Quem a via em Paraty jamais poderia imaginar que estava perto de um mito, dessa vez um real, cheio de encantos e magia. Inês estava vestida de forma casual, mesmo assim, o visual exalava casualidade e elegância, os cabelos pretos e lisos cortados em bobcourt combinava perfeitamente com seu rosto de traços delicados e olhos negros expressivos, estava impecável vestida com uma calça da marca "Le soleil d'été", feita de tecido jacquard de algodão xadrez com botões personalizado de tamanho médio na frente, camiseta sem mangas do mesmo tecido, de listas horizontais com pequenas barrinhas sobrepostas dando um toque elegante, na cabeça um chapéu de palhinha com um laço do mesmo tecido da calça.

      Inês olhou encantada a traineira de 50 pés atracada, nomeada de "Sem pressa" e entrou animada esperando que o serviço de catering náutico fosse tão elegante e cheio de boa comida, bons drinques, playlist incrível, gostosas almofadas e pessoas interessantes para conversar até o pôr do sol ou depois dele como haviam lhe falado. Se sentiu muito à vontade, apreciando a beleza do mar e do lugar, onde a renomada Chef paulistana Gisela Schimitt montou o restaurante no barco da família e ali servia os pratos sofisticados em um passeio de 5h. Gisela atendia o público e trabalhava descalça trazendo ainda mais encanto ao ambiente. Inês sentou, fez seu pedido e tempos depois sorriu com a aproximação da chef que chegou com seus cabelos dourados balançando ao vento depois que a touca havia voado para longe com o vento forte que deu.

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- Com licença, suas Ostras e a Lagosta à Thermidor estão prontas.

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      Inês salivou frente aos pratos bem decorados e com um cheiro que invadiu suas narinas, trazendo uma mistura de odores e perfumes dos frutos do mar.

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- Espero que aprecie o vinho, a combinação está perfeita.

- Obrigada...

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      A Cuca sorriu, provando a ostra e estalando a boca para sentir o gosto no céu da boca.

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- Uma das maiores maravilhas do ser humano é poder comer essas iguarias...adoro...

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      Quando terminou tudo, higienizou seu dentes automaticamente, deixando um hálito de menta refrescante, pensando que essa era uma grande vantagem de sua magia. Ao longe viu uma moça deitada em uma espreguiçadeira, trazia um caderno em espiral com a capa com as cores do arco íris em tom pastel, seus cabelos eram castanhos e levemente ondulados emoldurando o rosto delicado e contrastando com a pele branca, seus olhos eram de um castanho profundo, sorriu ao notar que era observada pela Cuca, mas, logo voltou a sua escrita. Não satisfeita Inês pegou a taça se servindo de vinho e sentou do lado de sua poltrona.

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- Atrapalho?.

- Com certeza, estou em plena crise de bloqueio criativo e preciso parir uma história em menos de uma semana, desculpe, mas, uma paquera é tudo o que não preciso no momento.

- Entendo...mas, antes posso me apresentar?, sou Inês de Castro...tenho um bar e escrevo nos tempos vagos, será que não posso te ajudar?. Tenho uma história incrível que seria contada por uma conhecida minha, mas, ela desistiu de escrever portando se gostar a história é toda sua...posso contar?, acho que não tem nada a perder.

- Tem razão, enquanto isso vou fazer um pedido, me acompanha?.

- Claro...

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      Não demorou e Gisela trouxe o prato, eram camarões com mexilhões, além de uma gostosa salada.

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- Desculpe eu não me apresentei...me chamo Anna...Anna Damien Montecer. Anna para você...

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      A Cuca sorriu, achava interessante essa mania dos humanos em falar seus sobrenomes completos quando soavam elegantes, mas, apernas suspirou e contou tudo o que vinha a cabeça sobre Sophia, Cris, Vanessa, Léo...só teve o cuidado de mudar os nomes e as profissões, inclusive o seu, na história preferiu ser um anjo, Anna ouvia tudo silenciosa, os olhos as vezes se abriam impressionados, outras deixava uma lágrima escorrer, e em outros momentos ria e colocava a mão em frente a boca para não incomodar as pessoas que estavam a sua volta. Sem dúvida era uma grande história.

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- Então, o que acha?.

- Maravilhosa narrativa, impressionante, quer dizer que tudo começou ao som de uma marchinha de carnaval?.

- Sim, tudo começou com o "O primeiro clarim", pronto mocinha, já tem sua história, só mude alguns detalhes e será um sucesso absoluto.

- É sério isso?, não vai me processar por plágio depois?.

- De jeito algum...me dá sua mão?.

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      Anna sorriu e entregou a delicada mão, vendo Inês pousar a sua por cima, e logo muitas imagens vinham a sua cabeça, o livro seria um sucesso absoluto.

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- Você é mesmo....um anjo....

- Quem sabe eu seja apenas o seu?.

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    Desconcertada Anna sorriu, os olhos de Inês traziam uma inquietação a sua alma, então, tentou desconversar.

