Capitulo 32
A Última Rosa -- Capítulo 32
Michelle levou uma das mãos à cabeça.
-- Aiii, como dói... -- disse.
Valquíria virou-se imediatamente.
-- Michelle? -- ela correu e quase jogou-se sobre a amiga -- Você acordou, que maravilha! Olha pra mim, você se lembra de mim?
Quando ela tentou se mexer, sentiu náuseas e tontura.
-- Não me sinto bem -- queixou-se -- Minha cabeça está girando.
-- Mi... Mi... Meu Deus, você acordou!
Michelle sacudiu a cabeça, como se tentasse clarear as ideias. Olhou ao redor, confusa, tentando se orientar de alguma maneira naquele lugar estranho.
-- Aonde estou? -- sentindo a língua grossa, ela engoliu com dificuldade -- O que aconteceu?
-- Você está no hospital -- respondeu Valquíria -- Fique deitada. Vou chamar a enfermeira.
-- Espera -- ela suspirou e olhou o quarto ao redor, tentando reunir os fragmentos das lembranças. Estava chovendo, e... -- nesse momento tudo se tornou escuro. Michelle fechou os olhos, tentando lembrar-se dos fatos mais recentes. Estava dirigindo na chuva. Sua cabeça doeu ao forçar a mente. De repente viu a si mesma dentro do carro. Lembrou-se do carro vermelho, de Augusta, de Marcela... E depois? Franziu a testa. Estremeceu e agarrou o braço de Valquíria com força.
-- Meu Deus, Marcela e Augusta tentaram me matar.
-- O que? -- Valquíria estava assombrada -- Porque?
Michelle respirou fundo, desta vez lembrando-se do interior da casa. O que aconteceu depois de entrar para pegar o celular? Ah, sim. De volta do quarto, ao passar pela varanda... -- inconscientemente, seus dedos apertavam o lençol, enquanto procurava um caminho através das imagens confusas que pareciam explodir em sua mente -- Marcela estava de pé!
-- Não pode! -- Valquíria se levantou -- Impossível!
Michelle jogou as cobertas de lado, tentando livrar-se dos terminais das máquinas, conectados em seu corpo.
-- Eu preciso sair daqui -- disse desesperada -- Elas querem me matar.
Valquíria segurou-a no momento em que ela ia sair da cama, sem se dar conta da perna engessada.
-- Michelle, não!
-- Largue-me -- ela começou a chorar -- Por favor, deixe-me ir. Não quero morrer!
O olhar desesperado da amiga deixou Valquíria apavorada.
-- Sua perna está quebrada, você levou uma pancada muito forte na cabeça. Não pode sair do hospital dessa forma.
O rosto de Michelle estava contraído pelo medo. Valquíria procurou tranquilizá-la.
-- A Jessica está aí fora, ela não vai permitir que algo de ruim aconteça com você -- Valquíria deixou-se cair na cadeira mais próxima. Inclinou-se para a frente com os cotovelos apoiados nos joelhos -- Meu Deus, Mi. Que loucura! Então, a dona Marcela está mentindo para a Jessica esse tempo todo. Que mulher diabólica.
Michelle gem*u, um músculo movimentou-se no alto de suas mandíbulas e em seguida ela respirou fundo.
-- O que farei agora, Val?
-- Vai contar tudo para a Jessica. É isso que você vai fazer.
-- Não posso, é a minha palavra contra a dela.
-- E você acha que, para a Jessica, a palavra da Marcela vale mais que a sua? Larga de ser boboca, mulher. Ela a ama.
-- Prefiro não arriscar. Estou aqui no hospital, com a perna fraturada, não tenho como me defender daquela louca.
-- Então, o que pretende fazer? -- Valquíria perguntou e Michelle balançou a cabeça negativamente.
-- Não faço a mínima ideia -- foi sincera -- O que você acha?
Valquíria pensou um pouco. Depois de algum tempo, disse:
-- Depois de ter avaliado a sua tomografia, o dr. Eder nos preveniu de uma possível amnésia, ele disse que é muito comum em caso de pancada na cabeça.
