Capitulo 29
A Última Rosa -- Capítulo 29
-- Foi muito assustador, ele quase atropelou o Nicolas -- disse Jessica, para o grupo que à escutavam com olhos arregalados.
Vitória cobriu o rosto com as mãos em um gesto de desespero.
-- Meu Deus! O Nicolas podia ter morrido!
-- Você fez muito bem de não ir até o carro -- disse Michelle, com a voz entrecortada -- Estou tremendo só de pensar no que poderia ter acontecido se o homem estivesse armado.
-- Você ficou com medo, chefe? -- perguntou Pepe, servindo-se de refrigerante.
Jessica levantou os olhos e viu que Michelle olhava para ela curiosa pela resposta.
-- Não tenho medo de nada -- ela respondeu com firmeza -- Porém, sou cuidadosa.
-- Gostaria de mais um pedaço de torta, Jessica? -- perguntou Michelle.
-- Vou experimentar a de maçã -- pediu, apresentando o prato vazio.
Sua voz despertava desejos estranhos que Michelle lutava para manter despercebido. Ao estender a mão para receber o prato, fitou aqueles olhos verdes e surpreendeu-se com a intensidade de seu brilho. Os lábios vermelhos de Jessica encurvaram-se num sorriso.
-- Um pedaço pequeno, por favor -- ela disse, com suavidade.
O calor que brotou no coração de Michelle chegou ao rosto e o tingiu de vermelho.
-- Claro, eu vou pegar.
-- Eu também não tenho medo de nada -- Pepe comentou, tranquilamente -- Inclusive, penso que não devemos esperar pela polícia, nós mesmos podemos resolver o caso -- ele sorriu quando todos olharam para ele -- O que foi? Estão me achando um louco corajoso, belo. E forte?
Jessica olhou séria para ele. Seus olhos brilharam perversamente.
-- Sabe que você tem razão. Porque esperar se nós mesmos podemos fazer? A polícia daqui é bem fraquinha, tem meia dúzia de homens para toda a região, nem vai se importar em investigar o caso.
-- Não foi uma boa ideia -- explicou Pepe, percebendo que falara mais do que devia.
-- É uma boa ideia sim! -- Insistiu Jessica.
-- Não é não! -- replicou Michelle -- Está louca? E se for um bandido perigoso? Um assassino fugitivo da polícia?
-- Eu concordo plenamente com a Michelle -- disse Valquíria -- Não sabemos com quem estamos lidando.
Jessica fez uma careta discordando, e tomou um gole de refrigerante.
-- Seus medrosos -- disse sorrindo -- Vamos fazer apenas o serviço de investigação, o resto deixamos para a polícia -- Jessica se levantou da mesa já pegando seu celular no bolso e digitando um número -- O delegado é meu amigo, vou ligar para ele -- ela se afastou em direção à sala.
-- O que ela pretende fazer? -- perguntou Valquíria, confusa.
-- Não sei, mas estou preocupada -- Michelle a olhou apreensiva -- Será que devo contar à ela sobre o homem que vi hoje no centro comercial e que achei ser o Maicon?
Valquíria balançou a cabeça negativamente.
-- Não! Claro que não. Você sabe muito bem que é praticamente impossível o Maicon ter te encontrado aqui em Hills. Contando isso para ela, você só vai causar pânico desnecessário.
-- Quem é Maicon? -- perguntou Pepe, com certo tom de impaciência.
Valquíria e Michelle se olharam. Michelle então, respondeu:
-- É uma longa história, Pepe. Eu vou te contar, mas não agora. Compreenda que esse não é o momento.
-- Vou cobrar -- disse ele, irritado -- Para nós detetives, toda informação é preciosa.
Depois de um tempo Jessica retornou à cozinha sorrindo com satisfação.
-- Já temos por onde começar.
-- Por onde? -- Michelle aproximou-se dela.
-- Pedi para o delegado consultar a placa do veículo.
-- E aí? -- Pepe perguntou, ansioso.
-- O veículo está registrado em nome de uma locadora.
-- E agora, Jessica? -- preocupada, Michelle mordeu os lábios.
-- Eu conheço essa locadora, amanhã vou até lá conversar com o proprietário. Com certeza o cara deve ter preenchido o cadastro de aluguel ou, quem sabe, um dos funcionários nos dê alguma informação.
-- Ufa, ainda bem que estou fora disso! -- comemorou Pepe, levantando as mãos com alegria.
-- Fora uma pinoia! -- resmungou Jessica, antes de sentar-se novamente -- Você e o Nicolas vão se apresentar como meus seguranças.
-- Aiii... -- Pepe deu aquele gritinho alto e agudo, e saiu correndo igual uma libélula ao encontro de Michelle -- Eu não quero ir, diga à ela Mi, por favor!
Michelle franziu a testa, como se o que Jessica falou a tivesse surpreendido tanto quanto a ele.
-- O Pepe não tem perfil para segurança -- ela comentou, se livrando dos braços do rapaz -- Você vai passar vergonha.
Jessica olhou-o de cima a baixo.
-- Você tem razão, ele está mais para Priscilla, A Rainha do Deserto.
