Oi, bebês! Tudo bem? Espero que sim...
Então, para quem não me acompanha no Twitter, eu informo que a mecânica de postagens vai mudar completamente a partir de hoje. Os capítulos serão bem menores, infelizmente, porém com a frequência será de capítulos quinzenais... Ou seja, daqui a 15 dias, no domingo novamente, vocês terão um novo capítulo. Eu não prometo que vou conseguir manter esse ritmo por causa da minha rotina, mas vou dar o meu máximo, espero que gostem dessa nova mecânica! Aproveitem o capítulo e até mais!
Twitter: Patty5hepard
Capitulo 21
O vento do fim de tarde trazia um conforto gostoso para Amélia. A Designer estava sentada em uma das cadeiras na varanda da casa de uma cliente que estava visitando naquela tarde, os braços estavam apoiados na mesa e os dedos deslizavam com certa rapidez pelo teclado do notebook bem na sua frente.
— Qual o prazo que você consegue me dar? — a mulher negra apareceu no campo de visão de Mia e nesse momento a Designer ergueu o olhar para encarar a belíssima mulher a qual era a sua cliente já fazia um tempo, não era o primeiro trabalho que realizava para ela.
— Por causa das suas exigências, nem tudo depende só de mim, mas eu vou ver o prazo correto com os fornecedores e te respondo isso com exatidão amanhã. — a morena respondeu com simplicidade e deu um sorriso para a mulher, principalmente quando ela colocou em sua frente uma xícara de café. — Mas creio eu que será entre quinze e vinte dias no máximo, Daisy.
Daisy deu um sorriso de canto satisfeito enquanto encarava a mulher bem na sua frente, a negra tinha um sorriso particularmente largo ao qual Mia sempre gostava de ver, olhos claros e cabelos longos e lisos que estavam sempre impecáveis. A mulher era uma advogada conhecida na cidade, era solteira e vivia com uma filha de 15 anos que era o oposto dela e era justamente por isso que Mia estava ali, trabalhando na reforma do quarto da garota.
— Eu confio em você plenamente, Amélia. Afinal, o trabalho que você fez no meu escritório é elogiadíssimo até hoje. — a advogada ergueu a xícara de café para Mia como se brindasse por isso.
A designer riu por breves segundos enquanto fechava o notebook.
— Eu sei, eu acabei de enviar os modelos para os fornecedores e vou ter uma resposta amanhã...
Repentinamente, o toque do celular soou em cima da mesa. Mia encarou o celular que não era seu e seguiu os movimentos de Daisy de pegá-lo para ver quem a ligava.
— Eu preciso atender. — a advogada explicou e Mia apenas acenou de forma positiva com a cabeça.
— Fique a vontade. — deu um sorriso para a mulher, mas logo ficou sozinha na mesa mais uma vez e olhou em volta, a varanda bem ventilada a fez respirar fundo como se quisesse sentir um pouco mais daquele vento, a vizinhança era extremamente calma, tanto que Mia só vira dois ou três carros passando pela rua desde que sentara ali. Olhou a hora no relógio em seu pulso e repentinamente pensou em Helena, coincidentemente estava perto da casa dela, 5 minutos de carro talvez? Olhou para o celular bem ao lado do notebook e pensou, por que não? Estava tão perto e já fazia mais de uma semana que o contato das duas se resumia apenas a telefonemas e mensagens. Assim, aproveitou a ausência de Daisy e pegou o celular, rapidamente procurou o contato de Helena para logo em seguida colar o telefone ao ouvido, precisou apenas ouvir três toques para em seguida um sorriso surgir em seus lábios quando ouviu a voz de Helena.
— Boa tarde, Helena. — a saudou enquanto ainda sorria, baixou o olhar. — O que está fazendo?
— Sinceramente? Estou com a bolsa de transporte da Vadia embaixo do braço enquanto procuro ela pela casa. — a Artista soltou um suspiro, mas riu logo em seguida. — Parece que ela sabe que eu quero levar ela ao veterinário.
Mia riu ao imaginar a cena.
— Por que vai levar ela ao veterinário, está tudo bem com a bebê?
— Ah, eu estou ótima, Amélia, muito obrigada por se preocupar comigo. — ironizou em tom brincalhão. Isso arrancou uma risada da Designer, mas ela não falou nada. — Ela está bem, é só precaução, exames de rotina que são feitos anualmente.
— Tão dramática. Você vai de que? Uber?
— Isso.
