irmã para pegar roupas emprestadas.
Notou que ao lado dos degraus havia hortelã, coentro, manjericão e várias outras plantas que não soube identificar pelo cheiro, que mudava conforme subiam. Bem quando pensou no quanto Cícera ficaria satisfeita diante de uma horta tão perfumada como aquela, sentiu cheiro de capim cidreira. Só então o associou à Fernanda, ao lembrar que no dia em que se conheceram, Cícera tinha feito chá daquela planta.
Beatriz estava há alguns dias sem dormir, se sentindo agitada, inquieta. O chá veio como um abraço quente num dia mais gelado, aquietou tudo dentro dela, seus pensamentos, suas emoções. Naquele dia Fernanda chegou em casa falando que a médica transmitia paz.
E aí pareceu de repente que aquele era o aroma principal da casa dela, ao entrar na sala e sentir cheiro de lar. De roupa limpa com sabão em pó, de janta borbulhando no fogão. Cheiro de conforto. De segurança.
Rapidamente, e um pouco sem querer, porque seu cérebro funcionava assim às vezes, quando ela mergulhava em situações tão sensitivas e profundas, Beatriz pensou em como teria sido crescer naquele ambiente, naquela casa com cara de casa. Entendeu de onde vinha a autoconfiança, tão latente em Fernanda. Obviamente estava ligada à sua criação, ao amor que emanava ali – e ela estava só no primeiro cômodo, e nem tinha conhecido seus pais, ainda.
Ou melhor, ainda não tinha conhecido a figura dos pais de Fernanda, pessoalmente. Porque parte de suas características ela já estava tendo contato, ao entrar ali e invadir o mundo daquela família.
Entrar na casa de alguém e ver como se vive é uma experiência única! A casa diz muito da personalidade da pessoa, da família que ali habita, que vive junto. E no caso de Fernanda tinha a peculiaridade de ser uma família grande, ela tinha cinco irmãos, todos mais novos, com exceção de Samanta.
Parte daquele cheiro que agora Beatriz sentia era por conta das crianças, das suas comidas próprias, o xampu que usavam, o sabonete. Era um cheiro doce, agradável, atiçava alguma memória dela muito antiga, que veio só como uma sensação, sem se anunciar, de verdade.
Tentou resgatar o que estava sendo revirado ali, mas era tanta coisa acontecendo que aquele teria que ser um assunto para mais tarde. O momento agora era de análise de campo.
Aquela era uma chance única de avaliar muita coisa ao mesmo tempo. Conhecer a casa, e a família de Fernanda, significava uma rica oportunidade de conhecê-la melhor. Usamos máscaras sociais de acordo com os ambientes e situações que vivemos, mas em casa estamos sempre desarmados, desmontados.
Fernanda ali dentro era a irmã mais velha, que tinha se esforçado e estudado na melhor universidade. Era o exemplo para os irmãos, o orgulho dos pais. Mas nada em seu comportamento mudou ao entrar em casa. Ao menos não de maneira perceptível.
Beatriz era fascinada por todas as interações que ocorriam dentro da casa das pessoas, se interessava pelos dilemas familiares porque eles sempre envolviam tramas complexas de relacionamentos próximos, de pessoas próximas. Ela conhecia aquilo tudo apenas teoricamente.
Longe de ser dos piores, seu relacionamento com seu pai era até que bom, desde que não entrassem em assuntos muito polêmicos, que sempre os fazia divergir (e quase brigar). O problema mesmo era que ele era bastante ausente, inclusive nos raros dias em que estava em casa.
Aquela foi a primeira questão que Beatriz tratou na terapia, ainda jovem. Tinha dificuldades para entender o conceito de lar, tão distante do que representava a sua casa. Era uma menina triste, que percebia os cheiros diferentes só na casa dos outros, quando eventualmente era convidada para algum evento social. Custou para aceitar aquilo como parte da vida.
