Me aproximei da janela para ver de onde vinha aquela música tão gostosa e envolvente, Anna veio por trás e me abraçou, dançando suavemente com seu corpo moreno colado ao meu, tentei sair da posição mas, ela não deixou, queria ficar grudada em mim.

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- Amor, se continuar assim vou esquecer que hoje temos um ritual a fazer. – Falei enquanto deixava minha mão deslizar por sua coxa morena e macia, sentindo o delicioso cheiro do creme corporal. Senti sua respiração seguido de sua risadinha melódica em meu pescoço me arrepiando os pelos da nuca.

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- Agora não podemos, mais tarde...quem sabe?, enquanto isso, Wrapped Around Your Finger.

- Adoro essa música do The Police, ai minha delícia, facilita, vai?, é difícil sentir assim e não te querer.

- Sente a música amor.

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         Ela falou enquanto rebol*va de forma sensual em meu corpo, a danadinha sabia provocar, sai de onde estava e a encostei na parede, deixando minha boca cobrir a dela em um beijo gostoso, encaixando as mãos em sua bundinha para intensificar o contato, ela riu e me puxou mostrando a lua vermelha que surgia no céu.

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- A lua de sangue me deixa insaciável, cuidado comigo.

- Hahahahah, venha que não vou fugir, só não gosto do nome dessa lua, acho meio sinistro.

- Não tem nada de assustador meu amor, vou te explicar, apesar do nome forte, a lua de sangue ou lua sangrenta é um dos fenômenos mais bonitos relacionados a lua, ocorre quando o astro fica vermelho em um período específico, dando vida a muitos mistérios e causando uma forte dramaticidade com seu aparecimento, esse evento acontece quando há um eclipse durante a superlua, época em que o Sol, a Terra e a Lua ficam alinhados fazendo com que o astro lunar entre na sombra da Terra, o ápice ocorre durante o eclipse lunar total, quando a lua muda de cor adquirindo um tom avermelhado.

- Nossa, que orgulho que sinto dessa namorada, obrigada pela aula.

- Boba, saiba que para quem vivencia a magia esse período é de grande poder, onde feitiços são realizados principalmente para prosperidade e inspiração.

- Amor, em falar nisso, vamos?, está quase na hora do ritual.

- Sim, tomara que a gente consiga libertar as meninas dessa sina.

- Vamos dar o nosso melhor, meu anjo. Eu te amo, sabia?.

- Também te amo, Kayra.

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Finalizada as explicações, com a ajuda de Melina iniciamos o ritual pedindo proteção aos deuses, em seguida traçamos o círculo mágico imaginário e circulamos o espaço com cristais, o intuito seria proteger a todas que participavam do rito, livrando-nos de qualquer energia negativa que estivessem no ambiente. As gêmeas estavam em uma cadeira no centro do círculo, confiantes que dessa vez e com amor iam descobrir o que lhes acontecia.

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- Meninas, estão calmas? – Falei antes de pegar as varetas de incenso para acender dentro do círculo.

- Sim tia Ka, sabemos que querem ajudar a gente.

- Que bom queridas. – Falei enquanto afagava a cabeça das duas, voltando logo a me concentrar.

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         Melina chegou com seu athame, uma espécie de punhal mágico sem a lâmina de corte que serve apenas para retirar as energias negativas, passando a caminhar entre os cristais para intensificar a magia enquanto entoava cânticos da antiga religião, por fim Anna acendeu quatro velas de cores diferentes ao redor do espaço para representar os quatro elementos, trazendo um cálice com vinho consagrado a deusa. Só assim nos posicionamos em locais específicos no círculo e pude ver uma forte luz serpentar iluminando a sala.

Em estado de paz, deixamos que nossas mentes se conectassem com a energia do momento, sentindo que a mesma se misturava ao nosso sangue, correndo por nosso corpos, ao mesmo tempo em que olhávamos a lua que aparecia gloriosa pela janela da sala.

Melina levantou o cristal de quartzo transparente para falar.

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A força da Deusa e do Deus correm dentro do meu corpo assim como minha própria força está representada em meu sangue. Nesse momento recebemos toda a energia de prosperidade, de amor e de satisfação que há no mundo. E peço em nome do sagrado que tudo o que impede Amélia e Alice de serem felizes que se manifeste nesse momento. Que assim seja e assim se faça!.

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         Após a oração uma espécie de fumaça musgosa saiu da cabeça das gêmeas formando a imagem de dois homens, o mais velho tinha os cabelos negros e fartos, o mais novo era loiro, de olhos azuis. Ficamos esperando que de alguma forma os espíritos se manifestassem, no entanto, para a surpresa de todas as imagens não eram espíritos, portanto, não falavam, nem se moviam, pareciam mais dois quadros antigos pintados por Renoir.

         Melina coçou a cabeça sem nada entender, o nervosismo fez com que piscasse os olhos inúmeras vezes antes de falar: bom, se não são espíritos, quem são esses dois que se apoderam das meninas?. Parei por uns instantes olhando atenciosa para as gêmeas e as duas figuras estranhas formadas no topo de suas cabeças, um insight me fez desequilibrar e sorri para dizer em seguida “claro, os dois são as meninas em alguma encarnação passada”. Melina se aproximou das gêmeas para falar.

