Oi, meus amores! Cheguei com mais um capítulo caprichado pra vocês! Espero que gostem! Não esqueçam de me seguir no Twitter: @Patty5hepard, de comentar bastante pra eu saber que vocês estão gostando e principalmente não esqueçam que daqui a 15 dias tem mais!
Capitulo 26
— Você me acha uma amiga relapsa? — a voz de Helena soou baixa enquanto encarava o teto do quarto de Alysson, dormiria na casa da amiga naquela noite pelo simples motivo de estar com medo de ficar sozinha na própria casa.
— Com certeza. — Alysson respondeu de maneira simples, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. Desligou as luzes do quarto e em seguida foi andando até a sua penteadeira, ligou a luz da luminária que ficava em cima da mesma, a luz não era forte, mas por causa dela o quarto não ficava 100% escuro, sabia que Helena tinha medo do escuro.
A mexicana contorceu a expressão em uma careta com a resposta tão direta da ruiva e ficou em silêncio, pensativa com aquela situação enquanto sentia a mulher subindo na cama e vindo para perto de sí, Alysson se aconchegou contra Helena até deitar a cabeça no ombro direito dela de forma completamente confortável. Helena se ajeitou só um pouco para deixar a amiga confortável, aquela posição era comum entre elas, Alysson gostava de dormir daquele jeito.
— O que está se passando na sua cabeça? — a ruiva questionou em tom baixo, preguiçoso, estava tarde e consequentemente estava com sono.
— Tanta coisa. — respondeu. Respirou fundo enquanto enrolava alguns fios do cabelo ruivo em seus dedos na tentativa de se distrair um pouco.
Alysson ficou em silêncio, Helena dormindo em sua casa não era algo anormal, mas naquele momento em sí e depois de todo aquele dia perturbador, ela tinha absoluta certeza de que tinha um motivo por trás disso e só tivera ainda mais após aquela primeira pergunta.
Quando voltara para a Galeria mais cedo, encontrara Helena totalmente diferente de como estava pela manhã, Mia havia deixado a mexicana completamente iluminada e relaxada mais uma vez e as três conversaram por um bom tempo, mas não a respeito do que havia acontecido, apenas amenidades, até o momento em que Mia tivera que ir embora por ter compromisso no restaurante e as duas amigas ficaram a sós, mais uma vez ignorando o que havia acontecido.
— Eu deveria ter insistido? — Ally questionou de forma repentina, mas Helena entendeu a que ela se referia.
— Eu não tenho a resposta pra isso. — Helena comentou. Respirou fundo antes de continuar. — Mas acho que estou me perdendo, na verdade, tenho certeza que estou. Preciso conversar sobre isso com a Samantha, mas também preciso conversar com você. Ontem de madrugada eu fiquei perturbada da pior forma possível depois de ter um novo pesadelo e mais uma vez acabei no bar na tentativa de ter algum tipo de alívio pra todo o terror que eu estava sentindo, eu estava totalmente perdida, como se não tivesse rumo nenhum na minha vida, só aquele vazio que me engolia mais e mais e nem mesmo o bar me ajudou. — a artista franziu o cenho com as lembranças daquela madrugada, em especial o momento que enfrentara aquela dançarina. — É claro que eu tinha que encontrar a Mia lá, o destino parece que quer que ela esteja presente sempre na minha vida. — comentou em tom meio irônico, mas triste ao mesmo tempo. — Acho que senti ciúmes dela ontem e eu não sei o que aconteceu, mas de repente eu não tinha mais controle de mim, o que me controlava era a minha raiva de tudo, o desespero... Mas de repente eu estava ameaçando a garota que estava rondando a Amélia, ameaçando de forma violenta, do mesmo jeito que o Trevor fazia comigo, exatamente do mesmo jeito. — a voz parecia ir ficando mais baixa, por que precisava forçar a sí mesma para conseguir verbalizar aquilo que a destruía.
Allysson ergueu a cabeça nesse momento, o cenho franzido e o olhar meio alarmado encontrou-se ao de Helena, o cenho de Helena se franziu completamente enquanto prendia o choro ao ver aquele olhar de Ally, o olhar mudando repentinamente, gritando um pedido mudo de desculpas e por mais que aquilo tivesse sido uma extrema surpresa para Alysson, ela viu na expressão de Helena, o quanto aquilo havia a aterrorizado e a machucado de forma inimagináveis, ela via, ela conhecia aquele olhar, já o vira centenas de vezes quando Helena estava intimidada por Trevor e fazendo as vontades dele por sentir medo, a ruiva soltou um suspiro derrotado enquanto virava-se se afastando um pouco e deitando de barriga para cima para poder olhar pro teto.
Helena sentiu um salto no coração com a reação de Alysson e notou como se importava com o que ela pensava, como era importante para ela o que a amiga pensava, como conseguiu esconder dela tanta coisa? Com certeza tinha a resposta para isso: Era vergonha. Porém, seu coração foi aquecido quando sentiu em sua mão o toque de Alysson, os dedos se entrelaçaram com cuidado e a ruiva puxou a mão de Helena para sí, apertando-a de maneira firme.
— Seu medo me lembrou de anos atrás. — Alysson falou baixo e franziu um pouco o cenho. — Quando estávamos na sua sala conversando, você não estava conseguindo abrir bem o olho esquerdo por causa de um soco provavelmente, você nunca me disse o que foi é claro, sua boca também estava com um hematoma, mas era claro o que tinha acontecido, mas o que você me disse foi...
— Ele só estava um pouco irritado, não foi nada demais. — Helena sussurrou, tão viva estava em sua memória aquela lembrança.
Alysson riu, mas riu sem vontade alguma.
— Isso. — concordou.
— Foram socos... Alguma coisa que eu fiz durante o café da manhã fez ele pensar que eu estava o tratando de forma fria.
Apesar de saber dos golpes, ouvir da boca de Helena não lhe causou uma sensação boa, a mulher ficou em silêncio por alguns segundos, pensando naquelas palavras, naquele momento e no passado, mas logo quebrou o silêncio.
— Seu olhar está igual, exatamente igual. — confirmou enquanto sentia um certo alvoroço em seu estômago. — Ele está te aterrorizando tanto assim?
— Está.
— Merda, nem preso ele te deixa em paz.
Allysson moveu-se novamente e se ergueu até sentar na cama, ajeitou-se até ficar de frente para a morena ainda deitada. Helena tinha o olhar extremamente acuado e até um pouco alarmado como se estivesse com medo do que viria a seguir.
— Calma. — Ally falou baixo, ainda segurava a mão de Helena, puxou-a para cima e deu um beijo carinhoso na mesma. — Só estamos conversando, Helena, eu não vou fazer nada com você e você sabe disso.
Helena soltou o ar com um pouco de força e riu logo em seguida enquanto desviava o olhar e balançava a cabeça de forma negativa.
— Não é medo que me machuque, acho que é só medo da sua desaprovação, nem sempre isso fica nítido, mas o que você pensa sobre mim é extremamente importante. Nesse momento você é a pessoa mais importante que eu tenho perto de mim, Ally, tanto quanto as minhas irmãs.
— Você não precisa da minha aprovação pra nada, Helena.
— Da sua aprovação não, mas de você em sí, eu preciso.
Ally soltou um suspiro com aquelas palavras, mas em seguida sorriu fraco, não tinha como não sorrir depois de ouvir aquilo, mas riu logo em seguida.
— Me senti no meio de um clichê lésbico.
Helena gargalhou e o som da risada da mexicana contagiou à ruiva e logo as duas estavam rindo juntas. Quando as risadas sessaram, Ally voltou a ficar um pouco mais séria.
— Você ama a Mia não ama? — questionou em tom baixo.
— Amar é uma palavra muito forte. — respondeu enquanto franzia o cenho.
— A forma como você se acalmou com ela hoje deixou as coisas muito claras, Helena.
— Ela estava comigo quando eu tive uma das crises após um pesadelo, então ela entende, ela soube o que fazer.
Alysson arqueou uma sobrancelha como se estivesse acusando Helena de algo, isso fez a mexicana rolar os olhos enquanto desviava o olhar.
— Eu gosto dela muito mais do que eu deveria. — voltou a encarar Ally logo em seguida, seu coração saltou dentro do peito com aquela confissão, mas respirou fundo enquanto desviava os olhos para encarar o teto. — E eu confesso que eu não queria gostar dela tanto assim, isso me deixa tão assustada por que eu não estou nem perto de estar em condições de conseguir me doar para alguém e ela não merece isso.
— Você acha que não está se doando pra ela? — Alysson riu por alguns segundos, realmente riu. — Helena, você precisa prestar mais atenção em seus próprios atos e sentimentos e principalmente prestar mais atenção na Amélia, você está tão convicta de que não é capaz de entrar em um relacionamento agora que fecha os olhos completamente... — a ruiva parou suas palavras de repente quando ouviu batidas na porta do quarto, olhou para trás.
— Meninas? — a voz baixinha soou do outro lado da porta.
— Entre Vovó, ainda estamos acordadas. — Ally falou um pouco alto e logo ouviram a porta sendo aberta para no segundo seguinte o quarto se iluminar de uma vez por todas quando uma senhora baixinha e de cabelos brancos acendera a luz. A senhora franzina vestia uma camisola branca e cumprida que ia até quase os seus pés e os cabelos brancos, bem escovados estavam soltos até seus ombros, nas mãos carregava com todo o cuidado uma bandeja de madeira com duas canecas.
— Percebi carinhas tristes quando chegaram. — ela falou enquanto andava devagar até a cama e com todo cuidado colocava sobre a mesma a bandeja. — Fiz chocolate quente para as duas, está frio e chocolate quente aquece o corpo e o coração. — ela falou de forma atenciosa enquanto pegava uma das canecas com ambas as mãos pequenas, ela tremia um pouco, por isso segurava com cuidado quando estendeu a primeira caneca para Alysson que a pegara com igual cuidado. Pegou a outra caneca e com o mesmo cuidado foi até Helena que a essa altura já havia sentado. — Eu soube que você ficou doente esses dias, então acrescentei algumas especiarias para aumentar a sua imunidade, minha flor.
— Vó, você é tão maravilhosa. — Helena praticamente gem*u de tão derretida que ficara com aquele ato da mulher mais velha. — Ah se eu fosse um pouco mais nova, você não me escaparia.
— Oh, querida. — ela levou a mão ao coração como se estivesse lisonjeada com aquelas palavras, mas deu pequenas risadas enquanto sentava na beirada da cama. — Por que ainda estão acordadas?
— Estávamos conversando sobre os problemas da Helena. — Ally comentou antes de dar um gole generoso no chocolate, era apaixonada por qualquer coisa que a sua avó cozinhava. — E sobre a Amélia.
— O Trevor? — Helena acenou positivamente com a cabeça junto com Ally. — Oh... Que decepção. — a idosa balançou a cabeça negativamente. Ally e Helena se encararam com sorrisos divertidos nos lábios por que já sabiam o que viria a seguir, pela milionésima vez, a vó de Alysson iria contar toda a história de como fora uma grande decepção descobrir que Trevor, o homem que ela vira crescer, se tornara um monstro.
— Já sabemos que ele foi uma decepção por que você viu ele crescer, Vovó. — Ally tentou se livrar do grande monólogo que viria a seguir, mas o que recebeu em troca fora um olhar repreensivo por ter atrapalhado a mulher mais velha. Isso fez ambas as mais novas rirem em uníssono.
