POV BEATRIZ

 

         Passei o dia com um sentimento estranho dentro do peito, depois que Lívia tentou me beijar varias coisas começaram a martelar em minha mente. Primeiro é que eu não achei que Lívia faria isso e segundo eu fiquei nervosa quando Marcela apareceu, eu não queria que ela entendesse aquela situação de forma errada, mas eu não sabia o porquê de estar pensando assim. O pai de Marcela era uma pessoa incrível assim como ela e Sandro e eu me senti confortável com eles durante a festa, dona Carmen também era uma mulher muito engraçada e de cara nos damos bem e ela já me intimou a ensina-la minhas receita de bolo de cenoura. Por varias vezes eu sentia os olhos de Marcela pesavam sobre mim e eu tentava não sustentar aquele olhar, mas era praticamente impossível. Eu precisava entender o que aquelas reações que meu corpo tinha em relação a ela.

 

        A festa estava no final e fui me despedir das pessoas que ainda estavam ali, Bernardo disse que não poderia vir me buscar então eu tinha que pedir um carro por aplicativo.

 

-Bia, você pode dormir aqui. – Lívia disse meio sem jeito enquanto eu me despedia dela. – Amanhã iremos juntas pra Cyber.

 

-Verdade Beatriz, você pode ficar. – Jaqueline estava ao nosso lado e ouviu nossa conversa, ela se aproximou e abraçou Marcela e aquilo me deixou levemente incomodada.

 

-Eu agradeço, mas eu preciso ir pra casa. –Dei um sorriso sem vontade e puxei meu celular do bolso. – Já vou pedir meu uber.

 

-Não precisa. –Marcela disse firme e se soltou do braço de Jaqueline. – Eu posso te levar em casa!

 

-Não precisa se incomodar Marcela. –Jaqueline tinha um olhar de quem reprovava a atitude de Marcela, mas ela não parecia se incomodar.

 

-Não é incomodo, vem vou te levar.- Era praticamente impossível argumentar com Marcela e a esposa dela não gostou nada daquela situação. – Jaqueline quando eu voltar iremos conversar.

 

        Ela saiu andando na frente e só me restou me despedir de Lívia e Jaqueline e correr atrás de Marcela. Eu odeio ser contrariada, mas com Marcela sendo autoritária daquela forma mexia com meus instintos.

 

 

-Está tudo bem? –Marcela quebrou o silêncio em que estávamos.

 

-Sim, mas não precisava se incomodar em me trazer. –Respondi sem olhar pra ela, mas sabia que ela estava olhando pra mim. – Eu tinha pegado um uber.

 

-Já estamos aqui, e eu vou te deixar em casa. –Marcela falou de forma arrogante e isso me irritou.

 

-Você gosta de ser a autoridade assim o tempo tudo? –Ela sorriu com a minha pergunta.

 

-Apenas gosto de ter o controle.

 

-E eu não gosto de ser controlada. –Eu estava irritada, e ela ria da minha cara.

 

-Você acha que eu estou te controlando? –É impressão minha ou estávamos em uma espécie de flerte?

 

-Não. – A encarei emburrada quando paramos no semáforo. – Até porque me controlar não é algo fácil.

 

-Tenho uma leve impressão de que ninguém nunca conseguiu. –Marcela estava me provocando. –Mas sempre tem a primeira vez.

 

        Eu fiquei sem palavras, pois não tinha certeza se aquilo era um jogo ou se estávamos flertando, Marcela conseguia me deixar fora de mim.

 

-Bia, não precisa ficar irritada. –Estávamos próximo ao meu prédio quando ela quebrou o silêncio. --Eu só estou brincando.

 

-Eu não estou irritada. – Sim Eu estava irritada ainda.

 

-Sei. – Ela falou divertida, e depois ficou seria de repente. – Eu quero agradecer por ter me ajudado com Lívia e pedir desculpas se ela te fez algo.

 

-Está tudo bem, me resolvo com ela depois. –Eu conversaria com Lívia sobre o que aconteceu na festa.

 

-Vocês duas estão se envolvendo? – Marcela me perguntou de supetão e espante com a pergunta.

 

-Não, eu gosto bastante de Lívia. –Tentava me explicar, pois eu não queria que Marcela pensasse aquilo. –Mas não romanticamente.

 

-Me desculpe, eu não quero ser intrometida. –Ela acenou com a cabeça e estacionou o carro com uma expressão indecifrável.

 

-Tudo bem, obrigada pela carona. – Eu precisava sair daquele carro, desfivelei meu cinto e abri a porta. –Até amanhã Marcela.

 

-Espera. –Marcela me segurou no impulso e meu coração acelerou. – Quer dizer, você precisa de carona amanhã?

 

-Não, eu estou bem. – Eu precisava sair dali logo, pois um simples toque dela me arrepiou inteira. – Obrigada e nos vemos amanhã.