Mas aceitou, hoje era uma mulher adulta, foram anos analisando diversas situações do seu íntimo, revelando coisas que ela nem percebia, se dizia até curada. Mas aquela situação era um gatilho para Beatriz, que sentia uma mistura de sensações, que davam voltas no alto do estômago.
Não estava muito acostumada a entrar assim, na intimidade alheia, e em partes seu nervosismo se dava porque estava ali sem ter sido anunciada. Não gostava de surpresas, e tendia a acreditar que algumas não eram bem-vindas, por exemplo, chegar assim na casa de alguém, perto da hora da janta. Mas há alguns dias vinha batalhando contra sentimentos enraizados dentro dela que a corroíam como erva daninha, e estava sinceramente disposta a se abrir para as oportunidades que surgiam, em especial aquelas que envolviam Fernanda, que a olhou por alguns segundos, e deu uma piscadinha.
Mesmo nervosa, queria absorver cada detalhe ali, desde o cheiro, às cores das almofadas espalhadas no sofá, a cobertinha dobrada num canto, um gato dormindo no outro. Viu fotos espalhadas aparentemente sem muito critério, um par de tênis perto de um vaso de planta, um pé de chinelo e uma bolinha de papel ao lado de outro vaso, que só tinha terra. Havia música tocando, mas ou estava muito baixinha, ou abafada, vinda de algum cômodo lá para dentro.
A televisão estava ligada, e a luz da sala estava acesa, mas não havia audiência ali. A vida parecia acontecer nos outros ambientes, que eram preenchidos de diferentes ânimos, que compunham a totalidade daquela casa, daquele grupo.
- Ei! Toma cuidado com as hortaliças da mamãe! – Talita reclama, sem ter nenhum tipo de resposta, jogando a bolsa em cima do sofá. Apressando o passo, aumentou o tom de voz – Manhê! O Cláudio e o Marquinhos estão pisando no seu jardim e estragando a sua plantação!
Passaram correndo por elas dois meninos, de uns dez, 11 anos, no máximo. Gritavam, como se segurassem pistolas carregadas com balas barulhentas. Não se pode dizer que não as viram ali, porque um deles usou Fernanda como escudo. Beatriz ouviu uma voz grave chamando os nomes deles, que se olharam e de repente pareceram fugir de um inimigo comum. Um deles olhou para Beatriz, e ela viu como Fernanda seria, se tivesse nascido menino.
- Bem-vinda ao meu lar! – Fernanda sorri. Queria ter o poder de ler os pensamentos de Beatriz, que também sorria.
- Ei, molecada! – chama Júnior. Vendo que as irmãs chegavam, teve o rosto transformado em um sorriso bem largo – Ei, mulherada! Não ouvi vocês chegando!
- Ju, essa é a Beatriz – Fernanda apresenta, apoiando a mão no ombro do rapaz, parecendo contê-lo. Ele era uns cinco dedos mais alto que ela, e tinha uma franja maior que Fernanda. Vendo que o sorriso do irmão custava a deixar o seu rosto, ela dá um tapa no seu braço – Ela é a psiquiatra do consultório que eu trabalho.
- Ah, sim. A psiquiatra! – ele repete, esfregando a mão em cima de onde Fernanda havia batido – Tudo bom, Beatriz? Fique à vontade, Beatriz – cumprimenta Júnior, repetindo seu nome, sem que ela entendesse.
- Não acredito que você trouxe a sua amiga para jantar sem me avisar, Nanda! – reclama Nívea, pegando no chão roupas que Beatriz nem tinha visto.
Sem dizer uma palavra, levantou o dedo indicador, e entregou para um dos meninos as peças recolhidas. Havia autoridade no gesto, e na pessoa da mulher, que até que era pequena, mas nitidamente a responsável por todos que viviam naquela casa. Beatriz a acompanhou afofando as almofadas rapidamente, num gesto um pouco nervoso.
