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Amor incondicional por caribu

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Palavras: 3658
Acessos: 4310   |  Postado em: 23/05/2021

Dezoito

 

A noite chegava de mansinho quando Fábio saiu da oficina. Todos os comércios da avenida já estavam com as portas arriadas, naquela melancolia característica de um horário não comercial, com mais trânsito no contrafluxo. Ele teve que fazer hora extra, mais uma vez, mas junto do cansaço carregava um sorriso. Tinha trabalhado bastante, parando só para almoçar, e estava exausto, com partes do corpo doendo um pouco. Fazia três dias que tentava descobrir o problema em um carro, precisou desmontar quase que o motor inteiro, e só hoje conseguiu resolver. Ia tomar uma cerveja chegando em casa, para comemorar – a solução do problema que fazia o carro engasgar, e a gorjeta que a dona do veículo deu. Não é todo dia que se ganha R$ 20!

Não via a hora de tomar um banho para se livrar de toda a sujeira, e descansar. Claro que isso demoraria um pouco para acontecer. Tinha um monte de afazeres que exigiam a sua atenção quando chegasse em casa. Mentalmente, listou as tarefas que teria que cumprir depois do banho: lavar a roupa, recolher e guardar as peças que estavam no varal, lavar a louça e preparar o jantar. O problema é que para cozinhar ele teria que antes tirar todo o resto de comida das panelas que estavam na geladeira (tinha enfiado várias lá, só para não ter que lavar).

Se depois de tudo isso ainda encontrasse algum tipo de disposição, tentaria tirar o resto de arroz queimado que estava no fundo da panela, de molho dentro da pia há dias, e também as gotas de óleo que tinham escorrido pelo tampo do fogão, e respingado no chão. Fábio jurou nunca mais fazer batata frita. Aquilo não é de Deus!

Estava impressionado em como essas tarefas na cozinha tomavam tempo, e como os trabalhos domésticos eram chatos e cansativos! Mesmo fazendo as coisas todos os dias, todos os dias tem coisa para fazer!

Essa nova rotina vinha provocando muitos devaneios. Entre um trabalho e outro Fábio divagava sobre a dura rotina da mulher dona de casa. Não pretendia admitir para Bianca, havia toda uma questão de orgulho envolvida naquilo, mas ele estava saturado de ser o responsável pela organização da casa. Se prometeu que, tão logo a mulher se recuperasse, a recompensaria por tudo isso. Precisava, de alguma forma! Que fosse comprando mais panelas para ela não ter que lavar tanta louça, sei lá.

Só agora ele via como era dura a rotina da esposa: trabalhar no Viver, que já era um serviço desgastante, que Bianca nem gostava, longe para dedéu, e ainda cuidar das obrigações domésticas. Todos os dias. E ela nem reclamava!

Ou talvez fosse por isso que ela estivesse sempre mal-humorada. E com razão! Quem é que consegue ser feliz tendo uma pia cheia de louça, sendo obrigado a encarar tudo isso dia após dia, a vida toda? Ele estava nisso há alguns meses e já queria férias!

Nota mental: nunca mais cutucar Bianca quando ela estiver de mal humor. Ela tem motivos para estar irritada, mesmo que “nada” tenha acontecido.

O celular de Fábio vibrou e ele viu uma mensagem no grupo dos amigos, que tinham marcado de se encontrar para jogar futebol na praia. Brevemente, pensou nas suas esposas. Daquele pessoal da pelada, quase todas trabalhavam fora. Mudou o foco do pensamento quando percebeu que, um, não tinha nada a ver com isso e, dois, o que os amigos diriam se ele revelasse essa preocupação? Imagina, chegar na roda e propor uma divisão dos serviços domésticos? Ele ia virar piada para o resto da vida!

Embora não soubesse conceituar de maneira exata, Fábio acreditava que empatia era algo restrito ao universo feminino. Achou por bem deixar o assunto para lá.

