Oi, oi, gente!
Como prometido, cá estou eu novamente depois de deixar vocês orfãs por 1 mês. Espero que gostem do capítulo, preparem os corações e os lencinhos e até o próximo!
Twitter: @Patty5hepard
Capitulo 25
Sucedendo a todas as noites daquela semana, aquela madrugada continuava fria, assim como todas as anteriores, talvez até um pouco mais. E qualquer pessoa poderia dizer que era uma simples noite comum de inverno em Boston, fria, solitária e escura como qualquer outra. Mas qualquer pessoa não era ela. E assim como em todas as madrugadas, o quarto de Helena era iluminado apenas pela luz da lua que entrava pela grande janela do quarto, as cortinas como sempre abertas permitindo que isso acontecesse e na cama, bem no meio, encolhida e bem agasalhada abaixo das cobertas, estava Helena acompanhada somente de Vadia, a gata gorda que dormia encolhida contra o peito de Helena, ao menos para qualquer pessoa que chegasse naquele quarto, era só isso que se via: Helena e Vadia. Porém, para Helena, as coisas eram um pouco diferentes.
E ao contrário dos pensamentos de qualquer um que a olhasse naquele momento, que pensariam que ela estava dormindo, ela não estava. Apesar de encolhida e quieta, os olhos estavam bem abertos e completamente fixos na silhueta negra e grande deitada na cama bem na sua frente, estava deitada de lado, os olhos brilhantes no escuro fixos nos seus, uma presença tão forte que paralisava seu corpo dos pés a cabeça e ela não conseguia sequer mover um dedo. Uma lágrima grossa escorreu pelo canto do olho direito e pingou diretamente contra seu travesseiro enquanto olhava fixamente para aquilo que estava a aterrorizando. Ela sabia quem era, mas não sabia o que era e isso não tinha sentido, mas para ela isso não importava naquele momento.
— Morena, morena, morena... — sussurros soaram ao pé de seu ouvido e apesar de seus olhos estarem fixos naquela silhueta, não fora ela que falara. A voz viera de trás e ela conhecia aquela voz e só uma pessoa a chamava daquela forma: Trevor. — Está me traindo, vagabunda?
Aquela pergunta a atingiu com tanta força que pareceu sentir o impacto em seu corpo como se tivesse tomado um dos típicos socos de Trevor, isso a fez saltar da cama de forma repentina e cair no chão com um impacto tão forte que arrancou-lhe um breve grito antes de arrastar-se pelo chão como se dependesse daquilo para sobreviver, foi diretamente para o interruptor do quarto e golpeou-o com um tapa desesperado. Quando a luz iluminou o quarto, olhou diretamente para a cama, os olhos avermelhados e cheios de lágrimas estavam fixos na cama onde Vadia estava confusa, bem diferente de segundos atrás onde Helena via e sentia que não estava sozinha. Procurou aqueles olhos brilhantes, procurou de onde viera aquela voz e quando não encontrou absolutamente nada ou ninguém além de Vadia, desmoronou no chão em meio a um choro desesperado enquanto abraçava o próprio corpo e pensava: Eu estou louca.
©
Mia enfiou as mãos nos bolsos do casaco enquanto respirava fundo e olhava fixamente para aquela fachada iluminada do bar de strippers que ela conhecia tão bem. Sentia-se extremamente desconfortável e acima de tudo envergonhada por mais uma vez estar naquele maldito lugar por causa do seu irmão, aquilo precisava de um ponto final, estava acobertando demais as merd*s que Fred estava fazendo. Deu uma última respirada funda como se estivesse tomando coragem de entrar naquele lugar mais uma vez e enfim, começou a andar. Consequentemente à medida que se aproximava, em sua mente vinha Helena.
Olhou para o segurança, ele era um homem de poucas palavras e sempre se resumia apenas a um acenar de cabeça e um: Ele está na mesa de sempre. E foi exatamente o que aconteceu, Mia o encarou com aquela expressão pouco contente, ele a encarou de volta e a saudou com um aceno positivo de cabeça.
— Mesa de sempre. — avisou.
— É claro. — Mia reclamou e sorriu de forma forçada sem mostrar os dentes. Já passava das três da madrugada e definitivamente aquilo só a fazia odiar mais aquele momento. Já foi dando passos em direção à entrada do lugar quando repentinamente parou, lado a lado com o segurança. — A mascarada veio hoje?
Ele acenou de forma positiva.
— Ela ainda está na casa. — completou.
Mia sentiu um embrulho em seu estômago e um salto em seu coração, aquilo doeu, doeu por que imediatamente imaginou o terror que ela passara em casa para mais uma vez acabar naquele lugar.
— Merd*. — falou baixo antes de empurrar a porta, aquela ansiedade desconfortável corroendo cada parte de seu corpo enquanto enfi*v* as mãos nos bolsos do casaco e saia andando de cabeça um pouco baixa, se sentia desconfortável se olhasse demais em volta, sempre via algo que a deixava extremamente incomodada. Tocava uma música que ela desconhecia, alta demais e haviam tantos gritos que a faziam franzir o cenho e sentir seu coração bater com ainda mais força, era como se estivesse revivendo o mesmo momento mais uma vez. Precisou desviar de alguns homens quando se aproximou da mesa onde Fred sempre ficava próxima ao palco que não trazia para Mia boas lembranças.
Suspirou com pesar quando viu a dançarina rodopiar com maestria no pole dance e ela não precisou olhar demais, não precisou prestar atenção para ver se via a máscara, não precisou de nada disso, ela sabia quem era. Isso a fez cerrar os lábios enquanto parava atrás de um Fred meio desacordado na cadeira, os olhos fixos na mascarada, Slow Dancing in The Dark tocava na voz de Joji, tão lenta, tão sensual, mas que trazia uma sensação desconfortável em Mia.
Seus olhos se encontraram no momento em que Helena largou o pole dance, a dançarina parecia ter sentido que havia um par de olhos muito conhecidos a encarando naquele momento, mas não viu nojo nos olhos de Mia, não viu rancor, não viu raiva, viu preocupação e um tom de tristeza e seriedade que a fez perder o rumo por um momento.
