Coincidências por Rafa e
Capitulo 40
Haidê estava entretida no trânsito, apesar de saírem bem cedo, atravessar São Paulo não era nada fácil. Lívia havia cochilado metade da viagem, acordou quando sentiu vontade de fazer xixi e sede. Prestada atenção na música que tocava no som do carro, enquanto olhava o movimento do início da manhã na rodovia que cortava a maior cidade do País.
-- Está com fome? – Haidê lhe perguntou chamando sua atenção.
-- Não querida. – a olhou e pousou a mão em sua coxa. – Acho que comi o suficiente no café.
-- Isso faz algumas horas, meu anjo. – a olhou rápido. – Se precisar de algo, só me falar. – Aquela atenção da morena deixava a loirinha derretida.
-- Pode deixar, meu amor. – apertou sua coxa e deixou a mão ali. – Querida...
-- Sim?
-- Pensei sobre o que conversamos a respeito da iniciação.
-- Não seria uma iniciação, apenas um ritual de bençãos.
-- Sim... – virou-se para olhá-la melhor. – Teremos problemas com Bá.
-- Problemas? Não entendi.
-- Haidê, Bá é católica fervorosa, ela vai se opor a isso. – a advogada bufou.
-- Lívia... – a loira odiava quando ela a chamava pelo nome, naquele tom. Sabia que a conversa teria um tom mais sério do que o necessário e, isso significava, pisar em ovos. – Eu não sou o tipo que precisa de autorização para nada. Respeito muito dona Dirce, acho que ela é digna de todas as nossas considerações, até porque é sua verdadeira mãe... – a olhou rápido. – Quem a criou.
-- Mas?
-- Mas eu não preciso dela ou de qualquer outra pessoa para me falar como devo ou não criar nossos filhos. – Lívia se sentiu incomodada com aquela resposta.
-- Quer dizer que se eu for contra você ... Quer dizer, nós vamos ter de brigar pela religião dos nossos filhos? – Haidê fez alguns segundos de silêncio e continuou.
-- Não vejo motivos de brigarmos por qualquer tipo de coisa. Somos mulheres adultas, casamos porque nos amamos e agora seremos mães de dois bebês. Conversamos sobre isso, não importa o credo e sim a forma como se chega a um caráter do bem e, como isso é passado ao seu próximo. E não vamos incutir qualquer tipo de religião aos nossos filhos. Nós vamos fazer o ritual de bençãos, porque na minha cultura isso é necessário, essa é nossa verdade e quem eu sou. Depois, se for uma menina, ensinarei a ela o necessário para saber manter o seu equilíbrio. Ela decidirá se vai ou não seguir depois de adulta. – a surfista prestou atenção em cada palavra do que a esposa falou.
-- E se Bá quiser batizá-los? Eu também sou católica.
-- Já pensou qual será o sacerdote a batizá-los em sua religião?
-- Não entendi. – a olhou. – Do que está falando?
-- Querida, nos casamos com um juiz de paz. Até cinco anos atrás, nem esse direito nós teríamos. Quem vai querer batizar na sua religião filhos de duas mulheres? Casadas? – Lívia abriu a boca para falar e não conseguiu pensar em nada. Sua esposa estaria certa? – Anjo, ainda existe muito preconceito sobre a nossa situação. – a loira a olhou com uma expressão de raiva. – Sim. Situação essa que muitos não aceitam. Eu não ligo para o que pensam ou não a meu respeito... – deu de ombros. – Ninguém paga minhas contas ou meu plano de saúde. Não devo favores e satisfação a ninguém, então posso lhe beijar e andar abraçada ou de mãos dadas com a minha esposa, além de apresentá-la como a senhora Aqueu.
-- Acha mesmo que teríamos problemas para batizá-los?
-- Sim.
-- E na sua religião, haveria como batizá-los para que eles tivessem as bençãos de Deus?
-- Se levarmos em conta que Deus é onipresente, onisciente e onipotente: Ele está presente em todos os lugares, como agora, aqui, entre nós. Ele tem a sabedoria que vai além da nossa, ou seja, sabe de tudo o que acontece, além de ter o poder sobre tudo e todos. Ele é criador de todas as coisas, e nos fez sua imagem e semelhança. Sim, haveria como batizá-los na minha religião.
-- Eles permitem casais homossexuais? – Haidê sorriu, a loira notou a curva dos seus lábios. – Desculpa amor, mas não entendo muito sobre suas crenças... Culturas.
-- Anjo, minha religião vem de antes de Cristo, bem antes... Olha, na antiguidade era normal relações sexuais entre pessoas do mesmo sex*. No próprio Código de Hamurabi, existiam leis que protegiam relações homossexuais, prostitutas...
