Como prometido... Cheguei com mais um capítulo! Espero que vocês gostem e até a próxima quinzena! Não se esqueçam de me seguir no Twitter: Patty5hepard
Capitulo 22
Os olhos dourados estavam fixos nas mãos que tremiam de forma quase descontrolada em cima da pia, o corpo também tremia, mas Helena não sabia dizer se tremia de frio ou por que estava no meio de uma crise extremamente severa, sentia em seu peito e na forma que seu coração batia tão rápido que ela iria sufocar a qualquer momento, era como se estivesse contando os segundos para morrer. Estava com medo de erguer os olhos e se encarar no espelho do banheiro e isso só a fazia tremer ainda mais, dos pés a cabeça estava completamente molhada, seus pés e pernas doíam pelo tanto que havia andado e lá fora ainda ouvia a chuva forte caindo de forma descontrolada. Devagar, muito devagar, ela ergueu os olhos e encarou seu reflexo no espelho, o terror estava estampado em cada marca de expressão em sua face, seus olhos estavam avermelhados pelo choro, assim como o nariz, mas tudo o que via era medo e uma mulher destruída. Desviou o olhar de forma repentina e a ânsia de vômito apareceu de maneira repentina, tão rápido chegou, mais rápido ainda cresceu e no segundo seguinte a mexicana se debruçava sobre a pia enquanto tossia e vomitava tudo o que tinha no estômago, sufocou com a sensação e tossiu enquanto tentava puxar o ar, conseguiu só após alguns segundos e quando respirou fundo sentiu mais algumas lágrimas escorrendo por seus olhos. Balançou a cabeça de forma negativa, como se estivesse desaprovando toda a sua reação após aquela sessão com sua psicóloga.
Abriu a torneira da pia para limpá-la, fazendo com que os resquícios de seu almoço fossem embora ralo abaixo, em seguida, inclinou-se e encheu a boca com um pouco de água apenas para tirar o gosto ruim, cuspiu logo em seguida e ergueu-se novamente, encarou-se no espelho, parecia ainda mais destruída do que antes.
— Não, não... — sentiu ânsia de vomito novamente e isso a fez baixar o olhar de forma repentina, estava com nojo de sí mesma. Balançou a cabeça de forma negativa algumas vezes, recusando-se a aceitar aquilo, apertou as bordas da pia com força enquanto o soluço do choro ficava preso em sua garganta, fez força para contê-lo, mas não conseguiu, soluçou alto quando o choro veio desenfreado mais uma vez, suas pernas enfraqueceram e ela não sustentou-se em pé por mais de um segundo, despencou, os joelhos batendo no chão com demasiada força enquanto chorava, a testa ficou colada a porta logo abaixo da pia, ela fechou os olhos com toda força que conseguia enquanto chorava e ali se perdeu, perdeu-se no tempo, no momento, perdeu-se de sí mesma e não soube quanto tempo ficou ali no chão, chorando, inconsolável e com um nojo que nunca havia sentido antes.
Sentiu algo roçando em seu quadril e em seguida um miado um pouco alto, em seguida mais uma roçada ainda mais forte e um miado tão alto quanto o anterior, Helena piscou os olhos devagar e virou a cabeça, baixou o olhar para encarar a gatinha que miava sem parar bem ao seu lado para chamar a sua atenção. Isso trouxe um alívio momentâneo a Helena, um pequeno e quase imperceptível sorriso surgiu em seus lábios, um alívio tão grande que dizia para ela que ela não estava sozinha naquele momento.
— Oi, meu amor. — sussurrou. A voz estava bem mais rouca que o normal e saíra falha. Ergueu a mão esquerda, notou como tremia, muito mais do que antes, e acariciou a gatinha de forma lenta. Sentiu um calafrio subir por seu corpo e arrepiou-se dos pés a cabeça enquanto tremia, era frio. Isso a fez fechar os olhos novamente a poiar a cabeça no armário abaixo da pia mais uma vez. Há quanto tempo estava ali? Ela não sabia. A mão direita ergueu-se e agarrou a borda da pia, um ponto de ajuda para conseguir se erguer do chão, sentiu as pernas ainda fracas, mas usou as mãos para se apoiar melhor e não cair novamente, mais uma vez sentiu medo de olhar no espelho, por isso mesmo os olhos mantinha-se fixos no ralo da pia enquanto Vadia se enroscava em seus pés. Seu coração não acalmava em momento algum, batia tão rápido e tão forte que isso causava um desconforto simplesmente imenso, quando sentiu uma pontada na cabeça ela teve absoluta certeza de que precisava se acalmar de alguma forma. O pensamento a fez abrir de maneira repentina a porta de vidro do compartimento de remédios bem acima da pia, encarou aqueles tubos alaranjados de remédios que ela simplesmente odiava.
Gem*u de puro desgosto enquanto sentia vontade de chorar mais uma vez, balançou a cabeça de forma negativa enquanto voltava a apertar as bordas da pia, como ela queria que tudo aquilo acabasse de uma vez por todas, que ela não sentisse mais absolutamente nada, queria privar-se de todos os sentimentos ruins que corroíam sua vida e por um breve momento, uma fração de segundos, pensou que só conseguiria se livrar disso quando morresse. Isso a assustou e a assustou tanto que ela praticamente avançou naqueles remédios, agarrando os dois, fechou a porta de vidro com um pouco de força fazendo com que o espelho voltasse a ficar na sua frente, mas não o olhava mais, na verdade tinha dificuldade para abrir aqueles malditos tubos pela forma com a qual tremia, um deles era um ansiolítico forte e o outro um calmante tão forte quanto que a deixava anestesiada, ela odiava aqueles remédios.
Largou os dois tubos de qualquer forma sobre a pia depois que colocou um comprimido de cada na boca e em seguida se abaixou para, com a ajuda da água da torneira, toma-los de uma vez por todas. Assim, afastou-se dali com rapidez, não queria se olhar no espelho novamente, foi andando em direção ao box do banheiro enquanto puxava as roupas molhadas grudadas em seu corpo, em seguida entrou no box e já foi ligando a água quente. Foi ali que ela ficou parada pelos próximos minutos, sem muita reação para tomar um banho, no fim apenas passou brevemente um sabonete pelo corpo e saiu daquele banheiro tremendo de frio enrolada em uma toalha. Os remédios faziam eu efeito, seu coração voltara a seu ritmo normal, mas em compensação... Ela simplesmente não sentia nada além de sono e um peso no corpo, então tudo o que fez foi deitar e dormir.
