O novo ano começou calorento e chuvoso, as coisas em casa estavam estranhas, Cris tinha dias bons, outros era um mau humor insuportável, como estava de férias da faculdade, passava mais tempo em casa e as brigas eram quase diárias. Helena não me procurou mais e também deixei de lado, resolvi não ser tão trouxa quanto fui ano passado. Já a Marina estava nos preparativos para a viagem, César deixou tudo nas costas dela, ver casa para morar, comprar roupas, pois iriam pegar o final do inverno, enfim, o folgado não estava ajudando em nada, mas mesmo assim, sempre que podíamos conversávamos.

Finalmente chegou o dia da assinatura do divórcio, achei que a Cris iria faltar na audiência, para meu alívio ela compareceu, o juiz tentou argumentar para uma possível reconciliação, mas sabíamos que não existia casamento há anos, depois da assinatura, Cris me chamou para conversar, estava bem serena, se desculpou, disse que tinha uma parcela grande de culpa em não ter dado certo, rebati que os erros eram de ambas.

- Nós erramos e achamos que o tempo iria concertar, mas não deu.

- Tivemos bons momentos Duda, sei que não foram muitos, mas tivemos.

- São esses momentos que vou guardar.

- A Carolina vem me buscar no sábado, posso ficar no apartamento mais esses dias?

- Claro que sim Cris, se precisar de alguma coisa, é só falar.

Selamos nosso término com um abraço.

Fui trabalhar mais aliviada, quando cheguei Lara me esperava com um champanhe.

- Parabéns a mais nova solteira de São Paulo.

- Obrigada, mas já estou solteira faz tempo! E essa champanhe sua doida?

- Vamos comemorar mais tarde, hoje o jantar é por minha conta, leva a Helena ou a Marina ou seja lá quem for.

- Helena está sumida e a Marina acho complicado. Onde vai ser o jantar?

- No meu apartamento, a Janine vai.

- Tá bom eu vou, vai ser bom distrair um pouco.

Assim que Lara saiu, liguei para Flavinha, que deu um grito que quase estourou meus tímpanos:

- Finalmente se livrou do encosto!! Precisa fazer uma limpeza espiritual nesse apartamento.

- Ai que exagero!

- É sério, sábado vou com a Bia aí te ajudar. Aproveita e capricha no almoço.

- Tá bom. Falou com a Silvinha hoje?

- Hoje não, mas ontem conversamos pelo Skype e achei ela bem, feliz...Mas ainda me preocupa esse tempo todo sem tratamento.

- Fico com o coração na mão, mas ela volta daqui duas semanas...

- Não amiga, ela só vem depois do carnaval, disse que o Rick concordou e a escola das crianças só volta depois, então vão ficar.

- Devemos apoiar e mais nada, mas é preocupante.

Conversamos mais um pouco e fui trabalhar, a tarde mandei mensagem para Marina convidando para jantar, ela respondeu que adoraria, mas era aniversário do sogro e iriam jantar com ele, mas convidou para almoçar amanhã. Aceitei o prêmio de consolação.

O jantar na casa da Lara foi ótimo, Janine era muito divertida e me disse que tinha várias amigas para apresentar, disse que ainda era cedo, mas me animei com a perspectiva de pelo menos beijar na boca.

No dia seguinte, acordei com ânimo renovado, caprichei no visual e fui trabalhar. Lara me elogiou, disse que eu estava gatinha, dei risada, pois sabia que era brincadeira, minha amiga estava feliz com Janine.

Antes de sair para o almoço, recebi uma ligação da faculdade, pedindo que eu fosse até lá, estranhei, mas disse que iria hoje no final do dia. Fiquei com a pulga atrás da orelha.

Finalmente chegou a hora do almoço, confesso que estava ansiosa, cheguei cedo e pedi uma água, Marina estava atrasada e comecei a suar, até que senti um toque suave no meu ombro.

- Desculpa Duda, esqueço do trânsito dessa cidade!

- Sem problema, sente-se.

Marina deu um beijo na minha bochecha e sentou, fizemos o pedido e a conversa rolou solta, Marina estava feliz, tinha um brilho no olhar, será que era por causa da viagem?

- Como você tá?  Marina me tirou dos meus devaneios.

- Estou bem, recebi uma ligação para ir à faculdade, achei estranho.

- Não deve ser nada demais, relaxa Duda!

- E você Marina? Parece feliz.

- Ah consegui um patrocínio para a ONG, era algo que a minha mãe estava há um tempão tentando, passei os últimos dias atrás disso.

- Nossa que legal, que patrocínio?

- Uma empresa têxtil, vão fornecer tecidos para as aulas de corte e costura.

- Parabéns, precisamos comemorar!

- E esse almoço é o que. Comemoração né? Você a mais nova e cobiçada solteira do pedaço e eu consegui o apoio da empresa.

Fizemos um brinde com água mesmo, era bom demais ver o brilho no olhar dela. O almoço passou voando, deixei minha ruiva em casa e fui trabalhar. Logo após o término passei na faculdade e fui convidada a voltar dar aulas presenciais, aceitei na hora, pois além de gostar de ter contato com os alunos, a carga de aulas era menor e o salário maior.

