POV BEATRIZ

 

      Estava me preparando psicologicamente para encarar Marcela e Jaqueline na reunião. Meu coração estava descompassado e ainda tinha que resolver meu problema com Lívia, meu Deus eu nunca poderia pensar que minha vida estaria essa loucura toda. Estava sentada com as mãos na cabeça quando Lívia deu umas batidas na porta.

 

-Posso entrar? – Ela sorriu timidamente e era até engraçado vê-la daquela forma.

 

-A sala é sua Lív. – Respondi calmamente e ela entrou jogando a mochila na cadeira. – Tá tudo bem?

 

-Eu quem pergunto, estamos bem? – Ela tinha os olhos fixos em mim.

 

-Lívia, eu estou bem. – Fui até ela, eu gostava muito dela e não quero que nossa amizade se prejudique. – Eu gosto da nossa amizade, e eu sei que o que aconteceu ontem foi um mal entendido.

 

-Bia, eu agi por impulso e não devia ter te agarrado daquele jeito. – Lívia olhava pro chão envergonhada. – Me desculpa?

 

-Eu já desculpei, vamos esquecer isso. – Segurei sei rosto entre as mãos e puxei pra um abraço. – Não quero te ver assim, cadê aquela garota serelepe que me fez fotografar no meu primeiro dia?

 

-Só você mesmo Bia. – Ela sorriu pra mim e beijou meu rosto, mas ela ainda estava meio amuada.

 

-Tem mais alguma coisa que queira conversar? – Perguntei na expectativa dela se abrir.

 

-Estou meio chateada. – Ela suspirou cansada. – Acho que Marcela e minha mãe não estão muito bem.

 

      Meu estômago deu uma revirada, será que foi por causa do beijo? Tudo bem que foi ela quem me beijou, mas eu retribui, e o pior foi que eu gostei.

 

-Não gosto quando elas brigam, o clima na minha casa fica pesado. – Fiquei sem jeito e a abracei novamente. – Eu sei que minha mãe pode ser uma pessoa difícil, e eu admiro a paciência de Marcela, mas eu não gosto de ver minha mãe triste.

 

-Hey, não fique assim. – Acariciava seus cabelos e ela se aconchegava em mim. – Eu estou aqui tá bom?

 

 

     Ela acenou com a cabeça e ficamos ali naquele abraço, eu estava me sentindo péssima. Não quero ser responsável pela destruição de uma família, traição sempre foi a coisa que eu mais odiei na minha vida.  Não sei por quantos minutos ficamos ali e só saímos do abraço quando Alice entrou na sala dizendo que Marcela precisava me ver. Um frio na espinha me arrepiou inteira.

 

    Subi até a sala dela imaginando mil coisas e no fim não imaginava nada, minha cabeça girava e eu não sabia o que me aguardava.

 

 

-Bom dia senhorita Mendes. –Entrei em sua sala totalmente desconfortável.

 

-Bom dia Marcela, algum problema. –Eu seria firme, mas era difícil não pensar no nosso beijo assim que nossos olhares se cruzaram.

 

-Te chamei aqui para pedir desculpas, eu agi por impulso ontem. –Marcela tinha um sorriso tímido e aquilo me deixaria fraca se as palavras de Lívia não martelasse minha mente. – Eu não devia ter feito aquilo.

 

- Está tudo bem, não se preocupe. –Vesti minha armadura, nunca na minha avida aceitaria ser taxada de destruidora de lares.

 

-Não está tudo bem, eu não quero que fique um clima estranho entre nós. – Tentava entender onde ela queria chegar.

 

-Marcela, eu fiquei sem entender o motivo, mas não se preocupe eu não farei nenhum clima. – Desviei o olhar, pois estava difícil encara-la. – Você é casada, e eu não quero estar no meio disso.

 

-Entendo. –Ela suspirou desanimada, parecia que ela esperava outra postura, mas eu não vou me envolver no meio dela e da esposa. – Era só isso, te vejo na reunião.

 

      Sai mais nervosa do que eu entrei, Marcela mexe comigo e isso eu não estava conseguindo negar mais, flashes do nosso beijo vinha na minha mente eu tentava controlar minha respiração antes de seguir pra sala de reuniões.

 

      Estávamos todos acomodados e ouvíamos Felipe gerir a reunião, ele pontuava tópicos da nossa viagem e a todo o momento meus olhos me traiam e buscavam os de Marcela. Jaqueline não estava presente e isso me deixava intrigada. Nossa viagem era no domingo e teríamos uma semana pra se preparar, minha empolgação me deixava elétrica e essa experiência seria inesquecível.

 

-Felipe, eu não poderei ir. – Lívia disse e eu a olhei curiosa.

 

-Por que isso agora Lívia? – Marcela que até então estava calada se pronunciou.

 

-Desculpa Marcela. – Ela não respondeu mais nada e Marcela bufou irritada.

 

-Felipe olhe se consegue pra encaixar Laís no lugar de Lívia, vamos precisar de uma social mídia lá. – Felipe concordou com a cabeça. – Reunião encerrada, Lívia na minha sala, por favor.

 

     Todos levantaram e o clima estava pesado, Lívia estava tensa e acompanhou Marcela pela saída, Felipe parecia preocupado e me chamou até a sala dele. Ele queria que eu o ajudasse a organizar tudo, me avisando que eu seria a ajuda dele em NYC, já que Lívia não viria conosco.

 

 

POV MARCELA

 

-O que aconteceu Lívia? – Entrei na sala e fui a interrogando.

 

-Eu só não quero ir mais. – Ela respondeu desanimada. – Minha mãe, conversou comigo hoje.

 

-Lívia, você sabe que meus problemas com sua mãe são nosso. – Eu sabia que as filhas de Jaqueline absorviam tudo. – Eu não quero que nossos problemas afetem a você ou suas irmãs.

