CAPÍTULO 44 DECISÃO
— Evaldo, quando chegarmos próximo ao carro que eles estão dentro você desce que eu vou parar o carro na bala, se ele se sentir acuado vai usar ela como escudo para fugir. Aí no porta-luvas tem uma arma com silenciador e um par de luvas cirúrgicas, elas são boas para evitar que a impressão digital fique na arma, mantenha distância e não erre — falava enquanto dirigia.
Evaldo abriu o porta-luvas tirou o material, calçou as mãos, pegou o silenciados, acoplou no cano e olhou a mira, estava ótima. Colocou no cós da calça na parte de trás como sempre fazia no antigo emprego.
— Pode deixar senhor, nunca perdi uma bala e não será dessa vez que vou perder — fitava a estrada à procura do carro enquanto o delegado o olhava sorrindo com admiração do homem sentado a seu lado.
Era o mesmo homem que um dia ajudou a ser solto por boa conduta dentro do presídio, um bom advogado e uma aqui fora com um emprego seguro, tudo isso junto deu a Evaldo uma nova perspectiva de vida. Hoje era um homem prestes a ser pai, estudando pra prestar concurso para polícia forense, a ironia do destino é que um homem que matou cinco homens a sangue frio iria virar policial que estuda os mortos e diz como morreram e como foi assassinados, a vida era muito engraçada. Cortou o fio dos pensamentos voltando a realidade continuando a orientar Evaldo.
— Dependendo do local, quando terminar o serviço fique perto da BR venha caminhando sentido praia que é o sentido contrário do que vamos seguir, na hora que passar um táxi ou moto táxi, pegue. Tem dinheiro?
— Tenho sim, não se preocupe com nada. Quanto a arma... vai querer de volta?
— Não, é muito arriscado. Como não vão saber de onde veio o tiro, todos os policiais presentes passarão pelo exame da parafina para ter certeza de que não foi nenhum de nós que atirou — declarou o delegado.
— Então já sei a quem vender, vai ser fácil encontrar essa belezinha aqui, o número de série dela está bem visível e digo mais, quando tudo estiver assentado e sem chance de acusar algum policial essa beleza poderá ser vista com os traficantes do Morro do Santiago, a 33 pode tomar de volta bem fácil — falou referindo-se a delegacia de plantão do local onde a arma poderia ser encontrada.
Deu uma examinada no número de série enquanto falava e o delegado só fazia sorrir ciente do conhecimento do rapaz em armas de fogo, afinal, não é qualquer um que escapa da acusação de assassinato nove vezes e da única vez que foi preso com provas foi por desacato a autoridade e posse de arma. A range rover na cor grafite com bancos de couro e toda no couro com tração nas quatro rodas do delegado deslizava pela BR como um barco no rio, Luís Carlos pensava, e apostou na hora da compra, no conforto que um carro assim oferecia, além de puxar 12O km numa auto estrada em questão de segundos. De longe avistou o carro e fez sinal para que Fabiano acompanhasse o seu olhar, com uma mão só na direção a outra sacou o celular e ligou para o policial Sales.
— O carro está na nossa frente à uns quinhentos metros, vou me aproximar pela faixa esquerda e você vai pela direita. Vou pedir reforços do pessoal de moto.
***
Marcelo e Luíza chegaram em casa de cabeça baixa e encontraram duas famílias em desespero, os rapazes super nervosos, cada um tinha ao seu lado uma mulher valente e preocupada. Ao perceber a chegada dos dois, todos se levantaram para ir de encontro, mas Luíza não permitiu, ergueu a mão e tranquilizou a todos.
— A polícia já está na captura dele, agora é só questão de tempo até o encurralarem. Vamos ter fé e ficar calmos...
Antes de completar o que dizia a televisão anunciou a chamada de notícia urgente e todos se voltaram para o aparelho.
— Boa noite telespectadores, mais uma vez ao vivo e nesse momento estamos trabalhando junto com a polícia do 9º distrito policial para capturar o sequestrador de nome Alberto Vasconcelos da Silva, empresário no ramo de autopeças. Segundo as últimas noticias que chegaram até a nossa equipe de reportagem, ele está dirigindo um Fiat Uno preto de placa, que segundo a polícia pode ter sido adulterada. Placa, HAX 2029 Eusébio. Se você ver esse veículo, entre em contato com a polícia, repito o sequestrador é perigoso e está armado.
Quando encerrou a reportagem as meninas estavam chorando uma nos braços de uma Bia calada e Vivi impaciente andando ao redor da piscina enquanto Helena a abraçava sussurrando palavras ao seu ouvido.
— Vai ficar tudo bem, neném, vamos ter fé. Já, já ela vai estar de volta... — abraçava carinhosamente a garota que parecia um animal enjaulado.
No outro canto da piscina Marcos chorava silenciosamente, já não tinha mais paciência, a espera estava acabando com seus nervos.