Estava a alguns metros da porta da casa quando sentiu o cheiro bom de uma janta bem feita, aquele aroma de comida caseira que abre o apetite até de quem já comeu. Se lembrou com carinho de quando chegava do trabalho cansado e encontrava Bianca cozinhando para ele. Ou a comida já feita. Era bom até quando nem tinha algo para comer, mas tinha Bianca, sorrindo para ele. Sendo ela.

Porém, se durante a licença no trabalho já era impossível que isso acontecesse, agora que Bianca finalmente tinha voltado a trabalhar era ainda mais difícil. Nunca mais cobraria uma janta. Lavaria a louça antes de ela pedir. Sempre que possível, comeriam pelo Ifood.

Sorriu inquieto e entrou.

Ao acender a luz, achou a sala diferente. Ele tinha certeza de que tinha deixado a vassoura no canto, junto com a sujeira varrida. Ia catar na hora, mas esqueceu, lembrou só quando já estava na rua. Observava a cena, curioso, quando seus olhos foram atraídos para uma luminosidade vinda da cozinha, do fogão, reluzente. Estava limpo e o cheiro que ele sentiu na calçada vinha de uma daquelas panelas.

 

- É feijão – Bianca revela, atrás dele.

 

Fábio girou nos calcanhares e a encarou. Ela tinha acabado de sair do banho e seu cabelo, que antes estava vermelho, tinha voltado a adquirir a cor natural, castanho claro (mas estava escuro porque estava molhado, penteado para trás). Usava uma camiseta que já tinha sido dele, mas que sem dúvida ficava melhor nela. Deixava a lateral dos seios à mostra, e Fábio desviou o olhar porque aquilo o excitou.

Há quanto tempo não a observava assim, e se aproximava da mulher que tanto amava? Já fazia um tempo que mal se beijavam, e ele sabia que bastava um sinal e estaria pronto para ela. Como sempre esteve, como sempre estaria.

Bianca o encarava com certa doçura. Parecia amigável, com o semblante leve. As várias pintinhas espalhadas em seu rosto estavam bem nítidas (eles estavam bem próximos) e Fábio quis beijá-la. Mas não se moveu. Só a encarou de volta.

Ele não sabia explicar – nem para si mesmo –, mas Bianca parecia transformada. Estava diferente de como se portava naquela manhã, quando se viram pela última vez. Dava a impressão de ter se livrado do peso que ela mesma se impunha em carregar. Desta vez, fez um esforço maior para não a puxar para perto. Mas sorriu.

 

- Essa cara de bobo é por causa do feijão? – ela pergunta, sorrindo também. Era isso, ou tinha no rosto algo muito próximo de um sorriso.

- Eu adoro feijão – Fábio responde.

 

Não sabia se o fato de Bianca ter feito o jantar significava alguma espécie de evolução. Queria acreditar que era, sim, um progresso, um feito e tanto, soava até como uma tentativa de reconciliação. Se pudesse, pediria o telefone de Beatriz só para que nessas horas pudesse lhe enviar uma mensagem. Quis contar para ela como estava feliz por chegar em casa e não precisar cozinhar.

Mas preferiu se conter e não se precipitar. Podia não ser nada daquilo, apenas um alarme falso, e era só uma janta, afinal de contas. Para não estragar o momento, Fábio desviou dela e foi para o banheiro. Nem tinha como chegar mesmo muito perto, com a roupa suja daquele jeito, e Bianca com cheirinho de sabonete.

Ligou o chuveiro e esfregou a bucha com força nas mãos e nos braços, sujos de graxa. A pele ficou até um pouco vermelha com a intensidade da limpeza. Lavou o cabelo e fez um pouco de hora, dando alguns minutos para o condicionador agir sobre os fios. Se penteou debaixo da água.

Ao terminar, se enrolou na toalha e se encarou no pequeno espelho pregado na parede. Da mesma forma que há muito tempo não observava Bianca, há muito tempo também não se olhava de verdade. Estava mais magro, abatido, com olheiras bem marcadas, e a barba grande e desalinhada o deixava com uma aparência assustadoramente diferente. Sempre se achou um sujeito boa pinta, mas agora parecia velho e acabado. Mal se reconheceu e a sensação de estranheza o deixou perturbado.