O resto da semana passou voando, fiz algumas compras para o apartamento, comprei uma cama nova, pois a que Cris dormia cheirava a cigarro, comprei alguns tapetes, cortinas e novos jogos de lençóis para cama, quanto à Cris, percebi ela meio triste, mas não comentei nada. No sábado pela manhã, Carol chegou, ajudei as duas com as bagagens, ficou ainda algumas coisas, que Cris disse que buscaria depois.

Assim que elas saíram, sentei no sofá e suspirei aliviada. Bia e Flavinha não demoraram a chegar e passamos o dia limpando, montamos minha cama, a antiga doei para o zelador. Ao final do dia o apartamento estava a minha cara, limpinho, cheiroso e sem cheiro de cigarro.

- Ficou lindo Duda, já pode dar as festinha que você tanto gosta! Disse Flavinha.

Estávamos deitadas no tapete da sala olhando para o teto.

- Não sou dessas! Respondi com uma careta.

Flavinha jogou um almofada em mim e respondeu:

- Tá bom Duda, finjo que acredito.

- Ei vocês duas comportem-se!

- Sim senhora! Respondemos juntas.

- Bobas...Meninas o carnaval tá chegando, vamos pra Búzios?

- Vamos sim, eu aceito ir de vela e prometo não atrapalhar o casal.

As duas deram risada, estava mesmo precisando dar uma arejada e viajar com minhas amigas seria muito bom.  Peguei meu notebook e fomos pesquisar pousadas e hotéis, combinamos ir de carro mesmo. Depois de muito procurar achamos uma com ótima localização e perto da praia, viajaríamos na sexta-feira após o almoço e voltaríamos na terça à tarde.

- Preciso comprar biquínis, estou sem roupas e lá sempre rola umas baladinhas a noite.

- Vamos no shopping amanhã? Perguntou Flavinha.

- Podemos almoçar lá e depois fazemos o tour das meninas. Sugeriu Bia.

- Fechou amor, agora vamos embora, estou morta! Nunca vi um apartamento tão bagunçado Duda, cuida disso viu?

- Abusada dona Flávia! Mas pode deixar, conversei com a esposa do zelador, ela vem fazer faxina toda semana, antes a Cris era quem cuidava.

- Cuidava igual a cara dela!

Bia puxou a namorada, pois se deixasse, ficaríamos horas batendo papo.

No dia seguinte, acordei tarde, dei uma olhada em tudo, nada fora de lugar... Sorri...Estava perfeito, tomei um banho e comi uma fruta, liguei para Silvinha e ela disse estar sentindo-se bem, estava fazendo um tratamento alternativo à base de ervas e chás e sentia-se melhor, mas quando retornasse à São Paulo, voltaria com as sessões de radioterapia.

Cheguei no shopping cedo, sentei em umas das mesas da praça de alimentação, estava distraída mexendo no celular, quando ouvi a voz doce de Marina.

- Oi Duda tudo bem? Perdida por aqui?

Levantei e dei um abraço nela, que perfume gostoso.

- Estou bem Marina e você? Estou esperando a Flavinha e a Bia, vamos almoçar. Almoça com a gente?

- Adoraria, mas estou com o César, ele veio comprar uns sapatos e vamos almoçar no restaurante lá embaixo.

- Ah que pena, queria que você conhecesse minhas amigas.

- Não vai faltar oportunidade, agora deixa eu ir, o César já saiu do banheiro.

Vi de longe o babacão rindo feito uma hiena, vestido como um palhaço, camisa social por dentro da calça jeans, já Marina vestia uma bermuda social e blusa leve, linda, elegante...

- Vamos marcar um café essa semana?

- Vamos sim, te ligo.

Marina saiu e deixou no ar seu perfume, vi quando ela César a recebeu com um beijo e sorriu tão apaixonado, Marina retribuiu o sorriso, nesse instante senti uma pontinha de inveja do babacão.

- Que cara é essa Duda?

Perguntou Bia que chegava de mãos dadas com Flavinha.

- Marina.

- Cadê ela? Perguntou Flavinha alto.

- Arre fala baixo! Estão ali naquela vitrine. - Apontei com o queixo.

As duas olharam ao mesmo tempo e Flavinha comentou:

- Tá de parabéns amiga, ela é bonita mesmo.

- Tenho que concordar com a Flávia, você tem bom gosto. É mais bonita do que nas fotos.

Não falei nada, depois de um tempo os dois se afastaram e voltei minha atenção à elas, fizemos os pedidos e depois da sobremesa, fomos às compras. A Bia apesar de não curtir muito, esperou com toda a paciência do mundo, passamos uma tarde gostosa entre compras e brincadeiras. Fechamos a noite numa sessão no cinema e depois jantamos no shopping mesmo. Meu primeiro fim-de-semana sozinha, foi maravilhoso.

Fim do capítulo