Lembrem-se não usem drogas. Ou usem, mas com responsabilidade. rsrs
Capitulo 7
Capitulo 7°
Virginia
Fitei minha imagem no espelho, os olhos fundos revelavam a noite mal dormida. O cabelo em desalinho e a cara totalmente amassada de quem acaba de acordar. Suspirei me atirando na cama, eu não queria sair dali, me afundei em meio aos lençóis e senti o calor e o conforto me abraçarem. Foi mais uma noite na qual eu não consegui dormir. Graças a minha companheira de todas as horas, a boa e velha conhecida ansiedade.
Quem me vê sorrindo e fazendo piada sobre tudo nem faz dimensão do tamanho dos monstros que enfrento sozinha diariamente, e na verdade prefiro que seja assim. Odiaria parecer fraca e indefesa. Me obriguei a caminhar até a janela, tirei a cortina e deixei os raios de sol me tocarem a pele. Observei o vai e vem dos carros, de alguma forma isso me acalma.
Encarei a fachada da padaria e pensei que poderia ir até lá, mas logo desisti por imaginar a possibilidade de encontrar a prima do meu melhor amigo Cadu. Conheci Alice na festa de aniversário da mãe dela, só que até então não fazia ideia de quem era a garota. E muito menos quem eram suas mães. Mas bastou Cadu nos ver no jardim para dar um pequeno chilique.
Cadu e eu nos conhecemos na pista de skate, pareceu um encontro de outras vidas. Ele me entendia com um simples olhar, e só o fato de nunca ter tentado dar em cima de mim como todos os outros skatistas facilitou minha admiração por ele.
Quando contei que era lésbica ele também assumiu sua bissexualidade. Apesar de ser bem resolvido com suas questões ele sempre escondia essa parte de sua vida alegando que muitas vezes escutou algumas piadas sobre ser indeciso, confuso ou apenas gostar de se divertir. O que acontece muito hoje em dia, até parece que o “B” da sigla LGBT significa brilhante e não bissexual.
Por gostar muito do meu amigo faço um esforço para me manter fora do caminho de Alice. Mas como sempre o destino adorava rir da minha cara, e na única noite que resolvi sair de casa em meses dei de cara com a garota em uma boate. Para meu desagrado ela estava acompanhada do namorado. Não que eu tivesse algum motivo para não gostar do rapaz, pelo contrário, ele é educado, inteligente e trata a Alice muito bem. Seu único defeito é namorar a garota que estou interessada.
Mas o fato de estar namorando não a impediu de me fazer um pedido um tanto quanto inusitado. Fui pega de surpresa e minha recusa foi imediata. Ainda me questionou aonde encontrei tanto alto controle aquele dia.
Fui até a sala atirei meu corpo no sofá, peguei o livro que estava na mesinha, o marcador de página para fora indicava que faltava pouco para terminar a leitura. Tentei me concentrar no que meus olhos enxergavam, mas minha mente não fez muita questão de entender o comando. Suspirei e peguei o celular, abri a conversa com Alice. Encarei a foto dela sorrindo e senti meu peito aquecer. Desde o dia que nos encontramos por acaso na boate eu estava evitando falar com ela. Já que Carlos Eduardo entrava em desespero apenas por imaginar que poderíamos ter algo.
No fundo eu entendo tua a preocupação dele. Sei o quanto ter encontrado a família Rodrigues tem mexido comigo nos últimos dias. Mas tanto Alice quanto eu não temos culpa de algo que aconteceu há anos. E eu tento mantê-la longe dos meus pensamentos.
Mas eu não sei o que me faz querer tanto tê-la por perto. Tenho total dimensão do problema que seria caso a gente de fato se envolvesse sentimentalmente. E esse é um problema que pretendo evitar. Nesse ponto deixo a razão falar mais alto, colocando de lado a minha vontade absurda de ouvir sua voz, sentir o gosto de seu beijo.
