As ondas batiam na areia branca, enquanto o vento balançava as folhas dos coqueiros que faziam um movimento cadenciado de um lado para o outro, o sol ajudava irradiando generosamente seus raios dourados deixando a manhã ainda mais bonita. Sentada na areia com uma canga colorida, Rafaella aguardava ansiosa, e não demorou muito e viu de longe a chegada de Vanessa, seus cabelos balançando ao vento, o sorriso aberto no rosto de traços delicados deixando à mostra as covinhas.

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- Oi Rafa, tem um lugarzinho para mim nessa canga? - Vanessa falou tentando disfarçar os olhos marejados quando sentou.

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      Rafaella a olhou intensamente ao mesmo tempo em que levantou uma das sobrancelhas bem desenhadas, deixando uma lágrima escorrer no canto dos olhos.

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- Eu sinto Van, aliás, eu sei...você veio se despedir, não é verdade?.

- Sim meu bem, esses nossos encontros...sei que não estão te fazendo bem, você não vai conseguir viver plenamente sua relação com a Virna se a gente continuar a se encontrar no plano astral.

- Mas, a culpa não é sua...eu gosto da Vi, apenas, não me sinto completa com ela...como...como me sinto com você.

- Não estou falando em culpa Rafa, estou falando que deve seguir sua vida, eu preciso apagar qualquer vestígios de lembranças e sensações que tenha em relação a mim.

- Mas, eu não quero...

- Vai ser melhor assim, quando acordar vai me ver apenas como a filha dos seus pais adotivos, nada mais, e um dia, em um outro tempo, vamos nos encontrar, e ai sim, vamos viver em plenitude o nosso amor, o que acha?.

- Eu não quero te deixar Van, esses nossos encontros...são eles que me fazem continuar.

- Mas meu amor, você não vê que não pode continuar assim, vivendo sua vida pela metade, como se ela não te fosse suficiente, eu quero que seja feliz...pense...o nosso corpo, a nossa vida...o que vivemos, tudo é passageiro, a nossa alma não, essa é imortal...ainda vamos ter o nosso momento, acredite em mim.

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      Vanessa puxou delicadamente o rosto de Rafaella e deu um beijo, primeiro suave, depois intenso, e aos poucos a linda paisagem foi desaparecendo, junto com todas as lembranças e sensações da ruiva.

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- Até um dia meu amor...

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      Virna acordou, espreguiçou o corpo e levantou da cama, indo em direção ao banheiro, não sem antes admirar Rafaella adormecida, depois cruzou os braços admirada e sorriu ao ver os cabelos vermelhos espalhados pelos travesseiros, mas, ciente que Rafa não ia acordar mesmo com seus olhares intensos seguiu com passos vagarosos, parando em frete ao espelho para logo mais com as mãos em garfo ajeitar os cachos que caiam sobre os ombros, pegando uma liga preta para prende-los, depois  molhou o rosto e derramou um pouco do sabonete líquido para o rosto em suas mãos e o lavou com todo cuidado, quando levantou viu os olhos da namorada brilhando através do espelho.

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- Que susto minha ruiva, bom dia meu amor, não ouvi teus passos...

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      Rafaella sorriu ao mesmo tempo em que abraçou Virna pela cintura dando uma leve mordidinha em seu pescoço para logo mais soprar de forma sedutora sentindo a pele da namorada arrepiar, aproximou-se para dizer baixinho em seu ouvido:

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- Acho que você vai ter que lavar esse rostinho de novo, estou tendo umas ideias deliciosas.

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      Virna sorriu alegremente ao ver a namorada tão animada e bem disposta logo cedo, virou o corpo apertando as mãos em volta de sua cintura e a colocou em cima da pia enquanto alisava os seios, ao mesmo tempo em que mordia os ombros e o pescoço de Rafa que soltava gemidos, tentando se livrar da parte de cima do pijama.

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- Eu não sei o que aconteceu com você Rafaella, mas, saiba que estou amando.

- Continua Vi, quero ser sua...

- Seu pedido é uma ordem minha princesa ruiva.

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      Quando Rafa sentiu que o orgasmo vinha forte, se agarrou aos braços de Virna e soltou um gemido ainda mais alto.

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- Obrigada Vi... - Falou desenhando com a ponta dos dedos os seios da namorada, enquanto se acariciavam já abraçadas na cama.

- Está agradecendo pelos orgasmos deliciosos que teve?. 

- Não sua boba - Falou levantando a sobrancelha sorrindo - Estou agradecendo por ser essa mulher maravilhosa, paciente, dedicada, saiba que a partir de hoje vou fazer de tudo para te fazer feliz, me perdoe as ausências e esquisitices, prometo que vou procurar recompensar todo esse tempo perdido.