-- Ei, não precisa falar assim -- ele reclamou.
-- Tá, tá. Então, sem querer ofender, Pepe, mas você não me parece um guarda-costas -- disse Valquíria.
Pepe não gostou do comentário.
-- Sou um ótimo guarda-costas, se é que me entende. Além do mais, Priscilla - A Rainha do Deserto marcou uma geração e transformou a música I Will Survive em um hino da causa LGBTQIA +. Lavem a boca antes de falar. Quem não lembra, meu Deus da música: I Will Survive com a Gloria Gaynor.
Oh no, not I! I will survive!
Oh, as long as I know how to love
I know I'll stay alive!
I've got all my life to live
I've got all my love to give
And I'll survive! I will survive!
Hey, hey!
A performance de Pepe foi tão boa que mereceu aplausos dos amigos.
-- Obrigado, obrigado -- ele agradeceu, jogando beijinhos para a plateia.
-- Podem nos dar um minuto? -- Michelle puxou Jéssica para um canto -- Tem certeza do que está fazendo? Gostaria de saber por que você acha que precisa de guarda-costas.
Jessica sorriu e deu de ombros.
-- Ah, sei lá, parece divertido.
Michelle balançou a cabeça inconformada com o que ouvia.
-- Já pensou no que a Marcela vai dizer sobre isso?
Jessica recostou a cabeça na parede e olhou para o teto. Seu rosto permaneceu impassível, mas ao se voltar para ela, demonstrava certa irritação.
-- Vamos deixar a Marcela fora disso. Ok? -- ela se virou para os demais, cujo rostos estavam vermelhos e falou séria -- Peço o mesmo para vocês.
-- Que horas sairemos amanhã? -- Pepe perguntou em um tom tenso, aflito.
-- Oito horas! -- com um último olhar em direção à Michelle, Jessica se virou e foi para o quarto.
No dia seguinte, Jessica levantou pouco depois das sete, tomou um banho, vestiu uma calça jeans muito justa, uma camiseta preta e saiu de casa. Havia combinado se encontrar com os rapazes às oito no jardim e foi para lá que ela se encaminhou.
-- Bom dia Pepe, pensei que desistiria -- ela comentou com sarcasmo.
-- Desistir é para os fracos. O ideal mesmo, é nem tentar.
-- Seu covarde!
-- Não é covardia não, é preguiça mesmo. Tem tanta preguiça no meu sangue, que o mosquito que me picou ficou lá no quarto, dormindo.
Jessica suspirou de maneira impaciente e olhou ao redor.
-- Onde está o Nicolas? Mas por que ele está atrasado?
-- Ele foi buscar o carro na garagem dos fundos, já deve estar voltando.
-- Hum.
Jessica sentou-se, em um banco do jardim, aparentando uma calma que não sentia. Algo em seu íntimo lhe dizia que aquele estranho iria lhe causar sérios problemas.
Michelle tomou um grande gole do café preto e forte, recostou-se na cadeira e fez uma careta.
-- Odeio ter que ir sozinha para a empresa. A Jessica tinha que dar uma de detetive justo hoje?
Valquíria se serviu de uma fatia de bolo.
-- Porque, justo hoje?
-- Porque tudo na segunda-feira é horrível, a começar pelo trânsito que é um inferno. Só gosta de segunda-feira, quem tem amante no trabalho.
-- O que não é o seu caso, né -- Valquíria sorriu -- Fala a verdade Mi, você está assim porque não vai passar o dia ao lado da dona Jessica.
Michelle colocou o cotovelo na mesa e apoiou o queixo na mão.
-- Sabe uma coisa, Val?
-- O quê?
-- Você tem toda a razão.
As duas riram e depois ficaram em silêncio.
-- Aquela empresa é um saco sem a Jessica. Não aguento ficar nem um dia longe dela. O tempo parece parar sem olhar em seus olhos, sem ouvi-la falar -- ela largou a xícara no pires com um sorriso nos lábios.
-- O que é estar apaixonada. . . -- disse Valquíria, sorrindo -- Vitória, estará aqui daqui a pouco. Nós vamos até a feira comprar frutas e verduras frescas. Rola uma carona?
-- Sem problema, mas a dona Marcela vai ficar sozinha?
-- Não, a doutora Augusta já deve estar chegando. Hoje é o dia que ela passa a manhã inteira com a dona Marcela.
-- Está certo -- respondeu Michelle, distraída -- Espero que ela não se atrase.
Às oito e trinta a doutora Augusta chegou, Valquíria deixou um lanche pronto para elas na sala de jantar e foi ao encontro das amigas no lado de fora da mansão.
-- Agora podemos ir -- disse Valquíria, entrando no carro -- Desculpa a demora Mi, não queria que você chegasse atrasada por minha causa.
Michelle franziu levemente as sobrancelhas.
-- Oh, deixa disso, Val. Hoje não tenho hora para chegar.
-- Se você está dizendo, fico mais tranquila.
Jessica entrou no escritório da locadora como se fosse uma agente da Shield. Dando a volta na mesa, foi ao encontro do proprietário e estendeu-lhe a mão.
-- Me chamo Jéssica e gostaria de lhe fazer algumas perguntas.
