Música do capítulo – Madonna – Take a bow

No dia seguinte aproveitei que Sophia estava de folga e na hora do almoço fui até sua casa, ela me recebeu surpresa e perguntou se tinha acontecido alguma coisa.

- Está tudo bem, mas preciso saber o que temos? Estamos namorando? Você tem alguma pretensão de assumir um compromisso comigo? Perguntei entrando e me sentando no sofá.

Sophia ficou surpresa, não estava acostumada a ser confrontada e minha postura firme a deixou desconfortável, confesso que por dentro estava morrendo de medo de levar um belo fora.

- Olha Duda estou adorando o que estamos vivendo, mas entenda minha posição...Não posso nesse momento te prometer nada, mas quando esse caso passar, voltamos a conversar, o que você acha?

Sério isso? Sophia devia estar brincando não é possível! Mas não dessa vez, ela não vai me enrolar.

- Acho que você está afim de uma trans* e mais nada...

- Claro que não! Seja razoável...

Foi a minha vez de interromper, cheguei no meu limite.

- Razoável? Acorda Sophia é isso que temos ou melhor que não temos! Apenas trans*mos naquele depósito algumas vezes na semana e mais nada, você não me atende, não responde minhas mensagens, durante o dia mal olha na minha cara... Quer saber? Cansei disso, eu não mereço!

Levantei às pressas e fui detida por Sophia que segurou meu braço e me puxou para perto dela, senti seus olhos percorrendo meu corpo, nossas respirações estavam alteradas, tentei me soltar, mas Sophia era mais forte e me puxou para um beijo, resisti o quanto pude, mas essa mulher tem um poder sobre mim.

- Te amo Sophia! Disse após o beijo, ela me olhou e sorriu.

- Você é especial demais, me dê um tempo, preciso me organizar.

Suspirei, era isso ou nada. Lembrei das palavras das minhas amigas, dos conselhos da Lara...A razão dizia que deveria ser firme, mas a emoção?...Desgraça de emoção...Acabei cedendo, foi errado? Foi. Vou quebrar a cara? Óbvio que vou, mas resolvi arriscar.

Passamos uma tarde maravilhosa, Sophia estava mais carinhosa que nunca, mais uma vez pediu paciência e disse que após a resolução do caso, iria resolver tudo e isso me deu uma ponta de esperança.

Após esse dia, nosso relacionamento cresceu, passei a dormir com frequência na casa de Sophia e na delegacia sempre que podíamos saíamos para almoçar, Lara nos acompanhava às vezes, com isso Sophia passou a tratá-la melhor, não que viraram melhores amigas, volta e meia se alfinetavam, mas ao menos se respeitavam.

 Nesse meio tempo precisei ir à São Paulo duas vezes, na primeira Cris ficou doente e passei uns dias com ela no hospital, logo que teve alta, foi para Londrina passar ficar com a mãe para se recuperar. Na segunda vez era aniversário da Silvinha e consegui dois dias de folga, nessa viagem Sophia me acompanhou e foi tão bom, não queria mais voltar, minha vontade era trancá-la no meu apartamento para sempre.

A volta dessa viagem trouxe algumas consequências, a primeira foi a volta de Sérgio que desconfiado do comportamento da esposa, veio passar uma semana em Curitiba e durante esse período ele ia levar e buscar Sophia, isso quando não aparecia do nada para levá-la para almoçar ou jantar ou até mesmo fazer alguma surpresa idiota.

Quanto à mim, perdi minha Sophia durante esse período, tinha sensação de estar sendo vigiada o tempo todo, no laboratório ouvia algumas piadinhas à respeito do coronel, diziam que ele tinha vindo buscar Sophia, que estava sentindo dores de cabeça por conto dos chifres...Era desconfortável demais, mas me concentrava no trabalho e Lara me ajudou muito, nesse período ela foi fundamental para meu equilíbrio emocional.

Finalmente o chato voltou para Belém e Sophia no mesmo dia veio me buscar e comemoramos em alto estilo num hotel maravilhoso.

- Duda me desculpe por essa semana...

Estava deitada sob seu peito, coloquei meus dedos sobre seus lábios.