— Eles vão resgatar a sua mãe, Marcos, tenha fé... — Sabrina segurava na mão do garoto do sorriso lindo e escrachado que conquistou seu coração.
— Meu medo, gata, é saber que ele vai abusar dela de novo, logo agora que ela está vivendo, sorrindo, cantando. Minha mãe está cantando “Manom” (referência a rainha das bruxas em trono de vidro) sendo feliz, trabalhando, justo agora esse infeliz pega minha mãe outra vez. Se alguma coisa acontecer, eu sou capaz de ir no inferno e matar ele, pode ter certeza disso — Marcos escandalosamente assuou o nariz fazendo um barulho alto, todos olharam para ele, mas estranhamente não disseram uma gracinha.
— Olhe, eu vou ligar para minha irmã e ver se ela tem alguma notícia extra — na hora que pegou o celular a música do plantão do jornal tocou mais uma vez e todos automaticamente se voltaram mais uma vez para o aparelho.
— Estamos bem próximos de resgatar a empresária Fabiana Linhares nesse momento. O carro do sequestrador está cercado e um policial atirou no pneu que furou, fazendo com que o veículo do sequestrador perdesse velocidade como vocês podem comprovar nas imagens. Agora o delegado está conversando com o sequestrador que se recusa a sair de dentro do carro e está fazendo exigências, conseguimos chegar perto e filmar a vítima como vocês podem ver nas imagens.
A família estava com atenção voltada para as imagens captadas pela lente do cinegrafistas, era estranho ouvir que o homem que até em pouco tempo que chamavam de pai e respeitavam agora era chamado de sequestrador. Vê-lo agir como tal, se recusando a sair ou entregar a mãe deles, a mesma que foi casada com ele por vinte e dois anos, era surreal. A câmera deu um zoom filmando muito rápido e pegando a imagem de Fabiana muito assustada e com a boca machucada, o grito de todos foi abafado quando viram o rosto de Fabiana e perceberam que sua boca estava muito machucada e com marcas de sangue.
— Eu sei onde é esse local, neném! Já fomos lá várias vezes, é lá naquela pista perto de Aquiraz onde a galera pratica motocross — Helena falava com as duas mãos no rosto de Vivi para chamar sua atenção para o que dizia.
— Eu também sei onde fica, se formos de moto não leva nem vinte minutos, isso se passarmos por todos os sinais vermelho e formos agora — Dessa vez foi Sabrina que falou e já foi puxando Marcos que olhou para ela com um brilho no olhar.
— Não sei quanto a vocês, mas estou indo pra lá agora — e já foi correndo segurando a mão de Sabrina para pegar sua moto.
— Vamos todos — Falou Luíza — cada um que for maior leva um menor na garupa, Marcelo você leva a Helena e eu levo a Vivi, você vem conosco, não é mesmo Helena? Ou quer que chame um Uber para levar você para casa? — Luíza quis saber.
— Vou com vocês, minha mãe me deu um "libervale", posso ficar aqui o tempo que minha neném precisar de apoio — respondeu Helena sorrindo e fazendo carinho nos cabelos de Vivi.
— Então vamos logo. Dona Laura, por favor — chamou a atenção da senhora que tinha ficado junto a todos vendo e ouvindo as notícias — eu sei que já passou e muito do seu horário, mas se puder ficar com as crianças pelo tempo que ficarmos fora, nós pagamos hora extra e mais uma folga adicional no momento em que precisa.
— Vá despreocupada, dona Luíza. Esses meninos são o mesmo que meus filhos, também criei a todos, vão e só voltem quando trouxer a mãe de vocês sã e salva — falou Laura enquanto conversava com os garotos com raiva por terem sidos chamado de criança.
Em seguida seis motos passaram pela portaria do condomínio rasgando a noite com o ronco do motor potente de cada uma.
Foi questão de minutos e muita agilidade para chegarem no local, 15 minutos conforme Sabrina havia dito, todos desceram das motos desligaram e foram para junto de uma certa multidão que estava se formando muito próximo a um amontoado de carros da polícia que tinha cercado o local com uma faixa amarela. A pista ficou intransitável, mas lá atrás havia uma viatura da guarda municipal orientando o trânsito numa única mão. A família ficou toda junta e aos poucos ficaram todos na frente da faixa, Sabrina chamou a atenção da irmã que veio rápido até onde estava todos.
— O que você está fazendo aqui Sabrina? Isso é uma operação de resgate, o sequestrador lá dentro pode cometer uma loucura — Daniele explicou.
— Acontece que o louco e sequestrador ali é o pai do meu namorado — falou Sabrina.
Todos olharam para a garota surpresos com a novidade, inclusive Marcos que cresceu o olhão verde para o lado da garota que nesse momento estava fazendo as apresentações segurando na mão dele.
Continua...
Fim do capítulo
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