 

 

          Sai do carro o mais rápido que consegui. Meu corpo ainda reagia ao toque de Marcela, e eu não conseguia compreender essas reações. Estava rezando para que Bernardo já estivesse em casa, pois eu precisava desabafar com alguém, eu conversei com minha terapeuta, mas tinha falado superficialmente, eu estava sentindo coisas quando estava na presença de Marcela e ninguém melhor que Bernardo pra me ajudar a compreender aquilo. Entrei em meu apartamento rapidamente, joguei minha bolsa no sofá e fui para o chuveiro, me despi inteira quando escutei a campainha tocar, Bernardo deve ter perdido as chaves, me enrolei no roupão praguejando e fui abrir a porta.

 

-Já estou indo. – Gritei raivosa crendo que seria Bernardo que estaria ali, mas minha cara foi ao chão quando abri. – Marcela?

 

-Oi, desculpa. - Ela me olhou de cima a baixo e eu senti minhas bochechas queimarem. – Você deixou seu celular no meu carro.

 

         Eu engoli seco e peguei o aparelho de suas mãos, eu estava ali enrolada em um roupão de frente pra minha chefe que anda me deixando perturbada, com certeza o universo queria me dizer algo.

 

-Obrigada. - Foi o que eu consegui dizer e Marcela continuou lá parada.

 

-Eu posso entrar? – Olhei sem entender e dei passagem pra ela. –É que eu queria um pouco de água.

 

-Claro! Vou pegar pra você, fique á vontade. – Fui em direção à cozinha e ela ficou lá em pé no meio da minha sala.

 

   -Eu estou te atrapalhando né? – Marcela me perguntou assim que entreguei o copo a ela. – Me desculpe, é que eu não estou a fim de ir pra casa agora.

 

- Eu estava indo tomar banho, mas está tudo bem. – Notei que ela tinha uma expressão um tanto quanto triste e resolvi perguntar o motivo. -- Está tudo bem com você?

 

-Vou ficar bem! – Ela sorriu sem jeito, não tínhamos muita intimidade ainda, mas eu sentia que ela queria alguém pra conversar. - Acho que já vou indo.

 

-Espera, se você quiser conversar. – Mostrei o sofá e ela se sentou.

 

-Não quero tomar o seu tem Beatriz. – Marcela me encarava enquanto eu ajeitava o roupão no meu corpo. – Eu tenho muitos problemas, e não quero encher você com eles, vamos falar de você.

 

        Marcela e eu ficamos ali conversando sem ver a hora passar. Ela me contou como os pais dela tinham me adorado e me perguntou varias coisas sobre minha vida, ela me contou sobre seu amor pela Cyber e eu via o brilho nos olhos dela quando ela falava.

 

-Você gosta de trabalhar né? – Marcela sorriu pra mim e concordou com a cabeça.

 

-É a única coisa ultimamente que anda me dando alegria.  – Ela suspirou pausadamente.

 

         Provavelmente ela e Jaqueline não andavam, muito bem e pelo que eu ouvi os pais dela dizendo na festa, Jaqueline não era alguém que eles gostavam. Não ia ser a funcionaria intrometida, se ela sentisse confortável ela me contaria.

 

-Nossa, já está tarde senhorita Mendes. – Marcela olhou no relógio e se levantou. – Tomei muito o seu tempo.

 

-Imagina, e ficaria sozinha mesmo. – Sorri de lado, percebia agora que Bernardo até agora não havia chegado. – Obrigado novamente por ter trago meu celular, e obrigado pela carona.

 

-Eu que agradeço por ter me distraído, e desculpe por atrapalhar seu banho. –Eu estava sem jeito, mas a acompanhei até a porta.

 

-Quando precisar conversar, já sabe qual meu apartamento. – Ela sorri largamente.

 

-Olha que eu vou vir mesmo. – Marcela tinha um sorriso um tanto que mal intencionado e com certeza minhas bochechas coraram.

 

        Fomos nos despedir e no reflexo os lábios dela encostaram-se ao canto da minha boca, quando achei que ela se afastaria rapidamente, as mãos dela foram de encontro a minha cintura e o que eu senti foi sua língua pedindo passagem para dentro da minha boca.  O Beijo estava intenso e eu juro que nunca senti nada parecido, minhas mãos automaticamente foram para a sua nuca e eu queria que aquele beijo não terminasse. A língua de Marcela era macia, e meu corpo inteiro estava arrepiado com aquele contato. O ar começou a nos faltar e a consciência estava voltando aos poucos, por isso Marcela me soltou bruscamente e começou a se desculpar.

 

-Eu não devia ter feito isso. – Eu ainda não conseguia processar o que tinha acabado de acontecer ali. – Me desculpe Beatriz.

 

       Marcela desceu as escadas sem me dar tempo de dizer qualquer coisa, ainda sentia meus lábios inchados pelo beijo que tínhamos acabado de dar e meu coração parecia saltar pela boca.

 

POV MARCELA

 

 

         Sai do apartamento de Beatriz sem enxergar direito onde eu estava pisando o porteiro me deu boa noite e eu nem sei se o respondi, entrei no meu carro tentando raciocinar direito que eu tinha acabado de fazer, não posso acreditar que eu a beijei, e o gosto da boca dela ainda estava na minha. Sorri ao ver que Beatriz estava entregue ao beijo assim como eu, a forma como ela segurou minha nuca e aprofundou mais nossas bocas foi algo surreal. Balancei a cabeça e mandei uma mensagem para Melissa pedindo que ela me encontrasse amanhã o mais cedo possível.