Nunca foi vaidoso, mas sempre precisou ter um mínimo de cuidados. Até porque era trabalhoso ter cabelo comprido – e aquele penteado o acompanhava desde a adolescência. Mas ultimamente vinha dedicando zero de tempo para essas coisas. Não sentia ânimo para se cuidar, essa era a verdade. Malemal vinha fazendo o básico, que era tomar banho e se alimentar nas refeições (em algumas era preciso até forçar um pouco).

Espalhou um creme de cabelo nas mãos e se penteou antes de se barbear. Aquele produto fazia maravilhas, e Fábio sempre fingia que comprava para Bianca, quando na verdade comprava era para ele. Ela mesma sempre esquecia de usar.

Ele se lembrou do dia em que estava esperando a esposa no mercado, e perto do caixa viu uma revista que, na capa, dizia que babosa fazia milagres no cabelo. Como estava com tempo, foi até a seção de produtos de beleza (antes olhando bem para os lados, para garantir que ninguém o observava. Seus amigos eram muito sarristas, faziam piada com tudo). Encontrou uma infinidade de marcas que tinham babosa na fórmula, com preços para todos os bolsos. Esbarrou em uma senhorinha muito simpática no corredor, que lhe deu uma verdadeira aula sobre os benefícios da planta (limpa, hidrata, acelera o crescimento, previne caspa e queda).

Quis experimentar e comprovou que era verdade, o cabelo fica com um brilho que nenhum outro produto consegue deixar igual. A natureza é mesmo uma farmacinha, como disse a velha.

Naquele dia, de brinde, Fábio levou para casa uma receita de chá de babosa que ele nunca se lembrava de fazer para tomar. A mulher do mercado tinha dito que era bom para o coração, contra o colesterol – assuntos que ainda não o preocupavam.

Saiu do banheiro mais leve. A mudança na atitude de Bianca o influenciou positivamente, se sentia como há dias não ficava e o banho reforçou o bem-estar. Ela notou que ele estava barbeado e disfarçou um sorriso. Tinha se esquecido de como era bom ver o marido sair do banheiro com aquele cheiro de sabonete e loção pós-barba. O cabelo estava solto, chegava quase na cintura, e exalava um aroma ótimo. Fábio usava o short que um dia foi a combinação com a regata de Bianca. Se perguntou se ele teria pego de propósito.

 

- Eu não tenho sido uma boa companhia nos últimos dias – ela disse, enquanto comiam. Havia muito silêncio entre eles, e na casa, pois a televisão por um milagre estava desligada – Eu sinto muito por isso.

 

Fábio apenas a encara. Não sabia o que falar. Finalmente ouvia o que tanto desejava, e não sabia como lidar com os sentimentos que faziam uma verdadeira algazarra dentro dele. Era maravilhoso ouvi-la se desculpar, reconhecendo tudo, mas uma voz lá dentro perguntava: “até quando?”. Tinha medo de que outra situação qualquer pudesse abalá-la novamente. E a vida é muito instável, são muito poucas as situações que de fato temos controle.

Diante do silêncio do marido, Bianca imaginou que talvez fosse tarde demais para aquilo. Tinha demorado muito tempo para se desculpar e por sua culpa agora via fraquejar o amor que a unia a Fábio.

Ao invés de se irritar, se envergonhou. E sentiu muita vontade de chorar. Mas não quis que ele visse, então levantou-se e foi para o quarto. Deitou no lado dele da cama e abraçou seu travesseiro. Chorava em silêncio quando Fábio se deitou ao seu lado. Não falaram nada. Apenas ficaram ali, juntos. Ao notar que Bianca ainda soluçava, ele imaginou que ela pudesse estar pensando besteira.

