Capitulo 5 - Entre Razões e Emoções
Era como estar em casa, os olhos azuis de Isabella lhe traziam essa sensação e ela não poderia negar que sua meia irmã era uma das garotas mais lindas que já havia conhecido. Era nítido o quanto a interiorana se sobressaía em uma multidão, ou entre os amigos da escola, ela era ímpar em muitos sentidos e por mais clichê que isso pudesse parecer, era a mais pura verdade que Micaela admitia desde o primeiro momento em que a viu entrando em casa, com aquele vestidinho azul, de tecido tão leve quanto seus dedos ao cuidar de sua mão, quando se cortara com o copo. Sim, fizera uma cena de puro ciúmes naquele dia, também admitia. Talvez Isabella não percebesse como sua beleza às vezes assustava as pessoas, a morena perdera a conta de quantos amigos seus e dela pediam ajuda para conquistar sua pirralha, pois não se atreviam em chegar diretamente nela. Ela simplesmente não percebia, parecia viver em um mundo à parte, um mundo encantado onde poucos podiam entrar e Micaela se sentia privilegiada por fazer pelo menos um pouco parte dele.
Enigmática... Era essa a palavra que definia Isabella como um todo, e também definia seu olhar naquele instante. Os olhos da morena estavam aprisionados pelas íris azuis, parcamente iluminadas pela luz que entrava pela janela, pela primeira vez a reconheceu mais do que apenas a caipira meiga com quem ela dividia o quarto, e isso de certa forma a paralisou. Isabella era a filha de Silvia, era sua... meia-irmã. Micaela possuía por ela um carinho familiar que jamais lhe dera brechas para qualquer apelo sexual, contudo o desejo de tomar seus lábios naquele instante cobriam qualquer resquício de pudor e ela ansiou por encurtar os poucos centímetros que as separavam. Seus olhos correram por sua face ainda úmida pelas lágrimas, por seus lábios entreabertos e avermelhados, e Micaela pôde sentir a fragrância envolvente que ela exalava por todos os poros, sem perceber seus lábios também se entreabriam para a boca convidativa. Seus dedos ainda presos ao dela, instintivamente pressionaram seu abdome, as bocas tão próximas que seus hálitos já se misturavam na dança envolvente e afrodisíaca que antecede o beijo, Micaela fechou os olhos.
— Ahh... — Um gemido de dor escapou dos lábios de Isabella. Sua expressão radicalmente mudou para um semblante preocupado e a morena imediatamente percebeu.
— O quê foi? — A voz de Micaela estava ofegante, o que a fez engolir em seco várias vezes procurando se estabilizar.
Isabella sentou-se de supetão, levando a mão ao ventre e puxando o lençol para o lado.
— Droga! — Ela parecia envergonhada e ao mesmo tempo irritada com algo que a morena não entendia.
— Isa, o que houve? — Micaela também se sentou preocupada.
Isabella nada respondeu, apenas levantou-se apontando a pequena mancha vermelha no lençol da cama. A morena entendeu de imediato.
— Nossa que susto... — Um sorriso aliviado dançou nos lábios de Micaela.
— Não acredito, sujei todo lençol.. — Ela puxava o lençol da cama com Micaela ainda em cima dele, parecia transtornada por ter “permitido” que aquilo acontecesse.
— Ei, se acalma... Não é nada demais, pode dei...
— Preciso lavar isso!!!
— Isa! — A morena se levantou e segurou-a de leve pelos ombros chamando sua atenção. — Isso é a coisa mais natural do mundo, calma!
— Mas eu... — Ela estava muito envergonhada.
— Se acalma, vai trocar seu pijama e eu troco os lençóis para você, ok? — Micaela falava com calma, como se estivesse falando com uma criança, colocou uma mecha dos cabelos castanhos atrás da orelha delicada de sua caipirinha tímida e empurrou-a de leve em direção à porta.
Micaela aproveitou os minutos a sós para refletir sobre o que acabara de acontecer. Não sabia se aquilo realmente tinha sido o que pensara que foi, ou se sua mente criativa havia idealizado um momento que não passava de uma tensão pré menstrual com pitadas de aborrecimento pela notícia do jantar. Ela não saberia dizer.