— Estou a cinco minutos da sua casa, vim na casa de uma cliente, você quer carona? — seu estômago se agitou na ansiedade de que Helena aceitasse.
— Não vai te atrapalhar em nada?
— Não, esse foi meu último compromisso do dia, estou completamente livre...
— Toda minha então... — a agitação no estômago de Mia piorou e ela pode jurar que aquela sensação era aquele clichê que todo mundo falava: borboletas no estômago. Ela riu por alguns segundos, riu de sí mesma com aquelas reações idiotas enquanto balançava a cabeça de forma negativa como se estivesse desaprovando isso.
— Chego aí em dez minutos. — só desligou quando ouviu ainda Helena falar que a porta estava aberta, desligou o celular com um sorriso pequeno nos lábios.
— Que sorriso de mulher apaixonada. — Daisy falou enquanto sentava-se mais uma vez de frente para Mia.
A designer riu enquanto erguia o olhar para encarar a cliente a qual com certeza já podia considerar uma amiga. Abriu a boca para falar, mas travou, na verdade não sabia qual era a resposta certa que ela deveria dar naquele momento, por isso mesmo decidiu negar com um aceno de cabeça.
— Não é isso, é só uma amiga precisando de carona pra levar a gatinha ao veterinário. — respondeu, mas imediatamente sentiu que era uma grande mentirosa e isso não lhe trouxesse uma sensação confortável, mas isso foi plenamente ignorado.
— Que pena, eu ia te convidar para ficar para o jantar. — a advogada fez uma expressão desapontada.
— Não se preocupe com isso, por que não na minha próxima vinda aqui? — arqueou uma sobrancelha enquanto já se erguia da cadeira. — Prometo que nesse dia eu virei sem quaisquer compromissos. — falou de forma completamente solícita, Daisy já se erguia e imediatamente as duas se despediam com um abraço bem encaixado.
— Combinado então.
As duas sorriram uma para a outra de forma cúmplice por breves segundos antes de se despedirem de uma vez e Mia enfim partiu sob os olhares de Daisy.
A Designer estava certa, fora uma viagem de pouco mais de 5 minutos até a casa de Helena, uma viagem tranquila e sem trânsito algum. Quando parou o carro em frente à casa dela fez questão de se olhar no espelho antes só para ver se tudo estava certo e enfim, saiu do carro. Os cabelos escuros estavam presos em um coque alto propositalmente desalinhado e com alguns fios soltos, usava um blazer azul marinho com mangas ¾ e botões dourados, por baixo uma camisa branca com listras horizontais da mesma cor do blazer e para completar uma calça jeans escura e um par de saltos altos da cor de sua pele.
Fora diretamente para a porta da casa e sem quaisquer hesitações fora a abrindo, fora recebia pelo silêncio total, fechou a porta com certo cuidado e bastou alguns passos para que tivesse a visão da sala e imediatamente viu Helena do outro lado do balcão da cozinha concentrada em escrever algo, logo ao lado dela em cima do balcão estava a bolsa de transporte onde Mia claramente via Vadia dentro.
Helena ergueu o olhar por breves segundos quando sentiu que não estava mais sozinha, o sorriso se formando em seus lábios fora completamente automático e largo enquanto voltava a baixar os olhos para focar no que fazia.
— Você está absurdamente linda. — a artista elogiou enquanto ainda sorria.
Mia sorriu com o elogio enquanto atravessava a sala sem muita pressa e ia para a cozinha onde Helena estava.
— O que está fazendo? — questionou enquanto se aproximava da Mexicana, abraçou-a momentaneamente por trás, deu um beijo no ombro direito dela e em seguida deu um no rosto antes de se afastar para se aproximar de Vadia presa dentro da bolsa de transporte. — Oi, bebê. — a gata miou em resposta, arrancando um sorriso terno de Mia.
— Assinando algumas coisas que a Ally deixou aqui mais cedo. — Helena respondeu com calma enquanto verificava se havia assinado tudo.
— Você não sabe o que você assina? — Mia questionou enquanto encostava-se no balcão e encarava Helena novamente, mas desta vez com mais atenção. A mexicana estava com os cabelos soltos do jeito que Mia adorava e vestia um vestido azul repleto de flores em sua estampa, o vestido tinha mangas curtas, uma gola em V e tinha toda uma linha de botões que começava na gola e terminava na altura das coxas onde se abria uma fenda e deixava parte das coxas de Helena expostas a depender da posição que ela ficava. Mas o vestido todo em sí ia até abaixo dos joelhos. — Meu Deus como você tá maravilhosa...