 

- Eu amo você, Bia. Já tinha falado antes que nunca desistiria de você, e que se um dia tivesse que brigar pelo seu amor, eu brigaria. Nem que fosse contra você mesma, lembra? – ele sussurra, apertando o corpo dela contra o seu – Só quero ver você feliz de novo e fico maluco quando te vejo sofrendo e não posso fazer nada para aliviar o que sente. Mas estou aqui, com você e por você. E sempre vou estar.

 

Fábio a virou para si e a beijou com carinho. Já fazia tempo que eles não ficavam tão próximos, e a intimidade despertou desejos involuntários, automaticamente. Bianca notou, era impossível não perceber, mas tudo o que ela queria era ficar abraçada ao marido, embora sentindo aquelas pulsações. Ele entendeu, e nem insinuou querer algo. Não havia mesmo clima para nada além do que estavam fazendo.

Ajeitaram-se na cama e dormiram abraçados. Foi a melhor noite de sono dos dois.

 

 

- Hoje eu chego um pouco mais tarde do trabalho – ele comenta, pela manhã, bebendo um gole de café. Sabia que aquela conversa exigia uma boa escolha de palavras e por isso falava pausadamente – Vou me consultar com uma psiquiatra que a irmã da Teresa indicou. O consultório é um pouco longe, por isso estou avisando.

- Hum? É mesmo? – ela pergunta, disfarçando com curiosidade uma pontada de irritação – Mas psiquiatra não é o médico de louco?

- Não. É médico que trata de distúrbios que não necessariamente são de gente maluca. Pessoas normais têm, e muito! A Beatriz, a psiquiatra, listou várias doenças que pessoas no mundo todo têm, e nem por isso são internadas em hospícios. Por exemplo, o estresse.

- Pelo jeito vocês conversaram bastante. Ela até “listou” doenças que trata.

- Está com ciúmes, Bia? – ele interrompe, sorrindo.

- Não é ciúme – ela responde, sorrindo também – É só, sei lá, estou tentando entender por que você está se consultando com uma psiquiatra.

- Eu te amo, mulher linda! – ele se declara, beijando Bianca – Não é nada demais, eu só precisava desabafar e ela apareceu numa hora boa. Não precisa se preocupar, com nada, nem com a médica. Acho que ela é até casada. Vi uma foto, lá na mesa, ela abraçada com um sujeito grisalho.

- E é bonita? – Bianca pergunta, ainda abraçando o marido, que ficou quieto – Você achou a médica bonita, Fá?

- Nunca minto para você, Bia.

- Esse é meu medo – ela interrompe, rindo.

- Ela é, muito bonita. Mas não faz meu tipo. É magra demais. Séria demais. Fria demais. Não sei, me faz pensar numa estátua.

- Sei – Bianca responde, ainda pensando naquilo tudo.

 

Saíram juntos para o trabalho, e caminharam de mãos dadas até o ponto de ônibus. Antes de se despedirem, Fábio mais uma vez comentou sobre Beatriz. Insinuou que faria bem à Bianca conversar com a médica. Afirmou que se consultar com esse tipo de especialista não era o mesmo que assinar algum atestado de loucura.

Bianca prometeu pensar – e Fábio sabia que ela realmente faria isso. Até porque estava quieta, obviamente já digerindo aquele assunto.

Esperou ela entrar no ônibus e dali seguiu a pé para a oficina. Tinha muito trabalho para o dia, que ia além de consertar carros. Por sorte, aquele era um serviço que o deixava em contato direto com o público, e vinha encontrando pessoas que estavam sendo muito úteis; nas conversas, falavam coisas que Fábio até então não tinha pensado.

No final da tarde, sorriu satisfeito quando finalmente terminou o último conserto, e estava liberado do trabalho. Já sabia o que teria que fazer com suas investigações. Beatriz tinha razão quando disse que aquela busca poderia servir como uma espécie de distração, uma válvula de escape. Estava aos poucos se reconciliando com Bianca e poder se ocupar naquela pesquisa o deixava muito empolgado. A mistura de emoções o renovava e ele ficava animado quando imaginava como Bianca receberia a ideia de, de repente, ganhar um irmão.