Contudo de fato ela não poderia contestar... O que a morena constatara era mais do que claro e evidente. Não poderia negar o desejo que sentira pela caipira naqueles segundos, de uma forma tão intensa que pequenos arrepios ainda percorriam seu pescoço e pernas. Ajeitou o colchão de Isabella o mais rápido que conseguiu, receosa de que ela retornasse e percebesse o que se passava com Micaela, felizmente o ciclo menstrual da outra a salvara. Ter sua meia-irmã perplexa e horrorizada pelo que estava prestes a fazer era o pior pesadelo que ela poderia ter, e sentiu o rosto queimar quando sua mente fértil criou cenas libidinosas naquele colchão.
— Mica, me desculpe eu...
— Nada! Não se preocupe, Isa... — A morena erguera-se em um pulo com a volta da outra. Dirigiu-se para própria cama apagando a luz. Evitava olhar diretamente para seu rosto.
— Eu queria te dizer que... — Isabella estranhou aquela agitação toda e tentou desculpar-se por estar tão sensível e irascível, na esperança de que ela não tivesse percebido o beijo que quase lhe dera.
— Isa... — Fingiu um bocejo cansado. — Desculpa, amanhã começo cedo no Carlão, podemos conversar outro dia? Durma bem, tá?! E não se esqueça de estudar para os exercícios do final de semana, vou cobrar! — Virou-se de costas para ela e cobriu-se até o pescoço ficando em silencio logo em seguida, impedindo qualquer interação.
Os ombros de Isabella caíram desanimados, ela também deitou-se, mas não dormiu de imediato, ficou por muito tempo refletindo sobre o que sentia pela morena, assim como sobre os garotos que beijara durante sua curta adolescência. Ela nunca, literalmente, havia tido uma vontade de provar os lábios de outra pessoa, semelhante à que teve naquele instante com Micaela, nem mesmo garotos que tivera algum interesse, na verdade era sempre um embaraço ter que aparentar reciprocidade quando na verdade achava-os nada atrativos. Porém, a boca de Micaela, o nariz reto e bem desenhado, a pequena pinta próximo ao queixo e os olhos negros hipnotizantes que a deixavam de pernas bambas, tudo isso estava gravado em sua mente e ela não conseguia se livrar da lembrança do seu cheiro, do seus toques – mesmo que brincalhões – da sua boca.
Por fim, a insônia não lhe trouxe respostas relevantes, ainda se recusava a nomear o que se passava com ela ou o que sentia, insistia para si mesma que aquele sentimento talvez fosse somente uma curiosidade ou um desejo carnal de adolescência, porém seu coração gritava em contrapartida, tentando sinalizar que o sangue que bombeava quando mirava Micaela, não era somente um desejo momentâneo.
***
Era final de semana de feriado prolongado e Fábio organizara uma pequena viagem em família. As malas já abarrotavam o porta malas e os passageiros se espremiam entre bolsas, roupas de cama, travesseiros e sacolas. Micaela ajeitava os fones de ouvido, enquanto o pai finalizava uma breve oração antes de saírem com o carro. Isabella cutucou a morena de leve, ralhando com ela por ser tão insensível às vezes.
— O quê eu fiz?
A caipira apenas revirou os olhos cruzando os braços e virando-se para janela. Meia hora de viagem e a garota dormia recostada no vidro, ao som de uma rádio “sertanejeira” qualquer. Motivo pelo qual Micaela curtia sua música quase no último, pelo fone de ouvido.
— Ei, pai! A gente vai parar em algum lugar para comer? — A morena perguntou com o estômago já roncando.
— Eu trouxe alguns lanchinhos... — Silvia mostrou uma pequena bolsa térmica e Micaela fez uma careta. Comeria o que tivesse ali dentro em poucos segundos, precisava de sustância.
— A gente pode parar, filha... Só que vai ser daqui umas duas horas só. — O pai conhecia o pequeno “monstro comilão” que criara.
— Tudo bem... — Ela suspirou derrotada já recolocando os fones. Sentiu então um toque em sua perna.
Olhou para a pequena mão em seu joelho e engoliu em seco antes de retirar os fones. Mirou o rosto da caipira.
— Tenho uma barra de chocolate... — Ela deu de ombros continuando. — Posso dividir com você se você também dividir seu fone comigo. — Mordeu o lábio inferior sorrindo e levantando uma sobrancelha como uma diaba expert em barganhar.
Micaela bem que tentou, mas não resistiu correspondendo ao sorriso com uma risada profunda. Balançou a cabeça enquanto ajeitava travesseiros e sacolas para o lado, e sentava-se junto à ela.