-- Hum, interessante -- Michelle apertou os lábios e olhou para a amiga -- Você está pensando o mesmo que eu?
-- Jessica...
Ela voltou-se, rápido. Sua tia estava à porta da sala de espera.
-- Não devia estar aqui, tia.
Inês apenas ergueu a pequena embalagem com lanches para ela e Valquíria.
-- Vocês devem estar com fome -- com um sinal, Jessica convidou-a a sentar.
-- Como ela está? -- perguntou Inês.
-- Acabei de vir do quarto. Ela está dormindo.
-- Você falou com o médico? -- Jessica fez que sim. A senhora colocou a bolsa na cadeira ao lado e se aproximou ainda mais da sobrinha -- Então? Vai me contar o que ele disse ou vou ter que arrancar-lhe, palavra por palavra?
-- Ele disse que os exames deram todos normais. Então, só nos resta aguardar ela acordar.
Inês ficou pensativa, olhando para a sobrinha. Depois perguntou:
-- E Marcela? Soube mais alguma coisa dela? -- tia Inês viu a decepção nos olhos de Jessica, um toque de tristeza, mas também existia esperança e confiança. Lembrou do dia em que Jessica casou-se com Marcela. Ela nunca se conformou, conhecia muito bem a moça, sabia que a sobrinha sofreria.
-- Incrível tia, mas apesar de tudo, ainda me preocupo com ela. Não quero que nada de mal lhe aconteça.
-- Isso mostra o quanto você é bondosa. Não esperava outra atitude de você. Nunca devemos subestimar o que uma pessoa está falando, muito menos, menosprezá-las. Quando alguém falar que vai se matar, não a classifique como dramática ou chantagista. Fique atenta, mulheres inseguras e deprimidas como Marcela costumam não ser levadas a sério nessas situações, o que é extremamente perigoso. O pedido de socorro pode ser explícito e devemos estar atentos a cada um deles. Por isso, peço que mantenha a atenção nela. Lembre-se que independente de quem seja, todo cuidado é na verdade demonstração de empatia pelo próximo.
-- Eu cuido dela, sempre cuidei. Liguei para casa, a Vitória disse que a Augusta está com ela, então, não tenho com o que me preocupar.
Marcela tinha a impressão de estar enlouquecendo. Precisava desesperadamente de uma saída. Ela ergueu a cabeça e se deparou com o olhar preocupado de Augusta.
-- Estou ferrada, Augusta. É o fim da linha.
A médica sacudiu a cabeça devagar.
-- Não podemos desistir, temos que tentar até o fim.
-- Não Augusta, estou cansada e desanimada -- Marcela saiu da cadeira de rodas e foi até a janela -- A Jessica não está nem aí para mim. Falei que ia me suicidar e ela não deu a mínima.
-- Ela ligou para a Vitória.
-- Ligou?
-- Sim. Ela ainda sente algo por você.
-- Pena -- disse por fim. O desespero sufocou Marcela e sua voz soou amarga -- Pena é o pior sentimento que existe. É até pior que o ódio.
Augusta voltou as costas para Marcela. Sofria por ela.
-- Sabe... minha mãe dizia que quanto mais profundo o amor, mais dói quando as coisas dão errado -- ela se virou, sorrindo, para Marcela -- Eu gosto muito de você e farei qualquer coisa para vê-la feliz -- Augusta pegou a bolsa e se dirigiu para a porta.
-- Aonde você vai? -- perguntou Marcela, desconfiada.
-- Vou terminar o que comecei.
Augusta saiu, deixando-a sem saber quais seriam seus planos. Perambulou pelo quarto, imersa no silêncio. A verdade era uma só: Jessica não a perdoará.
Jessica retornou ao quarto algum tempo depois, colocou a chave do carro sobre uma pequena mesa junto a parede e foi para perto de Valquíria.
-- Alguma novidade? -- perguntou Jessica, olhando para Michelle.
Valquíria mordeu os lábios, avaliando-a antes de responder. Por sorte, Michelle estava sonolenta devido aos remédios e logo voltou a dormir.