Ela não soube quantas horas dormiu, mas quando acordou ela sentia tanto frio que parecia que nem estava coberta, o que não era o caso, estava inteiramente encolhida embaixo do cobertor grosso enquanto tremia tanto que seu corpo doía. Moveu-se na cama devagar, mero erro, aquilo foi incômodo.
— Merda. — sussurrou e esticou o braço para pegar o celular em cima do criado mudo, felizmente não havia o levado para a terapia, caso contrário seria perda total depois de tanta chuva. Olhou as horas, já era dia seguinte, especificamente pouco mais das 9 da manhã, haviam algumas ligações de Alysson e mensagens tanto dela quanto de Mia. Primeiro de tudo discou o número de Alysson e colocou o celular no ouvido enquanto saía da cama devagar, ouviu um miadinho sofrido e só então percebeu que havia passado por cima de Vadia. — Desculpa, meu amor. — sua voz mal saíra e o incômodo em sua garganta só a fez gem*r, cada passo era uma tortura em direção ao banheiro. — Oi, Aly. — falou baixinho assim que ouviu a voz da amiga no outro lado da linha, sua cabeça latejou quando olhou para fora, ainda chovia, mas a claridão a incomodava. — Eu não estou me sentindo bem, nada bem na verdade. — falou enquanto se arrastava em direção banheiro, respirou um pouco fundo enquanto ouvia as palavras da amiga e assim que chegou ao banheiro a primeira coisa que fez foi pegar o termômetro dentro da caixa de remédios. — Não precisa, é só um resfriado pelo jeito, eu só vou... Tomar algum remédio e dormir o dia inteiro. — falou baixo enquanto se apoiava na pia, sentia-se tão mal que parecia que não havia dormido absolutamente nada, porém, seguia ignorando o espelho, o medo em seu interior a impedia.
Estava com febre, foi com pesar que anunciou isso para Alysson, ainda mais que ela sabia o motivo disso, mas não precisava contar isso a amiga. Alysson prometeu que viria no fim do dia cuidar de Helena, até lá deixaria que ela dormisse e Helena apenas medicou-se de forma devida para os sintomas que tinha e apesar da imensa vontade de tomar um chá, ela não tinha forças para fazer isso. O máximo que conseguiu fazer fora ir até a cozinha para encher o pote de ração de Vadia e logo em seguida enfiou-se embaixo das cobertas mais uma vez, desta vez depois de a adição de uma coberta extra, ali, embaixo das cobertas, encolhida e com o celular em mãos, mandou uma única mensagem:
Helena [09h53]:
Eu sei que tínhamos marcado de sair hoje e eu realmente sinto muito de desmarcar isso. Acabei de acordar tremendo de frio... Pelo jeito peguei um belo de um resfriado, mas não se preocupe, já tomei toda medicação possível e só preciso descansar... Prometo compensar da próxima vez, mas tarde te mando notícias.
PS: Eu disse para não se preocupar, Amélia.
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— O que foi? — Hernando questionou assim que viu o cenho completamente franzido de Mia.
— A Helena desmarcou nosso almoço hoje. — Mia falou sem desviar os olhos do celular enquanto deslizava os dedos pelo mesmo de forma ágil, digitando uma mensagem. — Ela adoeceu, resfriado pelo jeito.
Amélia [10h02]:
É muito relaxante ler que você acordou tremendo de frio, Helena. Mas não se preocupe, se cuide, se você precisar de absolutamente qualquer coisa não hesite em me ligar, mesmo. Fique bem logo, por favor.
Ps: É bom que esse resfriado não seja por culpa de banhos de chuva.
— Época de chuva... Chove resfriados. — Hernando suspirou. Mia ergueu os olhos azuis e encarou o amigo, estavam ambos na sala dele.
— Especificamente para alguém que gosta de banhos de chuva. — a designer falou enquanto erguia-se da poltrona em que estava para dar a volta na mesa de Hernando, virou um pouco a cadeira do amigo para sentar-se no colo dele e então virou-a novamente para que ambos ficassem de frente para o computador, estavam trabalhando juntos em um projeto. — Você terminou?
— Quase. — o homem falou enquanto voltava a segurar o mouse e deslizar o ponteiro pela planta baixa da casa que fazia.
— Não, isso aqui tá errado. — a Designer anunciou enquanto puxava o caderno de rascunhos para perto. Aquela posição parecia tão natural para ambos que era claro que não era a primeira vez que faziam aquilo. — Ela disse que queria uma cozinha estilo aberta, então eu quero uma janela muito maior do que essa e esse fogão... — apontou para o desenho do fogão na planta. — Fica aqui. — indicou a localização exata do mesmo.
— Essa janela tem dois metros de largura, Mia. Se eu colocar maior que isso mal vai ter sustentação.
— Os engenheiros que lutem. — Mia falou enquanto desenhava no caderno de rascunhos do jeito que ela queria e havia planejado de acordo com o que havia conversado com sua cliente.
— Você sabe que é por isso que te odeiam não é?
— A guerra é entre Engenheiros e Arquitetos, Nando. Não me meta no meio disso. — a morena falou de forma meio distraída enquanto se concentrava no desenho, fez algo rápido, só para que Hernando tivesse uma noção quando fosse corrigir. — Eu tenho uma ideia para o banheiro da suíte, tem como aumentar ele?
— Só se eu diminuir o closet.
Mia franziu o cenho enquanto parava o que fazia e voltava a olhar para a planta, Hernando mexia no mouse e fazia a tela deslizar em direção ao ponto onde Mia falava sobre a planta baixa. Ela respirou um pouco fundo enquanto pensava, mas negou com um aceno de cabeça.
— Não, eu dou meu jeito. — falou enquanto voltava a atenção para o caderno de rascunhos, passou alguns minutos ali concentrada fazendo tudo o que queria, Hernando esperava com paciência enquanto fazia pequenas correções no projeto que não iriam interferir nas ideias de Mia. — Pronto. — anunciou e se afastou um pouco, deu um pequeno impulso com os pés para afastar a cadeira de Hernando da mesa e assim ela poder se erguer. — Está tudo aqui, quando você terminar me manda o arquivo só para eu verificar novamente ou caso eu tenha mudado de ideia sobre algo.