— Estarei te esperando. — Mia falou baixo, mas de forma bem nítida com os lábios para que Helena os lesse e entendesse o que ela havia dito, sentia o dever de levar ela para casa em segurança, por que via e sentia que tinha algo de errado. A aura sombria que a dançarina exalava naquele momento era absurda, não tinha aquele sorriso de satisfação de quem estava se divertindo como vira das outras vezes.
Helena entendeu as palavras de Mia, mesmo no escuro, mesmo com o piscar das luzes, mesmo com toda aquela bagunça, ela conhecia demais aquela mulher, saberia ler mesmo de longe cada palavra que saía daquela boca por que já passara muito tempo olhando para ela enquanto Mia falava. Sentiu-se humilhada.
— Você não vai fazer parte do show hoje? — uma voz baixa e sedutora soou ao pé do ouvido de Mia.
A morena assustou-se ao olhar rapidamente para o lado e notar uma dançarina bem atrás dela e perto demais, seu coração acelerou com força pelo susto.
— Eu nunca fiz. — Amélia respondeu com seriedade. O rosto mantinha-se virado, assim podia encarar a mulher sem necessariamente precisar virar todo o corpo. Por causa da proximidade, seus rostos consequentemente também ficavam próximos e Mia podia ver muito bem aquela mulher, o sorrisinho no canto dos lábios carnudos, um olhar de quem estava querendo aprontar algo.
— Eu queria muito saber o que exatamente você tem pra chamar tanto a atenção dela. — a dançarina se afastou só um pouco, mas foi só para se aproximar do outro ouvido de Mia. A Designer precisou olhar para frente enquanto sentia a respiração acelerar um pouco, estava ficando nervosa por causa do desconforto que sentia. — Não é só a sua beleza é? Será o seu beijo?
A aproximação entre ambas cresceu, tanto que Mia sentiu o corpo da desconhecida roçando atrás do seu. Ergueu o olhar, procurando por Helena mais uma vez e encontrou o olhar feroz da mascarada fixo não em sí, mas na garota, mas não durou muito tempo, no segundo seguinte Helena já desfilava pelo palco em passadas largas até sumir na escuridão entre as cortinas avermelhadas. Era nesse momento que dançarinas aleatórias subiam no palco para tentar suprir o vazio que a mascarada deixava.
— Independente do que for, não acho que seja da sua conta, me deixe em paz. — falou de forma ríspida e desta vez virou o corpo para encarar bem a mulher, aquele olhar sério e quase ameaçador de quem não estava brincando em suas palavras.
Isso só fez arrancar uma risadinha da dançarina desconhecida enquanto ela se afastava e dava meia volta, finalmente deixando Mia em paz.
— Que merd*. — Mia reclamou enquanto virava-se em direção a Fred e em seguida se abaixava um pouco para poder acordar de vez o irmão para conseguir sair dali carregando-o.
Nos bastidores do bar, as coisas estavam igualmente desconfortáveis para Helena. A mascarada estava encostada na parede do corredor, o olhar vazio fixo em um ponto qualquer enquanto amarrava o sobretudo que lhe fora entregue por uma das dançarinas. Sentia um nó em sua garganta que só parecia crescer a cada segundo que se passava e isso estava lhe dando vontade de chorar, havia vindo para aquele maldito lugar apenas por que estava com medo da própria casa, mas não havia a ajudado em absolutamente nada, muito diferente das outras vezes. E agora tinha que enfrentar Mia, não queria, queria ir embora sozinha como sempre fazia, só de lembrar da última vez em que ganhara uma carona dela isso lhe causava uma angústia tão incômoda. Enfiou as mãos nos bolsos do sobretudo enquanto tomava coragem de sair dali, respirou fundo algumas vezes e saiu andando devagar, porém, no momento em que se aproximava do corredor principal que dava acesso a saída pelos fundos, bem na sua frente passou uma dançarina que fez a feição de Helena mudar de uma vez. Agiu completamente por impulso quando agarrou o braço da garota e a puxou de forma bruta empurrando-a contra a parede mais próxima, bastou que o corpo dela batesse contra a parede para que a mascarada agarrasse-lhe o pescoço com a mão direita de forma violenta e ela apertou sem dó enquanto olhava naqueles olhos assustados e arregalados, muito diferentes de como estavam quando ela estava rondando Mia.
— Se eu ver novamente você se aproximando dela, eu juro que acabo com o que você tem aqui, eu faço você sair com as mãos abanando e eu estou pouco me fodendo se você precisa ou não de dinheiro. — apertou mais o pescoço da dançarina que ela nem sabia o nome e se aproximou mais, os rostos tão próximos que eram só centímetros que separavam os lábios.
As mãos da dançarina agarraram o antebraço de Helena com força, era desespero de quem estava precisando de ar.
— Lembre-se bem disso e você e todas as outras sabem que eu tenho poder para isso. — rosnou contra o rosto da garota e então a soltou, ela caiu de joelhos enquanto tossia e a mascarada plenamente ignorou enquanto dava as costas e saia andando a passadas largas, mas lentas, as mãos voltaram a se enfi*r no sobretudo enquanto sentia os olhares curiosos e alarmados de outras garotas que estavam por ali.
— Você quer que eu chame um taxi? — o segurança que ficava na porta dos fundos questionou.
Ela negou com um aceno de cabeça.
— Hoje não. — complementou. Ele acenou de forma positiva enquanto abria a porta, Helena acenou da mesma forma antes de passar por ele e ser recebida pelo ar frio da noite. Quando a porta foi fechada atrás de sí, foi como levar um baque de realidade e dar-se conta do que havia acabado de fazer. Foi simplesmente instantâneo, assim que se deu conta, que entendeu, correu para um canto qualquer quando a ânsia de vômito viera com força, vomitou o que nem tinha no estômago, o que saiu foram o nojo que sentira de sí mesma e a surpresa por tal ato de violência gratuita. Aquilo não era ela, ela nunca seria capaz de fazer algo do tipo com ninguém, então por que fizera? Seu estômago doeu e ela levou a mão a barriga e subiu deslizando até o próprio pescoço que queimava. Balançou a cabeça de forma negativa enquanto se afastava um pouco da parede e em seguida arrancava aquela maldita máscara do rosto, quis arremessa-la o mais longe que conseguia, mas ao mesmo tempo sentiu que algo a impedia de fazer isso, como se alguém segurasse sua mão e a impedisse de realizar o movimento.