- Não peça desculpas.

- Foi uma situação que te chateou e me deixou sem ação, mas esse tempo com ele me fez tomar uma decisão.

Fiquei olhando com medo de perguntar qual era a decisão, será que ela ia me deixar? Aguardei que ela continuasse.

- Duda você aceita namorar comigo?

Pisquei duas vezes, ouvi bem?

- Co...como?

Sophia deu risada, virou para a mesinha e pegou uma caixinha do bolso do blazer, quando ela abriu, soltei um grito.

- Aceita?

Era um anel de compromisso lindo, fiquei olhando feito boba.

- E aí? Vai me deixar na expectativa?  Perguntou brincando.

- Aceito meu amor, claro que aceito.

Abracei Sophia forte, estava vivendo um sonho. Ela colocou o anel no meu dedo e beijou delicadamente.

- Te amo Sophia!

- Te amo Maria Eduarda.

Ouvir Sophia falando essa frase, me fez entrar em êxtase, ela me amava e isso era o que importava.

Quando cheguei em casa contei a novidade para Lara e para Lorenzo, ambos ficaram surpresos mas me parabenizaram.

A semana começou com algumas novidades, Lara conseguiu descobrir através do DNA a identidade do criminoso, Joaquim Fernando da Silva, quarenta e dois anos, várias passagens por roubos, tráficos, atentado violento ao pudor e já tinha cumprido pena por estupro vulnerável. Sophia e a equipe foram até a casa, mas a mesma se encontrava vazia, não tinha nada, a única pista foi um pedaço de tecido, que descobri ser de uma das meninas mortas.

A outra surpresa foi a visita da mãe de Sophia; dona Marli apareceu na delegacia na quinta-feira, estava conversado sobre o caso e mostrando algumas análises quando ela chegou.

- Mãe o que faz aqui?  Perguntou Sophia surpresa.

- Vim te visitar, você não liga mais, não aparece.

Dona Marli me olhou de cima abaixo, Sophia nos apresentou, mas a mulher não quis contato, pediu que eu saísse, pois precisava conversar com a filha.  Mulherzinha nojenta, saí pisando duro e fui até a sala de Lara, contei o que tinha acontecido e ela caiu na risada.

- Conheceu a sogra?

- Não tem graça Lara, a mulher é insuportável, me olhou de um jeito esquisito, sei lá.

- Será que ela sabe de vocês?

- Acho que não, Sophia é muito na dela.

Naquele dia não vi mais Sophia, a noite ela me ligou se desculpando pela mãe, fiquei com vontade de perguntar se ela sabia de nós, mas acabei desistindo.

Uma semana depois a mulher apareceu de novo, dessa vez me convidou para almoçar junto com Sophia, estranhei e pensei em recusar, mas achei melhor enfrentar a fera.

Escolhemos um restaurante não muito longe da delegacia, dona Marli disparou a fazer perguntas sobre minha vida, o que fazia em São Paulo, qual a minha idade, quando voltaria, se era casada...

Sophia me olhava desconfortável, mas respondi tudo o que foi perguntado.

- Você é muito jovem ainda, tem a vida pela frente. Se eu tivesse a sua idade, depois desse caso resolvido viajaria o mundo.

- É um ideia tentadora, mas uma viagem assim requer tempo e planejamento. Quando voltar preciso organizar minha vida e tomar algumas decisões importantes.

- Posso saber que decisões são essas?

A mulher era curiosa demais, ia ficar sem saber.

- Mãe são coisas dela, não tem necessidade...

Dona Marli interrompeu de forma seca:

- Tem sim, é bom deixar bem claro as coisas Sophia. Escute Maria Eduarda, não tenho nada a ver com a sua vida, mas com a vida da minha filha sim.

Engoli em seco, a mulher então sabia de mim e Sophia, me encolhi na cadeira e esperei que ela falasse, enquanto Sophia tentava apaziguar a situação.

- Mãe já tenho idade suficiente para saber o que é melhor pra mim!

- Não sabe, você nunca teve juízo, fomos contra seu casamento com Sergio, mas vejo que foi a melhor coisa que aconteceu, ele te deu um norte, te deixou mais centrada.

