POV BEATRIZ

      Eu mal consegui pregar os olhos de tanta ansiedade, eu estava imensamente feliz com a oportunidade de realizar um trabalho em Nova York. Bernardo passou a noite comigo e nós dois ficamos planejando as coisas que eu faria se eu tivesse um tempo livre. Ele disse que se eu fosse à Nova York e não tirasse uma foto na Times Square ele me mataria. Quando consegui cochilar meu celular despertou, estava caindo de sono e se eu tivesse sorte conseguiria dormir no avião. Não me produzi tanto, vesti uma roupa confortável, pois eram muitas horas dentro de um avião e ninguém merece roupas que incomodam a gente. Estava muito cedo pra tomar café então decidi fazer isso no aeroporto, Bernardo me ajudou com as malas e dez minutos antes do horário combinado eu já estava na porta do meu prédio esperando por Marcela.

      Pontualmente as Seis Sandro encostou o carro com um sorriso largo no rosto, ele desceu e me ajudou com a mala enquanto Marcela estava com cara de poucos amigos no banco da frente. Me despedi de Bernardo e ouvi umas recomendações, ele parecia um irmão mais velho cheio de cuidados. 

-Bom dia Marcela. – Me acomodei no banco do passageiro e a cumprimentei cordialmente.

-Bom dia Senhorita Mendes! – Sandro partiu rumo ao aeroporto.

      O caminho não era tão longo e a nossa equipe nos encontrariam por lá. Dentro do carro apenas Sandro e eu conversávamos, Marcela estava calada e só respondia o que o irmão perguntava.

-Marcelinha, vê se não vai explorar a Bia tá? – Sandro cutucou a irmã que fez uma cara feia.  – Deixe ela conhecer a cidade.

-Eu não sou essa megera que você pensa Sandro, eu não costumo explorar meus funcionários. – Dei um risinho de lado e isso não passou despercebido por ela que me encarava pelo retrovisor. – Beatriz terá de meia noite às seis da manhã pra conhecer a cidade, esse será o tempo de folga dela.

-Seu senso de humor é péssimo. – Marcela deu o primeiro sorriso do dia e aquele sorriso me aquecia por dentro e isso era estranhamente bom. – Não liga pra ela Bia, qualquer coisa a gente mete um processo.

        O papo fluiu e Marcela já não estava tão séria, Sandro conseguia animar todos ao redor.  Chegamos ao aeroporto e fomos tomar café já que nenhum dos três tinha comido em casa, mas antes fomos fazer o check-in. Eu já não estava tão ansiosa e eu decidi aproveitar cada minuto dessa viagem, isso é muito importante pra minha carreira e com certeza eu tiraria várias fotos.

          Sandro se despediu da gente e embarcamos com destino a Nova York, minha poltrona era ao lado de Felipe e Tiago, o fotografo que furou no meu primeiro dia. Ele era um cara engraçado e logo a gente se enturmou. Marcela estava sentada ao lado de Cristina e seu agente, vez ou outra eu sentia seus olhos em mim, e toda vez ela desviava o olhar. Nosso voo por sorte teve uma escala rápida e depois de mais de dez horas desembarcávamos no John F. Kennedy. Eu estava exausta, consegui dormir por algumas horas, mas mesmo assim meu corpo pedia um banho e uma boa noite de sono.

-Galera, vamos descansar e nós preparar, pois amanhã o dia vai ser puxado. – Felipe dividiu a equipe e designou os quartos. – Amanhã às oitos a gente se encontra no restaurante do hotel.

        A equipe concordou e fomos aos nossos respectivos quartos, eu ficaria hospedada com Alice e Laís. E logo escolhemos as camas e fui me preparar pra dormir um pouco.

-Ai meu Deus! Nem acredito que estamos em Nova York. – Laís exclamou empolgada. – Isso é um sonho!

-É um sonho mesmo. - -Respondi abrindo minha mala e pegando uma roupa pra dormir. – Mas no momento o único sonho que eu quero realizar e de me jogar nessa cama ai.

         As meninas concordaram e eu fui primeiro ao banheiro. Apesar de cansada eu estava eufórica e estava doida pra ver como seria o dia de amanhã. Terminei meu banho rapidamente e me joguei na cama. Alcancei o celular e avisei Bernardo que já estava em terras internacionais, mandei uma selfie no grupo da família. Lívia também tinha me mandado uma mensagem me perguntando como fui de viagem.