Olhou em volta, o beco vazio dos fundos do bar, tudo o que tinha eram latas grandes de lixo que acomodavam todo o lixo do estabelecimento e lá estava Helena, perdida, vazia e sentindo-se completamente sozinha e definitivamente louca. Deu alguns passos para trás até chegar bem ao meio do beco e respirou fundo antes de cuspir no chão, o gosto desagradável em sua boca deixava-a ainda mais enjoada. Suspirou, estava se sentindo tão mal que seria capaz de deitar naquele chão nojento e chorar até sumir. De forma derrotada, guardou a mascara no bolso do sobretudo e ergueu as mãos, penteando os cabelos com os dedos e em seguida os amarrando em um coque meio bagunçado, enfim, saiu andando devagar, tudo o que mais queria era ir embora sozinha, mas não tinha coragem de deixar Mia esperando sem respostas. Não conseguiria abandona-la.
Assim que apareceu na principal, pode ver mais a frente do outro lado da rua, Fred de frente para a parede aparentemente vomitando enquanto Mia mantinha-se encostada no carro de braços cruzados e olhando para um ponto qualquer, parecia extremamente pensativa.
— Ele está bem? — Helena questionou em tom baixo e extremamente cuidadoso enquanto terminava de atravessar a rua.
Mia ergueu o olhar e a encarou por alguns segundos em silêncio antes de dar de ombros e encarar o irmão.
— Apenas fisicamente eu ach... Não! Não, Fred! Sentar não! — Mia falou mais alto enquanto desencostava-se do carro rapidamente para impedir que o irmão sentasse na calçada como já se preparava para fazer, ele parecia desorientado, mas acatou em silêncio a irmã e logo estava sendo guiado de volta para o carro. — Você realmente não tem idade para estar agindo igual um adolescente inconsequente dessa forma. — reclamou enquanto ajudava-o a entrar no banco de trás, assim que ele entrou ela fechou a porta com um pouco de força e voltou a encarar Helena.
Helena parecia perdida, um olhar vazio e fixo em um ponto qualquer, distante, extremamente distante. Mia não soube o que falar, na verdade não sabia nem se deveria, respirou um pouco fundo.
— Vamos. — chamou Helena em tom baixo.
A mexicana despertou de seus pensamentos e encarou Mia por alguns segundos, seu olhar foi retribuído, nenhuma sabia o que falar de fato. A sensação que isso trazia para Helena era verdadeiramente horrível, então, ela apenas acenou positivamente com a cabeça e foi devagar em direção à porta do passageiro. Quando entrou no veículo, Mia já havia entrado e já fechava a porta. Estava se sentindo tão tensa que era como se todos os músculos de seu corpo estivessem contraídos e isso começava a lhe causar dor.
Como deveriam agir naquele momento? Como se toda aquela situação fosse comum e normal? Deveriam conversar normalmente como se nada estivesse acontecendo? Deveriam agir como sempre agiam quando se encontravam? Com abraços? Beijos? Dizer que sentiram saudades? Mia deveria perguntar como foi a noite no bar? Como foi a dança? Como foi o pesadelo?
Elas não sabiam e por isso optavam pelo silêncio.
Helena abriu a janela do carro por que o cheiro de álcool que vinha de Fred começava a deixa-la ainda mais enjoada do que já estava. Cruzou as pernas, colocou o cinto, cruzou os braços, se encolheu e apoiou a cabeça no encosto do banco enquanto fixava os olhos lá fora quando o carro começou a movimentar-se. Sentia que poderia ser engolida a qualquer momento pelo vazio que tinha dentro de sí e isso estava lhe causando uma angustia tão grande que a estava deixando completamente perdida.
Mia a olhou enquanto dirigia, notoriamente tinha algo de errado.
— Helena. — chamou a mulher ao seu lado em tom cuidadoso. Demorou um pouco, alguns bons segundos para que Helena virasse o rosto para lhe encarar. — Você quer conversar?
Helena sentiu vontade de chorar com aquela pergunta, franziu o cenho com isso, segurando a vontade que fazia seu nariz arder. Negou com um aceno de cabeça enquanto voltava a desviar o olhar.
— É melhor não. — respondeu, já estava se sentindo suficientemente humilhada, não queria que aquela sensação ficasse pior e só conseguia pensar na última vez que ganhara uma carona como aquela e no quão desconfortável fora naquele dia, não queria a mesma coisa, por isso optara pelo silêncio.
Amélia respeitou, por mais que ouvir aquela resposta tivesse doído em seu coração.
Então, por alguns bons minutos seguiram no meio de um silêncio absoluto e incômodo para ambas, tanto que parecia sufoca-las, principalmente Helena, que sentia-se cada vez pior, o silêncio desagradável fazia todas as paranoias criadas em sua cabeça ficarem ainda maior e não saia da sua mente em momento nenhum a silhueta negra deitada em sua cama e a voz de Trevor ao pé de seu ouvido. Quando uma lágrima grossa escapou de seu olho direito ela foi rápida em enxuga-la, não queria chorar na frente de Mia naquele momento.
Porém, diferente de Helena, Fred não segurou isso muito bem e o silêncio do carro foi substituído pelo choro copioso do homem.
— O que foi, Fred? — Mia questionou ao encarar o irmão pelo o retrovisor interno do carro.
— Eu estou envergonhando o Pappa. — o linguajar italiano soou repentinamente de Fred, trazendo junto um baque para o coração de Mia, não por ser a sua linguagem paterna, mas sim pelas palavras em sí.
Helena se atentou por alguns segundos diante a mudança repentina de idiomas dentro do carro, claramente não havia entendido, mas pelo silêncio pesado de Mia, imaginou que Fred não havia dito algo agradável, ainda mais pela forma ainda mais intensa que ele continuara a chorar depois disso.
É, definitivamente aquilo só ficava pior.
— Você fica. — falou para Helena assim que parou o carro em frente a casa de Fred, não queria que ela passasse pela mesma coisa que passara da última vez em que deixaram Fred ali. Helena apenas acenou de forma positiva com a cabeça enquanto Mia já saia do carro e logo abria a porta de trás para ajudar um Fred meio morto e choroso a sair, não foi nada difícil dessa vez, apesar de extremamente bêbado, ele parecia mais triste do que o normal e por isso mesmo obedecia qualquer ordem de Mia em silêncio.