- Mamãe, essa é a Beatriz. E não viemos jantar! – Fernanda avisa, vendo sua mãe abraçar e dar dois beijos na face de Beatriz.
- Não dê ouvidos a essa horrorosa! Você é minha convidada para a janta! – Nívea avisa, a puxando para a cozinha – Você está muito magrinha, Beatriz. Tem se alimentado direitinho, meu amor?
A cozinha era o cômodo mais quente, mas não só devido ao fogão, que estava com várias bocas acesas, com panelas de tamanhos e cores diferentes, algumas tampadas. Mas também porque ali era onde o aconchego era mais percebido. Nívea parecia zelosa com suas coisas, havia várias prateleiras, armários, objetos pendurados. No beiral da janelinha viu alguns vasinhos de planta.
- Se eu soubesse que você vinha, tinha arrumado a casa, Beatriz. A Fernanda me paga de ter feito isso. Nem preparei um jantar à sua altura – A mulher usava um aventalzinho, só na cintura, e mexia bastante as mãos enquanto falava e revirava os conteúdos das panelas.
- Imagina, dona Nívea. A gente nem veio para comer.
- Quem é aquela que a mamãe está confiscando para a cozinha? –Samanta pergunta ali perto, divertida, observando a movimentação na casa. Olhou para os pés da irmã e rangeu os dentes – Nossa, tira agora esse tênis, Talita! Eu procurei pela casa inteira, você pegou de novo sem me pedir!
- Ai, que drama, só fui pegar o carro da Fernanda no mecânico – Talita diz, se descalçando sem muito cuidado – Se estou correta, aquela é a nossa cunhada – ela responde, sarcástica.
- Mesmo? Que legal, faz tempo que eu quero conhecê-la – Samanta responde, empurrando a irmã propositalmente, pegando os tênis. Antes de sair, fez um gesto que dizia estar de olho em Talita.
- Bia, não cai na conversa da minha mãe. Ela sempre acha que todo mundo que vem em casa está morrendo de fome – Fernanda brinca, vendo a irmã se aproximar.
A gêmea de Fernanda era, sem dúvida, a que mais se parecia com ela. O formato do rosto, dos olhos, da boca. Era tudo igual, mas disposto de uma forma um pouco diferente. Elas eram únicas, cada uma à sua maneira, mas muito parecidas.
As duas se abraçaram numa cumplicidade que Beatriz não viu entre os outros irmãos. Reparou que Fernanda era um centímetro menor que Samanta, que estava descalça e carregava em uma das mãos o tênis que Talita usava, minutos atrás. Elas se olharam de um jeito diferente, por uns três segundos, e algo foi dito nesse olhar, porque Samanta assentiu, meio que concordando.
- Olá, Beatriz, tudo bem? Sou Samanta! – cumprimenta. Tinha um sorriso no rosto e Beatriz compreendeu que a moça nem precisava dizer seu nome.
- Oi, Samanta! Sempre ouço falar muito bem de você – Beatriz responde, sendo abraçada por ela.
- Oh, é mesmo? E do irmão bonitão, ela fala bastante? – pergunta Júnior, levantando as sobrancelhas repetidamente.
- Controle seus hormônios, irmão bonitão – Talita provoca. Tinha entrado na cozinha e Beatriz nem tinha percebido – A madame aí é comprometida. E não é páreo para você.
- Quer apostar? – Júnior pergunta baixinho, sorrindo, mostrando o muque, sem motivo aparente.
- Mas é tonto, mesmo... – Talita resmunga, saindo da cozinha, sendo interpelada pelo pai, que entrava no cômodo.
Ele era um homem alto, barrigudo, com bigode. A voz grave da casa era dele, um timbre que retumbava pelos cantos.
- Não fale assim do seu irmão! – Wagner repreende – Se ele é tonto, eu e sua mãe somos o quê?
- Papai, essa é...