— Se você mudar de ideia, enfie a ideia no seu rabo, essa já é a terceira vez que você faz alterações.
A morena apenas deu uma boa risada enquanto saia andando, como se estivesse completamente orgulhosa do que Hernando havia acabado de acusar. Assim que saiu da sala de Hernando os olhos já foram diretamente para o celular a procura de qualquer mensagem de Helena, porém, não teve sucesso, não havia sido respondida, isso cansou uma certa pontada de preocupação em seu peito.
E assim fora seu dia, almoçou no escritório mesmo, o começo da tarde conseguiu focar completamente no trabalho, adiantou tudo o que conseguia para ficar mais livre, porém, à medida que as horas iam passando e ela não tinha absolutamente nenhuma notícia de Helena, era impossível não ficar preocupada, era um incômodo que crescia e gritava para ela que ela não deveria deixar Helena sozinha. Quando ficava doente adorava receber todo o cuidado e carinho da mãe, do irmão ou de Hernando, não achava justo deixar Helena sozinha.
— Meu Deus, Mia. Vai logo cuidar dela. — Hernando falou de forma impaciente, os dois estavam sentados na recepção dos escritórios conversando amenidades depois de encerrar seus dias.
— O que foi? — Rose questionou.
— A Helena tá doente. — Mia respondeu a amiga e ergueu o olhar para encará-la.
— E você ainda não foi cuidar dela?
Mia franziu o cenho.
— Não tentem me colocar como errada. — reclamou. — E além do mais ela pode não gostar.
— Não gostar de receber seus cuidados? Qualquer um iria gostar, Mia, pelo amor de Deus, você é uma grande gostosa.
— E ótima em cuidar das pessoas. — Hernando completou as palavras de Rose.
Mia riu por breves segundos enquanto encarava o celular novamente, já passava das cinco da tarde.
— Ok. — disse enquanto apoiava as mãos nos braços da poltrona para erguer-se. — Mas se algo der errado a culpa é de vocês. — ela pontuou para os dois enquanto já ia se afastando.
— Chá de bocet* é ótimo para resfriado, Mia! — Rose falou um pouco mais alto e o que recebeu em troca fora uma gargalhada da Designer, ainda mais que aquilo tinha um significado que Rose não sabia.
Do escritório a morena foi em casa rapidamente, precisava tomar um banho rápido depois de passar o dia todo trabalhando, vestiu-se com roupas confortáveis e partiu, no meio do caminho teve ideias que a fizeram mudar a rota para primeiro passar no mercado, onde o mais rápido que conseguiu comprou tudo o que precisaria e enfim, partiu para a casa de Helena, durante todo o trajeto tentou recordar-se de onde era exatamente que Helena guardava a chave reserva caso precisasse usar e também pensava se realmente era apropriado fazer isso, entrar na casa dela assim sem ela saber, por mais que só o faria se Helena não atendesse a porta e ainda assim pensava se realmente teria coragem. Entrou com o carro na calçada subindo até estaciona-lo bem em frente a garagem da casa da mexicana, lá fora garoava bem levemente, mas isso não importava. Pegou seu celular e a chave do veículo e desceu do mesmo devagar.
— Olha só... — a voz conhecida surgiu atrás de sí e a morena virou-se rapidamente para ver a figura abaixo de um guarda chuva se aproximando pela calçada, era Alysson. — Se você veio cuidar da Helena, eu falarei que estou apaixonada por você.
Mia riu assim que reconheceu a mulher e principalmente quando ouviu as palavras dela.
— De olho no irmão e apaixonada pela irmã? Que romance proibido. — Mia alfinetou em tom sério, dando corda à brincadeira, porém, tudo o que conseguiu como resposta fora uma risada gostosa de Alysson. Assim que as duas se encontraram embaixo do guarda chuva, se abraçaram de forma um pouco demorada.
— Você nem imagina como é bom ver você aqui. — a ruiva falou com sinceridade, de certa forma sentia-se aliviada por ver como Mia se preocupava com Helena.
— Eu comecei a ficar preocupada com ela, ela não me deu mais nenhuma resposta. — Mia falou em meio ao abraço, mas logo em seguida se afastou e encarou Alysson com um pequeno sorriso. — Além do mais, quando eu fico doente sempre cuidam muito bem de mim com comida boa e carinho, vim pronta para isso. — disse enquanto já ia até a porta traseira do carro e a abria para poder retirar o que havia comprado.
— Uau. Você veio muito mais preparada que eu. — tinha ambas as sobrancelhas arqueadas enquanto se aproximava de Mia só para ver o que ela tinha comprado, riu por breves segundos. — Eu vou abrir a porta e venho te ajudar.
— Obrigada!
Alysson se afastou com certa rapidez e assim que subiu na varanda da casa de Helena já foi deixando o guarda chuva de lado, o colocou aberto no chão bem ao lado da porta e finalmente abriu a porta da casa e a deixou bem aberta antes de voltar, Mia já vinha carregando algumas sacolas e Alysson foi direto para o carro onde pegou as três que sobraram, fechou a porta com o quadril e apressou o passo ao notar que a garoa fina já começava a se transformar em uma chuva mais grossa aos poucos.
— Sabe... Pode não parecer, mas a Helena tem uma saúde frágil. — Alysson falou assim que fechou a porta da casa e foi andando devagar em direção à cozinha onde Mia já colocava as sacolas. — Ela não é um exemplo de boa alimentação, a Helena é uma grande bagunça na verdade, ela pula refeições e nem sempre se alimenta bem.
— Isso não é surpresa nenhuma. — Mia falou enquanto apoiavas as mãos no balcão e sentia de verdade que havia feito à coisa certa aceitando os conselhos de Nando e de Rose e vindo ver Helena.
— É, ela tem todo aquela pose, mas... — parou e olhou para Mia, como se as duas silenciosamente completassem aquela sentença em silêncio. Ally colocou as sacolas ao lado das outras e se afastou em seguida. — Vou ver como ela ta, você vem? — não olhou para trás, só saiu andando.
A casa estava escura, era pouco mais das seis da noite, mas todas as luzes estavam desligadas com exceção das que haviam sido acesas por Mia quando ela havia entrado, Alysson acendia outras no caminho enquanto ia em direção ao quarto de Helena sendo seguida por Mia. A porta estava entreaberta e a ruiva a empurrou com todo cuidado, o quarto era iluminado pela luz que passava pela janela, então, ela preferiu não acender a luz, até por que, não queria acordar Helena.