Ele tinha um nome com apenas um sobrenome. Um sujeito influente no final da década de 1970. Teodoro, o policial militar aposentado, do carro com problemas no carburador, tinha sugerido no começo da semana que um bom começo seria descobrir a profissão do sujeito. “Qual era a ocupação dele?, o que o tornava ‘influente’? Era médico, juiz, jogador de futebol? Descobrindo fica mais fácil de encontrar. Usa a internet Fabião, ela dedura tudo de qualquer um”, ele disse, acendendo um cigarro dentro da oficina. Teodoro não era de seguir às regras.

Mas aquilo era mais trabalhoso do que parecia no começo, Fábio nem entendia muito de redes sociais e se viu baixando vários aplicativos só para usar a lupa de pesquisa. A filha do gerente da oficina, de uns 15 anos, disse para ele que quem não aparece nas redes sociais ou está morto, ou não existe.

Ele nunca fez questão de acompanhar às tendências da internet, não tinha muita paciência para ficar vendo feed no celular. Gostava só de ver vídeo, e para isso não precisava de um perfil e senha. Aos olhos da menina, Fábio estava morto – ou não existia. Ela riu quando ele disse isso, e o ajudou a descartar alguns nomes. Uma cliente, com um carro que vivia dando problema no câmbio, trabalhava no cartório e mostrou como fazia para acessar as certidões eletrônicas, digitalizadas há alguns anos, e ensinou como baixar a lista com os registros de nascimento entre junho de 1977 (data fornecida pela sogra) a junho do ano seguinte.

Um professor de TI que quase quebrou o carro numa lombada enviou a Fábio, dois dias depois do conserto, uma lista cruzada com os nomes que apareciam nas certidões e os da lista telefônica da época (que ele nem conhecia, só tinha ouvido falar).  O arquivo, em Excel, era todo colorido, mas o rapaz disse que o programa fazia isso sozinho.

Vinha dispendendo vários esforços, mobilizando algumas pessoas e tinha muita confiança de que teria sucesso na empreitada. Se o homem ainda morava na cidade, Fábio ia descobrir.

Tinha conseguido reduzir a extensa lista de nomes para apenas sete homens. Todos tinham o mesmo nome e todos tiveram um filho registrado no período pesquisado. Desses, Fábio descartou três, pois já eram pais de outras crianças quando o filho de Catarina nasceu. Dos que sobraram, dois não condiziam com a descrição, devido às profissões: um trabalhava como auxiliar de cozinha e o outro era pedreiro. Fábio acreditava que o poder que o cara exercia era viabilizado pelo seu status social, sua conta bancária. Só alguém realmente poderoso teria a influência para fazer uma mulher doar o filho recém-nascido.

Encontrar aquele homem significava encontrar o único parente vivo da esposa, e Fábio tinha em mãos duas possibilidades de localizar o pai do irmão de Bianca – e o irmão, por consequência.

Ele só torcia para que os ventos soprassem ao seu favor, e pudesse realmente achar essas pessoas, mais de três décadas depois de Catarina ter engravidado.

A caminho do consultório, Fábio sorriu quando uma das hipóteses foi descartada, ao descobrir que um dos homens que buscava já tinha morrido. Antes de descer do ônibus já sabia mais ou menos como encontrar o sujeito que tinha restado: ele costumava jogar futevôlei no fim da tarde, não muito longe dali.

 

- Vejo que se sente bem hoje – observa Beatriz, vendo Fábio sentar-se sorridente diante dela. Não era só a ausência da barba ou o cabelo que estava penteado e cuidadosamente amarrado: ele parecia realmente bem – Como vão as coisas em casa?

- A Bianca está melhorando – ele responde, se acomodando – Você tinha razão quando disse que era só questão de tempo para ela se reaproximar.

- Ótimo. Quer falar a respeito?

- Não sei – ele diz, um pouco encabulado – Falei mais cedo sobre estar vindo aqui. Acho que ela já está considerando a possibilidade de vir conversar com você.