— Humm, amo esse sabor.
— Eu sei. — Isabella abriu a embalagem já abocanhando o primeiro pedaço.
— Eiii, cadê a minha parte?
— Cadê o meu fone? — Ela apontou uma das orelhas saboreando as nuances do cacau com a língua.
Silvia assistia à tudo pelo retrovisor com um sorriso no rosto. Estava feliz e não era por menos, por muito tempo protelou a mudança para casa de Fábio, pois temia que as garotas jamais se entendessem, apesar de conhecer a filha e saber que ela encantava à qualquer um, por diversas vezes Fábio alertava de que Micaela não era nada fácil. Contudo Silvia discordava e muito, pois a garota tinha apenas um gênio mais inflexível, ela não era má, pelo contrário. Rebelde às vezes, sim! Mas era nítido que gostava de Isabella, demonstrava isso sempre quando lhe ajudava nas atividades da escola, ou quando entrava de mansinho para não acordá-la no quarto. E Isabella não fazia diferente, ela também tinha um grande apreço pela morena e Silvia sempre sorria achando fofo quando a filha separava um prato do jantar para a morena, guardando-o no microondas, já que muitas vezes ela chegava tarde depois que começara o trabalho na marcenaria. Elas eram fofas e a mulher disfarçadamente apontou-as para Fábio que dirigia prestando atenção na estrada.
O homem olhou as filhas pelo retrovisor, testemunhando o exato momento em que Micaela mordia um pedaço de chocolate da mão de Isabella. Estavam quase coladas, compartilhando os fones de ouvido, rindo cúmplices e alheias ao restante do mundo. Ele não sorria. Sabia exatamente o quê Micaela poderia estar pensando naquele momento e preocupava-se com isso. Preocupava-se com Isabella que não possuía a malícia que a filha, infelizmente, fora forçada a aprender em São Paulo. Preocupava-se com a confiança que Silvia tinha de que aquilo não passava de amor entre “irmãs”. Mais de uma vez a mulher comentava sobre como estava feliz com as meninas, como ele poderia explicar para a mulher que amava, o que a filha era por baixo daquela pele de cordeiro? Como ele protegeria a filha dos olhares que Silvia lhe daria depois que soubesse o que ela era? Sua preocupação era tanta que ele já planejava uma forma de separá-las, antes mesmo que algumas delas percebesse algo.
Chegaram à pequena cidade praiana com o sol se pondo e Micaela despertou com o pai estacionando, puxando o freio de mão. Espreguiçou-se percebendo então que Isabella dormia tranquilamente recostada em seu ombro.
— Ei, caipira! — Ela sussurrou baixo aproveitando a proximidade para sentir o perfume inebriante de seus cabelos. Era um vício que Micaela já notara que precisava controlar.
Isabella se espreguiçou emitindo um som semelhante à um ronronar, fazendo com que Micaela a empurrasse de leve para o lado afastando-a de si.
— Chegamos, dorminhoca! — A morena saiu rápido do carro, tentando disfarçar o rubor que lhe tomara o rosto, deixando uma Isabella confusa e sonolenta para trás.
A casa emprestada do amigo de Fábio não era grande, porém era aconchegante e encantadora. Possuía um jardim nos fundos, com direito à uma jacuzzi ao lado de uma cadeira suspensa de dois lugares. Era dividida em uma sala de estar e jantar, com uma pequena cozinha americana e dois quartos. Havia um lavabo próximo à saída, mas cada quarto possuía um guarda-roupa embutido que uma das portas dava para uma suíte pequena, porém funcional. Trabalhavam em equipe guardando todas as coisas, assim como trocando as roupas de cama e limpando o que estivesse há muito tempo em desuso. Apesar da residência servir de lazer para a família proprietária do imóvel, eles a visitavam poucas vezes ao ano. Jantaram uma refeição rápida e se recolheram, pois os corpos cobravam o descanso após a longa viagem.
— Ah, nem acredito que finalmente vou dormir em uma cama! — Isabella se jogou na cama mais próxima à janela, deitando de bruços e abraçando o travesseiro.
Micaela imediatamente desviou o olhar do vestido que subiu alguns centímetros na coxa, após o movimento.
— Mica, você se importa se eu ficar com essa?
— Claro que não, tanto faz. — Ela deu de ombros retirando a camiseta e já puxando o top. Parou de supetão quando percebeu o olhar da outra. — Ah... Acho que vou tomar uma ducha antes de dormir. — E saiu em direção ao banheiro.