— Também foi uma decepção pra mim, Vó, eu entendo bem a senhora. — Helena falou de forma compreensiva e deu um sorriso terno para a mulher mais velha a qual realmente considerava como a sua avó, porém, nem isso foi o suficiente para que um monólogo gigante começasse, extremamente detalhado sobre desde o primeiro momento que a vó de Alysson vira Trevor criança, até o momento em que descobriu através da neta o que ele estava fazendo com Helena. Mas pelo menos toda a história repetida centenas de vezes tivera um efeito positivo naquela noite e junto com o chocolate quente, trouxe o sono que Helena precisava para descansar.
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— Já conversamos sobre paralisia do sono, mas você quer que eu lhe explique mais uma vez o que é? — Samantha questionou naquele tom suave de sempre.
Helena negou com um aceno de cabeça enquanto andava pela sala da psicóloga e olhava para tudo que pudesse lhe distrair um pouco, estava inquieta naquele dia, não vinha dormindo bem e isso começava a lhe afetar em tudo.
— Lembro do que me falou e também já pesquisei, mas continua sendo inacreditável como pode parecer tão real no momento. — comentou de forma vaga, Samantha concordou com a cabeça.
— É claro, o inconsciente do ser humano é capaz de coisas inimagináveis. — Samantha comentou enquanto escrevia algumas coisas no papel pregado a prancheta apoiada em sua coxa. — Como eu já te disse antes e como você já viu na internet, há tratamento. — Samantha explicou e ergueu o olhar logo em seguida. — E por isso mesmo eu adoraria que você sentasse para debatermos isso de forma correta.
Helena parou de andar e encarou a mulher sentada que a olhava de forma fixa, não pestanejou, apenas concordou e foi andando até o sofá que ficava de frente para a sua psicóloga e sentou-se bem no meio, cruzou as pernas devagar para ficar mais confortável, estava tão cansada.
— Está com medo de dormir? — a psicóloga questionou de forma direta.
— Estou. — respondeu com sinceridade.
— Por quê?
— Não é obvio?
— Verbalize o motivo.
Helena respirou fundo, mas acatou.
— Estou com medo de ter mais um episódio e ver o Trevor novamente, é como se a cada novo episódio ele ficasse cada vez mais ameaçador e mais próximo de me machucar.
— E por que você acha que isso está acontecendo?
Helena deu de ombros e negou com um aceno de cabeça.
— Eu realmente não sei.
— Não é obvio? — a psicóloga repetiu as palavras de sua paciente e Helena riu por breves segundos, mas sem muito ânimo. — O que ele falou da última vez?
— Questionou se eu estava o traindo.
— E você está?
Helena franziu o cenho com a pergunta, sem entender onde Samantha queria chegar com aquela conversa.
— Mas é claro que não. — Helena defendeu-se em seguida. — Eu nunca o traí, nunca fui capaz disso.
— Você está o traindo? — Samantha insistiu, mesmo diante a negativa de Helena.
— Eu nunca o traí. — a morena reforçou em tom mais firme.
— Helena. — Samantha foi mais firme desta vez. — Você está traindo o seu marido?
A mexicana sentiu por um momento um desespero com aquela acusação, o coração pulou dentro do peito enquanto a respiração acelerava.
— Eu já disse que nunca fiz isso, por que está insistindo nessa pergunta, eu nunca fui capaz de trair ele, eu sempre fui fiel, Samantha! Ele não tem o direito de me acusar tanto de algo que eu nunca sequer pensei! — o desespero da morena era palpável diante aquela justificativa, como se necessitasse provar sua fidelidade a todo custo, como se a sua vida dependesse disso.
Samantha respirou fundo, a posição mudando um pouco, ficando mais relaxada, como alguém que tinha acabado de conseguir o que queria, seu olhar acusatório mudou para aquele olhar de compaixão.
— Respire fundo, calma, Helena. — ela pediu e gesticulou com a mão direita enquanto de forma bem expressiva respirava fundo para que Helena a acompanhasse e a mexicana realmente o fez. — Calma, pense no que você acabou de fazer.
— Eu não... — parou para segurar o choro e engoliu o bolo que se formava em sua garganta, negou com um aceno de cabeça. — Eu não sei.
— Você não está traindo o Trevor, Helena. Por que você não está mais com ele, você é solteira, é completamente livre. — Samantha pontuou de maneira bem firme, afinal, Helena havia agido de forma completamente contrária, como se estivesse realmente se defendendo de uma acusação, como se ainda estivesse casada com Trevor. — É por isso que seus episódios de Paralisia do Sono estão ficando mais intensos, por que você está cada vez mais afeiçoada a Amélia... Todas as cicatrizes que você tem marcadas em seu consciente e em seu inconsciente, estão gritando que você tem, falando de forma muito grosseira: Você tem dono. — a mulher gesticulava calmamente com as mãos, para que Helena entendesse muito bem o que ela queria dizer. — Eu a acusei de propósito apenas para ver a sua reação e a única reação que você teve foi explicar e tentar provar a sua fidelidade a alguém a qual você nunca pertenceu.
A mexicana inclinou-se sobre suas coxas enquanto as mãos deslizavam pelos cabelos, estava incrédula diante daquela situação, tanto que os olhos abertos estavam completamente vazios diante aquilo, fora um baque tão grande que ela realmente não sabia como reagir aquele momento, as mãos dela começaram a tremer assim como o fôlego começava a ficar muito curto. Samantha percebeu e por isso mesmo agiu rápido ao erguer-se da poltrona e aproximar-se de sua paciente, sentou-se na mesinha que as dividia, bem de frente a mulher.
— Helena. — a chamou de perto e o susto perante a aproximação fez a mexicana erguer o olhar de maneira repentina. Samantha estendeu as mãos para a sua paciente. — Eu preciso que você se acalme, ok? Então me dê suas mãos. — pediu, Helena acatou e estendeu ambas as mãos para a mulher a sua frente, o toque dela era quente e o aperto que sentiu em ambas as mãos fora bem forte. — Agora feche os olhos e respire comigo, lenta e profundamente. — ela pediu e em seguida respirou bem fundo e de forma mais audível para que Helena ouvisse. A mexicana, de olhos fechados, quando ouviu a respiração da mulher a sua frente, foi automático, respirou fundo junto, o mais fundo que conseguia e logo em seguida soltou o ar devagar. — Muito bem, mais uma vez. — pediu e repetiu o processo, apertou mais as mãos de sua paciente, apertava com força para que a pressão em suas mãos a impedisse de sair da realidade. — Perfeito, Helena, agora me responda, que dia é hoje?
— Sexta feira. — Helena respondeu logo.
— Que horas você chegou aqui?
— Às 14h.
Samantha sorriu fraco enquanto afrouxava o aperto na mão da mulher e em seguida com o polegar acariciava a pele morena.
— Muito bem, Helena. — elogiou em tom carinhoso enquanto sorria fraco ainda.
Helena abriu os olhos e encarou a mulher a sua frente com o cenho levemente franzido, mas muito mais calma do que antes.
— Quero que toda vez que você sentir que está prestes a se perder, faça isso. Eu sei que parece bobo, mas às vezes estímulos simples como esse onde te façam lembrar onde e quando você está, ajudam você a manter os pés no chão. — explicou devagar enquanto soltava as mãos de Helena com cuidado.
Helena olhou para as próprias mãos logo em seguida e respirou fundo mais uma vez, não tremia como antes e isso lhe passava uma sensação boa, de alívio.
— Obrigada. — falou baixo e ergueu o olhar novamente, ainda um tanto surpresa com o momento.
Samantha apenas sorriu em resposta antes de se erguer e ir andando até uma mesinha próxima onde havia uma jarra de água e alguns copos virados para baixo, pegou um deles e despejou água até a metade e logo voltou para próximo a Helena, deixou o copo em cima da mesinha onde antes estava sentada.
— Tome, beba um pouco. — pediu ante de se afastar para voltar para seu lugar. Em seguida ficou em silêncio vendo Helena entornar o copo com água em goles lentos, mas ela bebeu tudo, o que fez Samantha pensar se ela estava se alimentando direito diante a nova situação em que se encontrava, com medo de dormir, ela estava mais abatida do que na semana passada e tinha olheiras em torno dos olhos, não muito fortes, mas que só deixavam claro que Helena realmente não estiava brincando quando comentava do seu medo de dormir, apesar de Samantha saber que em casos de Paralisia do sono, o medo de dormir era algo extremamente comum. — Há dois tipos de tratamento para a paralisia do sono, Helena, nós vamos tentar um deles, ok? Se não der certo e eu espero que dê, recorreremos a exames clínicos, o que é completamente comum, ok? Esse tratamento não é algo que vai funcionar de uma hora para outra, é um processo lento, assim como a terapia em sí é e no seu caso principalmente.
Helena concordou com um aceno de cabeça, sentia-se um pouco acuada diante a tantas novas informações.
— Eu irei digitar tudo e te mandarei por e-mail para que você comece hoje, mas de antemão é algo simples, consiste em criar uma atmosfera mais tranquila para que você durma melhor, ou seja, vamos melhorar a sua qualidade de sono, uma meditação antes de dormir, uma luz diferente no quarto, um cheiro que te traga segurança, tudo isso influencia demais na qualidade de sono que você pode ter. Horários fixos para dormir, evitar estresses a noite, são pequenas coisas de verdade, não vai exigir nenhum grande esforço de você. — sempre naquele tom pontuado, Samantha gesticulava devagar com a mão direita para que Helena entendesse bem.
A mexicana apenas concordou mais uma vez com um aceno de cabeça, não sabia muito bem mais o que falar, estava pensativa, toda a consulta que tinha com Samantha acabava daquele jeito, mas era bom, esclarecia coisas que ela nunca havia percebido, mas que faziam tanto sentido que era no fim extremamente devastador para ela aceitar fácil. Precisava pensar muito bem em tudo aquilo e aceitar o fato de que ainda era completamente submissa ao medo que sentia de Trevor.
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— Como você está? Muito ansiosa? — Helena questionou em tom baixo, estava sentada no banco traseiro do taxi e havia acabado de sair do consultório de Samantha.
— Sinceramente não sei descrever bem como estou me sentindo. — Mia falou do outro lado da linha, mas riu fraco antes de mudar de assunto. — E você? Como foi a terapia?
— Devastadora como sempre, sinto que estou pagando para ser escorraçada. — Helena reclamou em tom dramático, mas sorriu fraco em seguida. — Mas eu estou gostando, estou abrindo os olhos para coisas que não enxergava antes.
— Será que eu posso dizer que eu estava certa o tempo todo? — Mia implicou.
— Vai se foder, Amélia. — reclamou.
As duas riram juntas por poucos segundos.
— Está em condições de vir hoje? Se quiser ficar em casa no seu momento, eu entendo...
— Nem pense nisso, eu não faltaria essa noite por nada, Amélia. Hoje é sobre você e seu pai, não sobre mim. — a mexicana falou em tom mais firme e respirou fundo logo em seguida antes de sorrir fraco, céus, como achava Mia incrível, balançou a cabeça de forma negativa ao rir de seus próprios sentimentos. — E eu vou adorar rever a sua família.
Mia gem*u do outro lado da linha.
— Meu Deus, eles vão te colocar em um pedestal maior que o da última vez.
Helena riu por alguns segundos.
— Está tudo bem, eu posso suportar isso, é bom, me sinto muito bem vinda. — respondeu enquanto sorria, era verdade, recordava do aniversário que fora e de como fora bem tratada por aquelas mulheres.
— Ah! O Hernando vai te buscar, ok? Ele mesmo insistiu nisso.
— Eu devo me preocupar com essa insistência? — questionou enquanto focava seu olhar para fora da janela do carro vendo que já estavam chegando em sua casa.
— Eu realmente não tenho a mínima ideia.
Helena riu.
— Tudo bem, eu vou esperar ele, se eu não aparecer no restaurante pelo menos você saberá quem foi o assassino.