 

        Liguei meu carro e fui pra casa, na verdade foi Deus quem me guiou, pois eu estava totalmente inebriada pelo beijo de Beatriz. Já estava tarde, entrei em casa tentando não fazer barulho e sei que Jaqueline iria me interrogar onde eu estava.

 

-Marcela onde você estava? – Entrei no quarto e me deparei com Jaqueline sentada na beirada da cama. – Estou te ligando há horas.

 

-Estava dando umas voltas. – Respondi seca, não estava a fim de ouvir Jaqueline.

 

-Dando voltas? Você saiu daqui dizendo que ia levar Beatriz em casa, isso depois dela dizer que não precisava e você insistir. – Jaqueline falava enérgica. – Você já olhou as horas?

 

- Jaqueline, eu disse que estava dando umas voltas. – Abri o closet em busca de uma roupa confortável pra vestir. – Você não acha que eu merecia? Depois de ver você brincar de família feliz ao lado do seu ex marido.

 

-Eu não sabia que o Orlando viria. – Ela abaixou o tom quando eu pronunciei o nome do ex marido dela.

 

-Ah não sabia? – Sorri com sarcasmo, eu estava vendo que aquela conversa não ia prestar. – Vai me dizer também que não sabe o que é isso?

 

       Abri minha gaveta e peguei o comprovante de deposito que eu havia encontrado nas coisas dela e acara de espanto que ela fez não negava que ali tinha algo.

 

-APROVEITA E ME FALA O MOTIVO DE VOCÊ TER MENTIDO SOBRE ESTAR NA CASA DA SUA MÃE. – Me estressei e comecei a falar alto enquanto Jaqueline andava de um lado para o outro dentro do nosso quarto. – Ah ME CONTA AQUI O QUE O SEU CARRO ESTAVA FAZENDO NO MOTEL EM PLENA LUZ DO DIA?

 

-Marcela eu posso explicar, mas, por favor, fale baixo. – Ela veio na tentativa de segura minhas mãos.  

 

-FALAR BAIXO? EU ESTOU EM MINHA CASA E GRITO O QUANTO EU QUISER. – Me afastei dela e meu sangue fervia. – Eu estou ouvindo suas explicações, se é que dá pra explicar isso.

 

-Orlando me pediu um empréstimo. – Ela falou em um fio de voz.

 

-E você achou interessante emprestar o meu dinheiro sem me consultar?

 

-Nosso dinheiro.

 

-Ah agora é nosso? Eu merecia saber, ainda mais depois de tudo que ele fez pra nosso casamento. – Eu estava tão nervosa que quase não raciocinava direito. – Se você confessar fica mais bonito pra você.

 

-Marcela eu não queria ter feito isso. – Jaqueline a essa altura já estava entregando toda a sua traição. – Eu cometi um erro.

 

-ENTÃO TODOS A MINHA VOLTA ESTAVM CERTOS. – Berrei pra ela que tinha algumas lágrimas nos olhos, porem eu não acreditava nelas. – Como eu pude ser tão cega, todos tentavam me alertar, mas eu acreditava em você.

 

- Foi uma única vez. – Ela sussurrou e isso só me deixou mais aborrecida.

 

-Cala a boca Jaqueline, não ouse brincar com a minha inteligência. – Ela veio pra perto de mim novamente e me segurou pelos ombros.

 

-Marcela eu amo você, eu errei, mas eu amo você. – Ela tentou me abraçar, amas eu desviei.

 

- Ama né? – Sorri sem humor e tirei as mãos dela de mim. – Você só ama a si mesma, eu fui uma otária em acreditar em você. – Fui ao guarda roupa e peguei umas peças de roupas e coloquei em uma mochila.

 

-Aonde você vai? –Ela veio atrás de mim. – Não vou deixar você sair daqui sem que a gente se acerte.

 

-Não te interessa, mas fica tranquila Jaqueline. – Ela me olhou confusa. – Se você acha que eu vou pedir o divorcio pra você ficar com metade do que é meu você está bem enganada.

 

       Peguei alguns itens pessoais, minha pasta com alguns relatórios e a mochila com minhas roupas e fui em direção à porta, Jaqueline ainda me seguia tentando fazendo com que eu ouvisse a ladainha dela, mas eu não dei ouvido a nada do que ela dizia.

 

-Marcela, vamos conversar como duas adultas. – Já estávamos no andar de baixo e eu torcia pelas meninas não terem escutado nada daquilo.

 

-Jaqueline vamos conversar na presença do meu advogado. – Puxei minha mão que ela segurava e sai dali com o coração batendo mais rápido que uma bateria de escola de samba.

 

             Entrei no meu carro nervosa e irritada, ela nem teve coragem de negar. Como eu fui burra, eu briguei com pessoas que me amavam pra defender ela, dei um soco no volante e mandei uma mensagem para o meu irmão perguntando se eu podia ir até a casa dele.

 

 

Fim do capítulo