— Sinceramente eu não tenho a mínima ideia do que é isso, mas não me importo, confio cegamente na Ally e ela depois me explica. — falou como se isso fosse algo completamente bobo, mas logo em seguida riu com as últimas palavras de Mia e quando se certificou que estava tudo certo, afastou-se dos papeis só para se aproximar de Mia e já foi selando os lábios da morena em um selinho estalado. — Jantamos juntas hoje?
Mia acenou de forma positiva com a cabeça e se inclinou só um pouco para colar seus lábios nos de Helena novamente, desta vez deu-lhe um selo um pouco mais demorado que o primeiro.
— Pedimos pizza? — sussurrou contra a boca de Helena.
A mexicana sorriu contra a boca dela e concordou com um aceno de cabeça, definitivamente tinha coisas melhores na cabeça para fazer enquanto esperava a pizza chegar, realmente a ideia era perfeita.
— Agora vamos, falei para a Veterinária que estaria lá às 17h.
Apesar de a clínica veterinária não ficar muito próxima a casa de Helena, a viagem foi tranquila e passou-se basicamente com ambas as mulheres conversando amenidades enquanto Vadia perambulava por dentro do carro até cair no sono deitada no painel do mesmo, assim que pararam em frente a clínica, Helena voltou a prender a gatinha dentro da bolsa de transporte e as duas mulheres saíram lado a lado, Mia deixou para trás o seu blazer somente para ficar mais a vontade e bem menos formal.
— Ela lida melhor com viagens do que imaginei. — Mia falou enquanto andava ao lado de Helena.
— Ganhou coragem com o tempo que viveu na rua. — Helena respondeu enquanto parava em frente a porta de vidro da clínica onde havia uma pequena placa com os dizeres: Fechado.
— Está... — Mia mal teve tempo de comentar o status da clínica quando Helena bateu na porta algumas vezes com certa força e em seguida olhou para Mia.
— Fecha às 17h para atendimento gerais, mas ela fica aqui até tarde quase todos os dias.
— E você claramente tem atendimento exclusivo. — Mia pontuou enquanto cruzava os braços, Helena riu enquanto ajeitava a alça da bolsa de transporte sobre o ombro direito. — Basicamente todos os lugares que você já me levou até hoje, você é praticamente idolatrada.
Isso arrancou uma boa risada de Helena e um sorriso largo ficou nos lábios dela.
— Isso se chama simpatia, Amélia.
— O que você fez pra eles? Uma escultura? — Mia sorriu de forma divertida como se estivesse a acusando de algo.
— Está me acusando de suborno?
— Jamais. — Mia falou de forma falsa, mas deu um sorriso convencido logo em seguida, isso resultou em um empurrão por parte de Helena que fez Mia gargalhar enquanto dava alguns passos para o lado para voltar a se equilibrar.
Então, repentinamente do outro lado da porta apareceu uma bela mulher de cabeça raspada, mas com um sorriso largo no rosto que desviou a atenção de Helena de Mia.
— Vinte minutos atrasada. — a mulher, até então desconhecida por Mia, falou assim que abriu a porta. Ela vestia um pijama cirúrgico azul claro, porém a parte de cima era estampada com diversos desenhos de animais. Haviam algumas poucas tatuagens espalhadas pelos braços da mulher e uma no pescoço.
— Culpe exclusivamente o trânsito. — Helena pontuou de forma lenta, mas sorriu logo em seguida antes de dar alguns passos à frente para entrar na clínica. — Que bom te rever, Loren.
— Eu digo o mesmo, Helena. — as duas se cumprimentaram com um abraço que durou alguns segundos e isso realmente não passou despercebido por Mia assim que ela entrou logo depois de Helena.
— Essa aqui é a Amélia, mais uma tia para quem a Vadia se vende sempre.
Isso arrancou uma risada de Loren, que prontamente se aproximou de Mia para cumprimenta-la.
— É um prazer te conhecer, Amélia, fique a vontade, por favor. — trocaram um beijo rápido no rosto como cumprimento.
— Obrigada, Loren, o prazer é meu! — Mia falou de forma bem educada enquanto sorria de forma um pouco larga, era pura educação, no fundo estava um tanto desconfiada.
— Vamos, venham. — Loren falou logo após fechar a porta da clínica e sair andando. — Como está a minha pequena guerreira?
— Dorme vinte horas por dia e nas outras quatro ela come ração e rouba a minha comida. — Helena respondeu com seriedade como se isso fosse algo comum, isso fez Mia sorrir, andava a um passo atrás de Helena.