Nem tenho dimensão de quantas vezes revivi a cena no banheiro da boate aonde ela me pediu um beijo. E eu cheia de princípios, que naquele momento deveria tê-los mandado ao espaço, simplesmente neguei o pedido. Minha avó tem razão quando diz que é melhor morrer de arrependimento do que fez do que de pensar como seria, e naquele momento eu estou morrendo com a minha imaginação fértil.
Eu sei como seria, sei que beijá-la me deixaria desnorteada. Sei que eu sofreria porque não passaria de algo novo, afinal Carlos Eduardo garantiu que ela nunca havia ficado com uma garota. Ah! Esse era outro motivo que ele sempre fazia questão de me lembrar. Falava em alto e bom tom que odiaria me ver sofrer pela prima heterossexual dele.
Queria apenas que ele me desse a receita de como não pensar nela. Seria pedir demais? Não tenho culpa da minha mente teimosa e insistente sempre parar naquele sorriso lindo de dentes tão perfeitos, no cheiro dos fios loiros e bagunçados.
- Droga! Estou ficando maluca.
Meu celular tocou e na tela aparecia o número de Carlos Eduardo, eu disse que a gente tem essa coisa de outras vidas.
- Estava pensando em você.
- Eu sei, senti daqui. Você está bem? – indagou preocupado.
- Sim. Só não dormi direito.
- Posso ir hoje se você quiser, podemos ver um filme, tomar algumas cervejas. Eu te faço relaxar.
- Se alguém escuta você dizer isso jura que quer trans*r comigo. – brinquei e ele gargalhou.
- Não responderei tal ofensa. Mas seria uma ideia tão ruim?
- Lógico.
- Só diz isso porque nunca ficou comigo.
- Já tenho traumas suficientes.
- Que insulto á minha pessoa. Desse jeito vou desistir de te ajudar.
- Você sabe que eu te amo, mas sex* com você não rola. Quanto ao resto eu aceito.
- Ingrata, você não sabe o que está perdendo.
- Prefiro continuar sem saber. Mas me diz, pensei que ia encontrar o Miguel. – comentei na esperança de ao menos ouvir o nome de Alice.
- Não vai dar, ele disse que precisava fazer alguma coisa com a mãe. O que eu não acreditei, acho que ele tinha um compromisso com outra pessoa.
- Juro que não entendo esse relacionamento de vocês.
- Mas é justamente isso, não temos relacionamento. Apenas sex*. Você deveria tentar alguma vez. Ah! Esqueci, vocês lésbicas são muito emocionadas e jamais conseguiriam apenas trans*r sem se envolver emocionalmente e fazer tranças nos cabelos depois do sex*.
- Isso é bem pejorativo. E você mais do que ninguém sabe que quando eu fico solteira não sou nada emocionada. E só para constar detesto tranças. – comentei e ele gargalhou.
- É apenas a verdade. E realmente quando você fica solteira cai na gandaia, mas acho que dessa vez você está com defeito. Mais de um mês e nenhuma boca você beijou.
- Não estou com defeito, apenas não estou pronta. Só isso.
- Se eu não te conhecesse diria que está apaixonada.
- Não viaja. Eu preciso desligar, vou tomar um banho e fazer algo útil da minha vida. Beijos.
- Beijos, até mais tarde.
- Até.
Encerrei a ligação e fiquei encarando o celular. Meu amigo tinha razão já fazia mais de um mês que eu havia terminado meu namoro e nesse período não fiquei com ninguém. Droga! Poderia ter ficado, Alice, banheiro, pedido de beijo. Lembra Virginia?
Claro que eu lembrava, como poderia esquecer? Deveria mesmo existir um medicamento capaz de causar perda de memória recente. Assim apagaria o dia que conheci Alice, não por não gostar dela, apenas por pensar que seria melhor não a ter em meus pensamentos diariamente.
Como de costume acabei trocando o dia pela noite, depois da ligação com Carlos dormi pesadamente. Acordei e o sol já se escondia atrás dos edifícios. Precisava de um banho, afinal pelo horário meu amigo chegaria em instantes.
- Virginiaa!!! – escutei sua voz vinda da sala. Ele tinha uma cópia da chave desde que eu sumi um dia e ele desesperado acabou colocando a porta a baixo.