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- Inês, atualmente como estão as suas amigas, as personagens reais do livro?.

- Estão bem querida, já te contei o final...

- Eu sei, mas, gostaria de saber a parte da Manuella (nome dado a Vanessa por Inês na história). Me conta com mais detalhes...

- Okay!, como falei eu já tinha pesquisado junto a várias entidades o que poderia fazer para "Manuella" voltar a vida, como construir uma espécie de receptáculo para sua alma, ou mesmo como transformar seu corpo espiritual em um corpo de carne, eu sabia que existiam várias possibilidades, mas, não quis errar, pesquisei e descobri algo que ocorreu com uma mulher no Brasil mesmo, não foi difícil acha-la, vasculhei pelo seu cheiro até encontrar, ela se chama Janine, sua história é contada em um livro chamado "A Bruxa e a Spirit Doll", claro que as pessoas pensam que é apenas um romance, não sabem que a história é real.

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      Inês olhou dentro dos olhos de Anna quer torcia as mãos para saber o resto.

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- Continua, por favor...e me conta essa outra história.

- Vai ter que ler o livro de Janine para saber...mas, continuando...consegui achar Janine com facilidade, ela me explicou com fazer, e fui atrás de captar energia do orgasmos femininos principalmente das mulheres lésbicas, por motivos óbvios.

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      Anna corou e Inês riu abertamente deixando à mostra a fileira de dentes brancos.

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- Mas voltando, fui em vários casais recolhendo a energia do orgasmo de todas elas, depois fiz uma espécie de catalisador, uma substância que aumenta a velocidade de uma reação química sem estar sendo consumido por ela. O catalisador não tem efeito sobre o equilíbrio de uma reação, ele pode acelerar ou retardar a velocidade na qual uma reação atinge o equilíbrio, mas ele não afeta a composição no equilíbrio. Seu papel é oferecer uma rota mais rápida para o mesmo destino....ou seja, trazer o espírito a vida sem quebrar o equilíbrio das coisas...e sem mudar o organismo da alma ou sua personalidade e emoções.

- Entendeu?.

- Nem tanto, mas, tenho outras dúvidas...

- Pode perguntar Anna...

- E os pais, os amigos?...nunca quiseram saber detalhes de como Manuella voltou a vida?, quem era o corpo que estava no lugar dela, essas coisas?.

- Bom, mudei todo o DNA que estava nos restos mortais de "Manuella", e a ela foi imputado uma amnésia, o ser humano quer ser feliz, e se foi provado pela emoção que a moça em questão que voltou era mesmo a sua Manu, pra que discutir?, todos foram ser felizes com sua volta e isso já bastou.

- Sua amiga sentiu alguma dor ao retornar ao corpo?.

- Dor bem parecida ao do nascimento, mas, veio cheia de vontade de aprender com sua vida...

- Você disse que ela morreria na verdade, mesmo que não tivesse sido assassinada...

- Mas eu limpei a doença do seu organismo, fiz um trabalho completo...

- Nossa como essa história é louca, intensa, incrível...

- Como você viu, vai ser um sucesso...

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- E Bárbara e Eleonora (Sophia e Renée)?.

- Continuam felizes e se amando muito, sofreram muito com a partida precoce de Beatriz (Heloísa) aos vinte e dois anos, mas, seguem superando suas dores e são felizes, mesmo carregando essa cicatriz eterna.

- Beatrice (Helena) e Renata (Roberta) ainda estão juntas?.

- Sim, casaram e estão super felizes, elas ainda não sabem, mas, Beatrice conseguiu engravidar na inseminação artificial que tiveram, vão ter um lindo menino chamado Bernardo, e em seguida será a vez de Renata engravidar gerando uma menina chamada Bianca.

- Quer dizer que tudo acabou bem?.

- Não sei, quem sabe depois desse lindo pôr do sol você não me conta como será o meu final?, você vai estar presente quando a lua chegar ou não?.

- Ai depende também de você, gostaria de estar contigo em um outro lugar.

- Tem certeza disso?.

- Sim...

- Olha lá hein?, não vai se arrepender...

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      Anna sorriu, só então, Inês piscou os olhos e voltaram no tempo, a escritora estava com o mesmo caderno só que dessa vez na beira da piscina, escrevia rapidamente quando viu que os olhos negros de Inês lhe observavam a uma certa distância, tirou a bata indiana que escondia o maiô estampado com coqueiros de cintura vazada e mergulhou na piscina indo em direção a Cuca.

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- Oi, sei que vai parecer uma cantada barata, mas, já nos conhecemos?, tenho a impressão de ter visto seu rosto em algum lugar...

- Quem sabe?, vi que estava escrevendo...

- Sim, meu mais novo livro, chama "O primeiro clarim", o escrevi aqui mesmo em Paraty.

- Que interessante, e pode me contar do que se trata a história?.

- Quer que te dê spoiler mocinha?, o que ganho em troca?.

- Veremos...prazer sou Inês...

- Anna...

Fim do capítulo