— Essa é a tradicional vida de um gato saudável. — Loren falou e riu quando chegou à entrada de sua sala, abriu a porta e deu passagem para que ambas as mulheres entrassem primeiro. — Coloque ela em cima da mesa, vamos ver como ela está. — falou enquanto entrava na sala e fechava a porta. A sala climatizada tinha uma mesa de mármore bem no meio, alguns balcões com gavetas, algumas plantas espalhadas para dar vida ao lugar, uma balança grande em um canto e outra menor em cima de um balcão e vários utensílios que Mia desconhecia. Em um canto mais afastado tinha uma mesa com um computador e vários utensílios de escritório, duas cadeiras na frente e uma poltrona do outro lado. — Amélia você pode sentar ali e ficar a vontade, Helena você fica comigo pra passar segurança a Vadia, você sabe como um lugar estranho assim pode deixar ela insegura.
— É claro. — Helena falou enquanto colocava a bolsa de transporte em cima da mármore assim como Loren havia solicitado. Olhou para Mia por um breve momento só para se certificar que estava tudo bem, a Designer já se dirigia até uma das cadeiras onde sentava-se com as pernas cruzadas de forma bem confortável.
Loren se ocupava em colocar luvas nas mãos com calma enquanto Helena pacientemente tirava uma Vadia completamente encolhida de dentro da bolsa.
— Te esperei na minha exposição. — Helena falou enquanto segurava a gatinha com cuidado, à mesma tentava a todo custo voltar para dentro da bolsa.
— Eu sei, eu tinha me planejado para ir, mas fiquei até tarde na cirurgia de um cachorro que foi atropelado, foi uma baita emergência. — explicou enquanto se aproximava e com todo cuidado segurava a gatinha. — Oi, guerreira. — falou baixinho enquanto a pegava no colo com cuidado e a aconchegava para acalmá-la. — Me dá esses petiscos. — apontou para a caixinha em cima do balcão logo atrás de Helena. Helena prontamente acatou o pedido. — Mas como foi? Deu tudo certo?
— Não foi como eu tinha planejado. — olhou para Mia novamente, referia-se a ela afinal. — Mas no fim foi tudo perfeito. — voltou a olhar para Loren logo em seguida e sorriu para ela.
— Isso é incrível, fico realmente feliz por você, afinal, você precisa de dinheiro para bancar a comida dessa gordinha. — Loren falou enquanto dava a volta na sala para colocar a pequena gatinha em cima da balança. Demorou alguns segundos para conseguir saber do peso exato e quando viu, riu. — Realmente bem gordinha, está com quase cinco quilos. Muito mais que da última vez.
Apesar de estar em silêncio e quieta, Mia não estava alheia à conversa de ambas as mulheres que pareciam ser muito mais íntimas do que ela havia imaginado. Os olhos estavam focados no celular onde ela digitava com certa rapidez uma mensagem, respondia aleatoriamente as mensagens que havia recebido durante o dia. Hora ou outra ela erguia o olhar só para ver as mulheres rindo juntas até.
— Então, vocês são...? — o tom de Loren parecia cuidadoso, isso fez Mia erguer o olhar por entender de imediato do que aquela pergunta se tratava, encarou ambas as mulheres, seu olhar se encontrou com o de Helena por breves segundos, ambas tinham sido pegas de surpresa com aquela pergunta. Mia sentiu aquele nervoso em seu interior e isso a deixou tão desconfortável que a fez se mexer na cadeira.
Helena notou isso.
— Somos amigas. — Helena falou de forma bem pontuada para Loren e sorriu em seguida, mas se sentiu repentinamente extremamente sem graça e disfarçou isso dando total atenção a sua gatinha. — Ah, eu notei que aqui pertinho da orelha dela anda aparecendo algumas falhas no pelo, olha só... — falou enquanto mostrava o lugar.
Loren tinha um sorriso pequeno nos lábios, em partes feliz pela resposta de Helena.
— Vejamos... Ela coça? — questionou enquanto verificava exatamente onde Helena havia indicado.
Amélia se remexeu na cadeira novamente, sentiu-se desconfortável diante aquela situação e um arrepio percorreu seu corpo, ela não soube dizer se foi pelo frio ou se foi pelo incômodo. Já não conseguia mais focar em seu celular, sua atenção estava focada em ambas as mulheres a sua frente e aquela sensação em seu interior, ela conhecia, ela conhecia bem demais e isso que a deixava desconfortável e extremamente incomodada por que ela não queria sentir aquilo, sequer tinha direito de sentir e ela não soube quantos minutos se passou com ela se reprimindo ali sentada, porém, bastou só uma simples pergunta para que ela chegasse ao seu limite.