- No banho.
Sentou-se próximo a porta do banheiro, acendeu um cigarro e tragou fazendo a fumaça subir. Nossa amizade era assim, sem nenhum pudor. E por incrível que pareça nunca me senti desconfortável em o ter me observando enquanto tomo banho.
- Já te falei para não acender essa coisa aqui. – reclamei sentindo o cheiro conhecido.
- Só um trago, para relaxar. Já disse que você deveria usar, camomila ajuda a acalmar e fora a trans* maravilhosa que ela proporciona. – comentou rindo e apagando o cigarro de maconha, colocando-o em uma caixinha e em seguida no bolso de seu short.
- Agradeço, mas uma vez foi suficiente para saber que não sei fazer isso. – brinquei e ele riu. Lembrando da primeira vez que fumei.
- Não sabe mesmo. Mas me diz, podemos sair para beber?
- Você disse que ia me fazer companhia aqui. – comentei vestindo o roupão.
- Eu sei, mas não custa nada a gente ir. É aqui do outro lado da rua, podemos ir a pé.
- Não estou no clima, mas você pode ir. Eu sobrevivo sem você. – comentei entrando no quarto e abrindo o closet.
- Não posso ir sem você. Seria muito sem graça. – deitou-se na minha cama.
- Tira esse tênis da minha cama. – bati no seu pé.
- Tá!. – reclamou. – Sabe o que eu acho?
- Tenho a impressão que mesmo que eu não pergunte você vai falar.
- Acho que você precisa trans*r.
- Gênio! Essa é a solução dos meus problemas. – debochei.
- Não é a solução, mas te deixaria mais calma e feliz.
- Está insinuando que não sou feliz e calma? – me virei encarando-o.
- Estou. A última vez que saímos você só conversou a noite inteira. E com a Alice. – senti um frio na barriga ao escutar seu nome.
- Não estava a fim. E a garota é inteligente, o que posso fazer?
- Você negar uns beijos é algo que me deixa preocupado. A não ser...
- O quê? – sai do quarto e ele me seguiu.
- A não ser que você esteja interessada em alguém. – arqueou a sobrancelha. – Foi aquela modelo?
- Claro que não. – abri a geladeira pegando água.
- Deveria. Ela é linda, quem dera me desse bola. – suspirou sentando-se no banquinho.
- Ela deu, mas você acabou ficando com o amigo dela.
- E o que tem? Ela poderia ter participado. – deu de ombros.
- Nem todo mundo é igual ao Miguel, que topa tudo.
- Pois é. Acho uma pena. Quanto mais pessoas trans*ndo, menos pessoas chatas teríamos no mundo. – lamentou. – Então vamos? Por favor, a gente volta cedo, prometo. – cruzou os dedos e os levou até a boca.
Acabei aceitando a proposta. Voltei para o quarto e troquei de roupa, em seguida saímos em direção ao pub. Escolhemos uma mesa e Cadu logo começou a beber.
- Eu falei que o Miguel tinha outro compromisso. – comentou encarando o rapaz que estava em um papo intimo com um garoto. Fitei meu amigo que aparentemente estava incomodado com a cena.
– Isso é ciúmes? – indaguei e ele deu um sorriso de canto.
- Claro que não. Sempre soube que ele fica com outros rapazes, só nunca...
- Tinha visto?
- Isso.
- Então é ciúmes. – ele silenciou e tomou um longo gole de cerveja.
Começamos a conversar sobre outros assuntos e acabamos esquecendo que o Miguel estava ali. Quase duas horas depois um amigo do Carlos veio cumprimenta-lo. O rapaz tinha uma barba longa e bem cuidada. O tinha de pelos no rosto faltava em seu couro cabeludo. Estava bem vestido e deu um largo sorriso ao ver meu amigo.
- Oie. – o rapaz sorriu simpático e deu um abraço no meu amigo.
- Oi Rick. Não sabia que tinha voltado.
- Cheguei semana passada. Mas você como está?
- Bem, muito bem. E quem é essa?