— Está dormindo. — sussurrou ao sentir Mia perto de sí, respirou um pouco fundo, ela havia dormido o dia inteiro, significava que estava um pouco pior do que havia imaginado. Entrou no quarto devagar e foi andando em direção ao banheiro, deixou Mia no quarto, acendeu a luz do cômodo, o quarto se iluminou um pouco mais por conta disso. A ruiva se aproximou da pia com os braços cruzados, iria só checar se Helena tinha todos os remédios e se precisaria ligar para a farmácia para comprar algo a mais para ela tomar quando acordasse, mas quando viu aqueles tubos de remédio alaranjados jogados na pia, ela sentiu um breve pulo no coração, ali ela teve absoluta certeza que algo grande havia acontecido.
Olhou em volta, procurando qualquer vestígio de mais alguma coisa, viu as trouxas de roupa no chão e se aproximou para pegá-las, estavam pesadas, ainda úmidas pela forma que haviam ficado. Balançou a cabeça de forma negativa, desaprovando isso enquanto abria o cesto de roupas e as jogava lá dentro, em seguida voltava para a pia e guardou os remédios em seus devidos lugares, verificou tudo e só então se deu por satisfeita.
No quarto, Mia tocava o rosto de Helena com todo cuidado possível só para sentir como ela estava quente, a mexicana dormia pesado e completamente encolhida embaixo das cobertas, tal imagem fazia o coração da Designer se apertar.
— Como ela está? — Ally sussurrou enquanto se aproximava com cuidado.
— Com febre. — Mia anunciou e olhou para Alysson por breves segundos.
A mulher não falou nada, apenas se afastou e foi até o armário de Helena e com todo cuidado abriu as portas e pegou um cobertor novo, a noite ficaria mais fria com certeza, ainda mais que a chuva começava a engrossar mais e mais. Mia se afastou assim que Alysson voltou com a nova coberta e com calma cobriu Helena com mais uma camada, não queria que ela passasse frio e acabasse piorando. Ajeitou-a sobre a amiga e em seguida se afastou, olhou para Mia por um momento, silenciosamente a chamando para saírem. O entendimento fora rápido, as duas saíram logo em seguida, a porta do quarto ficara encostada e as duas mantiveram-se em silêncio até chegar a cozinha.
— Não é nem perto de ser a primeira vez que isso acontece não é? — Mia questionou.
Ally negou com um aceno de cabeça.
— Nem perto. — falou baixo e deu de ombros, mas mudou de assunto. — O que está planejando fazer? — indicou com a cabeça as sacolas de mercado.
— Ramen. — respondeu de forma direta enquanto parava em frente as sacolas e começava a retirar tudo o que havia comprado. -- Uma vez ela me disse que gostava bastante e por sorte caiu muito bem com o momento.
— Eu não tenho a mínima ideia de como se faz isso, mas... Posso ajudar de alguma forma se você quiser. — vonluntariou-se enquanto se encostava na porta da cozinha enquanto ainda olhava para Amélia.
— Não se preocupe com isso, como não é uma comida que eu não faço com tanta frequência, eu gosto de fazer sozinha por que assim eu me concentro muito melhor, mas você ainda me deve uma boa conversa e isso será de grande ajuda. — apontou a faca para a ruiva como se a estivesse acusando de algo.
Alysson riu por alguns segundos enquanto se afastava e dava a volta para ir sentar-se no outro lado do balcão da cozinha, sentou-se em um dos banquinhos de forma confortável.
— É, dessa vez eu consegui chegar junto com você e não na hora que você está saindo desesperada.
Mia deu um sorriso verdadeiramente largo ao ouvir isso, como se sentisse orgulho daquilo, mas logo em seguida riu enquanto balançava a cabeça de forma negativa.
— Obrigada por isso, Mia. — Ally falou de forma mais séria desta vez. Mia ergueu os olhos brevemente para encarar a ruiva como se quisesse entender o motivo do agradecimento. — Digo, por cuidar da Helena. Eu sei e eu vejo como você anda sendo essencial em diversos aspectos da vida e dos traumas dela.
Mia sorriu fraco ao ouvir aquelas palavras e se afastou enquanto ia amarrando os cabelos para começar de fato todos os preparativos.
— Quando eu conheci a Helena eu não esperava tudo isso. — falou e olhou brevemente para Ally. — Me refiro quando realmente conheci, os encontros no bar não contam.
— Os polêmicos encontros no bar. — Alysson falou de forma teatral, arrancando uma risada breve de Mia que andava pela cozinha de Helena como se já tivesse feito isso centenas de vezes.
— Ela sempre me passou essa sensação de superação no começo, quando conversou comigo quando vim aqui pela primeira vez e me contou a história dela eu senti uma imensa admiração por ela, pensei como alguém podia ter superado tudo isso, eu não sabia da Esperanza na época é claro. — parou em frente ao balcão novamente e puxou uma faca do suporte de madeira e encarou Allyson por alguns segundos.
— Só que ela nunca superou. — Alysson concluiu a fala de Mia e a Designer concordou com um aceno de cabeça.
— De certo modo isso me deixou surpresa e ao mesmo tempo simplesmente devastada com toda a enxurrada de novas informações, mas sei lá... — deu de ombros enquanto franzia o cenho à medida que ia separando os ingredientes. — Foi assustador é claro, mas eu só tive vontade de cuidar dela. Aos poucos ela foi deixando cair cada camada protetora e eu consigo enxergar ela melhor hoje, digo, enxergar de verdade, a Helena cheia de defeitos e cicatrizes, nada daquela mulher maquiada com superioridade ou da dançarina. Como foi pra você tudo isso? Você a conhece há anos.
Alysson deu de ombros, a expressão estava séria e até um pouco triste.