Geralmente não se importava, se Isabella estava presente ou não quando se trocava ou quando a caipira ficava nua. Mantinha os olhos em outro lugar, era um hábito que adquirira ainda na escola, pois sentia que as garotas com quem compartilhava o vestiário, não mereciam ter seus corpos expostos aos olhos de quem os veria de forma diferente, de forma atrativa. Ela então desviava. Porém depois daquela noite... Seu reflexo estava afetado, não conseguia desviar à tempo, falhava em não olhar. Em conseguir ficar nua sem se importar. Se sentia também exposta quando Isabella à olhava e não conseguia levar o constrangimento na brincadeira como sempre fazia. Queria poder voltar no tempo e evitar ficar tão próxima à caipira, se culpava por ter sido atraída por ela. Talvez se não tivesse olhado tanto em suas íris azuis, tentando decifrar os tons oceânicos que possuíam, ou não tivesse sentido com as mãos a pele macia de suas costas quando se oferecia para coçar algum lugar que ela não alcançava, somente para depois lhe fazer cócegas e contemplar as risadas encantadoras que saíam de seus lábios, ou não tivesse a abraçado um número incontável de vezes, apenas para vê-la a empurrar sempre constrangida ou tímida, ou fosse pelas vezes em que simplesmente à admirava rabiscar seus números no caderno de Física... E então franzia as sobrancelhas de fios claros, fazendo as pequenas sardas no nariz se aproximavam quando enrugava o rosto para o exercício mais complexo ou difícil. Ela não saberia dizer quando, como, nem porquê... Só sabia que precisava impedir. Interromper àquelas sensações era sua mais nova rotina. E sentia que estava se saindo bem, tudo voltaria ao normal, assim esperava.
— Ahhhhh, tá MUITO fria! — Isabella gritou sorrindo e dando pulinhos nas ondas que se formavam sob seus pés. Ela amava o mar. O cheiro, o som, a atmosfera que se formava ao redor, ela simplesmente era apaixonada por toda àquela água que rodeava e bailava sobre a areia fina.
— Filha, passou protetor? — Silvia perguntou pela terceira vez preocupada. E Isabella apenas riu sem julgar a mãe, sabia do que o sol ou o mormaço eram capazes de fazer à sua pele desprovida de melanina.
Micaela assistia à tudo com uma mudez estática. Não se mexia um centímetro sequer, ou emitia qualquer som, apenas sentara-se em uma das cadeiras de praia, com sua bermuda confortável e seu top básico de sempre. Seus olhos moviam-se ligeiros entre o mar e o corpo da caipira, coberto por um biquíni azul, da cor de seus olhos, e ela cogitava para si mesma, se Isabella não haveria de ter errado o número da vestimenta, por que a peça minúscula não escondia absolutamente nada. Ela franziu o cenho quando o pai parou em sua frente, olhou-o nos olhos e deduziu que ele percebera, mas o homem nada falara, apenas a convidou para tomar água de côco em uma barraca próxima.
— E no Carlão? Tá gostando do trabalho lá? — O pai perguntou carinhoso, mesmo estando um tanto contrariado com a desistência da filha em fazer uma faculdade de imediato.
— Amando! Pai, tô aprendendo tanto... Eles são muito legais comigo e me passam tudo que sabem... A Berê, filha do Carlão que te falei, lembra? Então, ela fica na produção com o resto do pessoal e já falou que logo mais eu vou poder aprender algumas coisas básicas com eles também. Tô empolgada, você sabe que sempre gostei de trabalho manual...
— Que bom filha, que bom... — Ele acariciou suas costas trazendo a filha mais para perto, a amava tanto que seu coração pulava no peito, toda vez que imaginava sua “Bubu” indo embora de casa. — Mas, filha... — Ele deu uma pausa longa o suficiente para chamar toda a atenção da garota. — Vê se não...Sabe? Tenta se comportar. Não... — Ele não sabia como dizer.
— Pai, já disse para confiar em mim... Não sou o monstro que você pensa, não faço mal a ninguém.
— Não! Você não é um monstro, eu não quis dizer isso, é só que... Essa filha do Carlão... Não sei se seria legal se...