- Nossa! Que cabeça a minha. Essa é a Nanda, minha irmã. Nanda esse é o Cadu e essa é? – me questionou.
- Essa é a minha amiga, Virginia. – Cadu sorriu para mim, me pedindo para ser simpática.
- Prazer. – a moça sorriu.
- O prazer é meu. Sentem-se. – apontei as cadeiras vazias.
- Não queremos atrapalhar. – Nanda falou educada. Era notória a semelhança entre os dois, o sorriso era igual. A mesma tonalidade de pele. Os olhos negros.
- Imagina, seu irmão e eu temos muito papo para colocar em dia. Sentem-se. – Cadu fez questão que a Nanda sentasse ao meu lado.
- Então como foi a viagem? – meu amigo indagou. E os dois iniciaram uma conversa nos deixando de lado.
- Desculpa, desde que ele voltou só fala dessa viagem. – comentou Nanda me fitando.
- Não tem problema. – dei de ombros. – E você, também viajou?
- Quem me dera, tô presa nessa cidade. Meu irmão foi fazer o doutorado. Filho da mãe ficou com a beleza e a inteligência. – comentou em um sussurro. Próxima a mim.
- Bom, com a inteligência pode até ser, mas a beleza acho que você ficou com ela. – comentei e nem percebi que havia lhe cantado. Ela riu aberto.
- Obrigada. Enfim alguém que reconhece que sou uma deusa. – eu ri de canto.
- Mais ou menos isso. O que você faz da vida, além de ser uma deusa?
- Eu sou psicóloga.
- Vejo que me enganei.
- Não entendi.
- Você também ficou com a inteligência, para escolher um curso desse. – ela gargalhou e os dois rapazes olharam em nossa direção.
- Perdi alguma coisa? – Rick questionou.
- Na verdade duas, a beleza e a inteligência. – ela brincou e foi a minha vez de rir.
- Não entendi.
- Viu, já ficou burro. - o rapaz deu de ombros e voltou a conversar animadamente com Cadu.
A garota me fitou e eu senti um carinho imediato por ela. E não era com interesse, ela apenas me parecia alguém muito legal. O tipo de pessoa que você quer ter por perto o tempo inteiro.
- Você está me analisando?
- Não. Só admirando. Você é linda. – concluiu e eu corei. – Desculpa não quis te deixar sem graça.
- Não precisa se desculpar, apenas não estou acostumada a ouvir esse tipo de elogio. – confessei encarando o copo, sobre a mesa.
- Duvido! Aposto que os caras te cercam sempre.
- Não que isso tenha algum interesse para mim. – comentei e ela arqueou a sobrancelha. – Eu sou lésbica, então homem não é o meu forte.
- Nossa! Mais uma bola fora. Então aposto que muitas garotas te elogiam o tempo inteiro, isso se não se sentirem intimidadas com sua beleza.
- Gostei de você, Nanda. – ergui o copo e ela bateu o seu.
- Também gostei de você Virginia. Mas só para deixar claro, não sou lésbica.
- Eu imaginei.
- Como assim?
- Você tem uma cara de heterotop. – brinquei.
- Quanta calunia! Eu poderia facilmente ser bissexual. – comentou entre risos e eu acabei acompanhando-a.
Conversamos por horas e eu pude conhecer mais sobre ela, e contei apenas algumas coisas sobre mim. Não curtia muito essa ideia de deixar os outros saberem da minha vida pessoal, a única pessoa que sabia tudo sobre mim era Cadu. Mas isso levou alguns anos até que eu confiasse nele ao ponto de me abrir.
- Acho melhor irmos. – Rick comentou.
- Mais já? Acho que as meninas estão se divertindo. – comentou nos olhando.
- De fato estamos, mas podemos marcar alguma outra coisa. Para outro dia. – completei encarando os três.
- Claro, nós adoraríamos. – Nanda me sorriu.
Trocamos os números e no estacionamento nos despedimos combinando de marcar alguma coisa com mais calma. Cadu caminhava ao meu lado com as mãos nos bolsos do short.
- Gostou da Nanda? – indagou ao atravessarmos a rua.