Mia gargalhou.
— Quanto drama!
— Ah você sabe, apesar de que atualmente estarmos em um momento bom, eu e ele não começamos muito bem.
— Ah, isso me soa tão familiar. — Mia implicou e Helena riu mais uma vez, ficou com um sorriso meio bobo no rosto, satisfeita por que conversar besteiras com Mia daquele jeito sempre a deixava tão bem, mesmo acabando de sair de uma sessão turbulenta de terapia, aquilo era extremamente revigorante. — Agora eu preciso ir, o Fred precisa de ajuda.
— Tudo bem, até mais tarde, Amélia.
— Até, Helena.
A ligação findou-se e Helena encarou a tela do celular com um sorriso pequeno nos lábios, sentia-se definitivamente mais leve, Mia como sempre ligara na hora certa, ela tinha um timming incrível. Apesar de realmente querer ficar em casa durante todo aquele dia, digerindo aquela sessão de terapia, realmente queria estar ao lado de Mia naquela noite, tendo em mente como a morena ficava claramente sensível quando o assunto era o seu pai, era a sua vez de dar apoio à morena.
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— É surreal como ela consegue me ler tão bem. — Helena falou enquanto se concentrava em colocar o brinco na orelha esquerda.
— Ela estudou pra isso não é mesmo? — Alysson rebateu.
— E ela consegue me acalmar fácil, depois é claro de me fazer quase surtar. — franziu o cenho enquanto se olhava no espelho e logo em seguida saia do banheiro. — Que tal?
— Faz muito sentido o que ela falou, você realmente se desestabilizou um pouco depois que a Mia começou a se aproximar mais. — Alysson comentou de forma pensativa enquanto esfregava a barriga de Vadia, estava deitada no meio da cama e a gatinha aconchegada contra seu corpo. Desviou o olhar quando ouviu a pergunta da mexicana e a encarou. — Você está uma grande gostosa. — elogiou. A mexicana usava uma calça social preta de cintura alta que ficava bem justa em sua cintura e a marcava com perfeição, em complemento usava uma camisa vermelha de botões e sem mangas que ficava um pouco justa em seu corpo, a gola estilo colarinho estava bem alinhada, dando um ar sério a morena, os cabelos escuros estavam soltos e levemente ondulados, nos pés saltos pretos que combinavam com a calça.
Helena sorriu de forma um pouco larga enquanto andava até o espelho do quarto onde podia ver o corpo inteiro, enfiou as mãos nos bolsos da calça enquanto fazia pequenas poses só para checar se estava tudo mesmo bem.
— Sim, mas não é nada fácil aceitar isso. Eu estava ficando desesperada querendo que ela entendesse que eu jamais trairia o Trevor sem perceber que eu estava agindo de uma forma como se eu ainda estivesse com ele. — parou o que fazia e suspirou enquanto olhava para o próprio reflexo, felizmente a maquiagem disfarçava qualquer indício das noites mal dormidas e do fato de ter quase desidratado de tanto chorar quando chegara em casa mais cedo.
— Você sempre tentou enfatizar pra mim também que não o traía, apesar de que isso era uma coisa que eu nunca duvidei. — Ally lembrou e sorriu fraco. — Claramente o terror psicológico que ele fazia era grande demais pra você suportar, pra qualquer um na verdade. Mas ele bem que merecia um belo par de chifres.
Helena riu com as últimas palavras da amiga e concordou com um aceno de cabeça.
— Merecia, mas eu não sou esse tipo de pessoa.
Ally ergueu-se da cama devagar e foi andando em direção a Helena até abraçar a amiga por trás e as duas encararam seus reflexos no espelho.
— Não, você não é. Você é incrível e sempre manteve seus princípios apesar de tudo e você agora é livre e precisa sempre se convencer disso. — deu um beijo no rosto da amiga. — E pelo amor de Deus, você está linda demais. — se afastou da mexicana e não hesitou ao dar um tapa estalado na bunda dela.
A mexicana gargalhou por alguns segundos, um sorriso ficando marcado em seus lábios enquanto observava Ally se afastando, quando ia responde-la, ouviu a campainha de sua casa tocar.
— Deve ser o Hernando. — comentou e se afastou do espelho e foi até o criado mudo onde deixara seu celular e uma pequena carteira que cabia em seu bolso, guardou ambos.
— Amanhã volto aqui pra saber como foi, estou ansiosa pelos detalhes dessa noite. — Ally falou enquanto já ia andando para fora do quarto, Helena fazia o mesmo e Vadia obviamente seguia as duas a miados achando que ia ganhar comida. — Pode ir, eu vou abastecer a comida dessa pequeno dragão e vou embora.
As duas pararam ao mesmo tempo no meio do corredor para trocar um abraço caloroso.
— Aproveite bem. — Ally falou em meio ao abraço e logo em seguida se afastou.
— Obrigada, Ally. — falou não só por aquilo, mas por tudo, a ruiva entendeu, mas respondeu somente com um sorriso carinhoso enquanto Helena se afastava a passos mais largos para não deixar Hernando esperando.
Assim que abriu a porta foi muito bem recebida pelo cheiro gostoso que Hernando exalava e principalmente pela visão que tinha do rapaz, o arquiteto vestia uma calça social de cor bege e uma camisa de algodão branca com mangas cumpridas com um colarinho pequeno e meio arredondado, tinha apenas três botões do colarinho até o meio do peitoral, dos três apenas um estava desabotoado, nos pés elegantes mocassins de cor mostarda e aveludados.
— Hernando! — saudou o rapaz e imediatamente o recebeu com um abraço que foi completamente retribuído.
— Helena! Você está maravilhosa. — ele falou enquanto se afastava só um pouco da mulher para olhá-la melhor.
— Você também, sempre impecável. — ela elogiou de volta e o homem riu por breves segundos.
— Vamos? — questionou.
— Com certeza. — falou enquanto se afastava da porta e em seguida a fechava.
— Achei que a Mia não me perdoaria se eu te deixasse ir sozinha hoje. — Hernando explicou enquanto andava até seu carro e logo abria a porta do passageiro para Helena.
— Imaginei que tinha um dedo dela nisso. — Helena comentou enquanto se aproximava. — Obrigada. — agradeceu antes de entrar no carro. Hernando fechou a porta e logo deu a volta no veículo e o adentrou.
— Apesar de que ela não me pediu, só antecipei os passos dela, hoje é um dia que eu prezo que tudo saia perfeito pra agradá-la de alguma forma. — comentou enquanto colocava o cinto e logo em seguida dava partida no carro.
— Me prepare para esta noite então. — pediu, afinal, ficara um pouco intrigada com as últimas palavras do arquiteto.
— Esse dia é uma grande honra para a Mia, mas também é uma grande mágoa, a morte do pai dela é uma coisa que ela nunca superou e nunca vai superar de forma alguma por que era apegada demais a ele. — Hernando começou a explicar enquanto ia dirigindo devagar, com atenção na estrada. — Ela tenta parecer forte, mas no fim sempre vai acabar destruída, bêbada e chorando tudo o que guardou durante todo o ano. Então eu tento dar todo o apoio possível com pequenas coisas, não tratar ela de forma diferente ou com pena...
— É perceptível a sensibilidade que ela tem ao falar do pai.
— Mas é uma noite divertida, é realmente uma festa. A família paterna dela é italiana, como você sabe, sempre vem alguns e eles falam alto demais e são muito calorosos, a família da Vera você já conhece, uma bagunça só, então junte tudo isso num lugar só...
— Muito barulho, muitas risadas, algo me diz que me sentirei em casa.
— Os mexicanos são assim? — Hernando riu.
— Um pouco piores.
Hernando riu ainda mais e Helena acabou rindo junto.
— Mas e o Drew? Não vai hoje?
— O Drew está visitando os pais e os pais dele são complicadíssimos, então esse ano ele vai ficar em falta com a Mia, mas ela entende, ela sabe como os pais dele são.
— Complicados como? A Mia me falou algo sobre isso.
— Eles exigem uma perfeição desnecessária do Drew e de todos em torno dele, são o típico casal de classe alta que amam status. Queriam que o Drew fosse médico, ele optou pela fisioterapia, queriam o Drew casado com uma mulher exemplo, dona de casa, o Drew se assumiu gay, eles dizem que aceitam, mas não é completamente, então procuram os mínimos detalhes fora do lugar para criticar e reclamar, já briguei muito com eles e nossa convivência não é legal e eu odeio ter que encontrar os dois, é uma pressão imensa. — o rapaz gesticulava com certa classe com uma mão enquanto a outra estava bem firme no volante, mas ele não desviava os olhos da estrada em momento algum.
— Na época que eu fazia faculdade eu via muitos pais assim, pra muitos uma grande desonra ter um filho fazendo Artes plásticas, eu achava extremamente absurdo. — franziu o cenho e olhou para Hernando por breves segundos. — A Mia teve sorte não é? Ter se rebelado e ido para Design de interiores quando praticamente toda a família é do ramo da culinária.
— Ela teve e o pai dela parecia mais empolgado do que ela naquela época, ele ficou mais feliz pela coragem dela do que pela escolha do curso. Acho que o curso que ela tivesse escolhido ele teria aceito com muito prazer só por causa disso.
— Você chegou a conhece-lo?
Hernando acenou de forma positiva com a cabeça.
— Sim, conheci. Um homem incrível e muito divertido, a Mia parece muito com ele fisicamente. Ele morreu um ano depois que eu e a Mia nos conhecemos. — explicou enquanto parava o carro em um sinal vermelho, tamborilou os dedos no volante por poucos segundos antes de respirar fundo. — Queria conversar sobre algo com você, Helena.
Helena arqueou uma sobrancelha ao notar a repentina mudança de postura de Hernando, umedeceu os lábios devagar antes de acenar positivamente com a cabeça.
— Pode falar. — mandou.
— Você gosta da Mia? — ele questionou de forma direta.
Helena riu.
— As pessoas andam me perguntando isso frequentemente. — comentou baixo e sorriu, mas acenou de forma positiva com a cabeça. — Sim, eu gosto, acho que isso é obvio.
— Você pretende levar isso adiante? — ele questionou com seriedade.
Helena umedeceu os lábios devagar enquanto olhava para Hernando, sentiu um leve nervosismo com aquela pergunta, respirou fundo, bom, pelo jeito a conversa iria tomar um rumo não muito esperado por ela.
— Eu não sei te responder isso. — respondeu com sinceridade.
— Mas eu preciso que você saiba. — Hernando rebateu e olhou brevemente para Helena. — Levou anos para a Mia conseguir se abrir de alguma forma para alguém, como se abriu para você, Helena. Anos. E eu não queria que ela depositasse mais sentimento nisso que vocês duas tem, para no fim não dar em nada, isso não vai ser saudável para ela.
Helena sentiu um alvoroço no estômago com aquelas palavras, por isso desviou o olhar e encarou a rua lá fora, as luzes passavam rapidamente, ela ficou em silêncio, pensando naquilo por alguns segundos antes de falar:
— E o que eu deveria fazer? Passar por cima de toda a minha bagunça só para não magoar a Amélia? — questionou com seriedade. — Acredite, Hernando, é tudo o que eu mais queria. — confessou e franziu o cenho em seguida antes de encarar o homem ao seu lado mais uma vez. — Eu sei que você é o confidente dela e sei que você sabe tudo ou quase tudo o que acontece comigo, você deve saber sobre os pesadelos, sobre as minhas perturbações, sobre a minha filha, sobre os meus traumas... Me apaixonar pela Amélia nunca, nunca esteve em meus planos por que eu estava plenamente ciente de que não era capaz de me doar a uma pessoa da mesma forma que ela se doaria a mim, o que, obviamente não é justo. — explicou, o tom de voz da morena era extremamente sério, quase como se ela estivesse sofrendo ao admitir tudo aquilo em voz alta. — A Amélia merece absolutamente tudo, o mundo se for possível e eu sou apenas um trapo, de verdade, o que eu iria oferecer a ela? Problemas? Traumas? Defeitos? Eu tenho medo do amor dela, eu tenho medo do carinho dela e tenho nojo de mim por isso e por não me sentir nem um pouco merecedora do que ela vem me dando. A Psicóloga falou que eu sou mais familiarizada com a dor, do que com o amor e eu ainda estou lidando com essa informação, é por isso que o carinho da Mia me da tanto medo e eu não sei como agir diante de tudo isso.