— Sinceramente, Mia. Presenciar toda a mudança da Helena foi à coisa mais triste pela qual eu passei na minha vida, ela sabe disso. — franziu um pouco o cenho enquanto voltava a encarar a Designer a sua frente, tendo apenas o balcão as separando. — Eu perdi o meu avô nos últimos anos e foi ele que me criou e isso doeu de uma forma absurda, mas eu me conformei rápido, não tem como você lutar com a morte, é um processo natural, você nasce, vive e morre. — gesticulava com as mãos de forma lenta para que Mia a entendesse bem. — Só que me arrisco a dizer que ver a Helena se perder foi mais doloroso, por que não havia naturalidade naquilo, não é nenhum processo natural da vida, tem como você lutar contra, era uma luta contra a crueldade humana que não era minha, mas que eu sentia que era e agia como se fosse, mas minhas tentativas de contragolpe não surtiam efeito nenhum. — os olhos claros da ruiva focaram-se em um ponto qualquer na cozinha, tinha a expressão contorcida no que parecia dor. — A manipulação que o Trevor fazia com ela era algo simplesmente aterrorizante, a Helena era uma mulher completamente radiante, iluminada, eu amei ela desde o primeiro dia que nos conhecemos, na amizade é claro. — deu uma breve risada sem muito ânimo ao corrigir-se. — E eu acompanhei de perto aquela luz se apagando mais e mais até que a Helena se tornou alguém irreconhecível, uma pessoa sem vida, que vivia no automático, sabe?
Mia não olhava mais para Alysson, concentrava-se unicamente no que fazia, como se isso fosse tornar aquela conversa menos dolorosa do que ela realmente era, mas algo dentro de sí lhe dizia que ela precisava ouvir aquilo tudo, precisava saber cada detalhe sobre o que Helena passou para que ela soubesse exatamente como agir quando Helena precisasse dela.
— Eu cuidei da Helena várias vezes, chorava junto com ela em todas essas vezes, a levei ao hospital, ouvi absurdos dela, brigamos centenas de vezes, só que em determinado momento eu me conformei, não tem por que eu continuar brigando com ela, é obvio que ela não me ouve, a única coisa que eu posso fazer é me manter do lado dela e continuar a erguendo. — Alysson explicava devagar, também já não mais olhava para Mia, encarava as próprias mãos em cima do balcão, como se isso fosse lhe ajudar a lembrar melhor daquelas coisas. — Ela se desesperou quando soube da gravidez, com certeza pela forma que ela fala pra você, não parece, mas ela não aceitou a primeiro momento.
Mia parou o que fazia quando ouviu isso e, com o cenho franzido, encarou Ally. A ruiva também a encarou e acenou de forma positiva com a cabeça confirmando o que ela havia acabado de falar.
— Ela teve medo que isso fosse causar uma explosão de fúria no Trevor, que ele achasse que o filho não era dele, ela ficou simplesmente desesperada. — a ruiva apoiou o queixo na mão esquerda, o cotovelo apoiado no balcão. Respirou fundo. — A longo prazo causou, mas no primeiro momento que ele descobriu, ele ficou muito feliz e a Helena se iluminou novamente. Esperanza. — Allysson sussurrou para sí mesma o nome do bebê. — A paz durou por um mês mais ou menos antes que as brigas voltassem mais uma vez, cada vez piores. E então, meses depois, tarde da noite a Helena me ligou desesperada e tudo o que eu fiz foi correr, eu devo ter chegado aqui em menos de 5 minutos, eu nunca tive medo do Trevor, tudo o que eu sentia por ele era raiva, quando eu entrei aqui naquela noite a casa estava de cabeça para baixo, o Trevor estava no meio da sala, chorando com as mãos na cabeça, mas estava completamente bêbado, acho que era arrependimento que eu vi nos olhos dele naquele dia, mas eu não tenho certeza. — negou com um aceno de cabeça com tais lembranças. — Acho que eu falei alguma coisa pra ele antes de ir atrás da Helena, não foi difícil achar ela, tinha um rastro de sangue que ia até o banheiro. — Alysson calou-se e por algum tempo tudo o que se ouviu foi a chuva lá fora, Mia estava praticamente paralisada com aquela história e Alysson não muito diferente. Mas a ruiva ergueu-se de onde estava e saiu andando a passos lentos em direção à cozinha novamente, foi diretamente para a geladeira. — Eu levei ela para o hospital as pressas, mas não deu mais tempo. Sinceramente tive certeza de que ela morreria junto, se não fosse na cirurgia, seria de desgosto. — pegou duas cervejas, já que depois de ouvir algumas histórias de Helena, sabia que Mia gostava. Colocou uma delas bem na frente de Mia e deu a volta novamente para voltar para seu lugar. — Quando ela voltou da cirurgia, ela parecia já uma pessoa diferente, ainda sem vida, mas ela simplesmente acordou. E depois de todo o processo de denúncia, advogados, audiências a Helena simplesmente desistiu, ela não falava com ninguém, não comia, não bebia, tinha medo de absolutamente tudo e quase sempre estava fora do ar.
— Eu ainda me pergunto quase todos os dias como ela conseguiu sair dessa fase. — Mia falou baixo enquanto levava a garrafa de cerveja já aberta aos lábios e em seguida dava goles generosos e seguidos, deixou a garrafa quase meia no balcão. — E ainda teve o episódio da mãe.
Alysson acenou de forma positiva com a cabeça logo após dar um gole na cerveja.
— Sim, isso aconteceu depois que ela conseguiu voltar a sí um pouco e concordamos que seria muito bom pra ela passar uma temporada em casa junto com os irmãos e a mãe. — deu de ombros enquanto olhava para o rótulo da garrafa. — Ela não passou uma semana lá e o plano era passas meses. Voltou pior do que tinha ido e aí comecei a buscar vários tipos de terapia para ela até ela focar em algumas e o resto você certamente já sabe. — deu um novo gole na cerveja e deu uma pequena risada. — Se eu tivesse ido com ela eu com certeza teria socado a boca da mãe dela.
Mia sorriu de forma um pouco larga, apesar de ainda estar completamente impactada com toda aquela história.
— Eu teria feito a mesma coisa, apesar de não ser adepta a violência.
— Ninguém é adepto a violência até ver alguém maltratando um dos seus. — Alysson comentou.
Mia imediatamente concordou e apontou com a garrafa para a ruiva, silenciosamente dizendo: Você está certa.
As duas voltaram a ficar em silêncio, Mia concentrada em cada procedimento para fazer o Ramen para Helena e Alysson apenas observando-a em silêncio, porém, não durou muito tempo.
— E como foi que toda a fama começou? A galeria, os quadros... — Mia começou, completamente determinada a saber de todos os detalhes sobre Helena, do ponto de vista de Alysson.