- Sim. Gente boa, inteligente.
- Bonita...
- E heterossexual. – completei.
- Você sempre gostou de um desafio. Aposto que você consegue conquista-la.
- Não! Já disse que não quero um relacionamento.
- Mas eu não estou te mandando casar com ela, apenas uns beijos. Uma noite quente de sex*.
- Acho que você teria mais chance com ela do que eu.
- Não posso. – falou segurando o portão para que eu passasse.
- Por quê?
- Já fiquei com o irmão.
- Sabia que vocês não eram apenas amigos. – entramos no elevador, ele apertou o andar e as portas se fecharam.
- Mas nós somos amigos. – comentou. - Ele foi o primeiro.
- Que você transou? – questionei confusa.
- Sim, mas também o primeiro que me apaixonei.
- E o que aconteceu?
- Ele não estava pronto para um relacionamento.
- Tá vendo só? Você ainda quer que eu saia por aí conquistando garotas sendo que eu não estou pronta.
- Tá! Eu entendi. – calou-se e notei certa tristeza.
Entramos no apartamento e ele foi direto para a geladeira. Pegou duas cervejas e fomos sentar na varanda. Tomou o primeiro gole, encarou algum lugar na rua e começou a falar.
- Eu sofri muito na época. O Rick parece o cara perfeito sabe? É inteligente, atencioso, carinhoso, fora o sex* maravilhoso.
- Mas...
- Nunca quis nada sério com ninguém, até onde sei ele nunca namorou. Depois que paramos de ficar, eu conheci o Miguel.
- Aí foi sua vez de não querer nada sério.
- Não é isso, só não queria me apaixonar de novo. Então tento manter as coisas apenas no modo carnal.
- Pelo visto não está funcionando. – ele me fitou. – Você claramente ficou com ciúmes hoje.
- Claro que não. – se pôs de pé próximo ao parapeito.
- Você pode até tentar se enganar e achar que só sente atração, mas acho que você está apaixonado pelo Miguel.
- Eu não posso. – confessou baixo.
- Quem me dera a gente pudesse escolher por quem se apaixonar. – nesse momento me veio a linda imagem de Alice.
- Então você está apaixonada. – afirmou me fitando.
- Não! – respondi rapidamente.
- Está sim. E só não quer me dizer por quem. Mas não me importo, no momento certo você vai dizer. – sentou-se ao meu lado. – Alice perguntou de você. – ao ouvir aquele nome senti meu coração acelerar, então ela queria saber sobre mim.
- Foi? – tentei parecer o mais desinteressada possível.
- Sim. E obrigada por manter sua promessa. Não me preocupo com ela, me preocupo com você e no que aconteceria caso a tia Isa soubesse quem é você.
- Eu sempre mantenho as minhas promessas. E sua tia não vai saber quem eu sou. Mas não posso negar que tem sido um sacrifício não manter contato com ela. – confessei e ele me fitou.
- Não acredito! É ela.
- O quê? – me fiz de desentendida.
- A garota que você está apaixonada. É a Alice. – encarei minhas mãos.
- Não é como se eu tivesse alguma chance. – comentei com a voz baixa.
- O problema não é esse.
- Aquele dia na boate, ela me pediu um beijo. – confessei.
- Virgínia! Eu sabia que você estava escondendo algo.
- Calma. Eu não fiz o que ela pediu. Tenho princípios, ela estava bêbada. E com o namorado. Não faria isso.
- Ainda bem. Ela com certeza se arrependeria depois.
- Foi o que eu pensei. Mas isso não tem mais importância, não nos falamos desde então. E possivelmente ela nem lembra do que falou.
- É talvez não. E agora?
- Agora eu vou seguir minha vida e ela vai continuar com a dela. Simples.
- Mas você vai sofrer, afinal gosta dela.
- Vai passar.
- Agora mais do que nunca você precisa encontrar alguém para dar uns beijos e saciar seu desejo. Assim não vai ter tempo para ficar remoendo essa história da Alice.
- Você sabe que não funciona assim. Vou ficar sozinha, e me entender comigo mesma. Depois se aparecer alguém estarei pronta.