Loren estava extremamente concentrada no que fazia, retirava sangue da patinha de Vadia com todo o cuidado que conseguia, a gatinha era segurada por Helena, mas estava bem quietinha apesar de soltar miados constantes.
— Então... Quando vamos marcar aquele jantar? — Loren questionou em tom mais baixo do que o normal, como se aquilo fosse um segredo só seu e de Helena.
— Ela já tem companhia para jantar. — a voz de Amélia se sobressaiu repentinamente e em um tom que Helena até então nunca havia ouvido. Helena a olhou de forma repentina, ambas as sobrancelhas arqueada e o olhar surpreso, seu peito chegou a doer tamanha fora a força que seu coração batera naquele momento. Porém, Mia não retribuía seu olhar, pelo contrário, tinha um olhar absurdamente sério e completamente fixo em Loren. Mia sentia-se tão irritada com aquela situação que sentia seu corpo formigando e não era uma sensação boa.
Loren a encarou surpresa e principalmente confusa, sem entender de fato o motivo daquilo, sentiu-se principalmente completamente intimidada com aquele olhar que recebia de Amélia. Loren olhou para Helena logo em seguida, as duas se encararam por breves segundos e por um momento ninguém ali soube o que falar ou como reagir, mas Mia não recuava, o olhar sério mantinha-se tão fixo em Loren que a veterinária sentia que a qualquer momento iria ser perfurada.
Ela pigarreou e deu as costas, se afastando de vadia e de Helena já com o sangue da gatinha coletado para fazer os devidos exames de rotina.
— Bom, a vista grossa a Vadia está saudável e muito bem cuidada, você deve dedicar mais atenção a essa falha no pelo dela, se tiver algo a mais nos exames de sangue eu peço para você voltar com ela, os resultados saem em três dias, eu entro em contato com você quando saírem, ok? — Loren falou ainda de costas para Helena enquanto separava a coleta de sangue da felina e rotulava tudo com o devido cuidado, em seguida virou-se para Helena enquanto já ia retirando as luvas. — Pode deixar que nossa pequena guerreira volte pra bolsa.
Dito e feito, assim que Helena soltou a gatinha a mesma fora praticamente correndo abaixadinha direto para a bolsa aberta em cima da mármore, Loren se aproximou com os petiscos para agradar a gatinha, os petiscos foram aceitos de muito bom grado.
— Bom... — Loren começou e olhou brevemente para Mia por puro instinto, os olhos de Designer continuavam cravados em sí de uma forma que a deixava cada vez mais desconfortável e só fazia ela ter absoluta certeza de que aquelas duas não eram apenas amigas. — Já estão liberadas. — findou sua fala e deu um sorriso sem mostrar os dentes enquanto voltava encarar Helena.
O clima ficou ainda mais estranho e isso fez Mia sentir-se mal mais uma vez, mentalmente só conseguia repetir as palavras: “Porr* e merd*.” Enquanto se xingava sem parar por ter dado aquele show quando nem sequer tinha direito para tal. O que Helena ia achar? Seu coração acelerou dentro do peito e de repente ela se sentiu um tanto enjoada e por isso mesmo ergueu-se.
— Eu vou esperar lá fora, preciso fazer uma ligação. — falou enquanto já se erguia e não esperou resposta para sair andando e em segundos sair de uma vez daquela sala que parecia sufoca-la.
Quando Helena e Loren se viram a sós, as duas se encararam em silêncio por alguns segundos, Loren riu de Helena por alguns segundos enquanto deslizava as mãos em meio à pelagem sedosa de Vadia.
— Só amigas, Helena? — ela questionou em um tom divertido que arrancou uma risada da mexicana.
— É, acho que nós duas estamos nos iludindo com isso. — falou com sinceridade e em um tom um tanto triste enquanto desviava o olhar, balançou a cabeça de forma negativa. — Sinto muito por isso, eu não esperava.
Loren negou com um aceno de cabeça.
— Pela reação, acho que nem ela esperava. — a veterinária arqueou ambas as sobrancelhas, mas deu de ombros logo em seguida. — Não se preocupe com isso, ela parece ser incrível, além de ser absurdamente linda.