— A Helena gosta tanto de pintar que para ela tudo é motivo para isso. — franziu um pouco o cenho enquanto balançava devagar a garrafa de cerveja em mãos. — Ela tinha momentos em que pintava compulsivamente tentando extravasar o que sentia, e quando eu digo compulsivamente, eu falo que ela pintava sem parar, não parava para comer, nem beber, não haviam pausas para descanso, ela só parava quando chegava no limite. Falo no passado, mas isso ainda acontece hoje em dia. — a ruiva ajeitou-se um pouco no banco como se estivesse se preparando para continuar a falar. — Consequentemente às vezes ela sente bastante dor no ombro e no pulso. Então eu só fui vendo a quantidade de quadros aumentar de forma absurda a um ponto que não tinha mais lugar para coloca-los, então eu peguei alguns, sem a permissão dela é claro, tem quadros que ela não permite que ninguém veja e nunca insista nisso, eles estão na garagem, mas nunca insista em ver eles se um dia vocês forem lá. — Alysson fez questão de alertar, sabendo que aquilo era algo importante e principalmente por que imaginava que um dia Mia iria lá.
— Por que ela não permite? — Mia questionou enquanto adicionava algumas especiarias ao caldo que já fervia, assim que adicionou, com a mão direita fez movimentos para que o vapor viesse em sua direção e inalou o aroma gostoso só para checar se estava ficando do jeito que ela queria. Voltou a tapar a panela e voltou a ficar de frente para Ally.
— Por que são muito pessoais. Ela os pintava nos momentos de crise, acho que até ela mesma tem medo de vê-los. — Alysson franziu um pouco o cenho com o que acabara de falar, mas respirou um pouco fundo enquanto deixava a garrafa já vazia de lado. — Mas continuando... Eu procurei o contato de alguns professores dela, ela havia me falado sobre eles, marquei reuniões e mostrei a cada um deles... Eram muitos quadros e todos são quadros incríveis, eu tinha que fazer alguma coisa com isso e eu sentia que isso ia ajudar a Helena.
— E você estava certa. — Mia sorriu de canto enquanto se concentrava em misturas os ingredientes da massa que fazia. — Não é a toa que ela assina as coisas sem saber o que é somente por que confia em você.
Alysson deu uma risada um pouco mais alta assim que ouviu aquilo.
— Meu Deus, sim! Eu sempre peço a ela que ela leia tudo, que tire as dúvidas comigo para que ela saiba o que está fazendo e ela sempre me responde: Pra que? Eu confio em você. — imitou a forma que Helena falava no final e isso arrancou uma risada tanto de sí mesma quanto de Mia.
— Tão relapsa. — Mia reclamou enquanto balançava a cabeça de forma negativa, mas tinha um sorriso nos lábios.
Alysson sorriu de forma um pouco larga enquanto observava Amélia.
— Você sabe por que eu estou te contando tudo isso com tantos detalhes não sabe? — a ruiva questionou e Mia ergueu o olhar para encará-la novamente. Ally sorriu fraco ao ver o olhar de Mia. — Por que eu sei que você gosta dela, na verdade eu tive certeza quando te vi mais cedo.
Mia ficou um pouco séria com aquelas palavras, chegou a corar enquanto focava em sovar a massa, mas riu por breves segundos e sem muito ânimo.
— É, como todo mundo diz, eu sou péssima em esconder qualquer coisa. — falou baixo, confirmando o que Alysson havia acabado de falar.
Alysson riu.
— Mas isso é maravilhoso, você anda fazendo um bem tão grande a Helena que fazia muito tempo que eu a via dessa forma, então você merece saber cada coisinha que você vai ter que enfrentar em relação à Helena, se é claro, você quiser levar isso adiante.
— Ambas sabemos que isso não depende exclusivamente de mim, Ally. — Mia apontou o dedo sujo com farinha para a ruiva.
— Eu não vou comentar nada sobre isso por que sinto que eu estaria traindo a Helena...
— Não vou contar absolutamente nada sobre o Fred a você... Não trairia meu irmão. — deu um sorriso largo e verdadeiramente orgulhoso para a ruiva e tudo o que recebeu em troca foi uma gargalhada alta da mulher, o que consequentemente levou Mia a rir junto.
Assim, em um clima completamente descontraído, as duas conversaram pelo tempo que se seguiu, Mia contando absolutamente tudo o que Ally queria saber sobre Fred e Alysson contando tudo o que achava necessário sobre Helena, desde as coisas mais engraçadas, até as coisas mais sérias até o momento em que a cozinha estava completamente preenchida por pequenas risadas e pelo cheiro gostoso de comida.
— Aqui, experimenta... — Mia ofereceu uma colher a Alysson e indicou o caldo já pronto. A ruiva pareceu uma criança vindo completamente animada para perto de Mia para experimentar. — Acha que eu coloquei muito gengibre?
— Hmmm. — Alysson gem*u logo após tomar uma colher do caldo. — Está perfeito, simplesmente perfeito, Meu Deus Vovó iria adorar te conhecer. — a ruiva falou enquanto inclinava-se um pouco sobre a panela com o caldo somente para sentir o aroma gostoso e refrescante. Mia deu um sorriso realmente orgulhoso enquanto olhava para a ruiva.
— Nós podemos providenciar esse... — a atenção da Designer foi chamada para o corredor que dava para os quartos, de lá ouvia o miado incessante de Vadia que ia ficando cada vez mais alto à medida que ela se aproximasse. — Encontro.
Vadia apareceu primeiro, miando sem parar para logo em seguida Helena aparecer a passos lentos e com o cenho franzido, abraçava o próprio corpo, os cabelos estavam amarrados de forma bem desalinhada e ainda tinha a expressão sonolenta. Porém, arqueou uma sobrancelha assim que viu Amélia, como se silenciosamente questionasse: O que você está fazendo aqui?
Mia deu de ombros enquanto a olhava, mas sua reação foi automática, largou o que tinha em mãos e foi andando em direção à mexicana, ela fez o mesmo. Mia a recebeu imediatamente em um abraço extremamente carinhoso, Helena a abraçava pela cintura e Mia envolvia Helena pelos ombros.
— Você ainda está quente. — falou baixinho e se afastou só um pouquinho para colar sua testa a de Helena, não era um meio nem um pouco eficaz de medir temperatura, mas conseguia sentir que Helena estava muito mais quente do que deveria. — Você me deixou sem notícias o dia todo, tive que vir ver como você está.