— Você imagina o quão furiosa ela ficaria se te ouvisse se diminuindo dessa forma? — Hernando questionou logo em seguida, como se estivesse brigando com Helena. Porém, ele havia sido pego de surpresa com todas aquelas palavras, era algo bem diferente do que ele havia imaginado e por um momento sentiu-se mal por ter feito aquela primeira pergunta.
— Não estou me diminuindo, infelizmente. É a mais plena realidade e a cada nova sessão de terapia isso fica pior, acredite. E eu não acho justo ela ficar com alguém com toda essa carga que eu carrego e eu sei que eu preciso conversar com ela sobre isso, mas não sei como abordar, ou não tenho coragem. — soltou um suspiro pesado antes de ajeitar-se no carro de forma um pouco desconfortável. — E quanto mais ela se aproxima, pior eu fico, tudo culpa minha. — sussurrou mais para sí mesma do que para Hernando. Mas logo negou com um aceno de cabeça ao se corrigir. — Tudo culpa dele.
Hernando respirou realmente fundo diante tudo aquilo, ainda mais por notar que toda aquela situação só ficara ainda mais complicada do que já era, Mia não sabia de tudo aquilo e ele não contaria, não se sentia no direito de o fazer. Foi diminuindo a velocidade devagar quando chegaram ao restaurante e assim que achou uma vaga para estacionar, foi manobrando o carro com calma, ainda em silêncio, até parar o veículo bem estacionado e logo o desligar.
— Helena... — ele começou e então se ajeitou um pouco e virou-se para encarar a mexicana, acendeu a luz do interior do veículo, os dois se encararam por breves segundos antes de Hernando continuar. — Eu não posso dizer que entendo os seus traumas por que não passei pela mesma coisa, mas tento compreender. A Mia com toda certeza pensa igual, mas você não se resume a isso da forma que você está resumindo. Quando sairmos desse carro, pra mim, essa conversa que tivemos nunca existiu, ou seja, não chegará ao conhecimento da Mia. Mas você deve começar a cogitar a possibilidade de falar tudo o que me falou agora, pra ela, antes de tomar uma decisão concreta, sente e converse com ela, coloque ela a par de tudo o que você sente e tudo o que você passa, não a deixe no escuro, permita que as duas tomem uma decisão certa de como vão agir a seus sentimento, os seus e os dela. Não tome essa decisão sozinha, você precisa saber como ela enxerga você e seus problemas antes de tomar a decisão certa, sem isso você não vai estar decidindo, você vai estar errando, você não pode e nem deve tomar essa decisão sozinha, entendeu?
Aquilo parecia uma grande bronca misturada a um conselho que Helena precisava ouvir, precisava tanto que ela só conseguia concordar com acenos de cabeça enquanto se esforçava para conseguir segurar as lágrimas que inundavam seus olhos e por mais que fizesse esforço para não chorar, não conseguia. Hernando soltou um suspiro ao ver o estado da mexicana e se ajeitou mais um pouco antes de inclinar-se para abrir o porta luvas e pegas a pequena bolsa de maquiagem de Mia, tinha essa e tinha a que ela deixava no próprio carro.
— Então quer dizer que você é uma chorona. — ele falou baixo enquanto tocava o queixo da mulher com a mão esquerda para segurar-lhe o rosto, segurando um pequeno lenço foi enxugando as lágrimas dela com todo cuidado para não borrar a maquiagem da mexicana.
Helena riu sem ânimo e fechou os olhos com um pouco de força para que as lágrimas acumuladas escorressem de uma vez.
— Aparentemente me tornei uma recentemente. — sussurrou e suspirou enquanto voltava a abrir os olhos, ergueu-os olhando para o teto para auxiliar a limpeza de Hernando e ele era extremamente delicado. — Obrigada pelos conselhos.
— A Mia merece ser feliz depois de tudo. — Hernando comentou baixo enquanto continuava a sua limpeza. — Você também. — completou e afastou-se só um pouco para checar se estava tudo certo. — Pronto, continua impecável. — ele falou enquanto guardava o lenço e fechava a bolsa a deixou de lado enquanto se ajeitava no banco e respirava fundo. — Certo... Vamos entrar, como você já sabe a família de Mia vai cair matando em cima de você, se você precisar de ajuda só me olhe que eu vou entender que quer ajuda, a Les, Rosie, Charlie e Finch também estão aí.
— Você está me deixando nervosa, Nando. — Helena reclamou enquanto também se ajeitava.
Hernando riu por breves segundos.
— Desculpe. — ele falou antes de abrir a porta e sair do veículo, assim que saiu foi ajeitando a roupa devagar antes de fechar a porta e foi dando a volta no carro com calma.
— Você não vai mesmo falar a ela sobre essa conversa não é? — Helena questionou.
— Que conversa, Helena? — questionou enquanto estendia a mão para a morena e a encarava com uma sobrancelha arqueada.
Ela riu, sentiu um alívio preencher o seu corpo de imediato enquanto segurava a mão de Hernando e logo ia andando ao lado dele, sentia-se confortável daquela forma, de certa forma também sentia-se sendo protegida de alguma forma. Atravessaram a rua em segundos e Helena logo viu uma pequena placa na porta com os dizeres: “Fechado ao público.” Hernando empurrou a porta devagar e soltou a mão de Helena para que ela entrasse primeiro e em seguida a acompanhou, mal entraram e logo o Maitre vinha até eles com passos rápidos.
— Hernando, seja bem vindo! — o Maitre o saudou de forma calorosa e com um sorriso nos lábios. — E você é a Helena, correto? Seja muito bem vinda!
— Matt! — Hernando abraçou brevemente o maitre. — Onde está a menina?
— A menina está na cozinha, empenhada em pratos perfeitos, sempre prezando a excelência...
— Helena! Hernando! — Leslie se aproximava já com os braços abertos para abraçar os dois. — Que demora!
— Leslie! — Helena cumprimentou a grávida com um abraço caloroso e riu ao perceber como aquela barriga havia crescido desde a última vez. — Meu Deus, como cresceu!
— Sim! Minhas costas estão gritando agora mesmo. — reclamou em tom choroso enquanto ia se aconchegar no abraço de Hernando. O homem a abraçou apertado e deu beijos carinhosos no topo de sua cabeça.
Helena olhou em volta, a primeira coisa que notou foi a placa logo a frente com uma foto de um belo homem sorridente, não teve dúvida alguma, aquele sorriso era praticamente idêntico ao de Mia, assim como os olhos e logo ao lado estava as palavras: “Em memória de Lorenzo Palermo”. Só em seguida que notou como o restaurante estava diferente, as mesas dispostas de forma um pouco diferente, mais espalhadas e as pessoas em pé, conversando, rindo, como se aquilo fosse uma festa, os garçons passavam para lá e para cá com bebidas e petiscos e a energia era surpreendentemente gostosa.
— Isso é um pouco diferente do que eu tinha imaginado. — Helena comentou.
— Sim e você está tão gostosa. — Leslie falou enquanto já puxava Helena pela mão.
Fora tudo uma verdadeira bagunça para Helena, em um momento estava nas mãos de Leslie para no segundo seguinte já estar nas mãos de Lizzie e logo em seguida passar para as mãos de Vera e toda a sua legião de irmãs e apesar de que aquilo sufocaria qualquer pessoa, não o fazia com Helena, por que a cada abraço apertado que recebia seguido de um sorriso verdadeiramente largo, seu coração parecia ficar mais aquecido pelo acolhimento que recebia daquela família, aquilo era incrível e de alguma forma lhe recordava a própria família.
— E essa deve ser a Helena não é? A famosa namorada da Amélia. — a mexicana ouviu uma voz calma bem atrás de sí, estava no meio de uma conversa divertida com Vera e suas irmãs. A morena virou-se com o cenho um pouco franzido, pronta para desmentir aquelas palavras quando deu de cara com uma senhora já de idade avançada, a boca da morena ficara entreaberta com a indecisão de desmentir ou não aquelas palavras.
— Eu não...
— Oh meu bem, deixe-me vê-la melhor. — ela esticou as mãos para tocar o rosto de Helena com carinho, à mexicana acabou sorrindo enquanto pendia a cabeça um pouco para o lado com o calor da mão macia.
— Oh. — Vera exclamou assim que viu a cena, riu por breves segundos enquanto espalmava a mão nas costas de Helena. — Helena, essa é a Evelyn, foi uma das primeiras cozinheiras que trabalharam aqui além do Enzo, viu a Mia e o Fred crescerem.
— Você é tão linda, fico muito feliz que a Amélia tenha achado alguém assim para ficar ao lado. Tão linda. — soltou o rosto de Helena com cuidado antes de descer as mãos para segurar as mãos da mexicana que estava absolutamente sem graça em desmentir aquilo, como iria fazer isso diante a uma idosa claramente feliz com um relacionamento que na verdade não existia? Ela não precisava saber disso não é mesmo?
— É isso o que eu penso todos os dias, Eve. A Helena é incrível. — Vera falou de forma calorosa.
Helena riu.
— Pelo amor... Não façam isso na minha frente, eu fico envergonhada. — Helena brincou enquanto erguia as mãos de Eve, as quais segurava, e com carinho beijou ambas. — É um prazer enorme conhecer você Evelyn, deve ter sido incrível e um grande porre aguentar uma Amélia criança, se ela já é chata hoje em dia, quando criança então...
Evelyn gargalhou e Helena acabou rindo junto.
— Plenamente aprovadíssima, Vera! — a idosa falou de forma calorosa ao olhar para Vera. — Precisamos sentar e conversar por horas, querida! — voltou a encarar Helena ao falar isso.
Helena riu um pouco mais.
— Vai ser um grande prazer fazer isso, Evelyn. — deixou claro enquanto apertava as mãos da mulher para reforçar as suas palavras.
— Eve! — alguém chamou, mas Helena não soube dizer quem foi apesar de ter olhado em volta.
— Bom, certamente isso terá que ser em um dia mais calmo! Foi um enorme prazer, meu amor. — inclinou-se logo em seguida para beijar o rosto da mexicana de forma carinhosa, se afastou e a encarou por mais alguns segundos, um sorriso que parecia tão satisfeito que fez Helena praticamente derreter de amores.
Então, a mulher se afastou, deixando Vera e Helena para trás.
— Não fui eu. — Vera defendeu-se logo de imediato.
Helena respirou fundo.
— Bom, você vai ter que convencer a Mia disso. — Helena respondeu e encarou a mulher ao seu lado com uma sobrancelha arqueada.
— Se você não negou isso deve significar algo... — Vera insinuou.
— Como diabos eu ia negar algo para aquela senhorinha maravilhosa?? — defendeu-se de imediato. — Senti que se eu o fizesse eu iria partir o coração dela.
Vera gargalhou enquanto enroscava seu braço ao braço de Helena e começava a caminhar bem devagar por entre as mesas com a amiga.
