Capitulo 3
Capítulo 3°
Alice
Era sexta pela manhã, e lá estava eu mais uma vez sentada em uma das mesas na padaria esperando que a moça aparecesse. Não sei o motivo que me impulsionou a ir todos os dias aquela semana na tentativa frustrada de encontrar a moça de cabelos longos. Coisa que não aconteceu em nenhum dos dias anteriores.
Suspirei encarando o movimento das pessoas pela janela e meus olhos avistaram a figura despojada da moça caminhando na calçada. Tinha algo nela que me prendia completamente. Andava lentamente, aquela manhã havia escolhido uma camiseta branca, com calça preta e os cabelos presos a um coque deixando apenas alguns fios soltos. Ela é linda. Pensei soltando o ar pesadamente.
Levou alguns segundos para que atravessasse a porta de entrada. Baixei os olhos rapidamente para que não percebesse a minha curiosidade. Passou ao lado da mesa em que eu me encontrava espalhando seu cheiro amadeirado próxima a mim, aspirei o delicioso cheiro como se fosse a última fragrância do mundo. Fez o pedido e passou novamente ao meu lado ocupando uma mesa a alguns metros da minha. Sentou-se em uma cadeira que a deixava de costas na minha direção.
Passou uma das mãos na nuca e observei uma tatuagem em seu pescoço. Acho que alguma frase, pela distância não pude ver os detalhes. Meus olhos estavam fixos nela, não tinha como não ficarem era como se ímãs os prendessem.
Aparentemente ela percebeu que eu a fitava e virou a cabeça por cima do ombro olhando em minha direção. Seus olhos eram claros, os lábios carnudos, o nariz fino e delicado. Ela franziu o cenho e eu percebi que me interrogava silenciosamente. Juntei minhas coisas apressada e saí o mais rápido que pude de lá.
Entrei no carro e ao passar pela rua avistei sua expressão curiosa. Um segundo, esse foi o tempo que os nossos olhos se encontraram e eu senti as mãos tremerem, com certeza por medo de ela me achar uma maluca perseguidora.
Cheguei a faculdade e a aula já havia começado. Paula me fitou com a carranca de sempre, não dei a menor importância e fui até minha cadeira.
- Onde você se meteu? - Anna sussurrou.
- Perdi a hora. – comentei sem detalhes.
Ao final da aula saímos juntas para o estacionamento. Me virei ao escutar a voz de Paula chamando minha amiga. A semana inteira ela tentou se aproximar, mas como estávamos dentro da faculdade e Anna se recusava a conversar com ela, acabava se afastando para evitar um tumultuo.
- Anna, podemos conversar?
- Não. – falei entre dentes.
- Estou falando com a Anna. – insistiu.
- E eu estou dizendo que ela não vai mais falar com você. E se você insistir vou fazer questão de dizer ao seu marido que você anda de caso com suas alunas. – ela arregalou os olhos assustada.
- Vamos Alice. – minha amiga segurou meu braço me afastando da professora.
Entrei no carro e meu sangue fervia. Minha vontade era ter feito exatamente como ela fez com a Anna. Mas minhas mães sempre me disseram que não se deve resolver nada com violência.
- Me deixa dirigir. Você está nervosa. – assenti permitindo que ela ocupasse o banco do motorista.
Eu sentia meu corpo tremer de raiva. Tentei contar até dez, mas de nada adiantou. Fechei os olhos e a imagem da moça de cabelos longos ocupou minha mente, e automaticamente senti minha respiração controlar. Como aquilo era possível?
Anna me levou para casa. Entramos e encontrei Matheus na sala. Ao me ver ele se pôs de pé. Desde o dia que discutimos não havíamos nos falado mais. Eu entendia que ele ainda estava fazendo provas e para falar a verdade nem me importei tanto com sua ausência.
- Olá, meninas. – sorriu.
- Oi. Eu vou te esperar na cozinha. – caminhou para lá. Anna adorava o tempero de Maria.
- Podemos conversar em outro lugar?
- Vamos para o meu quarto. – subimos as escadas.
Atirei a mochila no canto e fui até a cama. Ele sentou-se ao meu lado.
- Desculpa não ter te procurado depois daquele dia. – falou encarando as mãos.
- Não precisa se desculpar, eu sei que você tem andado ocupado com as provas.