- Hummm...e como vai fazer para me recompensar?, estou bastante interessada em saber como vai fazer isso.

- Vem aqui, quero me deliciar com você...

- Seu desejo é uma ordem meu amor...

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      O dia passou rapidamente, Virna e Rafaella estavam abraçadas na cama depois do lanche da tarde quando lembraram e falaram juntas e quase que de imediato.

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- Hoje é aniversário da Robertinha...

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      As duas entraram juntas no chuveiro evitando qualquer tipo de toque que fosse sensual, e logo se arrumaram, saindo de casa em direção ao shopping pois na correria da semana haviam esquecido de comprar os presentes, entraram na primeira loja infantil que encontraram, Virna escolheu um ursinho verde, vestido de leprechaun, trajava um terninho com as cores e símbolos da Irlanda, já Rafaella optou por uma casinha de bonecas com o tema das princesas, levando também uma boneca ruiva como a aniversariante.

      Quando chegaram ao elegante buffet perceberam que a festa tinha como tema Ursinhos Carinhosos, um desenho que se tornou clássico nos anos 80. O salão estava enfeitado com 150 mil bexigas em candy color, além dos ursinhos de pelúcia gigantes espalhados pelo salão, as toalhas das mesas tinha uma fragrância própria, desenvolvida exclusivamente para festa, com a assinatura da marca Trousseau, conhecida pelos perfumes para cama, mesa e banho. O cardápio foi bem variado, com comidinhas típicas de aniversários de crianças como cachorro-quente, sanduichinhos de pernil, tapioca, algodão doce e até mesmo lanches alternativos para veganos, fora a encantadora mesa de cupcakes e docinhos variados, para jantar haviam três opções, comida japonesa, frutos do mar e massas.

      A aniversariante girava com um vestido perolado de princesa enquanto brincava alegremente com as amigas e cantava músicas do Trem da Alegria, uma banda de crianças também dos anos 80, e só parou e sorriu quando avistou de longe a tia, e animada, segurou forte a mão de Helena e a puxou para apresenta-la a Virna, enquanto Heloísa, a outra pequena gêmea vinha atrás tentando alcançar as duas correndo enquanto falava.

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- Pela eu....pela eu mana. - A fonoaudióloga havia conseguido avanços incríveis quanto a sua fala.

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     Robertinha parou ladeada por Helena e Heloísa, colocando as mãozinhas na cintura para falar.

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- Oi Tia Virna, essas daqui são minhas melhores amigas, Helena e Heloísa, elas são gêmeas.

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     Virna abaixou abraçando a sobrinha enquanto olhava admirada para as pequenas gêmeas que tinham o rosto delicado, foi quando Sophia avisou Rafaella vindo ao seu encontro de mãos dadas com Renée.

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- Rafa, quantos anos, vejo que conheceu nossas filhas.

- Oi Sophia, são suas?, nossa, parabéns, elas são lindas demais, e pelo visto são amigas inseparáveis de Robertinha, sobrinha de Virna, minha namorada.

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      A ruivinha puxou o vestido de Virna, chamando a tia no canto para fazer uma confidência.

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- Tia, deixa te contar um segredo, quando crescer eu vou casar com o Renatinho, ele é aquele ali de suspensórios e gravatinha borboleta, de olhos puxadinhos, ele é japonês, é o menino mais inteligente e bonito da minha escola, ele é irmão das gêmeas.

- Hum, vejo que tem bom gosto, ele é um rapazinho lindo, agora vai brincar querida.

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      Virna ficou pensativa ao ver o entrosamento entre Helena e Robertinha, sentia que estavam predestinadas, e ao pensar nisso, sentiu um arrepio passando por sua coluna confirmando o fato, mas, logo foi chamada por Rafaella e foram sentar para comer um pouco dos salgadinhos que eram servidos, enquanto isso Sophia e Renée observavam as gêmeas brincando na piscina de bolinhas com a aniversariante e um menino de cerca de cinco anos, de lindos cabelos loiros impecavelmente cortados e profundos olhos verdes, sendo observado de longe por um orgulhoso casal, era visível a semelhança do menino com a mãe, por uns instantes o pai se afastou para conversar com amigos enquanto Sophia aproveitou para chegar mais perto e fazer amizade já que as crianças estavam brincando juntas.

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- Parabéns, seu filho é lindo, a sua cara!. - Falou Sophia sorrindo.

- Nem precisa dizer que é meu não é?, menina, quando tinha a idade dele era muito parecida, pena que não tenho foto para te mostrar.

- Prazer, Sophia...

- Carla, e meu marido, aquele que fugiu para conversar com os amigos é o Álvaro, meu pequeno é o Álvaro Filho, mas, o chamamos de Alvinho.