— Absolutamente todos aqui acham que você é a namorada da Amélia, é impossível desmentir isso, apenas aceite, depois podemos lançar a notícia que o relacionamento de vocês teve um fim, notícias como essa voam na minha família. — Vera riu com as próprias palavras antes de parar em frente a grande foto do falecido marido, a risada acabou em um sorriso fraco. — Mas não se deixe enganar pela aparência dela, Mia odiava a Eve por que vivia tomando broncas dela e sempre que a Mia errava algo, ganhava um beliscão na bochecha.
Helena riu com aquela informação e encarou a mulher ao seu lado por breves segundos.
— Imagino que ela devia ficar com muita raiva enquanto criava um grande discurso sobre o quão cruel isso é.
Vera riu mais uma vez, riu por que Helena acertara completamente em cheio e principalmente por que lembrara daqueles momentos.
— Sim, exatamente, você conhece muito bem a Amélia. — encarou a mexicana com um sorriso terno nos lábios. — Eu fico muito feliz por isso, ele com certeza também ficaria. — encarou a foto do falecido marido.
— Eles são tão parecidos fisicamente. — Helena falou baixo, com a sensação de que falar alto parecia ser errado naquele momento.
— Não só fisicamente, eles são praticamente idênticos em todos os sentidos, ele reclamava das coisas igual à Mia faz, ele era preocupado igual a ela, o jeito que ela arqueia a sobrancelha quando quer estar certa... — riu com tristeza por poucos segundos. — É idêntico, é como ver uma versão feminina dele e isso é incrível e dói todos os dias... Eu me pergunto se ele aprovaria meus atos hoje em dia.
— Você é uma mãe incrível, Vera, criou muito bem eles dois, a Amélia é a mulher mais incrível que eu já conheci na vida, eu admiro ela todos os dias um pouco mais e as veze me sinto minúscula perto dela... Ela guarda tanta bondade, tanto carinho dentro dela, que se torna gigante...
Vera olhava para Helena com um sorriso pequeno nos lábios ao notar como a mulher falava com tanto sentimento de sua filha, aquilo só podia significar uma coisa e era justamente isso que fazia a Palermo mais velha sorrir.
— Sra. Palermo... — a voz respeitosa e masculina soou próxima, puxando a atenção da mais velha.
— Sim, querido? — questionou ao encarar um dos garçons.
— Eles já estão prontos. — avisou.
Vera acenou positivamente com a cabeça em resposta e em seguida olhou para Helena com um sorriso pequeno nos lábios.
— Vamos, meu bem, levarei você até a sua mesa. — anunciou antes de começar a andar de braços novos com a sua nora de fachada.
— Sabe que quando te conheci, naquelas aulas de pintura, eu nunca imaginei que você era tudo isso. — Helena falou em tom cauteloso enquanto andava devagar desviando de algumas pessoas com cuidado. — E quando falo tudo isso eu me refiro á, mãe de dois filhos incríveis, dona de um restaurante maravilhoso e com tanta bagagem de sentimentos nas mãos e apesar de tudo você consegue manter a classe de forma impecável.
Vera riu por breves segundos.
— Paparicando a sua falsa sogra, Helena? — implicou. Helena riu e manteve um sorriso largo nos lábios.
— Pra conquistar de vez a filha também preciso conquistar a mãe. — brincou e arqueou as sobrancelhas para a mulher como se estivesse insinuando algo.
Vera parou de andar e Helena fez o mesmo, desvencilhou seu braço do dela para que pudessem ficar frente a frente.
— Quando se tem filhos, Helena, você sempre pensa primeiramente neles, seus sentimentos ficam para escanteio por que eles são o que mais importa para você. — Vera deu de ombros e sorriu fraco desta vez enquanto encarava a mexicana de forma carinhosa, realmente adorava aquela mulher.
Helena sorriu fraco com aquelas palavras, claramente entendendo que Vera estava contendo seus próprios sentimentos a custo de não entristecer mais os filhos, afinal, era mais do que obvio o quanto Vera fora apaixonada pelo falecido marido e bastava pensar ao menos um pouco para entender o quão doloroso todo aquele momento deveria ser para ela.
— Vem cá, me dê um abraço. — Helena pediu enquanto erguia os braços. As duas se abraçaram de forma bem apertada. — Você é incrível, Sogra. — falou baixinho.
Vera não deixou de rir antes de ir se afastando devagar.
— Espero que um dia você me chame disso com seriedade. — piscou para a mexicana e saiu andando enquanto dava uma pequena risada. Isso deixou Helena com um sorriso nos lábios enquanto a Palermo mais velha se afastava.
— Tão bonitinho Sogra e Nora se amando. — Leslie implicou enquanto já se aproximava por trás de Helena a abraçando e dando um beijo no ombro da mulher, em seguida se afastou e já foi puxando a mexicana pela mão.
— Por Deus, todo estão falando nisso? — questionou enquanto notava que a duas mesas à frente estavam Hernando, Charlie, Rose e Finch conversando animados sobre algo.
— Estão. Uma coisa que você precisa se acostumar com a família da Vera é isso. — Leslie falou enquanto soltava a mão de Helena para poder sentar-se ao lado de Charlie. Helena já havia cumprimentado todos mais cedo.
— São intrometidos, fuxiqueiros e adiantados. — Hernando falou assim que Helena sentou ao seu lado.
— Mas são pessoas incríveis. — Rose falou enquanto erguia a taça de vinho como se estivesse brindando a isso, todos imediatamente concordaram.
— Disso definitivamente eu não discordo. — Helena deu de ombros.
— Pedi suco pra você. — Hernando indicou a taça de suco próxima a sua.
— Obrigada, isso foi muito atencioso da sua parte. — ela agradeceu e Hernando apenas piscou para ela em resposta.
Repentinamente toda a tenção do restaurante fora voltara para Vera que, com muita classe, segurava uma taça de vinho e batia na mesma com uma faca para que o tilintar soasse pelo ambiente, quando a Palermo mais velha viu que tinha toda a atenção em sí, ela sorriu.
— Boa noite, meus amigos e familiares. — ela os saudou em tom mais alto. — Estamos aqui juntos por mais um ano comemorando e honrando a memória do homem que fundou este restaurante. Todos que tiveram a felicidade de conhece-lo, eu sei que agora vocês sabem e estão sentindo o orgulho dele por estarmos aqui reunidos prontos para sermos servidos pelas duas maiores obras de arte que ele fez. E os que infelizmente não o conheceram, saibam que Enzo os acolheria como familiares e cozinharia para vocês com muito amor, por isso hoje honramos a sua memória e comemoramos o seu dia.
Uma salva de palmas se iniciou preenchendo todo o restaurante e arrancando um sorriso verdadeiramente largo da Palermo mais velha, ela levou a mão ao coração e inclinou-se um pouco como se estivesse reverenciando todos aqueles que aplaudiam, as palmas foram cessando-se aos poucos até mais uma vez o silêncio vir e Vera poder voltar a falar:
— Muito obrigada, meus queridos. Agora peço que todos sentem-se, fiquem confortáveis, bebam a vontade e logo todos serão servidos com as surpresas que Amélia e Frederick prepararem para nós! — Vera tinha um sorriso largo nos lábios, ainda mais ao ver as pessoas se organizando e enchendo as mesas do restaurante até que todas estivessem praticamente cheias, isso lhe trouxe uma sensação indescritível, assim como sentia todos os anos. Olhou em direção a foto do ex marido e sorriu fraco, ele definitivamente estaria orgulhoso.
— Bebida e comida de graça, o que todo mundo gosta. — Finck comentou antes de dar um gole na taça de vinho.
— Qualquer bebida fica uma delícia desse jeito. — Rose concordou com o amigo e os dois riram juntos.
— Céus, eu sinto tanta falta de beber. — Leslie reclamou enquanto se contentava com um copo de suco de morango, apesar de a satisfação da gravidez compensava demais.
— Todos vocês parecem ser apaixonados por bebida. — Helena comentou.
— E somos. — Charlie rebateu. Todos concordaram com um aceno de cabeça.
— Eu amo vinho. — Hernando anunciou.
— Vodka. — Rose ergueu a taça de vinho como se brindasse a isso.
— Tequila. — foi à vez de Finch.
— Cerveja. — Charlie ergueu a mão por breves segundos.
— Gin com toda certeza. — Leslie falou como se fosse obvio. — Mia é Tequila.
— E cerveja. — Hernando completou.
Helena riu com aquele momento e se ajeitou um pouco na cadeira antes de erguer sua taça com suco de laranja como se ironizasse sua bebida, todos entenderam e responderam aquilo com risadas.
— Mas você não bebe nem um pouco? — Rose questionou.
— Pouquíssimo, às vezes uma cerveja apenas, uma taça de vinho em comemorações...
— Tão oposta a Mia... — Finch comentou.
— Totalmente, mas ela respeita a minha leve aversão ao álcool e eu respeito a sua grande paixão a ele.
— Isso foi tão frase de namoradinhas. — Leslie implicou enquanto apoiava o cotovelo na mesa e o queixo em sua mão.
— Já basta toda a família dela pensando isso, Les. — rebateu enquanto arqueava uma sobrancelha.
— Mas por que aversão ao álcool? — Finch questionou enquanto tinha o cenho franzido.
— Você não pesquisou sobre ela depois que a Les disse que ela é famosa? — Rose questionou ao amigo.
Helena riu.
— Eu não sou famosa. — rebateu mais uma vez, mas então olhou para Finch. — Meu ex marido amava bebida, mas o problema é que sempre que ele bebia demais, ele batia em mim, então acabei desenvolvendo isso, não a bebida em sí, mas sim aos efeitos que ela pode vir a causar.
— Helena você tem prêmios...
— Você tem prêmios? — Hernando interrompeu Leslie de repente e encarou Helena.
— Ascensão do ano, melhor expressividade por arte, Artista do ano e alguns outros...
— E alguns outros... — Helena balançou a cabeça de forma positiva com a cabeça e sorriu um tanto sem graça, apesar de saber que de certa forma, era sim famosa em meio aos artistas plásticos, ela sempre ficava sem graça com a própria fama. — Você fez seu dever de casa.
— Eu sou jornalista, sempre faço. — deu um sorriso satisfeito e largo.
— Com licença, senhores e senhoras... — um dos garçons do restaurante parara em frente à mesa do grupo. — Nomes?
— A Mia sabe desses prêmios? — Hernando questionou em tom baixo já que estava ao lado da mexicana.
Helena negou com um aceno de cabeça breve.
— Eu não falo muito sobre isso, aparentemente ainda não sei lidar com a fama.
— Ou reconhecer o próprio talento. — Hernando a corrigiu e ela apenas deu de ombros enquanto via Leslie respondendo por todos da mesa e dizendo o nome de cada um. — Eu tenho um prêmio de arquitetura e não tô vendo nenhum de vocês aqui me enaltecendo. — apontou para os amigos assim que o garçom fora embora.
— Eu só vou te enaltecer quando você fizer um projeto de graça pra mim. — Finch rebateu de forma debochada e deu um sorrisinho safado logo em seguida.
— Prefiro dinheiro. — o arquiteto cruzou as pernas embaixo da mesa e fez uma breve pose de quem estava, com muita classe, desprezando o amigo.
Isso arrancou uma boa série de risadas.
— Helena, isso te rende muito dinheiro? — Rose questionou.
— Eu não tenho a mínima ideia de quanto um quadro deve valor, comprei alguns por 30 dólares para realçar a beleza da minha sala e achei caríssimo. — Finch reclamou.
Helena deu um bom gole em seu suco de laranja enquanto pensava naquela resposta.