- Sim, é verdade. Alice, eu não quero ser o meu pai. E nem quero te transformar na minha mãe. – confessou. – Sinto muito se fiz você se sentir como um objeto. Você não é.
- Tudo bem. Eu entendo que você não gosta de ir a esses lugares.
- Você não entende o quanto detesto. Detesto ser o exemplo de bom filho. Eu não sou perfeito. E nem posso ser eu mesmo. – confessou. – Até a minha faculdade eu não pude escolher. – lamentou. – Eles me controlam o tempo inteiro. Eu estou sufocado. E está com você me deixa mais leve, por isso faço questão de que esteja sempre ao meu lado.
Me senti mal por nunca ter percebido que ele também se sentia mal com a pressão que os pais depositavam nele. Toquei seu ombro, tentando passar um pouco de conforto. Ele me fitou, e eu sorri. Aproximei minha boca da dele e nos beijamos.
Não sei ao certo em que momento senti o corpo atlético dele sobre o meu quando o beijo se intensificou. E sabia bem o que viria a seguir. Mas a ideia de perder a virgindade com ele sendo que nem ao menos tenho mais certeza se o amo me deixou assustada. Antes que eu pudesse me afastar ele o fez. Encarando a janela me disse baixo:
- Desculpa eu não devia ter feito isso. – eu queria dizer que se ele não tivesse parado eu teria.
- Tudo bem. Não tem problema. – dei de ombros. Mas novamente a insegurança a respeito de não ser atraente o suficiente se fez presente.
- Eu preciso ir. – falou encarando o celular. – Meu pai está me esperando. – suspirou deixando os ombros caírem. Era notório o seu cansaço. Beijou meus lábios e saiu.
Me atirei na cama, encarando o teto. Por pouco eu não fiz algo que depois me arrependeria. Fui para o banho e em seguida desci para o almoço. Anna e os meninos conversavam sobre um novo jogo, e ficaram de combinar um dia para jogar. A noite chegou e fui deixar Anna em casa. E por algum motivo acabei passando pela rua da padaria. E lá estava a moça de cabelos longo saindo dela.
Cheguei à conclusão que ela deveria morar pelas redondezas já que frequentava com frequência o lugar. Fitou meu carro e eu agradeci pelos vidros estarem fechados e serem escuros suficientes para impedir que ela me visse. Depois disso fui para casa, precisava descansar pois sabia que o dia seguinte seria puxado.
- Filha acorda, sua avó já me ligou diversas vezes. – dona Isabella falou abrindo as cortinas.
- Ainda está cedo mammy. – reclamei cobrindo os olhos.
- Cedo? Já passa das nove. Levanta. Estou levando sua mãe para uma sessão de massagem e os meninos foram pescar com o seu avô.
- Eu já estou indo. – fui até o banheiro e tomei um banho rápido. Queria entregar o presente da mamma antes que elas saíssem.
Desci para o café e elas ainda estavam na mesa terminando de comer.
- Você caiu da cama? – a mammy me fitou implorando para que eu inventasse alguma desculpa já que a festa era surpresa.
- Não, só tenho umas coisas da faculdade para resolver. E queria entregar seu presente. – estendi a caixinha em sua direção. – Feliz aniversário.
- Obrigada filha. – abraçou-me.
Abriu o pequeno pacote e seus olhos marejaram. Foi difícil encontrar alguém que o fizesse, mas com muita paciência e algumas ligações encontrei. Mandei refazer o cordão que Linda, havia dado a ela em seu nascimento. A mamma perdeu o original em uma construção e passou vários meses triste. Claro que dessa vez eu mandei modificar algumas coisas.
- Olha a parte de trás. – mandei.
- Somos nós. – comentou sorridente.
- Sim. A frente é igualzinho ao que a vó Linda te deu, mas achei que você deveria nos carregar nele, já que somos sua família.
- Eu adorei filha. – beijou meu rosto. E vi a mammy secar algumas lágrimas.
- Posso colocar?
- Claro. – ela sorriu satisfeita e apertou o objeto com dois dedos.
- Mandou bem. – a mammy sussurrou assim que me sentei novamente.
Elas se despediram assim que terminaram o café e combinamos de irmos jantar na casa dos meus avós. Claro que era tudo parte do plano para a festa surpresa. Liguei para Anna e Miguel, avisando que passaria para pega-los em uma hora.