- Se você diz.
Ficamos em silêncio, apenas encarando o vai e vem dos poucos carros lá embaixo. Carlos parecia pensar sobre algo sério, pois tinha a expressão fechada e concentrada.
- Posso? – perguntou pegando a caixinha do bolso.
- Pode. – dei o aval. – O Rick parece gostar de você. – comentei vendo-o acender o cigarro.
- Acho que não. Já faz mais de um ano que nada acontece entre nós.
- O sorriso que ele te deu foi diferente.
- Ele é assim sempre, não só comigo. E eu não vou cair nessa de que ele tem algum tipo de sentimento em relação a mim. – deu um longo trago, segurou a fumaça alguns segundos e depois liberou-a.
- Fora que você está apaixonado. – impliquei.
- Não. – negou. – Gostar do Miguel seria outra decepção.
- Como você consegue?
- O quê?
- Sexo repetidas vezes. E nenhum sentimento? – ele me encarou.
- Não é que eu não tenha nenhum tipo de sentimento. Só tento não dar ouvido a eles.
- Então existe sentimento.
- Lógico. Gosto do Miguel, ele é divertido, inteligente, bonito. E o sex*... Nossa! O sex* é incrível.
- Séria tão ruim você se apaixonar por ele?
- Sim. A paixão estraga as coisas. – fez uma pausa parecendo pensar em algo que justificasse seu ponto de vista. – Com a paixão o sentimento de posse, o ciúme aparecerem. E isso muda tudo. O que é leve vira um fardo.
- Mas isso se chama exclusividade. Se você gosta é normal ter ciúmes. – comentei e lembrei de como me senti quando vi Alice com o Matheus. – E mesmo que você não queira aceitar que esar apaixonado, hoje você sentiu ciúmes.
- Digamos que talvez tenha sido isso mesmo. Agora eu posso simplesmente ficar com outra pessoa, e logo esqueço o ocorrido.
- Queria que as coisas funcionassem assim para mim também. – suspirei pesadamente.
- Poderia ser, se você ficasse com outra pessoa. Só sabe se testar. É igual a comprar um carro, tem que ter o teste drive. – brincou e eu ri. – Imagino como deve estar sendo difícil para você. – ele me fitou compadecido. – Olha o que eu vou te contar eu nem sei se deveria, mas...
- O quê?
- Conversei com a Anna aquele dia na boate, e ela deu a entender que a Ali também tem interesse em você. E o fato de ela ter te pedido um beijo só comprova isso. Sei que seria uma loucura, caso algo acontecesse entre vocês. Mas acho que se você tem a chance deveria tentar. E se der merd* eu vou estar aqui para te dar apoio. – segurou minha mão.
De alguma forma o que ele me falou acabou me comovendo. Senti os olhos marejados, e por saber que eu odiava chorar na frente dos outros meu amigo olhou na outra direção. Se Anna comentou algo com ele, significa que Alice fala sobre mim para ela. O que é algo bom. É algo bom, não é? Pena não ter resposta para tal questionamento.
Quando entramos para dormir já passava das três da manhã. Após um longo banho meu amigo se atirou na cama ao meu lado. Desejou boa noite e adormeceu. E para minha surpresa o mesmo aconteceu comigo.
Fim do capítulo
Voltei. Dessa vez consegui postar hojeee. Um viva para mim, por que eu mereço. kk
Espero que gostem do capítulo.
Boa leitura e bom restinho de final de semana.
Comentar este capítulo:
lay colombo
Em: 09/09/2021
Só vai Virgínia, conquista essa loirinha, a gente tá torcendo por vcs.
Gostei bastante da dinâmica Cadu e Virgínia, gosto de amizades assim, leves, sem cobranças, com apoio, enfim tô curtindo
Resposta do autor:
Tenho que confessar, não sou muito fã desse namoro. Acho que Virgínia é meio louca igual a irmã. Será?
Marta Andrade dos Santos
Em: 30/05/2021
Vai na fé Virginia!
Resposta do autor:
Kkk. Adoorei o incentivo.
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