— Bom... Isso varia um pouco, depois que ganhei esses prêmios e fiquei consequentemente mais conhecida no mundo da arte, os valores das minhas obras tiveram um bom realce por causa da procura. — explicou com calma enquanto cruzava as pernas embaixo da mesa para ficar mais confortável. — A última escultura que vendi, eu passei três meses seguidos trabalhando nela e ela foi vendida por algo em torno de 100 á 200 mil, mas aquela escultura era incrível. — umedeceu os lábios devagar, os valores exatos quem sabia com certeza era Alysson. — Os quadros são vendidos a partir de 20 mil, isso é claro a depender do tamanho, mas já tive casos em que recebi acima de três dígitos por um quadro apenas, os desenhos são um pouco mais baratos, mas segue a mesma linha do quadro, sempre varia do desenho e do tamanho. Sem contar encomendas para desenhos, quadros, pinturas externas, artes para tatuagens, direitos autorais e tudo o que vocês puderem imaginar onde meus desenhos podem ser estampados.
Silêncio. Todos na mesa pareciam absolutamente chocados com aquelas palavras de Helena e com o preço que ela falara.
— Então quer dizer que se você ganhar mais um prêmio, você tem livre liberdade de deixar mais caro seus quadros? — Finch questionou de forma incrédula.
— Mais um prêmio me deixaria mais conhecida, então sim. — falou com simplicidade.
— Nooossa. — Charlie passou as mãos no rosto.
— Você fala isso com tanta simplicidade, Meu Deus...
— Você acha que se eu começar a fazer Artes Plásticas agora, em quanto tempo eu ganho dinheiro assim? — Finch questionou em tom sério como se realmente estivesse cogitando isso.
— Isso fica dependendo do seu talento, eu pinto e desenho desde pequena e tive como minha mentora uma Artista Plástica bem famosa da minha cidade, quando resolvi fazer Artes Plásticas foi só para aperfeiçoamento daquilo que eu já sabia. — explicou de forma pausada.
— Meu Deus... É tarde demais pra você esquecer a Mia e ter olhos pra mim? Por que de repente essa conversa ficou tão sexy. — Rose falou baixo, com um claro fingimento de estar totalmente seduzida por Helena.
— Por que não um trisal? — Helena arqueou ambas as sobrancelhas e os demais na mesa riram com a cena.
E a conversa leve dos demais naquela mesa seguiu por mais algum bom tempo, em partes focadas em Helena já que todos ainda seguiram curiosos sobre a mulher responsável por trazer Mia para o vale e Helena respondia tudo com tranquilidade, sempre se divertindo com os comentários e reações, adorava aquelas pessoas e como eles conseguiam deixa-la tão à vontade. Porém, a conversa findou-se quando o garçom voltou a aparecer agora carregando consigo em uma bandeja os pratos dos demais.
— Ravioli de Salsa com ragu de costelas para... Leslie. — O garçom ditou o que tinha escrito em um pequeno bilhete para diferenciar de quem seriam os pratos. Com calma serviu a mulher grávida.
— Você comentou no grupo que estava com vontade de comer isso! — Rose lembrou e riu.
— Tão perfeita aquela mulher, deveria ter casado com ela. — Leslie falou ao referir-se a Mia enquanto olhava para o prato perfeitamente montado.
— Spaghetti alla carbonara com muito queijo, para o Charlie.
Charlie ergueu a mão brevemente com um sorriso nos lábios.
— Os famosos macarrão com queijo pós sex*. — Finch anunciou e Charlie sorriu de forma orgulhosa.
— É o que Charlie sempre cozinhava para a Mia, macarrão com queijo. — Hernando falou para a mexicana ao seu lado para que ela entendesse.
— Spaghetti alla Puttanesca...
— É pra mim! — Rose falou antes mesmo do garçom terminar e gargalhou junto com os outros.
— Rose. — O garçom concluiu.
— A Rose sempre fala que Puttanesca é um nome estranho para uma comida. — Hernando explicou a Helena e a mexicana riu brevemente enquanto observava o quão feliz Rose tinha ficado com aquilo, agora entendia muito bem o sentido daquela noite e como todos pareciam ficar tão felizes ao terem seus gostos lembrados daquela forma.
— Bucatini all'amatriciana, por...
— Por que comida com nome complicado é chique. — quase todos na mesa completaram as palavras do garçom e em seguida uma série de risadas, incluindo até mesmo a do rapaz que os servia.
— Finch. — o garçom finalizou, mas Finch já se animava em sua cadeira denunciando que já sabia que era para ele.
— Lasagna! — o garçom anunciou.
— Hmmm, sim! Pelo amor de Deus! — Hernando derreteu-se, era uma de suas comidas preferidas e fazia Mia cozinhar para ele sempre que possível. O garçom sequer precisou dizer o nome dele, já o conhecia de qualquer forma.
— E por último, um prato estreia na casa e o primeiro a ser servido desde então. — o garçom começou. — Risotto de Brie com pimenta.
— Hmmmm. — todos da mesa levantaram um coro, por que todo sabiam que aquele prato havia sido exclusivamente feito para Helena com muito mais atenção do que os deles próprios já que não era um prato servido no restaurante.
Helena riu, mas ficara extremamente sem graça enquanto ao mesmo tempo derretia-se com aquele ato de Mia, quando o prato fora colocado em sua frente, a consistência do Risotto era claramente extremamente cremosa e misturado no mesmo havia minúsculos cubos vermelhos que era obvio que era pimenta, em cima do Risotto e para enfeitar o prato, uma pimenta malagueta inteira perfeitamente equilibrada.
— Tenham um bom apetite. — desejou o garçom antes de se afastar.
— Prato estreia da casa. — Leslie implicou enquanto pacientemente cortava um ravióli ao meio e em seguida levou a boca, gem*u. — Meu Deus, eu zerei a vida quando me tornei amiga de uma chefe de cozinha.
— Isso me lembra que na primeira vez que ela esteve na minha casa, nós cozinhamos juntas e eu vergonhosamente cogitei a possibilidade de ela não saber cozinhar. — Helena comentou enquanto pegava a pimenta com cuidado e a levava a boca, mordendo-a de uma vez e deixando apenas o cabo preso entre seus dedos.
— Você comeu uma pimenta inteira?? — Leslie tinha uma expressão horrorizada no rosto enquanto Helena mastigava a pimenta como se estivesse comendo qualquer besteira.
— Qual o problema? — questionou enquanto lambia os lábios devagar após engolir.
— Tá explicado por que ela fez esse prato pra você. — Charlie comentou de boca um pouco cheia.
— Vocês esqueceram que eu sou Mexicana? — questionou enquanto arqueava uma sobrancelha. — Como pimentas muito mais fortes que essa sem me importar, e como lá onde eu morava fazia muito calor, Pimenta é ótima para equilibrar a temperatura do corpo.
— Hmm, que delícia, lanchinho da tarde querida? Um biscoitinho? — Finch falou de forma teatral. — Não, pimenta, por favor.
Helena deu uma boa risada com aquela cena e manteve um sorriso largo nos lábios, estava se sentindo tão a vontade que parecia que conhecia aquelas pessoas há anos e isso lhe trazia uma sensação incrível. Todos comeram em meio a um clima divertido, às vezes experimentando a comida um do outro, principalmente o Risotto com pimenta. Era uma das mesas mais barulhentas do restaurante por que a todo momento estavam soltando gargalhadas animadas em meio as conversas que nunca cessavam, mas ninguém se importava com o barulho, muito pelo contrário, todos os convidados sentiam-se ainda mais confortáveis com o clima familiar que aquelas risadas davam ao local, afinal, com certeza seria daquele jeito que o falecido Lorenzo desejaria que fosse. A atenção de Hernando, Helena e todos os outros fora só puxada quando repentinamente uma salva de palmas soou pelo ambiente e quando buscaram o motivo, viram que Mia e Fred finalmente saíram da cozinha após servirem absolutamente todos os convidados.
Mia estava cansada, exausta para ser mais exata já que dar conta de uma cozinha somente com o seu irmão era extremamente exaustivo, mas tinha um sorriso largo nos lábios e um orgulho de sí mesma e de seu irmão que nem cabia dentro de sí e ser recebida daquela forma por todos dava-lhe vontade de chorar.
— Ah, meus bebês. — Vera vinha em direção a eles com os braços abertos. — Mais uma vez vocês foram incríveis. — ela os abraçou e foi abraçada pelos dois ao mesmo tempo. — Ele estaria tão orgulhoso de vocês. — deu um beijo na cabeça de Mia e Fred precisou se abaixar um pouco para receber um beijo demorado na testa. Os três trocaram olhares afetivos por alguns segundos e ao mesmo tempo tristes, afinal, só eles sabiam o quanto aquele momento era delicado e quanta falta sentiam do patriarca da família. — Você, vá cumprimentar todos e seja gentil. — espalmou a mão no rosto do filho de forma carinhosa e sorriu para ele.
— Sim, Mamma. — acatou o pedido da mais velha, mas antes de ir deu um beijo nos cabelos da irmã e nos da mãe e se afastou para cumprimentar todos os convidados da casa.
A Palermo mais velha tocou o rosto de Mia com carinho, a jovem estava com os cabelos amarrados em um coque bem justo, os olhos levemente avermelhados, só quem a conhecia bem sabia que ela havia chorado e isso ficava bem claro para Vera.
— Eu estou bem, Mamma. — garantiu em tom baixo e sorriu fraco em mostrar os dentes. — É só saudade.
— É claro. — Vera concordou e inclinou-se um pouco para beijar a testa da filha de forma bem demorada. — Estou orgulhosa de você.
— Obrigada, Mamma. — falou baixo antes de abraçar a mais velha pela cintura de forma bem apertada.
— Preciso te contar que absolutamente todos do restaurante tem absoluta certeza de que Helena é a sua namorada, ela até tentou negar, mas...
— Mas o poder da fofoca dessa família é muito maior. — Mia se afastou devagar. — Ela falou algo sobre?
— Nada. Na verdade brincou sobre, até me chamou de sogra. — Vera arqueou uma sobrancelha como se estivesse insinuando algo.
— Não me olha assim, Mamma! — Mia reclamou enquanto se afastava da mais velha para ir cumprimentar seus familiares e convidados.
— Eu disse que depois podemos inventar que vocês terminaram, você sabe, a notícia se espalharia rápido. — Vera justificou enquanto ia seguindo a filha, mas Mia não teve tempo de rebater.
— Amélia! — alguém falou e a jovem já foi abrindo os braços e um sorriso largo e assim seguiu os próximos minutos, cumprimentou absolutamente todos e em quase todas as mesas ouvia um: “Nós conhecemos a sua namorada e ela parece ser incrível.” Ou um “Eu realmente não sabia que você era desse meio, mas eu amei a Helena, além de linda é tão simpática, você tem sorte.”. E definitivamente ela não sabia como reagir a isso, ao mesmo tempo que adorava aquela reação de todos, ficava sem graça por que era uma mentira, uma mentira que ela se pegou desejando ser verdade e quando percebeu isso corou, tanto que após cumprimentar todos e finalmente ficar livre para cumprimentar seus amigos, chegara a mesa deles com o rosto levemente avermelhado.
— Eu não estava mais aguentando a ansiedade de ver a minha namorada. — Helena falou antes de todo mundo logo que Mia se aproximara da mesa. Mia, que já era meio pálida por natureza, ficou extremamente vermelha antes de esconder o rosto nas mãos e a reação da morena arrancou uma gargalhada dos demais na mesa, afinal, todos haviam pedido para que Helena fizesse aquilo para ver a reação da Designer.
Enquanto ria Helena se erguia da cadeira para cumprimentar a mulher, Mia obviamente não recusou e ergueu os braços para receber Helena. As duas se abraçaram apertado, Helena envolvendo a sua cintura e Mia envolvendo seus ombros.
— Obrigada por vir e eu sinto muito por isso. — falou baixinho próximo ao ouvido da mexicana.