-- Ei, eu tô gostando disso, seria mais fácil viver de trás para frente. Antigamente não havia preconceito, agora, com a modernização, isso veio junto. – bufou e Haidê voltou a sorrir.
-- Sócrates pregava que o amor entre pessoas do mesmo sex* era a melhor forma de inspiração. A relação heterossexual servia apenas para procriar.
-- Ele foi preconceituoso, está discriminando os heterossexuais. – bufou novamente. – Se não quero ser discriminada, não vou fazer isso. – Haidê apertou sua mão e depois a beijou.
-- Eu a amo por isso.
-- Só por isso?
-- Pela obra do conjunto. – sorriu com a gargalhada que Lívia deu.
-- Mas fala um pouco mais da sua religião.
-- Não havia nada anormal em relações homossexuais, irlandeses celtas viviam bem com isso. E como o próprio Sócrates disse, os homens sentiam-se bem e mais encorajados a lutarem lado a lado com seu amor. Havia compromisso, lealdade, os guerreiros lutavam com paixão. Existia o momento em que procuravam as mulheres e mantinham relações sexuais com intuito de procriarem.
-- Mas todos viviam na homossexualidade? Todos os guerreiros?
-- Existia os treinamentos como se todos os garotos fossem obrigados a frequentar, como uma academia. Ali eles podiam se relacionar com outros homens... – usou um tom meio irônico e a olhou com uma expressão zombeteira para explicar. – Para pegarem os conhecimentos dos mais velhos, tipo osmose. – brincou e Lívia riu. – Quando saiam desse período de aprendizado, poderiam se envolver com outras mulheres ou com homens.
-- Só depois?
-- Lívia, o que quero falar é sobre o livre arbítrio. Ninguém julgava ou condenava qualquer pessoa por suas relações sexuais.
-- E se não quisessem procriar?
-- Sacerdotes eram encarregados disso. A verdade sobre essa censura, surgiu com o Cristianismo. Os judeus já censuravam, mas a perseguição e punição, veio mesmo com o Cristianismo. Alguns povos celtas começaram a condenar com punições exemplares cheias crueldade as relações entre pessoas do mesmo sex*, após a influência Cristã. – Lívia a interrompeu.
-- Eles tornaram palavras de ensinamento sobre amor, em ódio.
-- Por aí.
-- Haidê...
-- Hum...
-- Nossos filhos serão iniciados na sua religião. – a morena sorriu.
-- Anjo, Deus está em todas as coisas, lugares e mentes. Se pregarmos e fizermos o certo, Ele está com nós, independente da religião. O que seria de um Cristão fervoroso, com o perdão do termo chulo, se ele fosse um verdadeiro filho da puta, canalha com as pessoas? Mas vale ter sua religião e ser um ser humano virtuoso, temente a sua crença, fé e ao amor ao próximo. – com essas palavras Lívia ficou em silêncio e pensativa por boa parte da viagem. Pararam para almoçar na estrada, a morena não deixou que comesse qualquer tipo de salada ou verduras cruas.
-- O que deu em você? Não quer que coma salada ou cenouras raladas?
-- Anjo, não deixarei que coma alimentos crus de um restaurante beira de estrada, que não confio na procedência.
-- Então posso me servir de um bom macarrão com carne? – Haidê sorriu e se aproximou do seu ouvido.
-- Pode comer de tudo, desde que não fique muito cheia, porque depois quero que coma algo maior, acima de um e oitenta. – a loira riu após engolir seco.
Aproximava-se das quatro horas da tarde, o sol começava a se colocar no horizonte, na linha do lago uma paisagem magnífica, quando elas acessaram a longa estrada de entrada da fazenda dos Alcântara Peixoto.
-- Eu acho esse lugar tão lindo. – Lívia confessou admirando o local.
-- Também acho. – a olhou rápido e parou o carro.
-- O que foi? – perguntou preocupada.
-- Vamos descer, quero caminhar um pouco. – Lívia sorriu.
-- O que você está aprontando?
-- Nada, só quero caminhar um pouco com você enquanto estamos sozinhas e no anonimato. – Lívia desceu e foi em direção a morena que a puxou para um abraço, depois caminharam em direção ao lago. – Linda mesmo. – beijou o topo da cabeça loira.
-- Uma vista e tanto. – Haidê a virou de frente uma para outra.