Chegamos à casa dos meus avós e antes de entrarmos eu quase implorei para que os dois desajuizados tentassem ao máximo se comportar. O que eles prometeram mesmo eu sabendo que não iria acontecer.
- Alice, graças a Deus que você chegou. Eu não aguento mais a mamãe. – tio Isaac comentou.
- Menos conversa e mais trabalho, Isaac.
- Tá vendo só? Nem água eu posso tomar. – caminhou carregando uns arranjos.
- Fecha a boca Miguel. – Anna disse e eu olhei na direção que meu amigo olhava.
Carlos Eduardo ou simplesmente Cadu, exibia seus gominhos e músculos ao carregar algumas mesas. Não poderia negar que ele havia se tornado um lindo homem, mas odiava o fato do meu melhor amigo xavecando meu primo na casa dos meus avós.
- Quer ajuda? – Miguel se prontificou.
- Ele não consegue segurar uma porta por meia hora e acha que consegue carregar essas mesas? – Anna comentou e eu dei um riso contido. – Eu vou ajudar a sua tia. – falou ao vê-la indo para a cozinha.
- Se comporta por favor. – supliquei e ela cruzou os dedos e os levou a boca como se jurasse.
Passamos a manhã inteira organizando as coisas. O que não faltou foi trabalho. Já era hora do almoço e a vó Helena fez questão que ficássemos para comer com eles. O que agradou e muito os meus amigos. Tio Isaac teve que ir ao escritório, mas prometeu vir para a festa.
- O Matheus vem hoje? – minha avó indagou. Eu arregalei os olhos, como pude esquecer de convidá-lo? Olhei para Anna que percebeu minha aflição.
- Infelizmente ele não vai poder vir. Está estudando para umas provas.
- Que pena. Gosto daquele rapaz.
- É uma pena mesmo. – Anna comentou com um meio sorriso.
Já era quase noite quando fomos para casa nos arrumar. Como sempre se iniciou uma discussão sobre quem ia na frente. E dessa vez Anna ganhou.
- Como você esqueceu de chamar o Matheus? – Miguel indagou sentando-se no banco de trás.
- Nós estávamos brigados e eu acabei esquecendo quando ele esteve lá em casa.
- Alice, esse namoro de vocês é tão estranho quando o da Anna com a profamante boxeadora. – esse era o novo apelido desde que Miguel soube do incidente entre as duas.
- Eu não tenho um relacionamento com ela. Não mais. – respondeu rapidamente.
- E se você sonhar em ficar com ela eu juro que te espanco mais do que ela fez.
Como eles haviam levado as roupas para sairmos lá de casa cada um foi para um quarto se aprontar. Em nenhum momento me senti mal por não convidar Matheus, aquela noite eu queria ser apenas eu sem me sentir o objeto premiado. Me olhei no espelho e sorri ao ver meu reflexo. Não demorou até que Anna aparecesse me chamando.
- Uau! – exclamou ela me fitando admirada.
- Não exagera.
- Não é exagero, você está...
- Puta que pariu que gata. – Miguel falou entrando em seguida.
- Tá vendo, não sou a única a achar que você está um arraso. – senti minha face arder.
Nunca me acostumei com a ideia de receber elogios. Sempre fui muito insegura com minha aparência. O que sempre virava motivo de muitas reclamações de Anna, já que ela tentava sempre dizer e provar o quanto eu era linda.
- Podemos ir? Não quero chegar depois da aniversariante.
Deixei Miguel dirigir, e diferente de quando os dois precisam decidir quem vai aonde, eu simplesmente me sentei no banco de trás evitando uma discussão desnecessária.
Paramos o carro e em frente à casa e já havia alguns veículos. Caminhamos até a entrada e meus olhos correram pelo lugar, avistei Gabriel, Artur e Bernardo conversando com o vovô.
- Eu vou procurar alguma coisa para beber. – Anna comentou indo em direção ao bar. Sabia bem que o que ela queria era ficar perto da tia Iara que estava no bar.
- E eu vou dar uma volta. – Miguel sumiu em seguida.
Suspirei arrependida por não ter convidado Matheus ao menos ele poderia me fazer companhia. Procurei uma mesa vazia observei algumas pessoas conversando e agradeci quando as minhas mães aparecerem e assim se deu início a festa surpresa.