— Está tudo bem. — falou baixo e virou o rosto para dar um beijo no rosto de Mia, quando fez isso sentiu o leve cheiro de álcool, vinho possivelmente, mas não se importou, só beijou o rosto dela de forma demorada. — Eu fui alertada do quão fuxiqueira sua família é. — riu pro breves segundos e encarou Mia de pertinho. — É a típica família normal.
— Olhar pra vocês me deixa carente, isso não é justo. — Leslie falou enquanto já se metia no abraço de ambas as mulheres. As duras riram enquanto abraçavam a jovem grávida.
— Abraço em grupo!! — Finch anunciou enquanto já se erguia para abraçar as mulheres e todo o resto da mesa fez no automático, se erguendo e se enfiando em meio ao abraço até que Mia estivesse espremida bem no meio deles rindo com o aperto.
— Meu Deus, vocês são incríveis. — ela falou baixo e sentiu uma imensa vontade de chorar. — Saiam daqui ou eu vou chorar. — reclamou e a prova disso era tanta que a voz saíra levemente tremida.
Se afastaram em meio a risadas e cada um foi para seu devido lugar, como não havia cadeira livre naquela mesa e não queria ir atrás de outra e ter que conversar mais, sentou-se no colo de Helena sem pestanejar a convite da própria.
— Vocês gostaram da comida? Fui eu que preparei cada uma. — alertou enquanto já se apossava de uma boa taça de vinho, uma das várias que já havia bebido naquela noite, afinal, enquanto cozinhava e conversava com o irmão, os dois bebiam juntos.
— Acertou em cheio como sempre. — Rose ergueu a taça como se estivesse brindando a isso.
— Estreou um prato só para mim? — Helena questionou, a mão esquerda em torno da cintura de Mia e a direita pousada em uma das coxas. Mia olhou para baixo para encará-la de pertinho e sorriu fraco para a mexicana.
— Acertei em cheio não acertei? — questionou em tom orgulhoso.
— Definitivamente uma das comidas mais deliciosas que já comi. — anunciou.
Mia sorriu de forma extremamente orgulhosa e se inclinou só um pouco para selar os lábios de Helena em um selinho apenas. A conversa do grupo seguiu animada por um bom tempo, tudo em torno dos pratos que Mia havia feito exclusivamente para eles, tanto Mia quanto Helena conversavam de forma animada e esqueciam de vez quaisquer problemas que tinham naquela noite, porém, a felicidade para Mia não durava tanto já que sua presença era requisitada em outras mesas e apesar da Designer se orgulhar e muito daquela noite, no fim acabava sendo extremamente doloroso por que a maioria fazia questão de falar sobre o seu pai para ela e no fim sempre tinha aquele olhar de pena, alguns extremamente claros, outros mais disfarçados, mas sempre com pena, afinal, ela e Fred sempre seriam os irmãos que perderam o pai incrível.
— Olha como ela está desconfortável. — Leslie comentou em tom sério dessa vez e todos da mesa olharam para Mia levemente mais retraída ao lado de sua mãe enquanto conversava com a família paterna.
— Não dou mais uma hora até ela ficar bêbada. — Hernando comentou e suspirou logo em seguida. Helena olhou para Hernando como se buscasse uma explicação, ele entendeu enquanto a encarava de volta. — Ela sempre fica triste no fim por que sente falta dele e todos ali falam exclusivamente dele, além de sentirem pena dela e do Fred, como ela mesma fala, para eles ela e o Fred sempre serão os irmãos que perderam o pai incrível.
— Ah... — Helena falou baixo enquanto olhava em direção a Mia do outro lado do restaurante, sentiu um certo aperto no coração só de imaginar que Mia não estava bem e era claro que ela não estava. — Bom... É hora de inverter um pouco as coisas. — falou enquanto retirava o guardanapo de seu colo e erguia-se devagar para logo ir andando a passadas largas, era a vez dela de cuidar de Mia.
— Ela definitivamente é a pessoa certa pra livrar Mia hoje. — Leslie falou baixo enquanto via Helena chegando perto de Mia e a abraçando por trás de forma protetora.
— É claro, ela foi o assunto da noite. — Rose comentou e sorriu de canto.
— Não seria incrível se as duas namorassem? — Finch questionou. — Elas tem uma química simplesmente incrível.
— Eu shippo forte. — Leslie deixou claro.
— Todos nós eu acho. — Hernando completou.
A ideia de Helena estava certa, a partir do momento em que chegara perto de Mia todo o assunto voltou exclusivamente para ela e esforçava-se para agir de fato como a namorada da morena, sempre a tocando, sempre próxima demais por que não queria que o assunto se desviasse dela, não queria que entrassem em um assunto que deixasse Amélia triste e Mia percebeu, percebeu tanto que estava completamente derretida ao lado da mulher e agora era só sorrisos e ambas pareciam satisfeitas demais por todos pensarem que elas namoravam e de repente namorar não parecia uma ideia tão ruim. No fim, quando todos começaram a se despedir, Helena e Hernando foram um dos últimos a sair, mas não sem antes despedirem-se de Mia com abraços apertados, Mia ainda continuaria no restaurante com a mãe e o irmão por mais um tempo, por isso Helena voltaria para casa com Hernando.
E quando a noite oficialmente teve um fim e no restaurante estavam apenas a família Palermo, até mesmo os trabalhadores haviam ido embora, Fred caminhou devagar pelo restaurante, as mãos nos bolsos da calça enquanto se aproximava de sua mãe, sentada em uma das mesas e acompanhada de uma taça de vinho apenas.
— Vamos buscar a Mia pra ir embora? — Fred questionou em tom baixo.
— Ela está na adega? — respondeu com uma pergunta e Fred concordou com um aceno de cabeça. — Você espera eu conversar a sós com ela?
— É claro, Mamma. — ele falou e acenou com a cabeça mais uma vez enquanto Vera já se erguia e se aproximava do filho para lhe dar um beijo carinhoso no rosto antes de sair andando, adentrou a cozinha do restaurante e fora diretamente para a adega de vinhos que ficava em um quarto no subsolo, uma espécie de porão, que era completamente preenchido pelos mais diversos vinhos. Adentrou a mesma devagar, passou algumas prateleiras e encontrou a filha mais velha sentada no chão ao lado de uma garrafa de vinho e enxugando as lágrimas de forma um tanto desesperada, aquela não era uma cena incomum e muito menos rara, já vida a filha chorando ali centenas de vezes desde a morte do pai.
— Acho que esse é um dos poucos dias que eu não me importo que você passe do limite com a bebida. — Vera comentou em tom baixo enquanto cruzava os braços.
Mia soluçou em meio ao choro.
— Desculpa, Mamma. — soluçou a voz meio embolada, culpa tanto do choro quanto da bebida.
— Está tudo bem, meu amor. Está tudo bem. — deu alguns passos em direção à filha e estendeu ambas as mãos para ela. — Venha, levante, vou cuidar de você. — precisou usar um bom grau de força para conseguir erguer sua filha do chão, quando Mia bateu sem querer na garrafa de vinho, Vera se assustou um pouco por achar que o líquido se espalharia, mas, estava errada, a garrafa estava vazia.
— Eu quero ir pra casa da Helena. — pediu enquanto esfregava o rosto com a mão esquerda e soluçava mais uma vez.
— Você não está em condições de ir pra casa de ninguém, filha, vamos pra minha casa...
Mia negou com um aceno de cabeça repetidas vezes.
— Você viu, Mamma, ela... — parou um pouco para engolir a própria saliva no meio de um soluço. — Ela cuidou de mim, ela chamou a atenção pra ela, ela cuidou de mim. — esfregou os olhos mais uma vez como se estivesse com raiva por estar chorando tanto. Vera segurava a filha pela cintura, rodeando-a com os braços por que estava com certo temor de que ela caísse.
— É claro que ela cuidou de você, ela gosta de você.
— E eu gosto dela, eu gosto muito dela e quero ir pra casa dela.
®
Quando a campainha da casa de Helena tocou, ela já estava bem confortável na cama com Vadia aconchegada a seu corpo, já estava quase dormindo e plenamente estranhou, até mesmo achou que havia sido coisa de sua cabeça quando sentou-se na cama, porém, quando a campainha voltou a tocar, mais vezes desta vez, teve certeza de que não era coisa de sua cabeça, realmente não era. Ergueu-se da cama com certa rapidez, um pouco preocupada principalmente pelo horário e foi ligando as luzes da casa rapidamente enquanto ia até a porta. Assim que se aproximou e se inclinou para olhar pelo olho mágico, não precisou de muito tempo para com rapidez abrir a porta de forma um pouco assustada ao se deparar com uma Mia praticamente se desfazendo em choro, sendo segura por Vera e lá atrás próximo ao carro estava Fred.
— O que...
— Helena, eu realmente sinto muito, mas ela estava implorando pra vir pra cá, não nos deu sossego e não deixou que levássemos ela para outro lugar que não fosse aqui. — Vera explicou, o olhar claramente preocupado diante aquela situação.
— Helena... — Mia lamentou a expressão se contorcendo em choro mais uma vez, agora se sentindo extremamente culpada por ter aparecido daquele jeito na porta de Helena. — Me desculpa, eu sei que eu não deveria aparecer aqui assim... — soluçou enquanto mais uma vez passava as mãos pelos olhos para tentar secar as lágrimas.
Helena negou com um aceno de cabeça, descontente com aquela cena, mas principalmente preocupada com todo aquele desespero.
— Está tudo bem... — estendeu as mãos para Mia e deu alguns passos a frente para segurá-la, Vera soltou a filha para que ela pudesse ir diretamente para os braços de Helena e a abraçou. Helena a segurou com carinho e encarou Vera. — Está tudo bem, Vera. Eu vou cuidar dela, não se preocupe, está tudo bem. — garantiu enquanto encarava a Palermo mais velha.
Vera uniu as mãos em frente ao corpo e suspirou, mas concordou com um aceno de cabeça, estava com o coração do tamanho de nada ao ver a filha daquele jeito, apesar de saber que ela não chorava daquele jeito somente por causa do pai.
— Mande ela me ligar amanhã assim que acordar para que eu saiba que ela está bem. — pediu.
— Farei isso, fique tranquila. — garantiu mais uma vez. Trocaram olhares preocupados e ao mesmo tempo agradecidos antes de Vera se afastar e voltar para o carro junto com Fred. Helena respirou fundo enquanto fechava a porta de casa e a trancava, nem em um milhão de anos esperava que Mia apareceria em sua porta naquele estado naquela noite.
Um certo incômodo em seu interior a deixava extremamente alarmada com aquela situação.
— Vamos tomar um banho ok? — se afastou só um pouco de Mia para lhe encarar e a Designer apenas concordou com a cabeça e permitiu ser levada por Helena com cuidado diretamente para o quarto e em seguida para o banheiro. — Senta aqui. — indicou o vaso sanitário com a tampa baixada. — Você quer conversar? — questionou enquanto se abaixava em frente à morena para retirar os sapatos que ela usava.
Mia negou com um aceno de cabeça.
— Por que não? — insistiu.
— Por que o que eu estou fazendo com você é horrível. — Mia havia até parado um pouco de chorar, mas assim que falou isso o choro voltara novamente. Helena a encarou em silêncio, enquanto ela claramente chorava num desespero tão grande que fazia o coração de Helena ficar minúsculo. — Mas eu... Eu... — engoliu a saliva novamente e respirou fundo. — Eu só queria ficar com você.
Aquilo era tão estranho, ao mesmo tempo que sentia um enorme receio com aquela situação, não conseguia de forma alguma ignorar Mia daquele jeito, só queria cuidar dela.