— Não faço nada com ninguém sem o consenso ou vontade recíproca da pessoa. Você me ofende um pouco quando fala assim... — Ela baixou a cabeça brincando com o canudo que se perdia na escuridão da fruta suculenta.
— Me desculpa? Por favor, eu ainda tô aprendendo, filha... É difícil para mim... Na minha época não era assim, eu só fico preocupado com você, minha única preocupação é você, Micaela!
Ela viu verdade em seus olhos, porém havia muitos muros e tabus que precisariam ser quebrados na cultura em que o pai fora criado. Muitas coisas que magoavam, ele não fazia ideia de que quando ditas poderiam soar desastrosas. Ela abraçou-o beijando seu rosto para depois voltar para o pequeno guarda sol que estavam.
— Mica, bora dar um mergulho? — Os olhos azuis brilharam enquanto Isabella puxava a morena pelas mãos. Micaela fazia caretas dando desculpas sobre o sol estar muito “quente”. — Então passa mais protetor, ué.
E o martírio estava iniciado. Isabella virou-a de costas e sem dar tempo para argumentações, espirrou o protetor em sua mão para depois espalhar nas costas da morena, em uma lentidão que fez Micaela cerrar os dentes e cruzar os braços para evitar que seus mamilos lhe entregassem. Disfarçava olhando para qualquer ponto na areia, pensava em pássaros, flores, cânticos tristes e poemas melancólicos... Tentava dar ao momento um ar fúnebre, na tentativa quase inútil de desviar seu consciente dos dedos macios da outra e de como gostaria de provar cada um deles, de tê-los dentro de si e em toda parte, de abocanhar àquela...
— Você passou aqui?
A pequena atrevida não esperou respostas e ganhou os ombros com os dedos ágeis e precisos, passeou a palma por seus dois ombros, enquanto os dedos seguiam a trilha do pescoço e nuca, dando asas à imaginação de uma Micaela em brasas. O sol não seria páreo para ela, pois sua temperatura naquele instante havia subido a níveis vulcânicos. O carinho interminável já beirava o tormento e sofrimento, ela só queria mergulhar nas águas salgadas e geladas, para lavar todo aquele desejo que os dedos de Isabella contaminaram em sua pele.
— Chega! — Ela quase implorou, chamando atenção dos três. — Vamos nadar, tá muito calor! — Ela disfarçou retirando a bermuda ficando somente com um shorts da mesma cor de seu top, estilo uma sunga boxer. Passou protetor nas pernas como se espantasse formigas, de forma rápida e descuidada, evitando que a outra se oferecesse para mais sessões de tortura. Correu em direção ao mar gritando: — Quem chegar por último lava a louça do jantar!!!
Quem as via, tão sorridentes e felizes, com as respirações ofegantes e olhos jubilosos, como quando ser jovem e se cansar é apenas algo divertido e excitante, jamais questionaria ou condenaria... Eram apenas irmãs, primas ou amigas, sendo felizes e aproveitando o que a juventude lhes dava. A inocente e ao mesmo tempo consciente noção de si mesmas, era o que lhes moviam e lhes cativavam. E então tudo passa a ser mais perceptível, mais visível. O toque mais demorado, o arrastar dos dedos em um ombro desnudo, o toque dos joelhos em uma proximidade involuntária, o abraço repentino quando uma onda qualquer em sua empolgação tenta capturar os que lhe visitam, o segurar de mãos que dá e recebe apoio, em meio ao alvoroço de águas e espumas, e é ali, num olhar mais íntimo e ao mesmo tempo distraído, que o tempo para. As ondas então não são fortes o bastante, para vencer o arrebatamento que o sangue é capaz de fazer em uma batida de seus corações. Na fração de segundo não mensurada que algo estala, e a gota do entendimento se faz ouvir, dando vida ao que estava ressequido, inundando toda e qualquer incerteza. E é tão claro e óbvio, que fica insuportável não aceitar. Evitar é quase doloroso.
— Você é linda.
Micaela quase se bateu com a frase que seus lábios proferiram sem seu consentimento. Transtornada ela olha para a caipira, ainda incapaz de acreditar que dissera tais palavras, em voz alta e em um momento tão inoportuno. Isabella sorri de lado, encabulada e surpresa, solta um agradecimento baixo e rouco, ainda sem acreditar que a morena realmente havia lhe dito o acabara de ouvir e antes que possa aproveitar todo prazer do momento Micaela sai. A deixa sozinha no mar, com as ondas empurrando seu corpo em direção à ela, em um incentivo silencioso, para que fizesse o que seu coração pedia.