Helena voltou a encarar a veterinária com um sorriso pequeno no rosto, mas riu mais uma vez logo em seguida antes de dar a volta na mesa só para abraçar a mulher por alguns segundos como despedida. A conheceu quando resgatou Vadia, mas devido a gravidade do estado em que a gatinha fora encontrada, os dias que ficou internada e as diversas visitas depois que tivera que fazer a clínica, acabou aproximando as duas mulheres que sempre em meio a conversas flertavam sem compromisso e sempre com a promessa de um jantar, apesar de a promessa nunca ter saído do papel por causa do choque de horários da rotina de ambas as mulheres.
Elas saíram da clínica ainda conversando amenidades, Mia estava encostada no carro realmente ocupada em falar no celular, resolvera distrair a cabeça com trabalho, por isso mesmo ligava para fornecedores apenas para reforçar prazos de entrega, era uma ótima forma de tentar se distrair do que havia acabado de fazer.
Helena vinha em sua direção com um pequeno sorriso no rosto, um sorriso até um pouco convencido e absurdamente irritante, Mia pensara, ela parou bem em sua frente.
— Vamos? — questionou em tom baixo, só por precaução já que Mia ainda estava com o celular no ouvido e Helena não queria atrapalhar em nada.
Mia apenas acenou de forma positiva com a cabeça.
— Me manda as especificações por email e depois que eu revisar eu te digo com precisão qual será, te dou a resposta até amanhã. — falou enquanto se afastava do veículo só para dar a volta no mesmo para poder entrar, assim que deu a volta e já ia abrindo a porta a ligação já havia sido encerrada, entrou no carro e logo em seguida guardou o celular próximo ao câmbio de marcha do veículo onde havia um compartimento justamente para isso.
Havia um clima um tanto estranho entre elas e isso só deixava Mia ainda mais irritada do que estava, nem mesmo olhou mais para a clínica antes de dar partida no carro e sair dali de uma vez por todas.
— Nós vamos conversar sobre o que aconteceu? — Helena foi direta, em um tom completamente ameno que mostrava que ela não estava incomodada com a situação, ao menos não tanto quanto Mia.
A designer negou com um aceno de cabeça.
— Definitivamente não. — respondeu de forma direta.
A resposta fez Helena rir por breves segundos, mas ela apenas acenou a cabeça de forma positiva enquanto abria o zíper da bolsa de transporte em seu colo para a gatinha poder ficar livre, Vadia miou por breves segundos, mas manteve-se quieta dentro da bolsa.
— Já estamos indo pra casa. — Helena a tranquilizou enquanto a mão esquerda tocava a pelagem escura com carinho e logo começava a acariciar bem abaixo do queixo da gatinha, do jeito que sabia que ela gostava.
Repentinamente, o toque do celular de Mia preencheu todo o carro. O mesmo estava conectado ao bluetooth do carro, o fazia automaticamente toda vez que Mia ligava o veículo. Ela olhou em direção ao som do veículo só para ver o nome do responsável pela ligação.
— Oi, Fred. — saudou o irmão assim que o dedo apertou o botão de ligação que ficava no volante do carro.
— Tá trabalhando? — a voz de Fred soou por dentro do veículo.
— Não, eu estou com a Helena indo pra casa dela. — respondeu enquanto deslizava as mãos pelo volante com calma.
Helena, apesar de ouvir a ligação, mantinha-se quieta, mas os olhos fixos em Mia simplesmente por que amava ver ela dirigindo.
— Vou ter que me desculpar com a Helena por interromper o encontro de vocês então. — o irmão suspirou, isso fez Helena sorrir, ele parecia bem descontente com isso. — Estamos precisando de você aqui.
— Ela me compensa depois. — intrometeu-se na conversa enquanto um sorriso maior se formava em seus lábios.
Mia sorriu com as palavras da mexicana e Fred riu do outro lado da linha.
— Oi, Helena. — o homem a saudou.
— Olá, Fred. — o saudou de volta.
— Por que estão precisando de mim? Alguém doente? — Mia interrompeu a interação dos dois.
— Um pouco pior do que isso. O Roudeau tá vindo.
— Filho da puta. — Mia reclamou e balançou a cabeça de forma negativa. — Tudo bem, eu vou deixar a Helena em casa e vou direto.
— Certo. Helena, sinta-se bem vinda pra vir aqui quando quiser, até a próxima.
— Obrigada, Fred. Até a próxima. — a mexicana se despediu enquanto se ajeitava um pouco e se encostava na porta ao seu lado para encarar Mia melhor enquanto a chamada era findada. — Quem é Roudeau?