 

-Eu só não quero ir mais, quero ficar com minha mãe. – Fui até ela e a abracei. – Me desculpe tá, eu sei que nossa equipe é incrível.

 

-Você sabe que nada nesse mundo pode afetar o que eu e você temos né? – Lívia era como uma filha pra mim. – E eu não quero você mal por isso.

 

-Eu sei disso Ma, você é a melhor coisa que já aconteceu nas nossas vidas. – Queria saber o que Jaqueline tinha falado com as filhas. – Você vai se resolver com a mamãe né Ma?

 

-Lív, é complicado. – Suspirei fundo. – O que sua mãe lhe disse?

 

-Eu ouvi gritos ontem, não entendi o motivo de vocês brigarem. – Ela se jogou em minha cadeira, com a mão nas têmporas. – Sei que minha mãe não é fácil, mas eu não sei o que seria da gente sem a sua paciência pra resolver nossos problemas.

 

-Prometo que tudo vai ficar bem, independente de qualquer coisa. – Meu coração se comprimiu.

 

      As filhas de Jaqueline eram muito carentes, e tudo isso era resultado do abandono que o pai delas causou, e meu sangue fervia ao lembrar que Jaqueline estava trazendo aquele homem de volta a nossa vida.

 

-Vocês brigaram por causa do meu pai né? – Lívia sabia que eu nunca me dei com o pai dela, e ela era a única que entendia o meu lado. – Juro que não sei o motivo de Milena ter o convidado.

 

-Está tudo bem. – Me sentei em minha cadeira e tentei mudar de assunto. – Mas tem certeza que não quer ir pra NYC conosco?

 

-Tenho. – Ela respondeu com meio sorriso. - Além de ficar com a minha mãe, eu também preciso colocar minha cabeça no lugar, eu ando confusa com meus sentimentos.

 

       Agora eu sabia exatamente do motivo de Lívia não querer ir, esse motivo se chamava Beatriz e meu coração deu uma acelerada quando saquei isso.

 

-Entendo. – Mudei de assunto novamente. – Agora vamos trabalhar né?

 

     Lívia deu a volta em minha mesa e deu um beijo no meu rosto saindo da minha sala, tentei me concentrar no trabalho, mas minha cabeça girava, era tanto problema que eu parecia que iria explodir. Mandei uma mensagem pra Melissa avisando que não ia conseguir almoçar com ela, iria tentar focar na papelada que estava acumulada em minha mesa. As horas passaram e me assuntei com Jaqueline entrando em minha sala sem pedir licença.

 

-Eu disse que nossa conversa seria na presença do meu advogado. – Falei sem ao menos olhar pra ela.

 

-Não seja infantil Marcela. – Jaqueline se sentou. – Somos adultas o suficiente pra resolvermos nossos problemas.  Quero saber como ficamos, como a Cyber vai ficar?

 

-Vai ficar do jeito que estar, mas de preferencia sem sua presença aqui. – Ela deu aquele sorriso sarcástico.

 

-Você sabe que isso não funciona assim, metade disso aqui é meu também. – Meu sangue ferveu nessa hora.

 

-Isso aqui sempre foi meu Jaqueline, e eu não vou deixar isso acontecer. – Se ela queria guerra teria guerra.

 

-Marcela eu não quero nada do que não seja meu você nem ao menos quis me ouvir. Somos casadas há sete anos, temos uma família e um deslize meu você quer jogar isso tudo que construímos no lixo. – Jaqueline conseguia ser bem persuasiva quando queria. – Vamos parar com esse drama todo e continuar a vida.

 

-Você acha que traição é drama? – Perguntei de forma exaltada. – Jaqueline, quem está jogando nossa família no lixo é você!

 

-Marcela... – Ela veio até mim tentando me abraçar. – Me perdoa? Vamos passar uma borracha nisso.

 

-Jaqueline, por favor. – Eu tentava desviar do seu contato, mas era impossível.

 

-Vou te dar um tempo e quando você voltar de Nova York nos conversaremos. – Ela me deu um selinho rápido e saiu da sala.

 

     Bati a porta e tentei dissipar aquele ódio que eu estava sentindo, Jaqueline sempre conseguia me fazer ceder, e eu odiava isso em mim. Passei o resto dia enfiada em minha sala, só me dei conta que já era tarde quando Sandro mandou mensagens avisando que meu jantar estava no micro-ondas, meu irmão devia estar me esperando até agora pra jantarmos juntos.

 

     A semana passou voando, e eu nem percebi. Eu passei todos esses dias enfurnada em minha sala, eu parecia um zumbi sem dormir direito há dias. Meu irmão me repreendeu algumas vezes e eu disse que depois da viagem tiraria alguns dias de folga. Era sábado à tarde e eu terminava de arrumar minhas malas, não levaria muita coisa, mas seriam quatro dias em solo americano. Já estava tudo ajeito, mas tinha uma coisa que ainda estava me tirando o sono, Beatriz praticamente me deu um gelo todos esses dias e a voz de Melissa ecoava em minha cabeça, me mandando resolver isso. Puxei meu celular do bolso e enviei uma mensagem pra ela.

 

WHATSAPP ON:

 

MARCELA: Boa tarde senhorita Mendes, amanhã nosso voo sai as 08h00min, as seis passarei em seu apartamento para irmos ao aeroporto.

 

Beatriz: Estarei aguardando.

 

Marcela: Ok!

 

     Ela me respondeu do mesmo jeito frio que vinha me tratando a semana inteira, mas eu estava começando a achar que esse gelo todo era medo de se envolver. Sorri com meu pensamento e terminei de arrumar minhas coisas.

 

 

Fim do capítulo