No dia seguinte não nadaram. O passeio que o pai programara lhes deixou pouco tempo de praia e quando chegaram à orla já se passava do meio dia, o mar estava quase inquieto demais, talvez percebendo e sendo solidário, aos pensamentos de ambas. Conversavam o necessário, mas fingiam bem. Os pais meramente percebiam algo errado e elas também não se faziam de estranhas, era um acordo silencioso entre elas. Não estavam prontas para dialogarem sobre algo que mal entendiam, mesmo e apesar de Micaela já saber exatamente do que se tratava, ela ainda assim negava, com todas as forças! Negava e oprimia, o que para ela vinha somente de sua parte, a caipira em sua gentileza e empatia, apenas disfarçava.
Já Isabella passara da fase de negação e apenas curtia o platonismo peculiar, ao qual pela primeira vez conhecia. Para ela um toque de Micaela já era alimento para dias, fazendo então um banquete com o prazer que sentiu ao poder acariciá-la enquanto lhe passava o protetor ou quando ouvira o “linda”, vindo de seus lábios.
No terceiro e último dia estavam animadas, talvez excitadas em aproveitar cada gota do que estava para terminar. Não se continham em sorrisos e Isabella já não se importava em ser flagrada encarando o corpo magro e atlético da morena. Micaela ainda disfarçava com óculos escuros e mergulhadas aleatórias no mar. E em uma de suas mergulhadas em que voltava mais calma, vislumbrou sua caipira deitada de bruços, aproveitando para se bronzear. Diminuiu o passo ganhando tempo, simultaneamente em que gravava em sua mente cada centímetro da pele exposta. A penugem loira que descia por suas costas e se escondia em seu biquíni... Engoliu em seco passando a mão sobre os cabelos molhados, tentando reorganizar as ideias. Olhou para os lados, num desespero febril, de ter um escape que não permitisse que o pai, a madrasta ou Isabella, notassem o que se passava em sua mente. Se alguém ali, possuía algum poder sobrenatural de ler mentes, com certeza nesse momento chocava-se horrorizado com os pensamentos lascivos que sua mente se infestava.
A interiorana então jogou o cabelo para o lado, apoiando as mãos sob seu rosto e Micaela mordeu o lábio com força mirando o rosto belo que de olhos fechados ainda não lhe percebia. Diminuiu ainda mais os passos, aproveitando o momento de interação entre os pais, para admirar ainda mais a curva que descia e depois subia, em um desenho perfeito que implorava por um encaixe. Os seios espremidos em uma esteira colorida, o sol implacável que lhe tocava – afortunado – todos os poros expostos. E quando ela abriu os olhos, presenteou Micaela com o azul profundo oceânico, que fez a morena no susto deter-se no lugar e receosa de mergulhar e nunca mais recuperar o fôlego, virar os olhos, buscando qualquer outra distração que lhe salvasse daquele tsumani chamado Isabella.
Isabella acompanhou seu olhar, que estacionava em uma garota voluptuosa do guarda sol amarelo ao lado. A garota audaciosa sorriu para Micaela depois de dar um gole em sua cerveja, e pela primeira vez a caipira pôde sentir o sabor amargo e destrutivo, da palavra ciúmes.
***
O jantar apesar de farto e demorado não amenizara a fome de Micaela, que decidida se arrumava, não se importando com os olhares questionadores de Isabella.
— Vai sair? — A caipira solta com voz rouca, tentando controlar o desespero que lhe bate, ao pensar em Micaela longe dali.
— Aham.
A resposta direta e curta a cala e sem alternativas ela se martiriza, ao mesmo tempo se deleitando com o cheiro da morena que se intensifica, com o perfume que usa. Sua roupa é simples e arrebatadora, em sua opinião é a mais perfeita combinação. A calça jeans skinny colada em seu corpo e a camisa de botão com pequenas flores, que ela deixa desabotoada até quase o meio dos seios, as mangas dobradas e o cabelo bagunçado, seu coração pula e festeja perturbado pela imagem e seu cérebro ralha de volta irritado, racional e orgulhoso grita para que não pareça tão abobalhada e só então se apruma, pois poderia vir a babar como um bebê, diante da falta de maturidade em lidar com a situação.
Micaela sai.
Não diz uma palavra.