POV MARCELA

         Viajar é bom, mas é algo que cansa demais. Avisei meu irmão que já estava em minha suíte e ele fez algumas piadas sobre Bia que me deixou levemente irritada, desliguei a chamada e fui para o chuveiro. Minha mente só conseguia pensar em uma pessoa e isso já estava me incomodando. Beatriz estava tomando a maior parte dos meus pensamentos e eu já não sei o que fazer. Há um mês atrás eu estava feliz em meu casamento, e jamais me imaginaria nessa situação, onde uma garota invadisse minha mente e até mesmo meu coração dessa forma. Tentei não pensar nisso, mandei mensagem para os meus pais e mandei um oi no grupo da família, onde Jaqueline e as filhas participavam. Guardei o celular e tentei descansar um pouco, pois amanhã seria um dia corrido.

         Meu dia começou cedo, era outono em Nova York e eu amava esse friozinho que vinha pela manhã. Tomei um banho quente me agasalhei e desci pra dar umas voltas pelas redondezas do hotel. Eu precisava pensar um pouco e nada melhor que a beleza dessa cidade pra me ajudar nessa tarefa. Depois da caminhada preferi tomar café em uma das minhas cafeterias favoritas, e assim que entrei Bakery, dei de cara com Beatriz sentada em uma das mesas e era incrível como ela estava ainda mais linda naquela manhã.

-Bom dia senhorita, caiu da cama? – Me aproximei da mesa e ela pareceu surpresa em me ver.

-Bom dia Marcela, acho que a empolgação me acordou mais cedo. – Ela me presenteou com um sorriso lindo. – Já tomou café? Sente-se ai comigo, não gosto de comer sozinha.

-É horrível, eu também não gosto. – Afastei a cadeira e me sentei de frente a ela. – O que pediu?

-O clichê! – Ela sorriu com língua entre os dentes e eu achei a coisa mais fofa do mundo. – Donuts.

-Boa escolha, o daqui é maravilhoso. – O garçom se aproximou e eu fiz meu pedido. – Mas eu tenho uma quedinha por Waffles, vir aqui e não tomar um café da manhã nova-iorquino.

          Beatriz e eu tomamos café em um clima agradável, tínhamos mais em comum do que imaginávamos. Conversamos sobre muitos assuntos, e descobri muitas coisas interessantes sobre ela. Ela me envolvia de forma intensa com aquele sorriso que me deixa em hipnose, Beatriz de fato tinha tomando proporções em meu coração que eu não conseguia controlar.

-Nossa, acho que comi demais. – Ela limpava os lábios no guardanapo e eu sorri.

-Mas você nem comeu tudo. – Constatei apontando para o prato. – E acho melhor você se alimentar direito, pois temos muito trabalho hoje.

-Bem lembrado, vou pedir alguns pra viagem. – O garçom retornou com a conta e levantamos da mesa em direção à saída.

         Felipe já havia mandado a localização do Studio onde gravaríamos boa parte da campanha com Cristina, e eu só precisava retornar ao hotel pra pegar minhas coisas. Beatriz e eu saiamos juntas da cafeteria quando ela olhou um outdoor em frente e quase surtou.

-Meu Deus! Não acredito que a Kehlani vai se apresentar hoje. – Ela praticamente saltava em euforia. –Eu amo essa mulher!

-Deu pra sacar. – Sorri e ela tentava se conter. – Não longe o lugar da apresentação.

-Meu sonho, o Bernardo ia morrer se eu fosse nesse show. – Nesse momento eu tive uma ideia que acendeu na minha mente.

-Podemos ir. – Ela me olhou surpresa. – Se você quiser posso te acompanhar, creio que dá pra adiantar os trabalhos e ainda sobra tempo pra chegar lá.

-Você iria comigo? – Beatriz me olhou com aquela carinha que me derretia inteira e eu concordei com a cabeça. – Marcela, não precisa se incomodar.

-Não é incomodo, eu também curto. – Na verdade eu não sabia exatamente quais musicas ela contava. – Eu vou com você!

-AAh obrigada! – Bia pulou no meu pescoço e me envolveu em um abraço do qual eu não queria soltar. – Desculpa, eu tô empolgada.