-- Do mesmo jeito, tadinha. Nem se mexeu -- Valquíria era tão boa em mentir que chegava a convencer a si mesma.
Jessica aproximou-se da cama e ficou pensativa, seus olhos verdes tinham um ar melancólico ao fitar Michelle inerte naquela cama de hospital, com fios e soros conectados em seus braços.
--Tudo bem, Valquíria -- disse Jessica -- Eu ficarei com ela. Você e a tia podem ir para casa.
Valquíria sabia que Jessica tinha razão, mas isso não a impedia de se sentir culpada.
-- Eu prefiro ficar aqui no hospital. Michelle é a minha única amiga, quero estar presente quando ela acordar -- foi dramática.
Jessica não concordou.
-- Ela, provavelmente, só vai acordar amanhã pela manhã. Então, não há necessidade de você ficar. Pegue a tia Inês lá na sala de espera e a tire daqui. É uma ordem.
Valquíria fez a cara mais nojenta do mundo, pegou a bolsa e jogou com força sobre o ombro.
-- Sim, senhora general -- a cheff saiu do quarto pisando duro e resmungando.
Jessica sentou-se na poltrona e tentou dormir. Mas não conseguia, estava agitada demais. Ocultou o rosto com as mãos que ainda tremiam. Tudo que ela podia fazer era esperar que Michelle recuperasse a consciência. Talvez, então, poderia descansar.
Por volta das duas da manhã, Michelle acordou e viu Jessica adormecida na poltrona junto da cama. Ela franziu as sobrancelhas lembrando-se vagamente de um sonho com Marcela e Augusta. Na verdade, um pesadelo. Tornou a fechar os olhos quando a claridade da luz pareceu feri-los. Esperou até acostumar-se à luz amarela, que iluminava suavemente o ambiente. Virou a cabeça e sorriu feliz. Jessica não a abandonou, estava ali ao seu lado, tão linda e, por um momento, sentiu vontade de tocá-la, mas quando se mexeu, ela acordou sobressaltada.
-- Mi! -- Jessica se ergueu, bruscamente, seus olhos brilhavam de felicidade quando sentou-se na cama e passou a mão pelo rosto da ruiva -- Como se sente? Meu Deus, fiquei tão preocupada com você!
Michelle ergueu as sobrancelhas.
-- O que aconteceu?
Os olhos de Jessica tornaram-se maiores.
-- Você não se lembra?
Michelle balançou a cabeça devagar, de um lado para o outro.
-- De nada? -- perguntou Jessica, ansiosa.
-- Lembro-me de ter deixado a Valquíria e a Vitória na feira e retornado para buscar o celular que esqueci. Só não lembro do que aconteceu depois.
-- Tudo bem -- Jessica abraçou-a, embalando-a -- Eu vou cuidar de você -- a voz dela soou baixa e tranquila, enquanto a fitava com carinho.
Algum tempo depois, o médico que atendia Michelle entrou no quarto.
-- Ah, enfim acordou! -- ele aproximou-se e Jessica se levantou.
-- Ela não lembra do acidente, doutor. De resto, ela se lembra de tudo. Como isso é possível?-- perguntou Jessica.
-- Não sei direito, mas minha impressão é que ela sofreu uma Amnésia traumática, que é a perda de memória causada por um duro golpe na cabeça, como foi o caso dela. Pessoas com amnésia traumática podem experimentar uma breve perda de consciência ou até mesmo entrar em coma. Na maioria dos casos, a amnésia é temporária, depende de quão grave é a lesão. Quando ela estiver fisicamente melhor seria bom que fizesse psicoterapia.
-- Um psiquiatra?
-- Sim. Quando ela se recuperar, veremos do que se lembra e partiremos desse ponto. Certo? -- depois de dar uns tapinhas/consoladores no braço dela, o médico se retirou.
-- O que aconteceu, Jessi? -- Michelle perguntou, curiosa em saber o quanto a polícia havia descoberto sobre o acidente.
-- Você caiu com o carro em uma ribanceira. A polícia está investigando, não se preocupe com isso agora. Vamos nos concentrar apenas em sua recuperação. Está sentindo alguma dor? Quer que eu busque algo para você comer? Quer que eu eleve a cabeceira? Quer que...