Helena observava tudo em silêncio, mas logo desviou o olhar, retirou o cinto e inclinou-se no banco, apoiando os braços em suas coxas e escondeu o rosto nas mãos por alguns segundos, seu coração estava batendo tão forte que estava lhe machucando já há algum tempo, abriu ambas as mãos e as estendeu um pouco a frente, viu como tremiam.
— Vai passar, vai passar. — sussurrou para sí mesma na tentativa de controlar aquelas reações, mas seus pensamentos não permitiam que ela se acalmasse de forma alguma. Ergueu a cabeça só para checar se Mia já estava vindo, foi no momento exato por que logo vira a Designer fechando a porta da casa do irmão para vir logo em seguida caminhando a passadas largas para o carro. Helena foi rápida em se ajeitar e disfarçar o que sentia, quando Mia entrou no carro Helena se ocupava em recolocar o cinto de segurança.
Então, mais uma vez, silêncio.
E novamente Helena se perdeu no próprio vazio enquanto encarava as ruas pelas quais passavam, em sua mente repassava cada detalhe do que havia acontecido naquela noite, tinha a sensação de que seria assombrada por aquelas memórias pelo resto da vida.
Já Mia sentia-se completamente angustiada por que não sabia como ajudar Helena naquele momento, Helena não queria conversar e Mia não queria desrespeitar as vontades dela, por isso aceitava aquele silêncio desconfortável mesmo que quisesse perguntar o que havia acontecido.
O que fizera no bar batia mais forte na porta de Helena, a forma como agira com aquela garota, de maneira tão inconsequente e violenta, de uma forma que Trevor muitas vezes agira com ela. Helena não era daquele jeito, então por que estava agindo daquela forma agora?
Quando o carro parou e Helena notou que estava em frente de casa, ela encarou a residência por alguns segundos.
— Mia... — chamou em tom baixo. — Você acha que eu sou louca? — questionou e virou a cabeça para encarar a mulher ao eu lado, os olhos expressivos e atentos pareciam transbordar de desespero em busca da resposta para aquela pergunta.
Mia franziu o cenho com aquela pergunta repentina, mas aquele olhar de Helena, aquele olhar realmente lhe partiu o coração. Abriu a boca para perguntar o porquê de ela questionar aquilo, mas hesitou por alguns segundos.
— O que aconteceu hoje? — questionou enfim o que tanto queria saber para tentar entender o motivo daquela pergunta.
Helena pareceu se conformar em um suspiro e apenas acenou de forma positiva com a cabeça enquanto retirava o cinto e já ia abrindo a porta do carro.
— Obrigada pela carona. — agradeceu enquanto já ia saindo do veículo.
— Helena. — Mia chamou e logo em seguida, com rapidez, já foi saindo do carro para parar aquela mulher.
— Eu quero ficar sozinha. — Helena falou sem olhar para trás enquanto enfi*v* as mãos nos bolsos do sobretudo e caminhava diretamente para a porta de casa.
Mia parou em pé ao lado do carro, a boca entreaberta pela surpresa enquanto encarava Helena se afastando cada vez mais, quis contrariar as palavras dela, quis ficar até que ela conversasse direito, mas teve medo que isso tivesse um efeito indesejável e tornasse a situação muito pior. Sua expressão se contorceu quando sentiu vontade de chorar por sentir-se tão impotente naquela situação e ela continuou ali, em pé, sem reação até que Helena sumisse de seu campo de visão ao entrar em casa. Olhou em volta como se fosse encontrar algum tipo de solução para aquilo, mas só encontrou a rua vazia e escura, se deu por vencida quando entrou no carro e preferiu ir embora, era melhor respeitar a decisão de Helena.
Já dentro de casa as coisas estavam diferentes, Helena estava sentada no chão encolhida contra a porta de casa e abraçando os próprios joelhos, só havia tirado os saltos que usava, as lágrimas grossas escorriam em abundância pelos olhos já avermelhados, mas Helena simplesmente não reagia a isso. Só mantinha o olhar fixo em um ponto qualquer da sala e se martirizava por tudo o que havia acontecido naquela madrugada. E pensar que só fazia algumas horas que Mia havia aparecido na porta de sua casa para trans*r. Se martirizou mais ainda por ter a tratado daquela forma a minutos atrás, por mais uma vez fazer ela passar pelo constrangimento de lhe dar carona, sabia que ela não gostava, se culpou por ser tão fraca e estar com um medo absurdo de voltar para seu quarto, por isso estava sentada no chão frio e encostada na porta da casa, se culpou por de fato constatar que estava louca e sentiu medo por isso. Era assim que seria de agora em diante?
®
Já passava das duas horas da tarde quando a segunda reunião do dia na Simplicity acabou. Mia estava sozinha na sala de reuniões com os olhos fixos no celular em cima da grande mesa enquanto Hernando havia ido levar os clientes até o elevador, Mia já havia se despedido deles de forma correta e agora se permitia a dar atenção ao celular, apesar de que não tinha a sua atenção retribuída.
— O que está acontecendo, Mia? — questionou Hernando assim que voltou para a sala de reuniões. — Você não estava totalmente aqui em momento nenhum hoje. Brigou com a Helena novamente?
— Desculpa. — falou baixo e ergueu o olhar para o amigo. — Eu dei o melhor que eu podia hoje, eu juro.
— Mas... — o rapaz antecedeu enquanto sentava-se em uma das poltronas.
— Mas não, não briguei com a Helena, não exatamente. — falou baixo enquanto voltava a encarar o celular. — Ela está me ignorando. — franziu o cenho e pegou o celular, o destravou e abriu a conversa de Helena onde havia mandado algumas mensagens desde manhã, mas não havia recebido uma resposta sequer desde então. — Ela estava no bar ontem quando fui buscar o Fred e eu dei carona a ela novamente.
Hernando manteve-se em silêncio, só aguardando que Mia finalizasse.