— Mia, pare de chorar, se acalme. — pediu enquanto apoiava as mãos nas coxas dela.
Mia imediatamente acenou de forma positiva e Helena viu o momento em que ela realmente se esforçou para acatar o pedido, segurou o choro com tanto afinco e tentou manter uma pose calma, a cena arrancou um sorriso pequeno de Helena, ela balançou a cabeça de forma negativa antes de erguer-se do chão, segurou a camisa da Designer e a puxou devagar retirando-a com a ajuda de Mia.
Mia estava uma verdadeira bagunça, seus pensamentos estavam tortos, sua visão meio turva e não conseguia focar demais em uma única coisa, ou seja, estava em um verdadeiro estado decadente por culpa do excesso de vinho, mas de uma coisa ela tinha certeza: Só queria ficar com Helena.
— Levante. — Helena mandou e imediatamente Mia acatou, mas precisou ser segura por Helena quando se desequilibrou um pouco.
— Desculpa, eu não queria fazer isso. — se desculpou mais uma vez, mas Helena não respondeu, só a ajudou a livrar-se da calça e das peças íntima antes de ir guiando a morena devagar até o box do chuveiro, ligou a água fria.
— Você vai ficar aí embaixo até eu mandar sair, entendeu? — Helena falou em tom mais firme e Mia apenas acenou de forma positiva com a cabeça de forma completamente obediente e não esperou mais nada para ir diretamente para debaixo do chuveiro assim como Helena havia mandado e não se importou quando sentiu o choque da água fria contra seu corpo, tremeu e encolheu-se inteira embaixo da água, mas ficou ali, quieta.
Helena ficou em silêncio, encostada na porta do box enquanto observava Mia tão obediente e tão absurdamente indefesa, era impossível não comparar, era tão diferente de Trevor, não lhe dava medo, o desconforto que sentia sumia e dava lugar a preocupação. Mia se tornava extremamente indefesa quando bêbada, não sabia se todas as vezes era assim, mas naquele momento tudo o que sentia era vontade de cuidar dela e chegava até a arriscar a dizer que era uma graça o quão obediente Mia ficava naquela situação.
— Helena... — A voz de Mia soou baixinha como se estivesse com receio de a chamar.
— Oi, Amélia.
— Desculpa.
— Está tudo bem.
— Eu gosto de você.
— Eu também gosto de você, mas essa não é hora de conversarmos sobre isso.
Mia, repentinamente, voltou a chorar. Era incontrolável segurar aquela sensação que crescia dentro dela e parecia que chorar era a única forma de conseguir algum tipo de alívio.
— Por que está chorando novamente?
— Por que eu gosto de você.
Helena riu brevemente enquanto balançava a cabeça de forma negativa.
— Gostar de mim te faz chorar?
Mia engoliu o choro mais uma vez enquanto erguia um pouco a cabeça, a água gelada caindo diretamente no topo da mesma e escorrendo por seu corpo com rapidez.
— Então por que está chorando?
Mia não respondeu. Helena desencostou-se do box somente para se afastar e pegar duas toalhas, quando se aproximou novamente já foi desligando o chuveiro.
— Vem cá. — chamou-a e Mia prontamente acatou, segurando-se na parede do box, saiu de dentro do mesmo e ergueu um pouco os braços quando Helena envolveu seu corpo com a toalha, a segurou logo em seguida e ficou quieta quando seus cabelos eram enxutos pela mexicana.
— Estou tonta. — falou baixinho.
— Quer um pouco mais de vinho? — Helena ironizou e encarou Mia em seguida já que secava os cabelos dela e estavam próximas uma da outra, dava para vê-la melhor. Os olhos bem irritados evidenciavam que ela não havia chorado pouco, o nariz também bem avermelhado e parte do rosto também. A mexicana suspirou e tocou o rosto da Designer, imediatamente Mia fechou os olhos. — Está enjoada?
Mia só negou com um pequeno aceno de cabeça, em seguida mais uma vez manteve-se plenamente obediente a Helena, foi levada para o quarto onde terminou de se enxugar e Helena lhe vestiu com um moletom apenas que cobria até suas coxas, a fez sentar na cama. E enquanto penteava os cabelos de Mia, mais uma vez a morena voltou a chorar.
— Helena. — Mia chamou, a voz parecia mais embolada do que antes, mas pelo menos ela não chorava mais.
— Sim, Amélia.
— Eu estou apaixonada por você.
O coração de Helena parou e junto à mão erguida no ar com a escova próxima aos cabelos escuros.
— Você está bêbada, Amélia. — desconversou e se afastou logo em seguida. — Deite e vá descansar. — mandou enquanto ia diretamente para o banheiro. Quando adentrou o mesmo foi diretamente para a pia e precisou segurar a mesma com um pouco de força, fora pega tão de surpresa que estava desestruturada, olhou-se no espelho por breves segundos e respirou fundo.
— Helena. — ouviu Mia a chamando no quarto mais uma vez e respirou fundo antes de desligar a luz do banheiro e saiu do mesmo devagar enquanto cruzava os braços, seu coração batia extremamente forte dentro do peito. Mia não tinha a obedecido desta vez, estava sentada bem no meio da cama, com as pernas cobertas pela manta e a expressão meio perdida e sonolenta. — Sabe quando todo mundo hoje tratou você como minha namorada? — soluçou e franziu um pouco o cenho. — Eu adorei.
— Mia... — Helena pediu em tom baixo dessa vez, quase implorando. — Você está bêbada, não é hora de conversarmos sobre isso.
— Mas eu estou apaixonada por você, Helena! — tentou justificar-se e a expressão foi se contorcendo novamente, estava prestes a chorar.
— Quando você estiver sóbria nós conversamos... — pediu, estava ficando nervosa, não esperava aquela conversa, não esperava aquela confissão.
A resposta a seu pedido foi choro, Mia deitou-se na cama enquanto chorava e puxava o travesseiro para esconder o próprio rosto.
— Mia... — chamou.
— Não! — ela reclamou enquanto sentava-se na cama de repente. — Você está me dando um fora. — gem*u e choro pareceu vir com mais força enquanto caía na cama mais uma vez e escondia o rosto com as mãos.
— Eu não estou te dando um fora, Mia...
— É claro que está! E com toda razão, olha o que eu fiz hoje! Eu não deveria ter aparecido na sua porta desse jeito, eu estraguei tudo. — chorou enquanto se encolhia na cama. — Eu só queria namorar você. — lamentou e ela chorava tanto que Helena quase não entendeu o que ela havia falado.
Helena passou as mãos no rosto, incrédula com aquela situação e sem ter a mínima ideia se aquilo era verdade ou se era culpa da bebida, seu coração batia tão forte dentro do peito que ela chegava a tremer.
— Mia. — Chamou-a mais uma vez, mas Mia não se mexeu. — Mia, eu não estou te dando um fora, eu só quero que a gente converse melhor sobre isso amanhã quando você estiver sóbria, não é hora para conversarmos sobre isso.
— Pra você me dar outro pé na bunda amanhã? — a morena gem*u contra o travesseiro ao falar aquilo.
E Helena teve que sorrir.
— Eu não sou boa o suficiente pra você, Amélia. — se aproximou um pouco da cama de forma cautelosa, porém, falar aquilo pareceu um grande afronte por que Mia sentou-se na cama com o olhar feroz.
— Você é incrível, você é... — engoliu o choro, ou tentou fazer isso enquanto erguia as mãos para tentar se expressar. — Você é gentil. — contabilizou em um dedo. — Você é divertida. — contabilizou em mais um dedo. — Você é talentosa, você é incrível, você é gentil e divertida e é incrível e muito gentil, você é linda, seu sorriso é incrível e você é muito gentil, eu gosto muito do seu cheiro, gosto muito da sua comida, eu gosto da sua companhia, da sua gata, da sua risada, você é incrível, você é muito gostosa, eu quero trans*r com você todos os dias, você tem uma bunda tão gostosa. — gesticulou com as mãos fazendo o formato da bunda de Helena, seu corpo caiu na cama novamente, mas as mãos ficaram erguidas. — E você é incrível, todo mundo ama você e você cuidou de mim hoje, foi tão lindo. — parou de falar quando o choro viera e ela se esforçou para segurá-lo. — Eu gosto tanto de você, eu penso em você o dia todo, penso no seu sorriso, na sua bunda, na sua bocet*, no seu sorriso, no seu cheiro, você é tão gentil, tão divertida. — a voz ia sumindo cada vez mais à medida que o choro ia tomando conta mais uma vez.
A expressão de Helena estava contorcida em uma careta enquanto algumas lágrimas escorriam por seus olhos, não por medo, não por qualquer sentimento ruim, mas sim por que havia achado aquilo absurdamente fofo e não conseguia segurar as lágrimas diante disso.
— Mia... — a voz saiu um pouco falha. — Por favor, vai dormir. — implorou baixinho e viu quando os braços de Mia cederam e caíram na cama, não houve respostas e apesar de Mia estar tão bêbada que não tinha noção do que estava de fato fazendo, sentiu que havia machucado Helena de alguma forma e por isso, em silêncio, ela chorou até dormir e Helena ficara em pé aos pés da cama abraçando a sí mesma e ainda completamente incrédula diante daquilo, ela definitivamente não merecia aquela mulher, definitivamente mais do que nunca sentiu-se completamente insuficiente para Amélia, não chegava nem perto de ser digna daquele sentimento e por isso, chorou. Chorou sentada em uma poltrona do canto do quarto perdida em seus próprios sentimentos enquanto repetia sem parar:
— Hoje é Sábado — respirou fundo e encarou o relógio em cima do criado mudo ao lado da cama. — São 01h23 da madrugada. — respirou fundo e expirou devagar. — Hoje é Sábado. — repetiu e seguiu repetindo várias e várias vezes ao longo da madrugada com medo de se perder no próprio vazio mais uma vez e com a absoluta certeza de que não merecia o sentimento de Amélia.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Leticia Petra
Em: 23/05/2021
Ah, obrigada por ter me devolvido o prazer ler uma boa estória. Dia desses estava comentando com uma amiga de como amo os diálogos de sua estória. São tão maravilhosamente bem estruturados. Tu tem o dom, moça.
Foi por tua causa que voltei a escrever.
Obrigada e volta logo.
Letícia.
HelOliveira
Em: 11/05/2021
Depois desse capítulo eu vou começar a repetir, hoje é segunda e são 23h53....
Mia é incrível, que coisa mais linda, e como doe ver Helena sentindo-se um nada por tudo que já passou....e agora como será essa conversa delas depois que a Mia acordar...aí meu coração está pequeno só em pensar que ela podem se afastar....
Parabéns pelo capítulo até o proximo
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Jubh
Em: 10/05/2021
Que dia vou conseguir ler um capítulo dessa história sem chorar? Sua escrita é de uma sensibilidade incrível. Nem parece aquela estudante de engenharia que reclama de tudo no Twitter kkkk Parabéns e nunca nos abandone.
Resposta do autor:
KKKKKKKKKKKKKKKK Minha vida é reclamar.
Não vou abandonar de jeito nenhum, eu simplesmente amo escrever essa estória e de qualquer forma... Não falta muito pra acabar, infelizmente. Muito obrigada!!
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preguicella
Em: 09/05/2021
Meninaaaa, que capítulo foi esse?! Quase desidratrei!
Como Mia é fofa e como Helena foi tão maltratada a ponto de não se achar merecedora do amor de Mia, mas acho que Mia vai ganhar essa parada!
Bjão
Resposta do autor:
Oremos pra que a Mia mude isso né? Faça Helena se sentir totalmente capaz de ser amada.
Mia bêbada é uma maravilha, pretendo fazer mais cenas dela assim.
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