Estava feliz com a sua mudança, mesmo que temporária. A casa era simples, mas tinha o tamanho na medida certa. Eu não me importaria de ela ficar lá até encontrar outra solução. A verdade é que a sua companhia era boa demais e não quero que ela vá tão cedo. Já haviam se passado umas três semanas e estávamos nos dando tão bem. Era incrível a nossa interação. Ela simplesmente me ajudava nas tarefas da casa sem nem mesmo eu precisar pedir, era algo natural. Fazia até mais do que seria a sua obrigação. Como ela estava trabalhando em casa, eu não estava mais precisando me preocupar com as mil tarefas que geralmente tenho que fazer diariamente. Quem visse de fora, pensaria que éramos um casal.

    A última vez que morei com alguém foi uma péssima experiência. Eu realmente me sinto muito trouxa por ter me permitido viver naquele relacionamento abusivo por tanto tempo. Eu não tinha auxílio para nada, tudo ficava nas minhas costas. Limpeza, comida, compras... Era exaustivo! Não sei como eu conseguia dar conta de tantas coisas. Nessa época, além de trabalhar, eu ainda estava fazendo o TCC da faculdade. Acho que nesse período, eu não tinha tempo nem de respirar direito. Mas é aquilo que esperam de nós mulheres independentes, que temos que dar conta de tudo ao mesmo tempo e ainda sim não ser o suficiente. É uma competição desnecessária.

    Enfim, pela primeira vez em anos eu estava me sentindo cuidada, porque ela realmente se preocupava com o meu bem estar. As nossas conversas de fim de tarde estavam cada vez mais frequentes, eu me sentia mais à vontade na sua presença. Fui percebendo que as coisas aos poucos estavam começando a ficar mais intensas e estava tudo tão bom que fui me deixando levar. Estávamos começando a ter o costume de ir para a sala assistir um episódio de alguma série enquanto jantávamos. Ter uma companhia para te acompanhar nas atividades que você gosta é maravilhoso.

    Já era segunda novamente e estávamos no sofá conversando sobre o nosso dia, sobre o evento de forró que teria no próximo final de semana e conforme as horas se passavam, íamos nos soltando mais. Havíamos jantado ali mesmo na sala de estar. Estávamos cada uma em um canto do sofá uma de frente pra outra, as nossas pernas já estavam totalmente em cima dele e paralelamente uma a outra. Eu não sei se foi o vinho, mas eu me permiti deixar as nossas pernas se roçarem suavemente. Estava muito gostoso, eu não podia negar. Sentir a sua pele na minha, sentir que ela estava arrepiada somente à leveza do toque, sentir o seu rosto esquentar, a sua voz começando a ficar rouca de desejo, eu estava ficando inebriada. Comecei a sentir um carinho gostoso e excitante no meu tornozelo e foi nesse momento que eu acordei do transe em que me encontrava.

   Estava ficando tarde, então fui me levantando com a desculpa de levar as louças para a cozinha. Nada mais justo do que eu lavar, já que dessa vez, ela quem fez a comida. Estava distraída pensando na merd* que eu estava fazendo, não poderia me deixar levar assim, mesmo que o seu corpo pareça delicioso e sua voz tentadora. O seu cheiro então…. Este começou novamente a me preencher e a sinto atrás de mim me abraçando. O seu corpo todo colado no meu, a sua boca em meu pescoço num roçar de lábios em um beijo doce.

- Quer ajuda? – O tom rouco de sua voz me deixou um pouco bamba e a senti me segurar mais forte.

- Ágatha, não faz isso, por favor. – Digo em um fio de voz, já fechando os olhos. Sinto-a me puxar contra si e a me soltar pesarosa com um suspiro pesado. Esse jogo de sedução já estava me deixando louca e o pior é que eu já estava começando a me sentir mal com isso. Não queria ficar dando esperanças, mas também não conseguia me manter longe. – Eu já estou terminando aqui e vou descansar, deve estar cansada também. Boa noite! – Digo virando o meu corpo de frente ao seu e dando um beijo estalado no seu rosto ao mesmo tempo em que me esquivo para terminar de organizar a pequena bagunça.

- Boa noite! – Ela me responde de volta me dando um meio sorriso e vai para o seu quarto.

    O que foi aquilo? Eu me sinto completamente molhada com a situação. Termino o que tenho que fazer e vou para o meu quarto pensando nela. Não me permito tomar um banho longo e quente, teria que ser rápido e gelado mesmo, porque com certeza eu não ia me aguentar de tesão e acabaria me tocando pensando nela. O meu plano de não a desejar não estava dando certo, mas eu não iria ceder para mim mesma que a queria desesperadamente tão fácil assim. Então, só consigo me jogar na cama sabendo que definitivamente os meus sonhos seriam dela.

Fim do capítulo