- A Beatriz, a psiquiatra – ele interrompe – Sim, ouvi você comentar. Prazer, dona Beatriz. Eu sou o pai, o comandante dessa tropa.
- Prazer, seu Wagner – Beatriz cumprimenta o homem, com um aperto de mão. Ali estavam os olhos da namorada.
- É verdade que vocês ainda vão precisar trabalhar hoje? – Samanta pergunta, pegando uma batatinha debaixo de uma tampa no fogão. Sorriu para a mãe, que fingiu ralhar com ela.
- É, vai ser preciso – Beatriz responde, num tom de voz baixo. Se perguntava como a mulher sabia disso. Supôs que Fernanda tinha dito, pelo celular.
- Mas já está tão tarde! – Nívea comenta, olhando para o relógio.
- Olha, como o membro-alfa dessa casa, peço que, antes, nos acompanhem no jantar. E não aceito nenhum tipo de recusa! – Wagner complementa, olhando sério para a filha.
- Lá vamos nós – reclama Fernanda, esfregando os olhos com uma das mãos.
Ela não tinha a menor intenção de levar Beatriz para jantar ali. Ao menos não sem prepará-la devidamente, com alguns dias de antecedência. Tentava, ao máximo, não transparecer sua aflição e provavelmente estava mais nervosa que a namorada. O problema nem era o fato de Beatriz estar acostumada com o silêncio de seu apartamento, e à quase sempre total ausência de vozes (tinha crescido sozinha!). A questão é que todos em sua família tinham o costume de falar ao mesmo tempo – e as refeições eram sempre as situações mais barulhentas.
Era sempre um drama para os irmãos mais novos comerem tudo, para os irmãos mais velhos comerem o que precisavam, e Nívea sempre acrescentava comida aos pratos, diante de protestos diários, o que gerava ainda mais ruído.
- É uma bela profissão essa de vocês – Wagner afirma, sentado na cabeceira da mesa. Tinha Nívea sentada ao seu lado, que sorria com os olhos para ele, naquelas cumplicidades que se adquire depois de algumas décadas de convívio – Seus pais devem ter um orgulho danado de você, Beatriz.
- Papai... – Fernanda chama. Era impressionante como o pai sempre conseguia abocanhar logo de cara o calcanhar de Aquiles das visitas.
- Porque eu e a Nívea temos muito orgulho da Nanda – ele interrompe, como se não tivesse escutado – E os seus pais?
- Bom... – Beatriz suspira. De repente sentiu todos os olhares em volta da mesa em sua direção – Meu pai faleceu há alguns meses. Minha mãe morreu logo que eu nasci, eu não a conheci.
- E você vive sozinha desde então? Pobre menina! – Nívea exclama, compadecida. Certamente esse era o motivo para a magreza da moça.
- Mas você namora, não é? – Talita pergunta, como se a questão tivesse relação com o que estava sendo dito.
Pela primeira vez desde que chegou e que se sentaram à mesa, o silêncio imperou. Foram apenas alguns segundos, mas Beatriz pôde ver a expectativa pela resposta, no rosto de cada um dos presentes. Até dos meninos, que nem entendiam o que estava sendo dito. Engoliu em seco, porque nem em suas palestras, quando muitos olhos a observavam, ela se sentia tão observada (e analisada!) como agora.
Wagner, sentado na cabeceira da mesa, com seu bigode, era a descrição perfeita de um pai de família: o cabelo levemente grisalho, a calvície na parte alta da cabeça, os olhos miúdos, encarando-a. Estava com o garfo em suspensão, no meio do caminho entre o prato e sua boca. Ao seu lado, Nívea, com o cabelo preso em um coque redondo, com as raízes revelando a cor original daqueles fios tinha, assim como o marido, um olhar que era uma mescla de compaixão e desconfiança. A vaidade era vista no minúsculo par de brincos em suas orelhas e nas unhas, bem feitas.