— Só que... — franziu o cenho como se estivesse pensando bem nas próprias palavras. — Tinha alguma coisa de errado. Mesmo com ela dançando eu vi que tinha algo de errado, depois só foi piorando. Ela não quis conversar, foi todo o caminho em silêncio, parecia perdida e quando chegamos a casa dela ela me perguntou de repente se eu achava que ela é louca. — travou o celular novamente e ergueu-se da poltrona logo em seguida, estava inquieta. — Eu não sei o que aconteceu, não sei se foi um pesadelo intenso, não sei se alguém fez algo com ela lá dentro, pode ter sido os dois. Eu tentei ficar com ela, mas ela afirmou que queria ficar sozinha. — gesticulava com as mãos à medida que falava. — E isso é tão contraditório por que eu fui a casa dela mais cedo, trans*mos por horas e ela não queria que eu fosse embora, mas eu precisei ir por causa da nossa reunião que era muito cedo. E estava tudo perfeitamente bem.
— A Helena não deve se orgulhar de ter como válvula de escape, dançar em um bar de strippers. — Hernando comentou.
— Não se orgulha.
— Será que ela não se sente humilhada por aceitar uma carona sua?
Mia encarou Hernando com o cenho um pouco franzido, sem saber o que responder aquela pergunta.
— Ela sabe que você não gosta, você nunca escondeu isso.
— Não deve ser só isso, além do mais eu falei que não reclamaria mais sobre se ela fosse à psicóloga, eu sei que ela não tem controle, eu já vi o que acarreta essas idas, eu entendo e ela sabe disso.
— Esse relacionamento de vocês é tão complicado. — Hernando reclamou enquanto passava as mãos pelos cabelos bagunçados e respirava fundo. — Vá conversar com ela, não é com achismos que se vai resolver isso, só enfrente a situação, eu não aguento mais você olhando pra esse celular a cada segundo.
Mia cruzou os braços de forma um pouco desconfortável com aquelas palavras, mas acenou de forma positiva, Hernando estava certo.
— Eu tenho que ir ao restaurante mais tarde, então eu chegarei tarde em casa, ok? — falou enquanto dava a volta na mesa e se aproximava do amigo para dar alguns beijos no rosto dele.
— Eu quero alguma sobremesa.
Mia sorriu.
— Vou caprichar. — garantiu antes de se afastar e ir andando em direção a porta.
— Mia... — Hernando chamou, a morena parou de andar e encarou o amigo. — Você sabe que isso com a Helena sempre será assim não é? Uma inconstância que sempre precisará ser resolvida por você ou outra pessoa para que ela volte ao normal.
— Ela está se esforçando na terapia para superar isso, Nando, não é culpa dela. Eu não vou exigir algo para uma situação a qual ela não tem controle, são consequências de uma vida infame que ela precisa superar e eu entendo, todos nós temos algum trauma marcado na alma, não temos? Você deveria entender.
— E eu entendo. — Hernando girou a poltrona devagar para poder encarar Mia mais uma vez. — Entendo completamente e me solidarizo com isso, só estou dizendo que isso pode gerar uma dependência que a longo prazo pode trazer algum tipo de problema.
Mia deu de ombros, mas acenou de forma positiva com a cabeça.
— Você está certo. — ela concordou e respirou um pouco fundo.
— Mas? — Hernando arqueou uma sobrancelha.
— Mas você sabe...
— Claro, claro, cadelinha da Helena. — Hernando falou com um falso e teatral desdém, isso arrancou um sorriso largo seguido de uma risada de Mia.
— Eu prometo que vou tomar cuidado. — falou um pouco mais sério desta vez, em seguida sorriu de forma carinhosa para o amigo antes de lhe mandar um beijo pelo ar e finalmente dar meia volta até deixa-lo sozinho na sala de reuniões.
Aquela breve conversa que tivera com Hernando deixou-a extremamente pensativa, tanto que quase em um piscar de olhos, já estacionava o carro alguns metros a frente da Galeria de Helena. Havia perdido a noção do tempo enquanto dirigia justamente por que estava com a cabeça cheia demais de pensamentos que giravam em torno de toda aquela situação. Inicialmente não sabia se Helena estava ali, mas quis arriscar primeiro lá antes de ir até a casa dela.
Sentia aquela típica ansiedade corroendo o seu estômago enquanto andava a passadas um pouco largas pela calçada até chegar à porta da galeria, porém, parou assim que viu a placa “fechado” pendurada na porta, franziu completamente o cenho, mas ainda assim se aproximou da porta e quase colou o rosto na parte de vidro para olhar para dentro da galeria, foi assim que viu, sentada em uma das poltronas da mesa na recepção, Alysson.
Fechou o punho e bateu contra o vidro da porta algumas vezes de forma um pouco leve até que a ruiva erguesse o olhar, ela pareceu iluminar-se quando viu Mia, tanto que imediatamente ergueu-se da poltrona e foi até a porta para destravá-la.
— Mia, que bom que você veio. — a ruiva parecia claramente aliviada e isso obviamente alarmou a designer.
— Ela está aqui? — questionou enquanto abraçava a mulher de forma calorosa, mas se afastaram logo.
— Em partes. O que aconteceu? — fora direta enquanto voltava a trancar a porta, as duas se olharam, ambas com o cenho franzido.
— Eu não sei exatamente, ela não responde minhas mensagens. — reclamou. Seu coração pulou dentro do peito, só de imaginar que a situação poderia estar pior do que havia imaginado.
Alysson respirou fundo e com um pequeno aceno de cabeça chamou Mia, deu alguns passos em direção ao ateliê de Helena, Mia a acompanhou.
— Lembra quando eu te falei que às vezes ela pinta compulsivamente até extravasar? — comentou.
Mia não soube o que falar.
Helena estava sentada no chão diante a uma tela que com certeza era maior do que ela, as pinceladas eram rápidas, quase desesperadas, fortes como se estivessem sendo feitas com raiva. Os cabelos estavam amarrados, mas bagunçados e nitidamente alguns fios grudados à nuca suada, a camisa xadrez estava colada as costas de Helena, também pelo suor, os braços, as coxas expostas, estavam sujos pela tinta, assim como até mesmo o chão, tintas espalhadas, pincéis desorganizados e uma urgência tão grande para pintar que Helena mal piscava, ela nem parecia estar ali na verdade.