-- Não me refiro a ela... – a fitou nos olhos. – Estou falando de você. – olhos azuis fixos nos verdes, Haidê se abaixou e pegou um pouco de terra entre as mãos. – Eu sou terra, você é água... Eu sou uma guerreira do fogo e você um anjo do ar. – Lívia estava maravilhada com as palavras ditas pela morena. Caminharam juntas e pararam quase as margens do lago. – Assim como meu povo cantava, o amor verdadeiro é aquele que nos inspira. Você me inspirou e agora vai me dá o melhor de todos os presentes... – colocou a mão na barriga da surfista. – O fruto do nosso amor, de quem somos e nossa herança. – pegou as mãos da loira. – Lívia, agora somos uma única pessoa em nossos filhos. Não importa o que me aconteça, eu sempre voltarei para casa, para você e nossa vida, através dos seus olhos e do seu amor.
-- Estava achando isso maravilhoso, até falar esse negócio de lhe acontecer alguma coisa. – os olhos verdes estavam úmidos. Haidê sorriu.
-- Se me acontecer, está melhor?
-- Não. – cruzou os braços. – Pode começar tudo de novo e pular essa parte. Haidê deu uma gargalhada e a puxou para beijá-la.
********************************
-- Finalmente! – Melissa as recebeu. – Cruzei pelo seu carro na porteira e vim em um só galope para receber as duas, quase uma hora depois... – falou com malícia após cruzar os braços.
-- Eu também estou feliz em revê-la, Melissa Cristina.
-- Vai se fo...
-- Mel... – Isadora a chamou.
-- Oi meu potinho de mel. – usou da mesma ironia sem deixar de olhar nos olhos de Haidê e Isadora lhe bateu no braço.
-- Haidê... – abraçou a morena. – Lívia... – abraçou e beijou a amiga. – Que bom chegaram, agora tenho uma amiga de verdade por perto e, não aquelas venenosas peçonhentas da família.
-- Quem? – a surfista perguntou curiosa.
-- Anjo, isso é uma questão familiar.
-- Familiar? Desde que nenhuma cobra chegue perto da gente, isso continuará familiar, ou já solto o meu lado Butantã aqui. – Haidê olhou as amigas um pouco envergonhada. Isadora riu e puxou a loira.
-- Lívia é das minhas!
-- Novidade. – Melissa revelou. – Vem Haidê, eu lhe ajudo até o quarto enquanto as duas falam mal dos outros.
-- Quem são as cobras?
-- Ah, tem umas primas e primos de Melissa aí, uma em especial é uma mistura de piranha com cobra, dá em cima até dos quadros da parede.
-- Essa piracobra que não se meta com minha deusa. – alertou e Isadora sorriu.
-- E essa gravidez gem*lar? Tem sentido muito enjoo? – as duas andavam mais afastadas conversando e colocando as fofocas em dias, enquanto Haidê e Melissa falavam de assuntos mais sérios.
-- Eu vou falar com vovô, mas tenho os homens certos para isso.
-- Dona Cristina, seu avô ao telefone. – uma das empregadas a chamou.
-- Haidê, pode subir, seu quarto será o mesmo de sempre, daqui a pouco lhe dou uma mão.
-- Nem se preocupa, pode falar tranquila com seu avô. – começou a subir as escadas e se encontrou com Alice.
-- Quem vejo aqui? A gostosíssima amiga da minha prima... – aproximou-se. – Se soubesse que você curtia aventuras com mulheres, não teria apenas olhado. – levantou a mão para passar no rosto da morena quando ela a segurou.
-- Nem pensar.
-- Qual é Haidê, posso fazer melhor do que aquela pirralha.
-- Não fale assim da minha esposa. E nunca lhe dei intimidade para isso, aproximar-se de mim. – Lívia que vinha logo atrás com Isadora ouviu a conversa, ela se adiantou e olhou para Alice.
-- O que está acontecendo?
Fim do capítulo
Boa noite garotas!
Desculpem por discutir, novamente, sobre religião, mas precisava amarrar os fios soltos. Bem, eu passei por algo parecido quanto ao casamento e batizado. Se estiver errada, ou se isso foi apenas uma experiência negativa exclusiva minha, por favor, me corrijam. Aberta ao diálogo e discussão sobre o assunto.
Beijos e bom domingo!
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Baiana
Em: 13/03/2021
A Lívia já é ciumenta ao natural,agora ela grávida e com os hormônios em polvorosa...coitada da oferecida que se jogar para cima de Haidê.
Têm alguns religiosos que ao invés de acolher,de seguir os princípios básicos dos ensinamentos de Cristo, preferem julgar,condenar e excluir as pessoas.
Anny Grazielly
Em: 07/03/2021
Muito legal essa conversa delas... eh bom quando a religião não eh uma situação de desgaste na relação... a maduridade eh fundamental na relação... fora que fortalece...
Estou adorando cada capítulo... e, não gostei dessa Alice... kkkkk
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