- A questão não é essa...

- A questão é que você é uma mulher madura, que está se aventurando com uma...uma mulher!

A frase foi dita com desprezo, ódio mesmo, ela era terrível.

- Dona Marli acho...

- Por enquanto você vai me ouvir. Estremeci na hora.

- Mãe!

- É o seguinte Maria Eduarda, a Sophia é uma mulher linda, inteligente, fascinante... Ela está numa fase difícil na vida pessoal, Sergio está morando naquele fim de mundo e pouco dá atenção à minha filha, então é natural que ela fique vulnerável e suscetível a se encantar por outra pessoa... Mas quando isso passar, ela vai retornar à rotina, Sergio vai voltar e juntos vão sair de férias e quanto à você, vai voltar à sua vida em São Paulo e aproveitar a mocidade.

Fiquei sem palavras, fui atacada de uma forma cruel e o que mais chateou diante de tudo aquilo, Sophia não disse nada, só baixou a cabeça.

- Você contou à ela sobre a viagem Sophia?

- Mãe não!

- Que viagem é essa?

- Sophia e Sergio vão fazer um cruzeiro pela América do Sul em dezembro.

Senti meu corpo amortecido, não, não e não! Era mentira, aquela bruxa estava inventando aquilo. Olhei para Sophia que novamente baixou a cabeça.

- Ora menina, você acha mesmo que Sophia vai levar adiante isso que vocês tem? É só uma aventura, nada mais que isso.

Não quis ouvir mais nada, saí correndo e entrei no primeiro táxi que passou, fui pra casa e lá fiquei o resto do dia, Sophia me ligou algumas vezes, mas recusei atender. A noite contei tudo a Lara que não disse nada, apenas me abraçou enquanto chorava.

No dia seguinte, aleguei um mal-estar e não fui trabalhar, passei o dia deitada no escuro, não quis comer, sequer tive ânimo para um banho.

Sábado resolvi que não podia ficar daquele jeito, fui trabalhar e passei o dia concentrada o trabalho, no final do expediente, ouvi a porta abrindo, mas não dei atenção.

- Vai ficar me ignorando até quando?

Não respondi, senti uma lágrima escorrendo e tratei de limpar, Sophia veio até mim e levantou meu rosto.

- Me desculpe Duda, desculpe pela minha mãe ...

- Sua mãe é detestável, mas ela é honesta, já você...

- Ei calma, me deixe explicar.

Estava furiosa com ela e não queria ouvi-la, levantei, tirei o jaleco e fui em busca da minha bolsa, Sophia veio atrás de mim e me puxou de frente para ela.

- Só me ouça e depois você pode sair.

Ela sempre consegue o que quer, sentei na bancada mesmo e cruzei os braços aguardando as explicações, como se houvesse alguma.

- Esquece tudo o que a minha mãe disse, você não é uma aventura, estou muito envolvida e amo você...

- Como ela sabe da gente?

- Sergio deve ter comentado alguma coisa e aqui na delegacia por mais que sejamos discretas, você sabe que as pessoas falam...Quando ela veio na semana passada, a ideia dela era que eu estava tendo um caso, mas achava que era com André, mas quando ela te viu e o jeito que eu olhei pra você, ela percebeu na hora, foi então que ela me pressionou e acabei falando.

- O Sergio sabe?

- Ela não contou, minha mãe é muito esperta, ela disse a ele que eu estou trabalhando demais e com ele lá fica mais difícil ainda, acabou convencendo-o a voltar e fazermos essa viagem, quando vi eles já tinham acertado tudo, fiquei sabendo no mesmo dia que você, ia te contar mas, aí veio o almoço.

- E você vai viajar?

- Claro que não meu amor! Jamais.

Senti um alívio tão grande, que comecei a chorar na hora.

- Ei não chora, confia em mim, vou resolver isso.

- Como? Sua mãe me odeia Sophia!

- Ela só precisa se acostumar com a ideia de que você é quem me faz feliz.

Me senti nas nuvens, da delegacia fomos até sua casa e a noite foi pequena para tanta comemoração.

Fim do capítulo