— Há quanto tempo? — Mia questionou em tom baixo.
— Eu tenho certeza que desde manhã. — Alysson respondeu. — Já chamei ela, pedi que parasse, pedi que ela pelo menos almoçasse, mas ela só disse que não estava com fome, não sei o que fazer a mais além de esperar.
Mia olhou para o relógio em seu pulso, eram quase três da tarde, se Helena estava daquele jeito desde manhã, aquilo já havia passado dos limites há muito tempo, precisava fazer alguma coisa. Olhou em volta, ao redor de Helena haviam alguns quadros que pareciam ter sido feitos naquele dia, todos escuros demais e com imagens desagradáveis e um tanto perturbadoras, Mia imediatamente constatou que eram pesadelos.
Quando o barulho de um pincel caindo no chão soou pelo ambiente, os olhos atentos de Mia seguiram os movimentos que vieram a seguir, o pincel de tamanho grande caído ao lado de Helena e a mão da Artista parada no ar, meio aberta e claramente tremendo.
Helena olhava fixamente para a própria mão que tremia com a dor que sentia, uma cãibra que travava seus músculos e a impedia até mesmo de conseguir fechar a mão, fez esforço para conseguir mover os dedos, praticamente implorando silenciosamente para aguentar um pouco mais, não queria parar agora, pintar mantinha sua mente ocupada e fazia ela parar de ter lembranças tão ruins, ela não queria parar. A respiração acelerou-se um pouco com a ansiedade que aquilo lhe causou, não queria parar, não podia.
— Helena. — Mia se ajoelhou bem atrás da mexicana e sentou sobre os próprios calcanhares quando envolveu os ombros de Helena em um abraço, encaixou o corpo da mulher entre suas pernas quando a abraçou. — Você chegou ao seu limite, pare com isso! — brigou, mas não o fez em tom agressivo, foi baixo e preocupado. A mão direita erguendo-se para segurar a de Helena com cuidado já que era obvio que ela sentia dor ali.
Helena foi pega de surpresa, seu coração levando um baque quando ouviu aquela voz, mas principalmente quando sentiu aquele abraço quente a apertado, aquele cheiro gostoso, aquele calor. Mia a apertou mais, tanto com os braços quanto com as coxas, deixou-a presa em seu abraço.
— Calma. — falou baixo e beijou a têmpora direita da mexicana com carinho, soltou-lhe a mão com cuidado só para voltar a lhe envolver melhor em meio ao abraço, respirou fundo antes de falar baixinho. — Ele não vai fazer nada com você novamente, você não está louca, você sabe, mesmo que seja lá no fundo, que isso são as cicatrizes enraizadas que você tem, isso não é loucura, você é a pessoa mais sã que eu conheço, se ele apareceu no seu quarto novamente ontem, eu acredito plenamente em você e no que você viu, você não é louca.
Helena puxou o ar com força de forma repentina, como se até aquele momento ela estivesse sendo privada de respirar, como se estivesse se afogando no próprio vazio e Mia tivesse chego ali para puxá-la para fora daquela aura pesada. Seu coração pulou dentro do peito enquanto algumas lágrimas escorriam por seus olhos.
— Eu não vou te soltar, ok? Eu não vou te soltar. — Mia garantiu enquanto apertava a morena em seus braços com ainda mais força do que antes, como se precisasse apertá-la o máximo possível para deixa-la ciente de que estava ali por ela.
Helena acenou rapidamente com a cabeça, concordando com as palavras de Mia e ergueu as mãos para segurar os antebraços da mulher em torno de sí, o simples movimento fez o seu braço direito inteiro doer, mas ignorou a dor por que precisava tocar Mia só para ter certeza de que aquele momento não era coisa de sua cabeça. Tocou os antebraços cobertos pela camisa e apertou bem em resposta ao abraço, em seguida virou o rosto e seu nariz roçou na lateral do rosto de Mia, apoiou a testa ali e respirou fundo enquanto fechava os olhos, dessa vez não teve medo, só sentiu um alívio imenso com o calor daquele abraço e com aquele cheiro gostoso que emanava de Mia, automaticamente associava aquele cheiro a algo bom, a segurança.
Alysson observava todo aquele momento em silêncio e com o coração na mão, mas o alívio que sentiu quando viu Helena simplesmente ceder ao abraço de Mia e claramente relaxar, foi imenso. Ela sorriu e sequer conseguia explicar o quão bom foi ver aquilo, saber que finalmente Helena sentia-se a vontade com alguém daquela forma. Sorriu fraco e deu meia volta, deixaria as duas a sós por enquanto e aproveitaria para ir comprar algo para Helena comer.
— Eu estou tão cansada. — Helena sussurrou.
— Eu sei. — Mia falou no mesmo tom e virou a cabeça só para dar um beijo carinhoso na testa de Helena, respirou fundo ao imaginar que deveria ter insistido na conversa naquela madrugada. O abraço afrouxou e Mia afastou-se um pouco, as mãos afastaram de qualquer forma os utensílios em torno de Helena e algumas tintas e então sentou-se, bem ao lado dela, mas ficando uma de frente para a outra. — Deita aqui. — mandou ao indicar as coxas enquanto esticava as pernas de forma confortável.
Helena acatou de forma quase imediata e com certo cuidado deitou-se de uma vez no chão e apoiou a cabeça nas coxas de Mia. Era claro o cansaço em cada linha de expressão de Helena. A mão de Mia calmamente se encaixou na lateral do rosto da Mexicana em um carinho leve, o polegar deslizou por uma marca de uma lágrima. Helena fechou os olhos enquanto sentia o corpo relaxando no chão, aquilo era tão bom, era definitivamente tudo o que precisava.
— Vamos conversar agora. — não foi uma pergunta dessa vez, Helena entendeu e acenou de forma positiva. — O que aconteceu ontem à noite?
— Eu não quero conversar sobre isso.
Mia ignorou.
— O que aconteceu ontem à noite? — insistiu em tom mais firme dessa vez, isso fez Helena abrir os olhos, aqueles olhos azuis de Mia pareciam ainda mais vivos do que antes, tão azuis e tão expressivos... Ela estava preocupada, aquele olhar desarmou Helena de todas as formas possíveis.