-- Me chamo Henrique -- o sotaque sulista era refinado -- Você gostaria de sentar-se para que possamos conversar mais à vontade?
Jessica franziu a testa.
-- Não. Não quero me sentar. Só quero que você me diga tudo o que sabe sobre o cliente que alugou esse carro -- ela jogou um papel dobrado sobre a mesa.
Henrique ergueu uma sobrancelha e olhou fixamente para seus olhos verdes. Desdobrou o papel e o deslizou em silêncio sobre a mesa.
-- Não posso fornecer informações de nossos clientes a terceiros, se isso acontecer a empresa estará cometendo um crime.
Jessica cravou o olhar em Henrique. Então ele estava querendo complicar as coisas? Bem, ele logo descobrirá que não estou para brincadeira. Pensou, fazendo uma cara de poucos amigos.
-- Nicolas, Pepe. Venham até aqui -- ela chamou, em voz alta.
Os rapazes entraram e pararam logo atrás delas, os braços cruzados sobre o peito e a cara de mau.
-- Chamou chefe? -- perguntou Pepe, com a voz grossa.
-- Sim, chamei.
-- Gostei do cachecol rosa -- comentou Henrique, seus lábios se curvaram num sorriso debochado.
-- Gostou? -- Pepe perguntou, entre pulinhos afeminados -- É lindo né, rosa é a minha cor preferida! Comprei esse cachecol e um cinto em uma loja de departamento super procurada em Paris, o Au Pintemps. É mara-ra-vi-lho-so! Com vários estilos de peças de roupas e acessórios...
Michelle virou-se para Valquíria, quando tiveram que parar num sinal vermelho.
-- Esqueci meu celular!
-- Ah, Michelle, que droga! E agora?
A secretária bateu com a mão no volante, num gesto de frustração total.
-- Vou deixar vocês na feira e voltar para pegar o celular.
Cerca de cinco quilómetros à frente, virou à esquerda, na ponte, seguindo as instruções de Vitória. Depois tomou o caminho da direita e parou o carro diante de um enorme galpão.
-- É aqui?
-- Sim, pode nos deixar aqui mesmo.
Michelle deixou as amigas, irritada consigo mesma, pisou fundo no acelerador e retornou à mansão.
-- Uma dose de bom senso, conserva os dentes -- disse Jessica, para Pepe -- Por sua causa tive que pagar dez mil para aquele pokémon bola.
-- Mas, valeu a pena chefe. As informações que ele deu foram ótimas.
-- É mesmo, Nicolas. Vai ser fácil pegar o meliante. Amanhã, quando ele voltar para devolver o carro, a gente pega ele.
-- Eu sempre quis representar esse grupo maravilhoso, inesquecível, competente e sexy. Quero que saibam que esse trabalho será muito fácil para mim.
-- Do que você está falando, Pepe? -- Jessica olhou para ele sem entender.
-- Das Panteras, chefe. As belas e perigosas. Eu sou a Kelly Garrett, durona e sensual. O Nicolas é a Sabrina Duncan, inteligente e de modos masculinizados. A chefe é Jill Munroe, a bela loira ingênua, tansa, burra que luta mexendo os cabelos de forma exagerada.
-- Obrigada pela maravilhosa descrição, me sinto a própria reencarnação da Jill Munroe -- Jessica olhou com cara feia para ele e dobrou à direita.
Nicolas balançou a cabeça desolado, como se fosse o máximo que ele se permitia aceitar.
-- Só passo vergonha com o Pepe -- murmurou ele, olhando a paisagem pela janela do carro. Jessica não conseguiu segurar o riso.
Michelle deixou o carro estacionado no pátio e entrou apressada na mansão. Subiu a escada correndo e, já no andar de cima, viu que a porta que dava para a sacada estava entreaberta e a luz acesa. A casa estava silenciosa, e ela podia ouvir vozes vindo lá de dentro. Pegou o celular que estava sobre a cômoda no quarto e antes de descer, foi até a porta entreaberta e olhou para dentro.
Michelle paralisou na hora, todos os músculos de seu corpo ficaram imóveis, em choque, sentiu-se gelada e suas mãos ficaram trêmulas.
Como se um sexto sentido a prevenisse de que alguém a observava, Marcela se virou rapidamente e encontrou o olhar estarrecido da secretária.
-- Oh, Michelle! -- ela quase berrou -- Eu posso explicar.
Recomendo muito:
https://www.youtube.com/watch?v=N9ZgRSko9oE&ab_channel=RenanRissardo
Gloria Gaynor - I Will Survive (Tradução) [Clipe Oficial]
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
HelOliveira
Em: 17/03/2021
Se a Marcela tá em. Michele não podia ter deixado ser vista...
Agora só esperar..
Bjos
Resposta do autor:
Olá Hel
Talvez Michelle não imaginasse que fosse se deparar com tal cena. Realmente, as coisas podem se complicar para ela.
Beijos.
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Marta Andrade dos Santos
Em: 16/03/2021
Oxê vai deixar roendo as unhas de curiosidade ...
Resposta do autor:
Olá Marta.
Já volto.
Beijos.
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