- Isso é muito bom! Mas parece que não é só isso que está te alegrando. Estou correta? – pergunta Beatriz, recostando-se na cadeira.

- Estou bem próximo do irmão da Bia – ele responde, se recostando também – Há alguns dias venho coletando alguns dados aqui, outros ali, falo com um, converso com outro. Hoje cheguei mais perto do que nunca.

- Sei, e você já parou para pensar que encontrar essa pessoa pode ser o inverso do que imagina, e na verdade piorar o estado da Bianca? – Beatriz pergunta, séria.

 

Quando apoiou que ele procurasse o homem que tinha engravidado a sogra, há mais de 30 anos, imaginava que Fábio não encontraria nem mesmo vestígios daquilo. Ou que demoraria mais tempo para reunir algumas pistas.

 

- Não acho que vá fazê-la ficar mal. Até porque ela já melhorou.

- Ela está “melhorando”, você falou. Não tem receio de que o surgimento de alguém tão próximo à mãe possa mexer com ela?

- Na verdade, não – Fábio responde. Estava sendo sincero, e Beatriz percebeu.

- Imagine, então, as várias possibilidades desse encontro. Em primeiro lugar, a pessoa pode representar algo que ela não aceita, o que pode gerar uma série de complicações. Ele pode, por exemplo, ser gay, torcer para um time diferente, ter uma posição política contrária à de vocês (isso dos menores dos males).

- É, mas se for gay vai ser problema – Fábio interrompe, pensativo – A Bianca não gosta de gays. Nós não gostamos.

- Eu acredito que é importante dizer que vocês precisam trabalhar essa questão, por uma série de fatores, mas podemos discutir isso daqui a pouco – Beatriz diz, de maneira didática – Por ora, você precisa considerar que o irmão da sua esposa pode, sim, ser gay; por que não? Imagine ter que vê-la se confrontar com esse fato (afinal, você mesmo disse que ela não gosta!). Aí, além de precisar rever também os seus conceitos e preconceitos, você vai ser o causador de um tremendo de um mal-estar.

- Eu não tinha pensado nisso...

- Fábio, me ocorreu aqui agora, deixa eu te perguntar – ela fala, com os olhos ligeiramente apertados – O que você faria se um dia o seu filho Joaquim te dissesse que é gay?

- Eu amo meu filho, doutora. Mas acho que espancaria ele.

 

 

Fim do capítulo


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Comentários para 18 - Dezoito:
Lea
Lea

Em: 24/01/2022

A ignorância humano é algo nojento. Mas vamos lá...mesmo depois de adultas, pessoas podem ser lapidadas,COM MUITA PACIÊNCIA!


Resposta do autor:

 

Foda!

Mas eu tb acredito no poder da mudança! <3

O amor transforma! <3

 

Responder

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Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 24/05/2021

Vixe, barril!


Resposta do autor:

rsrsrsrsrs

Responder

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Drea
Drea

Em: 23/05/2021

Kkkkk, só observando... olha só vc causando.


Resposta do autor:

Rsrsrs

E tá gostando?

Responder

[Faça o login para poder comentar]

cris05
cris05

Em: 23/05/2021

Como é que é Fábio?? Tô #decepcionada com você. Muito mesmo.

E a Bia Bianca tem a mesma opinião? Desculpa, mas é de cair o c* da bund@!

Beijos autora! 


Resposta do autor:

Hahaha 

Né!

Esses personagens nos levam do amor ao ódio rsrs

Beijos!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

NovaAqui
NovaAqui

Em: 23/05/2021

Ih! Preconceito, Fábio? Se liga! Deixa de ser mané! Espero que Beatriz te dê um belo de um chega para lá! Eu hein!

Que sem noção: como assim espancar o filho pela orientação sexual? Já estou com ranço de você por falar isso

Abraços fraternos procês aí


Resposta do autor:

Rsrs

Omi escroto, né 

Pior a Bia, que compactua!

Oremos rsrs

Beijos!

Responder

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