— Quando eu acordei, na cama comigo tinha alguma coisa, a mesma coisa que eu vi naquele dia fora da janela. Estava deitado comigo me olhando com aqueles olhos brilhantes, eu não conseguia me mexer, não conseguia falar, nada e ele também não se mexia, só me olhava fixamente. — sussurrou de forma cautelosa, olhava fixamente nos olhos de Mia como se dependesse disso para ter coragem. — Então ouvi atrás de mim a voz do Trevor perguntando se eu estava o traindo e me chamando pelo apelido que só ele chamava, isso não é algo que uma pessoa em sã consciência veja, Mia.
— Por isso me perguntou aquilo ontem. — Mia falou num sussurro, seu coração batia com força só com a imaginação que tinha a respeito daquele pesadelo bizarro que Helena tivera, ela estava certa quando pensava os maus bocados que Helena deveria ter passado para acabar naquele bar mais uma vez.
Helena concordou com a cabeça.
— Achei que era a única explicação pra isso.
Mia negou.
— Eu posso te apresentar até a noite um relatório descritivo totalmente detalhado e dividido entre relatos, causas e tratamento que vai deixar totalmente claro que isso que você vive em certas noites, não é loucura e nem chega perto disso.
Helena não conseguiu deixar de dar uma pequena risada.
— Um relatório, Amélia? — implicou.
— Você prefere uma apresentação em Power Point?
Helena riu novamente, desta vez de forma um pouco mais leve, mais livre e principalmente mais aliviada, um assunto que deveria ser tão pesado conseguia se tornar leve quando e falado com Mia. Se sentia tão bem por isso.
— Eu não queria que você passasse por aquilo novamente ontem. — Helena voltou a falar enquanto encarava Mia. — Eu sei que você não gosta daquele lugar, você não tem obrigação alguma de me levar pra casa, Mia, isso não é justo com você.
— Sim, eu odeio aquele lugar, mas eu sei o que te faz ir até lá, ontem quando bati os olhos em você eu já sabia que tinha algo de errado, como eu iria ignorar isso? — questionou enquanto os dedos deslizavam pelos fios escuros do cabelo de Helena. — Nunca me peça para ignora-la quando eu souber que tem algo de errado e sempre tem algo de errado quando você está lá, sempre que eu vê-la lá eu vou sempre esperar para levar você pra casa e eu não aceito um não como resposta, você pode me ignorar o caminho inteiro, mas pelo menos eu vou me sentir um pouco melhor por saber que eu te deixei em segurança em casa. Estamos de acordo?
— Eu tenho opções? — arqueou uma sobrancelha, Mia arqueou de volta e Helena sorriu com a situação, derreteu-se de vez por Amélia.
Mia sorriu de volta, finalmente se sentindo leve mais uma vez por ver que Helena estava bem, ou ao menos estava ficando. As duas se olhando em silêncio, uma compreendendo a outra, transbordando sentimentos, segurança e cumplicidade, e trazendo o conforto que ambos os corações precisavam, em especial o de Helena.
— Você estava com receio de me ver? — Mia questionou de forma curiosa.
Helena acenou que sim.
— Acho que juntou tudo, sabe? — desviou o olhar e encarou o teto. — Eu estava me sentindo louca, consequentemente isso me fazia sentir um vazio imenso e eu sentia de verdade que estava sendo engolida por ele, esse vazio só foi crescendo e crescendo, me engolindo a ponto de eu sentir que iria sufocar a qualquer momento. Além disso tudo, eu estava me sentindo culpada por que estava convicta de que você estava chateada por mais uma vez passar por aquilo...
Mia foi se inclinando até conseguir ficar na altura certa e dar um selinho nos lábios de Helena.
— Tão bonitinha com medo de mim. — provocou em tom baixinho.
Helena riu.
— Você é assustadora quando quer. — rebateu.
— Eu sei, mas nunca farei algo que te machuque ou te assuste de verdade. — falou baixo enquanto voltava a erguer o tronco, em seguida pegou a mão direita de Helena com cuidado. — Às vezes eu sou explosiva e inconsequente, mas diante de você e já sabendo suas reações a isso, meu respeito por você é muito maior que qualquer irritação que eu possa a vir sentir. — explicou enquanto ia erguendo o braço direito da mexicana com cuidado. — Está doendo?
— Está. — foi à única coisa que falou, por que ficou muda diante as outras palavras de Mia, tanto que precisou desviar o olhar por que ficou sem graça e a forma que seu coração batia dentro do peito era a prova disso.
— Eu vi como tremia mais cedo. — falou baixo ao encarar a mão de Helena.
— Foi uma cãibra.
— Está doendo muito? — Mia desviou os olhos da mão da morena e a olhou nos olhos.
Helena acenou positivamente com a cabeça.
— Por que desrespeitou seus limites dessa forma, Helena? Vai acabar desenvolvendo algo grave no músculo ou nos ossos e pelo que a Ally me disse, isso não é a primeira vez que acontece.
— É uma forma de escape, achei que conseguiria expulsar toda aquela aura ruim pintando, mas quanto mais eu pintava, nada mudava, estava ficando desesperada... Parece loucura, eu sei. — suspirou.
Mia negou com um aceno de cabeça.
— Senta, deixa eu fazer massagem, o Hernando tem dores por que fica tempo demais no computador projetando, o Drew me ensinou uma boa massagem pra ajudar ele.
Helena acatou de muito bom grado e logo estava sentada entre as pernas de Amélia, o cenho estava franzido, mas era só pelo receio da dor enquanto seu braço era manuseado por Mia.
— Quando o Pappa morreu e eu acabei sendo consumida pelo vazio...
— Ai! — Helena reclamou quando Mia esticou todo o seu braço.
— Desculpa, vou devagar. — garantiu.
— Continue.
— Eu procurava escape em sex*. — explicou de forma lenta enquanto tinha toda a sua atenção para o braço direito da Artista, fazendo-a alonga-lo bem antes de começar uma boa massagem. — Quando eu não estava ignorando o Hansel, eu pedia um sex* mais violento na tentativa de me sentir um pouco viva, como se a dor dos tapas fosse me trazer de volta a vida, eu me envergonho muito disso por que claramente eu estava o usando.