— É um crítico bem famoso da cidade, basicamente todos odeiam ele por que ele é exigente como nenhum outro. — Mia explicou com calma. — Ele sempre aparece de surpresa nos restaurantes, mas o Fred tem amigos que avisam ele antes da visita acontecer, apesar de isso nem sempre dar certo. Então sempre que sabemos antecipadamente da visita dele, eu vou ajudar na cozinha por que assim o trabalho fica mais organizado e dinâmico e ele também nota isso. As críticas dele que saem no jornal são muito importantes, apesar de ele ser mesmo um filho da puta.
— Tudo bem, vale a pena sacrificar a nossa noite por isso. Não aceito menos do que uma crítica completamente positiva. — Helena implicou e Mia deu uma pequena risada, enfim se sentindo bem mais leve desde que saíra da clínica.
— Eu sinto muito mesmo...
— Nada de se desculpar, Amélia. Só vá. Teremos outras noites. — refutou a morena e olhou em seguida para a gatinha em seu colo, ainda deitada dentro da bolsa de transporte e alheia a conversa por causa do carinho que recebia. — Hoje vou focar minha atenção na Vadia, recompensa por ter sido tão boa gatinha.
— Sabe que às vezes é irritante o fato de você ser tão compreensiva? — Mia falou enquanto calmamente parava em um sinal, olhou para o vermelho por alguns segundos antes de desviar o olhar e esticar a mão direita para tocar Vadia, coçou com a ponta das unhas a cabecinha peluda.
— O que você queria que eu dissesse? — Helena questionou enquanto agora olhava para a mão de Mia. — Não vá, Amélia, eu quero foder com você a noite toda, você não pensa nas minhas necessidades? Só as suas importam?
Mia deu uma gargalhada que durou alguns segundos, Helena acabou rindo junto.
— Não exatamente, só quero dizer que você às vezes pensa mais nos outros do que em sí mesma. — Mia a corrigiu enquanto voltava a sua atenção para a estrada.
Helena ficou em silêncio após ouvir aquilo e chegou até mesmo a franzir o cenho, não por que discordava das palavras de Amélia, mas sim por que aquela era uma verdade grande demais.
— Força do hábito. — falou em tom mais baixo e deu de ombros.
As duas ficaram em silêncio por alguns minutos, não era desconfortável de qualquer forma, Mia dirigia tranquila e só viera parar novamente quando estacionou o veículo bem em frente à casa de Helena. Ergueu a mão direita e segurou a de Helena devagar, entrelaçando os dedos finos aos dela com cuidado antes de puxar a mão da mexicana para perto. Beijou-lhe o dorso com todo carinho.
— Não tenha medo de ser um pouco egoísta às vezes, Helena. Eu não vou te repreender por isso.
Helena sempre se desmontava inteira quando sentia em cada movimento de Mia, todo o carinho que ela tinha por ela, só aquele beijo em sua mão fez seu coração acelerar de uma forma avassaladora, a olhava em silêncio, sem graça e ao mesmo tempo hipnotizada pela morena. Sorriu sem mostrar os dentes quando ouviu as palavras dela.
— Eu sei que não. — falou baixo. Não, ela não sabia. Mas inclinou-se em direção a Designer e deu-lhe alguns beijos demorados no rosto, próximo aos lábios. — Boa sorte com o crítico.
Mia sorriu de canto enquanto soltava a mão de Helena.
— Cuide bem da Vadia. — falou em tom terno e antes que Helena saísse do carro, as duas se encararam por alguns poucos segundos, aquele olhar que não precisava de palavra alguma, uma despedida silenciosa que deixava bem claro que as duas se veriam em breve.
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Estava encolhida no canto do sofá do consultório, Samantha estava na mesma poltrona de sempre e as duas estavam em silêncio já fazia alguns minutos, Helena pensava muito bem em todas as coisas que percorriam a sua mente. Não havia conseguido dormir desde o dia anterior após aqueles momentos que tivera ao lado de Amélia.
— Você precisa conversar comigo, Helena. — Samantha pontuou e Helena ergueu os olhos avermelhados para poder encarar a mulher.
— Eu sei. Mas eu não sei o que falar, quer dizer... É surreal. — Helena franziu o cenho e ajeitou-se um pouco. — Eu não consigo ser egoísta.
— Ser egoísta com a Amélia significaria demonstrar seus sentimentos de passar mais tempo com ela.
Helena deu de ombros.
— Isso é uma questão boba, não deveríamos estar falando sobre isso. — reclamou.