        Ela se soltou e fomos ao hotel buscar nossas coisas. Estar na companhia dela me fazia esquecer meus problemas e eu já nem me lembrava do caos chamado Jaqueline. Me encontrei com Felipe e o resto da equipe e logo já estávamos na locação das gravações e fotos de hoje.

         O dia passou praticamente voando, e todo momento meus olhos procurava por Beatriz, que parecia concentradíssima no que fazia e não tinha como negar o talento que ela tinha. Felipe a parabenizou o tempo todo e seu sorriso tímido era lindo. Beatriz tinha uma luz incrível e todo mundo ao redor ficava bem ao lado dela.

-Pessoal, por hoje já deu. – A voz de Felipe me tirou do transe. – Amanhã retomamos, e todos estão de parabéns.

          A equipe aplaudiu e eu também agradeci a todos. Eu era feliz com a equipe da cyber, pois todos tinham prazer em trabalhar ali e se esforçavam pra entregar um trabalho incrível. A volta do hotel foi silenciosa, todos estavam muitos cansados.

-O show ainda tá de pé? – Bia sussurrou pra mim e eu confesso que apesar de cansada eu estava cansada.

-Claro! Só preciso de uns minutos pra me arrumar. – Ela sorriu e concordou.

         Subi pro quarto depois de combinarmos o horário que íamos pra apresentação. Eu nem sabia o que vestir e pra não passar vergonha eu resolvi dar uma pesquisada pra não passar vergonha, conectei o celular no sistema de som do quarto e até que as musicas eram legais. Tomei meu banho e escolhi algo casual, ainda bem que fiz minha mala com roupas diversas, não faria nenhum sentido ir ao um show R&B com roupas sociais. Em poucos minutos eu já finalizava minha make e resolvi esperar Beatriz no bar do hotel. Quando ela desceu, quem olhasse pra mim ia ver minha cara de boba, ela estava simplesmente incrível e linda.

-Nossa, estou me sentindo mal arrumada. – Comentei assim que ela sentou ao meu lado. – Você está linda.

-Não me deixe tímida. – Bia colocou uma mexa de cabelo atrás da orelha e sorriu. – Você também está linda.

-Vamos? – Ela acenou com a cabeça e saímos em busca de um taxi.

          No taxi Bia me contou que chamou as meninas, mas elas não animaram e isso me deixou levemente feliz, pois eu não ficaria tão confortável assim. Ela falava sem parar da carreira da cantora e era empolgante ver seu entusiasmo, eu apenas ouvia tudo e concordava. Chegamos ao local da apresentação e depois de muitos protestos ela aceitou que eu pagasse o taxi, mas não me deixou pagar a entrada dela no show.

        O lugar parecia uma boate e tinha dois ambientes, o show começaria as onze então resolvemos pegar alguns drinks, Pedi um uísque e Bia ficou no drink de cereja. Eu estava um pouco deslocada, pois só tinha uma galera mais jovem e mais descolada, e eu de novo dava graças adeus por não ter vindo de roupa social.

-Tá bem cheio aqui. – Comentei dando um gole na minha bebida.

-Está mesmo, e deve lotar mais na hora do show. – Bia deu uma olhada em volta.

Assunto era o que não faltava, conversávamos sobre tudo e não tinha clima estranho entre nós duas, ali não era Marcela chefe da senhorita Mendes, eram apenas duas mulheres curtindo uma noite em Nova York. Estávamos falando sobre alguns pontos do trabalho de hoje quando um rapaz se aproximou e começou a falar algo com Beatriz, em um perfeito inglês sem quase sotaque ela deu um fora no homem sem dar chance de mal entendido. Aquilo me deixou sorridente e não passou despercebido por ela.

-Vamos pra frente do palco, o show vai começar. – Bia saiu me puxando pela mão passando pelo meio da galera.

      A mulher no palco era linda, a voz era maravilhosa e as musicas eram gostosas de ouvir. Beatriz estava na minha frente e dançava no embalo da musica. Minha mente martelava na vontade em segura-la pela cintura, tinha medo que ela não gostasse e me repreendesse, mas o impulso foi mais forte e eu levei as duas mãos em sua cintura puxando seu corpo pra mais próximo do meu, e pra minha surpresa ela aceitou o contato e dançava cantando e colada em meu corpo. O cheiro do seu perfume invadia meu nariz e a vontade de ter Bia pra mim crescia a cada batida lenta da melodia de Honey cantada pela voz suave de Kehlani.

Fim do capítulo