Vanessa olhou assustada quando Inês trouxe pessoalmente os sanduiches que cheiravam de uma forma indescritível, como se o aroma dos temperos invadissem todo o ambiente, no entanto logo pode perceber que um cheiro suave, mas, ao tempo doce se sobrepunha aos dos condimentos, levantou o nariz para cheirar o ar e percebeu que todo o corpo de Inês cheirava a lavanda, encarou os olhos negros e foi como se o tempo parasse e tudo estivesse acontecendo em câmera lenta.

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- Não se preocupe, tudo vai permanecer igual depois dessa conversinha que vamos ter...

- O que você quer Inês?.

- Quero me revelar, acho que merece. Vanessa, passei anos alimentando minha força do medo das crianças, aquelas que não querem dormir a noite, minha escolha sempre foi aleatória, podia ser qualquer uma, então, em uma das minhas andanças eu senti você, senti que sua energia era a mais pura e forte de todas as crianças que já tinha passado por minha vida, e eu queria, precisava dela...entrei pela janela como uma borboleta azul...pousei no seu ombro e você me acariciou, com tanto carinho que meu coração apertou, resolvi te testar, me transformei em jacaré, uma das formas que posso me transformar e você acariciou o meu rosto e me abraçou...eu chorei, não estava acostumada com carinho, geralmente as crianças sempre se apavoravam mesmo com a borboleta azul, então, você me olhou nos olhos e me disse "você é minha amiga, então, não importa como você é".

- Claro...tinha certeza que já tinha te visto antes...devia ter o que, um sete anos?.

- Cinco na verdade.

- Espera, você me disse na época que era...a Cuca.

- Sim, e sou, e você...é uma de nós, você não é totalmente humana Vanessa.

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      A morena passou a mãos nos cabelos, buscando as lembranças em sua memória, foi ai que veio nitidamente a cena, uma lágrima da cuca caiu no seu pulso e apareceu uma espiral e um par de asas que iluminaram o quarto, mas, a marca foi esvanecendo até sumir totalmente.

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- Seu pai, o biológico é o anjo Liriel, um dos produtores do queijo do céu, já ouviu falar?.

- Mas isso é um folclore...a lenda do "Queijo do Céu" tornou-se popular em procissões na região nordeste, pelo que sei trata-se de um queijo feito por anjos e que, só pode ser servido aos maridos que foram fieis às suas esposas ao longo da vida.

- Então minha querida, não é folclore...como também não sou, e não me olhe tão espantada assim, sua mãe teve apenas um encontro com um anjo e você nasceu dele.

- Quer dizer que Léo?.

- Não...essa é totalmente humana, o seu embrião já estava lá quando sua irmã foi concebida.

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      Vanessa sentiu tontear, era muita informação para um único dia.

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- Mas, porque não tenho asas?.

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Inês riu e a gargalhada encheu todo o ambiente.

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- Isso sim é uma lenda, quem disse que todos os anjos tem asas?.

- Porque está me contanto tudo isso...eu...

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      Mas em um estalar de dedos tudo tinha voltado a normalidade, Inês estava lá, aparentemente apenas deixando os sanduiches que estavam quentinhos e cheirando muito bem, depois que saiu o cheiro de lavanda permaneceu no ar apenas para Vanessa. Após cinco minutos Inês voltou trazendo as batatinhas, os sucos e os molhos, em seguida sorriu e falou.

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- Espero que gostem dos sanduiches e dos sucos, voltem sempre.

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      Vanessa olhou dentro dos olhos de Inês tentando encontrar mais alguma informação, e para sua surpresa ouviu claramente sua voz  ressoar dentro da sua cabeça.

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- Você sabe muito bem que Liz não é a sua alma gêmea.

- Você é??.

- Claro que não sua boba, me veja apenas como uma madrinha, e pare de me encarar que sua namorada está achando que está hipnotizada com minha beleza.

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      Van parou de encarar a Cuca e voltou os olhos para Liz.

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- Então amor...acho que está precisando cuidar melhor desse pé, vou te levar todos os dias na fisioterapia e no trabalho, precisa evitar andar de moto.

- Van, sua vida é tão corrida, não quero te atrapalhar em nada.

- Que é isso Liz, eu faço questão, amanhã à noite vou fazer a trilha noturna porque já combinei e depois disso vou te ajudar com esse pé e não adianta reclamar, viu mocinha?.

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      Liz acenou e logo a garçonete de cabelo azul trouxe a conta e sorrindo não pode deixar de comentar.

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- Você parece com uma personagem de um filme...

- Eu sei, "Azul é a cor mais quente", não é?, sim, várias mulheres me disseram isso e lamento ter que decepcionar mais duas, sou casada com um homem, temos dois filhos gêmeos, Miguel e Rafael de três anos, estranhamente a cor azul dos meus cabelos não é tinta, segundo meu médico deve ser apenas uma reação a alguns medicamentos que tomei.

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      Vanessa olhou em direção a uma parede e viu que a Cuca estava encostada rindo internamente do que tinha feito, Van sorriu e soltou mentalmente um "debochada" para Inês, seguido de um risinho, em seguida voltou-se para prestar atenção a Liz e a garçonete, achando a conversa entre as duas bastante divertida.

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- Entendi.