A cara de surpresa a mamma foi impagável. Cantamos os parabéns e ela fez um breve discurso e logos todos os convidados estavam se divertindo. Coisa que eu não consegui fazer. Me senti sozinha mesmo com tantas pessoas a minha volta.
- Maninha, vamos dançar? – Artur me chamou.
- Não Tutu, prefiro ficar aqui.
- Ali, olha lá. – apontou para a pista de dança. – Até a vovó e o vovô estão se divertindo, e olha que eu diria que eles são os mais velhos daqui.
- Deixa só a vó Helena te escutar dizendo isso.
- Você não vai contar. Agora vem dançar comigo? – me estendeu a mão e eu aceitei.
Dancei algumas músicas com os meninos e depois resolvi voltar para a mesa. Caminhei vagarosamente e senti que alguém me observava procurei em toda direção, mas as pessoas pareciam mais interessadas em suas conversas do que em mim.
Se dependesse de mim já estaria em casa. A festa estava um tanto animada, mas o meu humor não era o dos melhores. Suspirei passando os olhos pelas pessoas que dançavam felizes e nem percebi que uma pessoa se aproximou.
- Posso te fazer companhia? – a voz aveludada me fez virar. Eu fiquei sem ação quando percebi que diante de mim estava a moça de cabelos longos.
Usava um terninho preto, com um decote em V. Pude notar uma tatuagem entre os seios, dava para ver alguns pedaços na pele que era exposta. Eu voltei minha atenção para seus olhos, ela me encarava esperando uma resposta.
- Cl-claro. – apontei a cadeira ao meu lado. Sentou-se e eu inalei o cheiro amadeirado que vinha dela.
- Eu sou Virginia. – me estendeu a mão e eu continuava com a minha cara de quem caiu de paraquedas do céu. – Você vai me dizer seu nome ou vai continuar me admirando? – sorriu de canto e eu senti algo estranho na minha barriga.
- Sou Alice. – apertei sua mão, a pele macia me fez soltá-la quase de imediato, o que estava acontecendo comigo?
- Então, Alice. Percebi que você não parece estar se divertindo.
- O que te fez pensar isso, a minha cara de poucos amigos? – tentei brincar.
- Talvez. Fiquei em dúvida se você me morderia se eu me aproximasse.
- Pode relaxar, eu não vou morder.
- Agradeço. Eu tenho a solução para a sua falta de interesse nessa festa.
- Tem?
- Sim. Toma. – estendeu o copo em minha direção.
- Não. Obrigada.
- Sério, o álcool tem o poder de mudar as coisas.
- Eu não bebo.
- Eu te desafio. – brincou e sorriu.
- Eu não me importo. – dei de ombros.
- Ninguém nunca te desafiou?
- Não.
- Eu te desafio. Se você não beber a cerveja, terá que fazer algo que eu quero.
- Então eu aceito fazer algo que você quer. – respondi fitando-a.
- Tem certeza? – aproximou-se. – Mesmo que eu diga que o que eu quero é beijar você? – me espantei com sua forma direta e sua aproximação, ela sem dúvida era ainda mais linda de perto. – Relaxa loirinha, o que eu quero é que você beba a cerveja. – estendeu o copo.
- Tudo bem. – peguei o recipiente e ingeri o líquido gelado, e para minha surpresa não era tão ruim quanto pensava.
- Isso, agora se depois que você beber quiser me beijar eu vou logo dizer que não quero. – brincou e eu achei um absurdo.
- Você é muito convencida. E só para você saber eu tenho namorado.
- Não sou convencida, e sim irresistível. – Piscou e sorri com a brincadeira, tinha que reconhecer que ela tinha um ótimo senso de humor. – Tenho a impressão que eu te conheço. – comentou e eu pude sentir meu rosto corar.
- Você acha? – fiquei empolgada com a chance de ao menos lembrar de mim.
- Sim, eu só não sei de onde. Já te fotografei?
- Você acha que sou modelo?
- Não é?
- Não.
- Poderia ser. Você é muito bonita. – comentou e eu senti minha respiração ficar descompassada e meu rosto arder.
- Mas não sou. Na verdade, acho que eu já te vi na padaria do centro. – confessei.
- Claro você é a moça da padaria. – concluiu como se fosse obvio. – Mora por perto?
- Não. Só fui algumas vezes com a minha amiga.
- Mas sempre te vi sozinha. – touché. Fiquei sem saber o que responder.