-- Quero um chocolate -- ela sorriu de leve. Era tão bom sentir-se protegida e mimada por Jessica.
-- Eu vou buscar. Talvez eu demore um pouquinho, a lanchonete fica no outro bloco.
-- Não tem problema -- ela falou, lutando contra o sono provocado pelo medicamento -- Eu espe...
Jessica alisou os cabelos ruivos e espessos de Michelle, deu um beijo em seu rosto, depois saiu.
Augusta conhecia o hospital como a palma de sua mão. Sabia a localização das câmeras de segurança e andava livremente pelos corredores com o seu jaleco branco, de médica, da Santa Casa de Hills.
Procurou no sistema o número do quarto de Michelle e se encaminhou para lá. Primeiro teria que tirar Jessica do quarto, depois, faria o que tinha que fazer, de forma limpa, sem deixar pistas.
Quando virou no corredor seguinte, viu Jessica entrando no elevador.
-- Eu sou muito sortuda -- reconheceu num tom animado -- Não precisei nem me arriscar ligando para o quarto, solicitando sua presença na recepção, ela saiu por conta própria -- sorriu satisfeita.
Com cuidado, empurrou um pouquinho a porta do quarto e olhou para dentro. Michelle parecia estar dormindo, silenciosamente abriu a porta toda e entrou. Tudo estava seguindo conforme os planos, porém, muito melhor.
Tirou uma seringa do bolso do jaleco e bem devagar, se aproximou da cama.
-- Não conhece o ditado, "a curiosidade matou o gato", Michelle? Pelo jeito não -- a expressão no rosto de Augusta era de pura maldade.
Sinais de Tendência Suicida
Todos sabemos o quanto é complexo falarmos de nossas emoções e de expressarmos o que realmente sentimos. Uma pessoa que planeja o suicídio em seus momentos de explosão, ela pode dizer que quer morrer e, muitas vezes, isso não se trata somente de uma ameaça, é algo que está já criando raízes em sua mente e só aguarda por um momento propício.
A angústia, tristeza e sentimentos depressivos são na verdade um pedido silencioso de socorro, onde podemos encontrar -- se analisarmos mais a fundo -- mais sinais de que essa pessoa já procurou como se matar.
Muitas vezes somente um bom relacionamento com pessoas próximas consegue driblar o desespero e aceitar um tratamento adequado. Por isso é tão necessário manter a atenção nessa pessoa, por menor que seja o sinal de uma tendência suicida. Lembre-se que todo cuidado é na verdade demonstração de afeto e amor.
https://www.telavita.com.br/blog/5-sinais-de-tendencia-suicida
Fim do capítulo
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HelOliveira
Em: 01/04/2021
Eita Michele não consegue um tempo para relaxar, será que. Jéssica vai voltar a tempo, a Valquíria podia ter contado tudo para tia Inês, que sabe ela ajudar a Mi.
Bjos até o proximo
Resposta do autor:
Olá Hel.
Sim, pode ser.
Beijos. Até.
Karu Dias
Em: 29/03/2021
Tomara que a Augusta não tenha êxito nessa loucura... pobre Michele.
Marcela, mulher, deixe disso . Se liberte e dê liberdade a quem vc supõe amar,essa obsessão só lhes traz fardos cada vez mais pesados.
Resposta do autor:
Olá Karu.
Que amor é esse hein?
Beijos querida. Até.
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Mille
Em: 29/03/2021
Oi querida Vandinha
Augusta é apaixonada pela Marcela e nem quero saber o que essas duas apresentaram viu.
E quem poderá salvar a Michele das mãos da Augusta??
Tudo bem, embora vivendo com medo dessa doença e perder alguém da família. Que Deus nos proteja. A você e todos as pessoas da linha de frente
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Olá meu anjo.
Meus sentimentos. Acho que todos nós ou perdemos alguém da familia, ou alguém próximo.
Esse vírus maldito é muito cruel.
Cuide-se. Beijos.
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