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      Liz quis dizer que o fato dela ser hetero não mudava em nada a vida dela e menos ainda de Vanessa, mas, acreditou que era melhor silenciar para não soar como uma grosseria, constatou que talvez a moça tenha levado algumas cantadas de algumas clientes e por isso foi logo explicando que era casada. Do outro lado Vanessa sentiu que em algum momento Liz e Emma ficariam juntas, pois foi preciso apenas um apertar de olhos para sentir isso, em seguida conseguiu ver um cordãozinho de luz que uniam os umbigos de ambas e sorriu abertamente, pois sentia que o "pra sempre" com Liz jamais se concretizaria.

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      Após pagarem a conta e encerrarem a conversa, as duas foram embora, e quando chegaram na casa de Liz tinham ambas esquecido o assunto, estavam de mãos dadas admirando a beleza da lua cheia da enorme varanda, depois entraram e se amaram de forma delicada e romântica. Em estado de total encantamento Vanessa sorriu ao ver Liz adormecida em seus braços, estava sem sono e precisava de água, afastou delicadamente o corpo quentinho e seguiu para a cozinha vestida apenas com a longa camiseta que lhe cobriu a nudez. Pegou uma caneca e se serviu de água, mas, um susto fez com que se afastasse, dentro da imagem viu o rosto de uma moça belíssima, seus olhos eram penetrantes e combinavam com perfeição com a pele branca e os com os cabelos ruivos, aos poucos ouviu a voz de Inês.

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- Veja essa imagem como um presente meu, esta é Rafaella, sua alma gêmea.

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      Vanessa sentiu um leve tremor, em seguida desmaiou e quando levantou tinha esquecido de Rafaella, seu mentor espiritual achou que era melhor apagar a lembrança, afinal não era o momento dessa revelação.

      O dia seguinte chegou e os primeiros raios da manhã despertaram as duas que haviam dormido abraçadas, após o gostoso café da manhã, tomaram banho juntas e seguiram em direção as suas vidas.

      A mãe de Vanessa sentiu durante o dia todo o coração apertado, mas, achou que devia ser pelo fato de Leonarda estar presa e pela discussão acalorada que tivera com a filha, sendo inclusive proibida de visita-la no presídio, Léo a acusara de sempre gostar muito mais de Vanessa, o que era uma verdade indiscutível, o amor que tinha por essa filha era diferente, talvez seja por que no fundo sentia que ela era fruto de um amor fugaz que passou em sua vida, mas, deixou além de uma lembrança a concretização dessa amor em sua filha Vanessa.

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- Mamãe?.

- Oi filha, desculpe, nem vi que chegou.

- Hoje a noite vou a trilha, a senhora está bem?, se precisar de mim, não vou...

- Não precisa filha, pode ir, estava aqui pensando na Léo, espero que sua irmã um dia crie juízo.

- Vai criar mãe...você vai ver.

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      A morena saiu deixando a mãe com suas lembranças, depois trocou de roupa, jantou e após a rápida despedida dos pais seguiu em direção a trilha, estacionou o carro, pegou a garrafa de água e bem de longe viu o pequeno grupo que se formava perto da estrada que daria em uma linda cachoeira, sorriu quando viu que alguém vinha em sua direção e reconheceu que era Cris.

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- Oi Vanessa, que coincidência, chegamos juntas, queria te pedir desculpas por aquele dia, como ainda falta muito para a caminhada começar, aceita ir comigo até a minha cabana?, assim tomamos um chocolate quente e voltamos logo, não quero perder nem um quilômetro sequer, estou muito animada.

- Eu não sabia que gostava trilhas, se soubesse tinha te chamado para outras, temos ainda uma hora, antes ainda há a meditação, mas olha...quer saber?, temos tempo, vamos sim tomar o chocolate.

- Que bom, pensei que não fosse querer minha amizade, desculpa eu confundi tudo...não sei o que me deu, eu me apaixonei por você e não soube lidar com isso...

- Vamos conversar sobre isso também, já se inscreveu para poder ganhar o kit?.

- Claro...

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     Cris falou mentindo, na verdade estava seguindo Vanessa há dias esperando o momento certo de estar sozinha com o objeto da sua paixão, estava resoluta em ter uma noite com Vanessa nem que fosse através da violência, e foi naquela cabana que deu o bote, estava com muito desejo e após ter novamente a negativa da sua lascívia,  avançou para cima rasgando a roupa de Van, machucando, ao mesmo tempo em que arranhando seu corpo e gritando como um animal predador, e foi com tanta força que jogou a vítima contra a parede, que seu ato causou um desmaio, e ela aproveitou da ocasião para se satisfazer, quando Vanessa voltou a si estava completamente atordoada, mas, ainda viu que Cris lambia seu sex* com sofreguidão, respirou fundo e ainda conseguiu dizer com uma réstia de voz.

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- Cris, não...por...favor...

- Eu te amo Vanessa, goz* na minha boca...

- Não...vou conseguir...

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      Vanessa falou e desmaiou novamente, naquele instante o coração já enfraquecido por uma doença que não sabia a existência, parou simplesmente de funcionar. Cris assustada ao ver a morena morta em sua cama, num ato de desespero e raiva, esfaqueou o corpo e com o resto de forças que tinha, recompôs Vanessa e a abandonou em um ponto para ser encontrada pelo grupo da trilha, e ao redor de seu corpo milhares de borboletas azuis sobrevoavam.

Fim do capítulo