- Essas são minhas gêmeas Helena e Heloísa, foram presentes de Deus...

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      Carla só então percebeu que uma das meninas era down, olhou entre surpresa e penalizada, e foi surpreendida quando o filho a trouxe segurando pela mão.

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- Mãe, essa daqui é Heloísa, minha namoradinha...

- Não seja bobo meu filho, não está vendo que a menina é doentinha?.

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     Sophia sentiu o sangue todo subir à cabeça.

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- Minha filha não é doentinha, ela tem uma condição genética especial, tem um cromossomo a mais, não significa que ela tenha uma doença.

- Desculpe querida, você entendeu, o fato é que jamais meu filho vai namorar com uma menina assim.

- Doente é você, não vê que são crianças e que é apenas uma brincadeira?.

- Ei, não precisa me ofender..

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      Renée percebendo as vozes alteradas se aproximou de Sophia e da desconhecida.

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- Posso saber o que está acontecendo?.

- Essa mulher está dizendo que nossa filha é doentinha...

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      Carla colocou a mão na cintura e sorriu de forma debochada.

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- Espera um minutinho ai, vocês estão dizendo "nossa filha"?, gente, mas, era só o que me faltava, como isso, duas mulheres reproduzem agora?.

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      Renée sentiu o coração bater acelerado com a força do preconceito.

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- É nossa filha sim, eu gerei a partir dos óvulos de Sophia...e fomos a um banco de sêmen, as duas estão registradas no nome das duas.

- Caraca, as coitadas não tem pai?, vão crescer revoltadas, hein?, se não tem uma referência masculina vão ser tudo sapatão igual a vocês.

- Elas vão ser o que quiserem, que pensamento ridículo esse seu.

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      Carla se aproximou da piscina chamando o filho irritada.

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- Já deu Alvinho, vamos embora agora.

- Mas mãe, eu não quero ir, me deixa brincar.

- Álvaro Filho, vamos embora, não desobedeça a sua mãe.

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      O pai no menino ouvindo o choro do filho e os gritos da mulher se aproximou para entender o motivo do imbróglio, já que não havia sobrado uma criança fora as deles. Sophia pediu licença e relatou o acontecido, terminando com uma frase.

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-... e enfim, a sua esposa é uma homofóbica e preconceituosa.

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      O homem sentiu sua face corar de vergonha, e ficou visivelmente irritado quando a mulher colocou a mão na cintura para dizer.

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- Então Álvaro, mostre que é homem e defenda sua esposa, ou vai ficar ai "deitado eternamente em berço esplêndido como na maioria das vezes?.

- Tem toda razão, vou tomar uma atitude...Carla peça desculpas as mães das meninas, agora...

- O quê?.

- Ou pede desculpas ou hoje não durmo em casa, vou para um hotel afogar minha vergonha no travesseiro.

- Ah, mas, não vai mesmo...

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      Com medo de novas traições, Carla teve que se desculpar, enquanto Alvinho dava de longe um tchauzinho para as novas amigas.

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      Renée pegou a pequena Heloísa nos braços enquanto Helena e Robertinha estavam de longe brincando com outras crianças.

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- Alequim...alequim doiado...que nasceu no campo...

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      Sophia abraçou Renée envolvendo a filha e a mulher em um abraço cheio de amor. Ao longe Cris ria abertamente da influência que tinha causado em Carla, que cheia de egoísmo foi alvo fácil para o espírito, foi quando viu Vanessa de aproximar.

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- Sinceramente Cris, fazendo crianças sofrerem...dessa vez passou dos limites.

- Vanessa, dessa vez chegou atrasada, hein?.

- Adeus Cris, desisto, fique a vontade para fazer o que quiser, cansei...

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      Cris ia dizer alguma coisa, mas, Vanessa já tinha ido embora, a loira cruzou os braços e deixou as lágrimas descerem se sentindo estranhamente abandonada pela única pessoa que realmente se importava com ela. Mais adiante Inês esperava Vanessa, enquanto fazia caretas engraçadas para Heloísa que ria e acenava com a mão, dizendo depois.

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- ...Helô, e o seu?.

- Cuca...

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     Sophia sorriu e perguntou para a filha com que ela estava conversando, a menina sorriu e disse mostrando os dentinhos alinhados, "Com a Cuca". Renée se aproximou de Sophia falando baixinho.

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- Eu não sei quem teve o péssimo gosto de ensinar essa cantiga de ninar para Heloísa, como ela ouviu falar em Cuca?, só pode ser da música.

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      Enquanto isso a Inês aproveitou para cantar no ouvido de Renée fazendo a morena abrir a boca sentindo sono "Nana neném, que a Cuca vem pegar...". De longe Vanessa ria da situação.

Fim do capítulo