- Então você me viu mais de uma vez? – foi a única coisa que consegui falar e ela sorriu baixando a visão para as mãos.
- Sim. Aquele dia que eu estava acompanhada, e todas as vezes que você foi a semana inteira, sozinha. – enfatizou a palavra sozinha. Eu fiquei mais uma vez calada, então ela me viu todos os dias, mas como eu não consegui vê-la?
- E você mora lá perto? – mudei de assunto.
- Sim. Um pouco próximo. O que você faz da vida além de ir tomar café sozinha? – brincou e eu sorri.
Engatamos em uma conversa e eu percebi que Virginia tornou a noite um pouco mais interessante, não sei ao certo se pelo álcool que ela me apresentou ou se apenas por sua companhia. Ela era muito divertida. Conversamos boa parte da noite e nem ao menos me dei conta que meus amigos haviam sumido a horas. Em dado momento resolveram aparecer com as caras mais deslavradas do mundo.
- Vocês estavam pegando quem? – questionei arqueando a sobrancelha.
- Ninguém! – responderam juntos com cara de culpados.
- Eles estão mentindo. – Virginia comentou divertida se inclinando para perto de mim como se contasse um segredo. Eu senti algo estranho na barriga mais uma vez e respirei aliviada quando ela se afastou e começou a gargalhar. E foi impossível não acompanhar sua deliciosa risada.
- Alice você está bêbada? E quem é você? – Anna questionou aborrecida.
- Ela não está bêbada, apenas aproveitou a noite. E eu sou Virginia. Prazer. - Estendeu a mão e Anna continuava com a cara de poucos amigos. – Okay! – recolheu a mão dando de ombros.
- Vamos embora.
- Não, preciso fazer companhia a minha nova amiga, já que vocês dois não podem ver um rabo de saia e de cueca. – falei ressentida, tinha certeza que eles estavam pegando alguém aquela noite.
- Auti!
- Calada estranha. – Anna se irritou. – Vamos para casa Alice.
- Já disse que não. A festa ainda não acabou. Vamos Virginia, quero dançar. – me levantei puxando-a pela mão.
- De que buraco essa criatura saiu? – escutei os dois comentarem.
- Não sei, mas aparentemente Alice gostou dela. – Concluiu Miguel.
- Você já viu Alice gostar de alguém além de nós dois? – O rapaz balançou a cabeça. Avistou ao longe Cadu fazendo sinal para que ele entrasse na casa eu os vi saindo juntos.
Segurei firme a mão de Virginia e só percebi o que eu havia acabado de fazer quando ficamos frente a frente enquanto a música tocava. O que eu tinha na cabeça? Detestava dançar, para mim sempre foi uma verdadeira tortura ir para boates com Anna e Miguel, e por algum motivo que eu não faço a menor ideia qual seja acabei levando Virginia para a pista.
Ela me fitou, seus olhos eram como se facas me cortassem. Aquele friozinho na barriga me acertou em cheio mais uma vez. A música era lenta, Virginia desviou o olhar para as pessoas a nossa volta que dançavam agarrados. Ela deu um passo em minha direção, descansando a mão esquerda nas minhas costas e me estendendo a direita para que eu segurasse.
- Você me chamou para dançar. – falou baixo ao me ver sem reação nenhuma.
- Claro. – segurei sua mãe, deixando nossos corpos um pouco mais próximos.
Um calafrio percorreu minha espinha, me fazendo arrepiar inteira quando ela com a boca próxima ao meu ouvido sussurrou:
- Relaxa, basta curtir a música.
Eu não sabia explicar o que eram aquelas sensações que Virginia me causava. Tentei ao máximo controlar a minha respiração que estava acelerada. Mas nada funcionava. Foi então que senti meu estomago revirar, acho que o álcool queria sair da mesma forma que entrou.
Virginia pareceu notar que eu não estava me sentindo bem, afastou-se e segurando minha mãe me guiou para a lateral da casa. Me escorei a uma árvore e senti o gosto amargo da bebida sair por minha garganta. Longos minutos de sofrimento, suor frio e vergonha. Me sentei na grama fechando os olhos sem coragem nenhuma de encarar as orbes verdes que eu sabia que me encaravam preocupadas.
- Está se sentindo melhor? – após longos minutos em total silêncio perguntou sentando-se ao meu lado. Seu braço involuntariamente tocou o meu.