Alysson não falou absolutamente nada, apenas observava a interação das duas e a forma como Helena parecia se derreter em meio ao abraço de Mia.
— Eu disse pra você não se preocupar. — Helena falou baixinho, a voz bem mais rouca do que o normal.
Mia sorriu antes de dar um beijo na testa quente com carinho e então voltou a encarar a morena, seu coração batia mais rápido dentro de seu peito e ela soube imediatamente que tinha mesmo feito a coisa certa vindo ver Helena, vindo cuidar dela. Se afastou da mexicana com lentidão e em seguida olhou para Ally que observava as duas com um sorriso no rosto.
— Contei todos os seus podres a Mia. — ela falou e deu um sorriso orgulhoso por isso.
— Se ela não foi embora ainda, está tudo bem. — deu um sorriso um tanto bobo com as próprias palavras enquanto caminhava em direção à amiga para poder abraça-la, estava se sentindo, naquele momento, verdadeiramente amada por aquelas duas mulheres e precisava abraça-las. — Não acredito que vieram cuidar de mim. — falou enquanto se aconchegava no abraço da ruiva.
— É claro que viríamos e a Mia ainda fez o que você tanto gosta. — Ally falou baixo enquanto acariciava os cabelos da morena com carinho em meio ao abraço, a abraçava de maneira bem firme por que sabia que por trás de todo aquele resfriado, tinha algo de errado.
— Ramen! — Mia anunciou.
— Meu Deus, vamos mesmo nos casar, Amélia e você cozinhará para mim todos os dias. — deu um sorriso preguiçoso com as próprias palavras enquanto apoiava a cabeça no ombro de Ally.
Alysson riu um pouco com as palavras e principalmente com o jeito preguiçoso de Helena.
— Mais uma vez só querendo me usar. — Mia reclamou de forma dramática.
Helena sorriu enquanto seu rosto era segurado por ambas as mãos de Alysson, as duas amigas se encararam por alguns segundos.
— O que você está sentindo agora? — a ruiva questionou de forma mais séria desta vez.
— Estou com dor no corpo, garganta doendo, um pouco de dor de cabeça, frio, uns calafrios horríveis e muita, muita moleza. — sussurrou para a ruiva. — Estou tão cansada. — sussurrou novamente enquanto fechava os olhos e pendia a cabeça um pouco para o lado.
— Mede a temperatura dela novamente. — Mia falou enquanto tinha o cenho franzido, voltando a mais uma vez ficar preocupada depois de ouvir aquilo.
— Vamos pro quarto, vou medir sua temperatura, te dar remédios e voltamos pra cá pra você jantar, temos tudo o que você precisa. — falou baixo enquanto espalmava a mão direita na testa de Helena.
— Vou apressar um pouco para finalizar tudo. — Mia anunciou enquanto já voltava a seu posto com certa pressa para continuar a cozinhar, faltava só pequenas finalizações e cozinhar a massa fresca para completar tudo o que tinha feito.
Alysson concordou com um aceno de cabeça e já foi se afastando enquanto puxava Helena pela mão, os dedos das duas se entrelaçou de forma automática enquanto andavam, parecia não ser a primeira vez que faziam aquilo, todo o caminho para o quarto foi feito em silêncio e em seguida para o banheiro.
— Senta. — Alysson pediu assim que se aproximou do vaso sanitário. Helena nem sequer mostrou reação, só sentou-se em cima da tampa do vaso assim como a mulher havia pedido. — O que aconteceu? — foi direto ao ponto.
Helena ergueu o olhar para encarar a amiga e pensou como nunca conseguia esconder alguma coisa dela.
— Não tive uma consulta muito acolhedora com a Samantha ontem. — sussurrou com sinceridade e fechou os olhos enquanto sentia seu corpo querer desmontar de exaustão.
— Por isso tomou aqueles remédios? — o tom da ruiva era cuidadoso. Entregou a Helena o termômetro e pacientemente a mexicana o colocou embaixo do braço esquerdo.
Helena não respondeu de forma verbal, só concordou com um aceno de cabeça. Alysson a olhou em silêncio por alguns segundos antes de se aproximar da amiga e calmamente abaixou-se bem na frente dela, as mãos se apoiando nos joelhos de Helena com cuidado, ficou de cócoras. A encarou em silêncio, aquele olhar terno que dizia em silêncio que Helena podia contar com ela e a mexicana sentia isso, sentia isso no olhar, no toque, no tom de voz de Alysson, em tudo.
— Eu sou tão acostumada com a dor por causa de tudo aquilo, que a naturalizei... Consequentemente sinto mais medo do amor, do carinho, do afeto que a Amélia me dá, do que da dor. — sentiu vontade de chorar e a expressão dela se contorceu por alguns segundos. — Ela disse que eu me nego a aceitar isso, que me apavora, disse que se a Mia não me tratasse tão bem, eu aceitaria com facilidade por que a dor é mais familiar. E é verdade, é tudo verdade. — a voz da morena ia ficando mais e mais falha à medida que ia falando.
Ally encarava Helena com uma expressão completamente triste enquanto ouvia aquilo, não esperava por algo daquele tipo, mas ver que Helena concordava com aquelas palavras a deixou ainda mais triste e o pior era perceber que ela também concordava com isso, era uma cruel realidade que ela não queria ter que admitir, mas precisava.
O termômetro apitou algumas vezes, Helena o tirou devagar e o entregou a Ally sem nem mesmo o olhar. A ruiva respirou fundo enquanto verificava a temperatura rapidamente, mas logo em seguida o deixou de lado e ergueu as mãos para tocar o rosto de Helena.
— Olha só você, parecendo um bebê frágil e chorão. — falou baixinho e sorriu para a ruiva.
Helena riu com tristeza, uma risada que logo em seguida se tornou choro.
— Se o amor te causa medo, Helena, você é forte o suficiente para enfrentar esse medo até que ele não te assuste mais. — falou baixo enquanto os polegares deslizavam pelas bochechas de Helena, secando algumas lágrimas. — Olha pra mim... Lá na cozinha tem uma garota incrível que se preocupou em vir aqui cozinhar especificamente o que você gosta com o único intuito de te ver bem, você acha difícil se acostumar com isso?
Helena negou com um aceno de cabeça.