À sua frente, Júnior, com seu sorriso sedutor, deixava à mostra as covinhas na bochecha. Assim como os irmãos, tinha características marcantes que o assemelha à Fernanda. A encarava com um olhar divertido, e pulava entre Beatriz, Fernanda e Talita.
Próximo dele estavam Cláudio e Marquinhos, que se cutucavam, por um motivo à parte. Sabiam que precisavam se comportar quando recebiam visitas, mas nem sempre conseguiam. Ficaram sérios de repente quando sentiram o peso do olhar de Nívea.
Do outro lado da mesa, Talita e Samanta a observavam. Alguns poucos detalhes demonstravam diferenças entre elas, inclusive de idade. Seus olhares, porém, indicavam graus distintos de receptividade e acolhimento.
Por fim, Beatriz cruzou seu olhar com o de Fernanda, sentada ao seu lado. Notou sua boca meio aberta e o garfo a pouquíssimos centímetros de encostar-se ao lábio inferior.
- Sim, Talita – Beatriz responde, com um sorriso, quebrando o gelo e o silêncio – Eu namoro uma pessoa que amo muito, que me faz muito feliz, e que um dia vai se casar comigo. Espero que em breve!
- E cadê essa pessoa? – a moça indaga, com uma veia na lateral do pescoço saltando a cada palavra pronunciada.
- Que falta de educação, menina! – Wagner ralha, chamando a atenção da moça.
- Não seja indiscreta, Talita! – Nívea repreende, quase ao mesmo tempo.
Todo o falatório retornou e, sorrindo de maneira simpática, Beatriz se perguntava como era possível não ficar tonta e confusa em meio a tanto barulho. Sentiu a mão de Fernanda segurar a sua, por debaixo da mesa, e entendeu que era só questão de costume.
- Não ligue para a minha irmã – ela pede, alguns minutos mais tarde, quando estavam na cozinha ajudando Nívea a pegar as xícaras do cafezinho – Não é à toa que o apelido dela é Pimenta Malagueta. A Talita sabe ser ardida!
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
edianerocha
Em: 24/01/2023
Ahhh que capítulo divertido. Eu ri.
Precisava de um um chá de abricó pra dar uma movimentada diferente aqui. heehhe
Muito bom.
Resposta do autor:
Esse é um dos meus capítulos favoritos! <3
cris05
Em: 30/05/2021
E aqueceu, autora. Muito obrigada!
Eu tô amando a Bia Beatriz mais leve (pelo menos eu vejo assim).
E quanto à família da Nanda, é muito unida e também muito ouriçada rsrs. E tem uma pimenta como integrante kkk.
Beijos!
Resposta do autor:
Que bom, querida!
A Bia está mais leve, sim! Coisas que o amor faz rs
Eu adoro essa cena do jantar rsrs
Beijos!
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Marta Andrade dos Santos
Em: 30/05/2021
Kkkkk pimenta!
Resposta do autor:
rsrsrsrsrs
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NovaAqui
Em: 30/05/2021
Cuidado com a Pimenta! Será que a pimenta da Cícera é a irmã da Fernanda? Acho que sim! Achismo meu, tá? rsrs
Agora é esperar as próximas cenas...
Adorei o capítulo duplo! Pode ser um hat trick também, se você quiser, aí você leva a bola para casa kkkkk
Coitado do Júnior! Bobinho! Bobinho! rsrsrs
VACINA NO BRAÇO E COMIDA NO PRATO!
Abraços fraternos procês aí!
Resposta do autor:
Cícera é bruxona, fia!rsrs
Se eu tivesse mais pra postar, mais postaria! Juro!
Voltamos logo!
Se cuide até lá!
Beijos!
Resposta do autor:
Cícera é bruxona, fia!rsrs
Se eu tivesse mais pra postar, mais postaria! Juro!
Voltamos logo!
Se cuide até lá!
Beijos!
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