- Um pouco. – respondi encarando-a.
Droga! Estávamos próximas demais. Ela me encarava com uma expressão meio preocupada, mordendo o lábio inferior. E meus olhos não puderam se desprender daquela boca tão... tão perfeita. Mais uma vez aquele frio na barriga como seu eu acabasse de descer uma montanha russa.
- Só para você saber, eu não vou te beijar. Você acabou de vomitar até sua terceira geração. – brincou e eu corei, não sei se de vergonha ou de raiva por ela pensar que eu queria beijá-la.
- Quem disse que eu quero te beijar?
- Eu sei que quer. Vem, deita aqui, vamos olhar as estrelas.
Vagarosamente ela deitou-se. Eu fiz o mesmo. Ficamos em silêncio apenas admirando a imensidão escura e as poucas estrelas que pareciam flutuar. Alguns minutos se passaram e eu senti os dedos de Virginia buscando o meu. Não ousei encará-la, eu não teria coragem. Mas permiti que seus longos dedos se enlaçassem aos meus. Permanecemos na mesma posição, e em completo silêncio.
A vergonha inicial se dissipou e naquele instante só me sentia bem aproveitando sua companhia. Fechei os olhos cansada e acabei adormecendo.
- Alice, acorda. – senti as mãos dele me sacudindo os ombros.
- Ai! Você está maluco?
- Eu maluco? Olha seu estado, você está suja de vomito. – fez cara de nojo mostrando a pequena mancha no meu vestido.
- Não foi nada demais. Onde está a Virginia? – indaguei me sentando.
- Não sei, faz mais de meia hora que eu estou te procurando. A festa acabou.
- Tudo bem. E a Anna?
- Não sei dela, deve ter descolado alguma trans*.
- Claro que ela nos largou por uma trans*. – reclamei segurando a mão dele.
Na maioria das vezes que saiamos juntos esse tipo de coisa acontecia. Inclusive já cheguei a voltar para casa sozinha pois os dois acabavam indo para algum motel com suas conquistas da noite.
Chegamos ao carro e Miguel dirigiu, alegando que não havia bebido. Não discuti, apenas entreguei as chaves e me sentei no banco do carona. Fechei meus olhos e a imagem de Virginia veio a minha mente, o que teria acontecido para que saísse sem nem ao menos se despedir? Será que nos veríamos novamente? E por qual motivo eu ansiava tanto por vê-la? Não tinha nenhuma resposta para tais questionamentos e suspirei sentindo meu corpo relaxar. Deixaria para pensar nessas coisas em outro momento.
Fim do capítulo
OIE, não deu para postar no domingo. Mas cá estou eu mais uma vez.
Espero que gostem do capítulo. E saiam da moita. Quero o meu biscoito. kkk
Beijos e boa leitura
Comentar este capítulo:
lay colombo
Em: 07/09/2021
Hmmmmm além de linda sabe do efeito q causa ? 100% meu tipo
Alice desde o início da históriaW "a pq eu não bebo", Virgínia : "a", Alice: " pois me de essa cerveja agora mesmo" kkkkkkkkkkkk
Te entendo Alice, tbm sou cadelinha de mulher bonita
Resposta do autor:
Cadelinha de mulher bonita. lkkkk
olivia
Em: 04/05/2021
Olá autora, amando seu romance, Alice é tão linda e amiga que, topa qualquer briga ¡ Essa mulher mistério está prometendo! Estou gostando da suavidade das personagens , a Ana é muito doida só gosta de perigo! Deve ser bom ter duas mães, eu tive uma só que era tudo para nós!! Tenho uma esposa que, morar em outro estado , falamos por vídeos e telefone faz dois anos, sou vulnerável e de idade perigosa ,ela teve COVID19! A distância não muda nada ! A família dela é homofóbica ! Você escreve muito bem , parabéns ??‘???‘???‘???‘?????!!!!
Resposta do autor:
Obrigada pelo seu comentário e elogio. E imagino como deve ser difícil para vocês toda essa situação, mas no fim o amor vence e com vcs não será diferente.
Beijos.
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Marta Andrade dos Santos
Em: 04/05/2021
Nossa quanto mistério.
Resposta do autor:
Rsrs. Não posso entregar o doce. kkk
Mas prometo não fazer tanto mistério.
Beijos.
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