E Isabella enfrenta a maré, desta vez de lágrimas, que arrebentam em seus olhos fechados e lamentosos. Não tem forças nem para disfarçar, é um choro livre que vem prendendo há tempos. Sentada com as mãos em seu rosto o soluço sai incontrolável e ela não percebe quando a porta se abre novamente, para uma Micaela que volta para buscar algo que esqueceu.
— O quê foi? — A morena corre até ela e se ajoelha numa preocupação evidente.
E Isabella desaba em um susto e em mais lágrimas, quase se jogando em seus braços. A abraça forte, os olhos molhados marcando toda sua roupa, mas ela não se importa! Por ela molhava ainda mais, se isso impedisse sua morena de lhe deixar.
— Isa, pelo amor de Deus, fala comigo! Não fica assim... O que houve? — A confusão de Micaela é tão evidente que a garota funga tentando se controlar, enxuga seus olhos e a olha. Mas é impossível não admirar o quanto é linda, o quanto gostaria que ela tivesse se vestido assim para ela e não para uma outra qualquer, de um guarda sol idiota qualquer, de uma cidade qualquer.
— Eu... Eu... Você vai sair e nem me convidou... — Covarde! Ela se ofende de tantos nomes quanto possível. O ódio de si mesma e de sua covardice a destrói. Ela só queria poder ter coragem de dizer, de fazer, de sentir...
— Desculpa caipira... — A morena ri sem graça e ao mesmo tempo aliviada. — É... Que...
A campainha toca interrompendo sua fala. Seu pai a chama e ela se levanta com os olhos que pedem silenciosas desculpas.
— Mica, uma moça está te chamando lá fora. — Silvia grita da porta, e Isabella vira o rosto para que a mãe não veja seu choro.
— Até daqui a pouco. — A morena se despede baixo, numa decisão necessária, para evitar que tome seu rosto em suas mãos e beije a boca inchada e avermelhada que ela fica quando chora.
Isabella então percebe, também pela primeira vez, o que é sentir uma mistura de sentimentos, ao mesmo tempo. Ódio, desejo, ciúmes, decepção... Ela mastiga e digere cada um deles, num aprendizado que sem saber levaria para vida. Num acesso de loucura se deita na cama que Micaela usa e espera, acordada, por sua volta. Enquanto apenas o cheiro da morena ainda impregnado no ar, lhe faz companhia.
Fim do capítulo
Entre Razões e Emoções kkk XD
me perdoem os fãs de NXzero, mas eu era team Sálvame RBD nesse ano em que elas estão kkk
Bejiitooos de Pinguim!
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Srt_Lopes
Em: 20/05/2021
Fera aquii, vou ficar usando essa conta para comentar.
Tadinha da Isa sofrendo horrores pela Mica, porém bem que ela poderia tomar uma atitude né? Mas bichinha né, tá sofrendo uma baita confusão e a Mica não colabora nenhum pouco, e a pobre é tapada e ainda não percebeu os motivos dos choros da caipira, estou doidinha para descobri como a Isa vai declarar esse amor, tô amando a história
Todas as vezes que comentar terei que enaltecer sua escrita
bjoos poste logo o próximo capitulo estou amando
PS: saudades do tritão e da sereia
ps2: você poderia postar com mais frequência né?
Resposta do autor:
Fera, você leu meus pensamentos kkk #FicaDica
Inhaaaaaa, muito obrigada, sei bem tem muitos erros gramaticais, eu sempre tento editar ao máximo, mas agradeço de coração que vocês apreciem a estória e o texto de coração, muuuuito obrigada s2 s2 s2
PS: AMO essa receitinha diet de Tritão e Sereia kkkk
Ps2: Prometo me esforçar!!! Rsrs
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patty-321
Em: 20/05/2021
Eita. Grande confusão. Oh dificuldade. Estão perdidas. Eu lembrei da estória. Sua escrita é maravilhosa, as vezes parece poesia. Parabéns e sou grata por vc compartilhar. Bjs
Resposta do autor:
Seu comentário me trouxe um sorriso muuuuito grato e feliz, eu amo poesia e agradeço de verdade por vocês estarem dando mais uma oportunidade para essa escritora amadoramrsrs
um beijoooooo e hoje tem cap novo ^-^
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Bibiset Em: 05/05/2023 Autora da história
Quem viveu sabe rsrsrs Época boaa, mas nossa era uma explosão de hormônios, a gente ficava aturdida mesmo hihi