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- Amélia, Alice, a tia Mel vai precisar de toda ajuda de vocês. Lindas, vocês lembram dessa vida quando eram homens?, podem dizer, não precisam ter vergonha.

- Sim tia, éramos homens muito ruins.

- E desde quando essas lembranças tomam conta da mente de vocês?.

- Acho que desde que a gente tinha uns três anos, é como se o pensamento dos homens tomasse conta de tudo.

- Pobrezinhas, imagine o tormento, sinceramente dessa vez preciso estudar para tentar resolver essa questão.

- Não é culpa sua tia Mel, vocês fizeram o melhor, agora é com a gente, não se preocupe.

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         No meio do visível embaraço, Mayan, a xamã de olhos doces e lindos cabelos prateados apareceu com seu sorriso acolhedor enquanto um cheiro amadeirado tomou conta do ambiente.

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- Boa noite, peço desculpas pelo atraso, estava resolvendo uma outra questão na crosta do globo terrestre, com esse período de pandemia devem imaginar como as energias estão por lá, muito desencarne e sofrimento devido ao Covid-19. Quanto as crianças parabéns pelo trabalho realizado, acreditem, fizeram o melhor possível. Anna, gostaria muito de não ser a portadora dessa notícia, no entanto, a verdade liberta, infelizmente sua mãe está por trás de tudo, ela queria que as meninas perdessem o controle para assumir a guarda delas alegando a justiça que você não tem condições de cria-las.

- Mas, com que intuito?, minha mãe nunca amou minhas filhas.

- De certo ela ainda não desenvolveu por elas os laços de sagrado afeto, mas, sabe que as duas tem muita energia e força espiritual, por sorte as duas foram bem direcionadas pela mãe. Por hora vou fechar todo e qualquer tipo de trabalho que ela tenha feito nas crianças e realizar tudo o que é necessário para que fiquem bem.

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         Ao dizer isso Mayan se aproximou, sua roupa era de um branco iridescente com pequenas estrelas que pareciam luzir quando entravam em contato com a luz, seus cabelos balançavam como se tivessem uma brisa suave ao seu redor.

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- Meninas, vocês já pagaram pelos erros cometidos, sofreram no umbral quando desencarnaram, agora vieram juntas assim para aprender, se perdoem. Agora prestem atenção na minha pergunta antes de me responder, vocês querem esquecer essa vida passada?.

- Sim Mayan, por favor, a gente só quer ser normal, não tem também como ter um corpo para cada uma?.

- Infelizmente não minha querida, vão seguir com essa provação, mas, não vão ter mais nenhuma lembrança do período em que foram homens, nem conexão alguma com a avó de vocês, tudo bem?, no entanto, como efeito colateral os poderes telecinéticos e os demais não existirão.

- Tá tudo bem, nós agradecemos até por isso.

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         Mayan adormeceu as duas, apagou as lembranças de outra existência e cortou todas as arestas espirituais imantadas por Eva, por fim se despediu desaparecendo em uma espiral de fumaça, deixando um suave cheiro de jasmim no ar. Agradecemos a ajuda, depois levantei os ombros cansados massageando os locais de tensão para falar.

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- Anna, vou deitar as meninas na cama, quando voltar vamos fazer uma oração de agradecimento a espiritualidade pela valorosa ajuda, destraçar o círculo mágico e relaxar um pouco, estamos merecendo.

- Sim meu amor, obrigada, obrigada também Melina.

- Não por isso.

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         Depois que as gêmeas deitaram, terminamos tudo, inclusive tiramos as roupas ritualísticas e guardamos os materiais. Para relaxar e matar a fome pedimos uma pizza, estávamos conversando quando a campainha tocou, sai correndo, achando que era o rapaz da entrega.

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- Oi Kayra, posso entrar?.

- Claro Júlia, acabamos de pedir uma pizza, entra.

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         Olhei para Anna, ela estava de forma bastante perceptível incomodada com a situação, piquei o olho e ela me devolveu um sorriso amarelo, levantando para sentar no meu colo.

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- Então, Júlia, em que podemos te ajudar?.

- Desculpa Anna, eu não devia ter vindo, mas, o fato é que não fazia ideia de onde poderia ir, vocês foram as primeiras pessoas que lembrei.

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         Ela falou enquanto me entregava um envelope com vários exames.

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- O que é isso Júlia?.

- Meus exames, se quiseram podem ligar para clínica, eu estou muito doente, não quero morrer do jeito que sou, vocês podem me ensinar a ser uma pessoa melhor?.

- Tenha fé, esse resultado não pode ser um estigma, como começou a sentir os sintomas?.

- Ah, primeiro tinha um breve desconforto ao comer, as vezes me sentia satisfeita comendo pouco, depois veio a febre sem motivo aparente, náuseas, vômito, então tive que ir ao médico, enfim, acho que não dá muito a fazer pois vi no meu prontuário algo que não esperava “cuidados paliativos”, foi o mesmo que ter lido “fim de linha”.