— São essas questões bobas que completam todo um problema gigante, Helena. Todas as ações da Amélia que, de alguma forma, demonstram que ela gosta de você simplesmente te apavoram. — Samantha pontuou de forma mais precisa, como se aquilo fosse algo que Helena precisasse saber disso a todo custo. — É notório que você gosta de toda a atenção da Amélia, dos cuidados, da preocupação e até mesmo do ciúmes, porém, você mesma se autosabota por isso, como se estivesse se castigando por gostar disso.
Silêncio por alguns segundos, as duas mulheres se encararam nesse meio tempo, Samantha tinha uma expressão de compaixão que fazia Helena ter vontade de chorar, dava-lhe a certeza de que o que ela iria falar a seguir não era algo bom.
— Você tem mais medo do amor, do que da dor, Helena. — comentou e se ajeitou um pouco na poltrona para poder gesticular melhor com as mãos o que ela pensava. — O fato de se sentir bem cuidada, de sentir algo vindo da Amélia e pela Amélia, te apavora tanto que faz você se culpar. Eu tenho certeza de que se ela não te tratasse tão bem, você aceitaria isso com muita facilidade.
— Está dizendo que eu gosto de ser mal tratada? — Helena questionou com certo tom de desdém.
Samantha balançou a cabeça de forma negativa.
— Estou dizendo que seu agressor marcou em você que ser mal tratada é muito mais normal do que ser amada. Que inconscientemente é mais familiar para você...
— Ser tratada como um lixo. — sussurrou. Seu olhar se tornou vazio e ficou fixo em um ponto qualquer, por algum tempo ela se perdeu de sí mesma. Ouvir aquilo doeu tanto que foi como sentir todos os socos que já levara de Trevor, a atingindo de uma vez só.
— Helena. — a psicóloga a chamou de forma firme, naquele momento foi o suficiente para trazer Helena a realidade. A artista a encarou com certa confusão, notou a visão embaçada e só então notou que chorava, mas não percebeu quando havia começado. — Calma. Não sinta como se fosse o fim, não é. Infelizmente isso é algo normal para mulheres que sofreram abusos como você, é extremamente conturbado, você se adaptou a dor, ao abuso, é por isso que você sente mais medo do amor. Mas Helena, isso não é o fim, você está aqui a procura de ajuda e eu estou aqui para ajudar você.
Fora a primeira vez desde que Helena havia começado a terapia, que ela simplesmente imaginou que ela não tinha mais como ser ajudada, ela havia chegado ao fim do poço. A terapia daquele dia acabou mais cedo, ela não conseguiu mais falar absolutamente nada e nem mesmo ouvir, mais uma vez se perdeu. Saiu do consultório com a mente longe, não importou-se com a chuva e muito menos se importou com a distância do consultório para a sua casa. Só andou, a mente anuviada com tudo o que havia ouvido e estava daquele jeito por que sabia que era verdade, ela sabia e sentia em cada parte de seu ser o medo que ela tinha de toda a atenção que recebia de Amélia, de todo o sentimento de cuidado e de amor, tinha tanto medo que se recusava a acreditar que Mia sentia qualquer coisa a mais assim como ela estava sentindo. As gotas de chuva se misturavam com suas lágrimas com facilidade enquanto ela andava, a cabeça baixa, os passos lentos, a chuva forte, seu corpo tremeu com o frio, mas isso não a afetou, afinal, estava acostumada com a dor.
Fim do capítulo
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viinha
Em: 26/02/2021
Lembro que li a uns 2 anos atrás alguns capítulos e não acompanhei mais por medo de não ter um final,fiquei muito feliz quando vi muitos capítulos novos e resolvi ler do início,fascinada por cada capítulo,apaixonada pela história e sempre fico agoniada nas partes do Trevo,parabéns autora pela incrível história ansiosa para os próximos capítulos bjus se cuida @>>---
Resposta do autor:
Pode ficar tranquila e continuar lendo por que vai ter final sim e o final não ta tão distante.
Fico feliz mesmo que você tenha voltado a ler e espero que não desista!
Até o próximo capítulo!
Aloha
Em: 15/02/2021
Oi autora!
Nao costumo comentar mto (eu sei...falha minha...), mas quero dizer que gosto muito dessa história! Acho o enredo bem diferente e profundo! Me cansa um pouco as que sempre envolvem traições e o tipico "estou gravida do meu ex". A densidade emocional das personagens e a complexidade de cada uma é o mais incrível dessahistoria! Parabéns pela escrita, criatividade e sensibilidade!
Vou continuar acompanhando muito curiosa com o que vai se desenrolar!
Bjs!
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