— Não se tem muita consciência quando você está desesperada por alívio no meio da angústia. — Helena falou baixinho ao perceber que Mia a entendia bem mais do que havia imaginado.
— Isso. — concordou enquanto massageava o ombro da Mexicana. — Quando tive a certeza de que o nosso relacionamento teve um fim, eu trans*va com qualquer cara que me despertasse interesse por que achava que isso seria o suficiente para suprir o vazio que eu sentia, foi assim que ganhei certa fama de amar banheiros de boates. — franziu o cenho com aquelas palavras, não iria esconder aquilo já que era um assunto que constantemente entrava em pauta na sua roda de amigos quando eles queriam tirar sarro dela. — Foi assim que eu conheci o Charlie e ele me dava o que eu queria sempre que eu queria e isso funcionava muito bem, se eu estivesse muito sobrecarregada, eu pedia que ele fosse mais bruto só para tentar fazer com que aquela dor me deixasse viva.
— E como você conseguiu sair disso?
Mia deu de ombros e Helena gem*u de dor quando a morena esticou seu braço novamente.
— Vou pedir que o Drew examine esse ombro e sua mão quando tiver a chance, você deve ter magoado um problema que já tem aqui faz tempo. — Mia comentou e baixou o braço da morena com cuidado antes de abraça-la até que a aconchegasse em seus braços. — Em determinado momento eu me dei conta de que isso só funcionava durante o sex* e quanto mais eu fazia, menos funcionava, então ficou obvio que eu estava indo pelo caminho errado e eu só estava permitindo que mais desconhecidos explorassem o meu corpo de uma forma errada. — as palavras saíram baixas agora, quase sussurradas já que falava bem ao lado do rosto de Helena. Segurou a mão da mexicana e calmamente começou a massageá-la, estava bem suja de tinta, mas isso não incomodava nem um pouco a Designer. — O Hernando foi simplesmente incrível em me apoiar e me segurar e mostrar que o que eu precisava era só aceitar que eu nunca mais veria o meu pai, eu precisava abraçar e viver o luto... Claro que ainda tem coisas que eu não superei 100%, mas me ajudou muito. As duas ficaram em silêncio por um tempo, Mia concentrada em massagear a mão de Helena e a mexicana pensativa com tudo aquilo. Porém, Mia voltou a falar um tempo depois. — Eu não quero que você ache que eu estou comparando os nossos casos...
— Não estou. — Helena se antecipou e Mia acenou de forma positiva com a cabeça.
— Mas você precisa abrir seus olhos e perceber que certas coisas não vão te tirar do vazio, você precisa fazer isso antes que se afunde e se machuque mais do que fez hoje e eu sei que isso é a coisa mais difícil do mundo pra você, mas olhe para o seu lado, Helena, você tem do seu lado uma mulher que está a anos mais do que pronta para te salvar de qualquer coisa. — referia-se a Alysson, tanto que ergueu o olhar a procura da ruiva, mas não a achou, mas isso não a fez parar. — Eu também estou aqui pra te ajudar por que quero te ver bem, mas não vou conseguir te ajudar e muito menos a Ally vai se você se fechar para nós, principalmente para ela que já viu você em todos os estados possíveis e sabe dizer com convicção que você não é louca.
Ouvir aquelas palavras foi como levar vários socos bem na boca de seu estômago, por que imediatamente pensou naquela madrugada e do quão mal saíra do bar e pensou em como nunca era uma solução definitiva, sentia-se bem enquanto dançava, mas e depois? Todos os pensamentos ruins voltavam como uma enxurrada que sempre acabavam a afogando e sempre quem estava lá para lhe ajudar era Alysson, estava sendo relapsa em tantos sentidos que por um momento sentiu-se uma amiga verdadeiramente ruim.
Nenhuma de suas tentativas de escape foram tão eficiente quanto estar nos braços de Mia, ali, naquele exato momento, sentindo a massagem em sua mão e todo o cuidado que Mia transbordava, a segurança que sentia era imensa, um conforto que fazia o seu corpo relaxar, não seria que era louca e sabia que Mia acreditava em cada palavra que ela dizia, independente do quão surreal fosse, a questão é que nunca falara de forma tão aberta sobre suas perturbações com Alysson, nunca permitiu que a amiga se aproximasse daquela forma, mesmo sabendo que ela se preocupava demais, aquele era um erro que precisava corrigir, mas o principal de tudo, era que precisava começar a escolher o que era essencial em sua vida a partir de agora e depois daquela noite perturbadora, será que dançar em um bar era essencial? Será que isso algum dia havia lhe ajudado como pensara ou esse tempo todo vinha se iludindo achando que aquela era a forma de escape perfeita? E a principal pergunta que tinha que se fazer era: O quão essencial Mia era para a sua vida e para o seu coração?
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
sonhadora
Em: 07/05/2021
Oiê!!! Demorei a ver que você tinha atualizado o capítulo! Amo esta história e não arredo o pé daqui..kkk poxa, como é triste ver o quanto a Helena sofre com estes pesadelos! Só desejo muito que ela consiga, com a linda ajuda da Mia e da Ally, superar estes momentos de dor na vida dela!!!
Já esperando o próximo!
Beijos!
Rubia Maria
Em: 28/04/2021
Poxa daria tudo pra esse pesadelo q ela vem tendo acabasse, ela sofre pra caramba, espero que mia acalme seu coração, pq o amor das duas é lindo, tô amando essa história louca pra próxima
[Faça o login para poder comentar]
Thayscarina
Em: 26/04/2021
uma das melhores histórias escritas aqui vc fica sempre com gosto de quero mais.... queria que os capítulos não demoracem tanto a ser postado
[Faça o login para poder comentar]
preguicella
Em: 26/04/2021
Torcendo para que Helena consiga superar esse passado com a ajuda de Mia e da psicóloga, pq o os traumas são grandes demais.
Menina, quando esse irmão da missa vai acordar pra vida, hein!?
Adoro o cuidado que a missa tem com Helena, as duas já estão tão apaixonada, mas são tão medrosas, adorei o comentário da Larissa, sapateado raiz já casa no segundo encontro. Bem se vê que ela são novas na coisa. hahaha Zoeira, o trauma de Helena é muito grande e dificulta ela se entregar ao sentimento.
Volta logo!
Bjão
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]