- Olha Júlia, tem um livro excelente de uma jornalista chamada Ana Michelle Soares, ela tem câncer de mama metastático, e vive muito bem há mais de dez anos, com cuidados e exames frequentes, procure ler “Enquanto eu respirar”, quem sabe essa doença é um recomeço?.

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         Ela sorriu e apontou para a porta.

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- Acho que a pizza que pediram finalmente chegou, obrigada pelas palavras, já vou indo, não quero atrapalhar vocês.

- De jeito algum, é a nossa convidada, tem pizza para todas, fica ai.

- Obrigada Kayra.

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         Após comermos a pizza Júlia se despediu combinando de voltar no próximo fim de semana e nos acompanhar a La Push, exaustas pelas emoções do dia adormecemos de imediato.

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Miraflor, 20 de maio de 1849

        

Com a volta de Afonso sem a cozinheira as coisas na casa de Elisa se tornaram mais fluidas, Cora sempre se sentia aliviada quando afastava de sua vida qualquer rival que em sua cabeça representava perigo, acreditava que muitas tinham como único propósito atrapalhar o seu sólido casamento, com isso até Dália relaxou aproveitando os dias com sua amada sem se preocupar com a marcação colada do “sogro”, pensou que talvez estivesse exagerando na percepção dos indícios e dos fatos, e os dias correram rápidos. Mas, a realidade um dia voltou a bater na porta.

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- Elisa?, querida?.

- Oi mãe?.

- Se arrume e desça logo, seu noivo está esperando para vê-la.

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         Dália pulou da cama, coçando os olhos, em seguida puxou Elisa para perto de si, segurando em sua cintura para beija-la delicadamente os lábios.

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- Não se preocupe com nada meu amor, sempre vou estar contigo, ele deve ficar um dia, no máximo dois, vamos sobreviver a essa visita.

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         A batida na porta anunciava a chegada de Bá, trazendo em suas mãos um delicado vestido rosa para Elisa, e um casaco com arabescos dourados em cima de um amarelo clarinho para Dália, além da calça de montaria do mesmo tom.

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- Vê se as duas disfarçam esse olhar apaixonado na frente dos outros, nem todo mundo pensa como eu. Nem quero imaginar o que o Sr. Afonso faria, ainda mais que ele enxerga no Sr. Otávio o filho que não teve no matrimônio.

- Como assim Bá?.

- Esquece Elisinha, venha, vou te arrumar e a senhorita trate de fingir que faz gosto desse noivado, algo que é evidente que só existe na cabeça dos seus pais, e se prepare que o noivo trouxe um jardim de flores para ti.

- Eu não gosto que tirem as flores da natureza, não morri para receber tantas.

- Ai menina, nem brinque com isso.

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         Depois de arrumadas, Dália e Elisa desceram ladeadas, evitando trocar olhares diretos, não queria chamar atenção de ninguém. Otávio se adiantou sorrindo.

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- Prima Dália, Elisa, minha noiva amada, trouxe essas flores em sua homenagem pois sua beleza merece ser reverenciada todos os dias, vim marcar nosso casamento para daqui a um ano, assim tenho tempo de fazer um verdadeiro palácio para a minha princesa.

- Não quer esperar mais um pouco?, não tenha pressa na construção.

- Ah, minha querida, não se preocupe comigo, não vai acontecer nada que impeça o nosso enlace matrimonial, estou organizando a festa mais bonita do mundo.

- Acredito, mas, não preciso de tudo isso.

- Que é isso minha filha? – Meu pai demostrou a contrariedade na voz, mas, seus olhos saiam faíscas.

- Pai, eu não vejo necessidade em ter uma festa grandiosa, tantos passando fome na rua, com esse dinheiro podíamos ajudar tanta gente.

- Elisinha sempre teve um coração de ouro.

- Estou vendo meu sogro, com certeza ela terá muito tempo para ajudar os desvalidos, com a mesada que vou dar ela poderá gastar inteirinha com eles, o que acha meu amor?, deixar de comprar seus produtos de beleza para ajudar os pobres?.

- Nada mais justo, tenho coisas demais, gosto de compartilhar.

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         Otávio olhou para Dália que apenas abriu um sorriso discreto.

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- Prima, gostaria de falar a sós contigo, tens uns minutos?.

- Claro.

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         Saíram para  o amplo jardim e junto as rosas Otávio pode abrir o coração.

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- Dália, sempre me pareceu uma moça confiável, és sangue do meu sangue, preciso te deixar ciente de algo.

- O que seria?.

- Esse casamento precisa de concretizar, preciso dar um neto a Afonso, vejo que Elisa não tem o menor interesse por mim, e seu velho pai vai me pressionar para tal, já notei que se olham diferente, me ajudem que posso ajudar vocês.

- Não entendi o que está falando.

- Entendeu, entendeu sim, ah como você entendeu. Hahahahah

- Eu só espero que tudo termine bem.

- Que esteja falando pela boca de um anjo.

Fim do capítulo