— Ela não merece o pouco que eu tenho pra oferecer e esse pouco são só defeitos e traumas... — sussurrou como se isso fosse justificar tudo.
Alysson negou com um aceno de cabeça e inclinou-se um pouco para dar um beijo na testa de Helena.
— Se você se diminuir na minha frente mais uma vez eu jogo você lá fora na chuva. — ameaçou e isso arrancou uma risadinha de Helena. — Você é um grande exemplo de superação e adaptação, Helena. Saiu do seu lar e desbravou Boston com garra, ignorou o seu medo e se adaptou com tanta maestria que parece que vive aqui desde que nasceu, conhece esse lugar melhor do que eu. Você se adaptou e superou uma universidade, se adaptou e superou a um relacionamento tóxico, se adaptou a uma vida nova e agora tem mais um obstáculo, um pequeno, na frente, mais uma adaptação que vai te fazer um bem incrível, mais uma superação que vai ser mais fácil do que você imagina e você está com medo disso? Eu vou acabar mesmo te jogando na chuva pra você acordar, pelo amor de Deus, onde está o fogo mexicano?
— Se apagou na chuva que eu tomei ontem. — falou baixo como se a resposta já tivesse pronta há muito tempo.
Alysson franziu o cenho enquanto encarava Helena, Helena franziu o cenho enquanto encarava Alysson... A ruiva arqueou uma sobrancelha como se estivesse prestes a fazer algo, Helena entendeu.
— Não, não, não, não... — começou a repetir enquanto Alysson já se erguia e a puxava pelas mãos. — Foi brincadeira! — Helena falou mais alto enquanto puxava de volta impedindo que Alysson a levantasse da privada.
— Eu vou te jogar na chuva, Helena!
— Alysson!!! — quase gritou em tom meio choroso e foi vencida quando a ruiva conseguiu coloca-la de pé, estava fraca, não conseguia lutar contra. Mas ao invés de ser arrastada pela chuva, que com certeza era a vontade de Alysson, foi abraçada com força. — Você é tão cruel, pelo amor de Deus...
Alysson riu enquanto abraçava a mexicana.
— É pelo seu bem. — falou baixo e deu um beijo no ombro da amiga, afastou-se logo em seguida e segurou o rosto de Helena. — Não se deixe consumir pelo medo, eu estou aqui pra cuidar de você não estou? E a Amélia é uma pessoa incrível, quem mais largaria tudo, além de mim, pra vir cuidar de você?
Isso calou Helena e foi o suficiente para arrancar um sorriso sincero desta vez, um sorriso que dizia claramente um: Você está certa.
— Muito bem... Sente novamente. — mandou.
— Tão mandona... — sussurrou enquanto voltava a sentar-se na privada de onde havia acabado de ser arrancada a força.
— Pelo seu bem, você está péssima. — falou enquanto abria o compartimento de remédios, procurou o que precisava e pegou duas cartelas, destacou um comprimido de cada e os estendeu para Helena. — Toma. — mandou novamente e sem pestanejar mais uma vez, Helena simplesmente obedeceu, colocou-os na boca e foi para perto da pia usar a mão como concha para pegar água da torneira e levar a boca para ajudar a beber o remédio. — Você ainda tá com febre, mas não muito alta, isso deve resolver em conjunto com um banho quente que você vai tomar agora e o jantar que a Mia fez, ela colocou bastante gengibre e isso é ótimo para resfriados.
— Sim senhora. — falou de forma irônica e Alysson sorriu.
— Vou ajudar a Mia com o resto, não demore.
Helena apenas concordou com um aceno de cabeça enquanto via já a amiga sair do banheiro, não se preocupou e fechar a porta do mesmo, só foi para perto do cesto de roupas e começou a tirar a roupa que usava, estava mesmo com frio, por isso foi rápida em fazer isso para ir correndo para dentro do box onde ligou a água bem quente, antes de entrar embaixo da mesma só desamarrou os cabelos e os amarrou novamente de forma mais firme e arrumada, molhá-los naquele momento seria um grande erro para a sua saúde. Encolheu-se embaixo da água quente e soltou um suspiro pesado enquanto pensava nas palavras de Alysson, ela estava certa, porém ainda assim não era tão fácil assim, nunca foi na verdade. Lembrando-se que Mia e Alysson estavam a esperando para jantar, ela não se permitiu a ter um banho demorado, foi só o suficiente para limpar-se completamente, saiu praticamente correndo na ponta dos pés em direção a seu armário e a primeira coisa que vestiu foi um moletom acinzentado completamente manchado com diversos tons diferentes de tinta, vestiu uma calça também de moletom, mas preta e se deu por satisfeita. O banho a fizera sentir-se um pouco melhor e mais disposta do que antes, apesar de ter certeza de que se ela deitasse naquele momento ela dormiria com muita facilidade.
Enfiou as mãos nos bolsos do moletom e foi andando devagar, imediatamente ouviu a risada quase descontrolada tanto de Alysson quanto de Mia, não tinha a mínima ideia do motivo de elas estarem rindo, mas o som da risada delas trouxe uma sensação incrível para Helena, tanto que respirou fundo e sentiu-se aquecida e nunca sentira-se tão sortuda como estava sentindo naquele momento. Encostou-se no fim do corredor de onde já tinha uma visão das duas mulheres e sorriu de canto, sorriu ainda mais ao ver Alysson dançando com Vadia em seu colo. É, com certeza não era difícil de se acostumar a uma rotina daquelas.
Fim do capítulo
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Donaria
Em: 02/03/2021
Ola autora!!! me surpreendendo cada vez mais com sua historia...confesso que quando comecei a ler me deixei levar somente pelo nome striptease", achei que ia ter somente um monte de hot e ser bem escrita....e confesso que tive uma maravilhosa surpresa.. tem hot é bem escrita....mas não fica so nisso, tem enredo (e que enredo), é bem amarrada, os personagens são maravilhosos.. já quero uma Mia pra chamar de minha ...rsrsrsr...a personagem Helena é tão intensa, tão real...dá vontade de colocar ela no colo, mas ao mesmo tempo você mostra o quanto ela é forte. Enfim tó apaixonada pela historia...ansiando por mais capitulos .
HelOliveira
Em: 01/03/2021
Parabens por mais esse capítulo, foi tão real que dava pra sentir cada dor da Helena junto com ela...
Torcendo para que ela consiga superar para mais essa etapa.
Até o próximo
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