Capitulo 4 - Encontro inesperado
Isabela
Naquele final de semana praticamente me transformei em uma stalker profissional. Não saí do instagram da Naomi. Vi que publicou fotos no feed em um treino de ciclismo, mais tarde outra foto, agora com a noite em um restaurante. Percebi que os seus stories também eram bem movimentados, principalmente com fotos de café. Aparentemente era tão doida por café quanto eu, sorri com a constatação de que tínhamos isso em comum. Ao mesmo tempo, não pude deixar de me sentir extremamente perturbada. Sentia saudade de algo que não existia e que não iria acontecer. Queria vê-la, conversar, de alguma forma mantê-la por perto, sem absolutamente nenhuma noção do que isso significaria.
Para minha sorte, o final de semana passou voando entre leituras, muito estudo, xícaras de café e acessos ao instagram para ver o que Naomi andava fazendo. O perfil dela tinha um monte de seguidores e as fotos eram cheias de comentários, a maioria elogios ao corpo, à postura, às conquistas no esporte. Pelo que vi ela adorava ser bajulada. Não posso dizer que sou muito diferente, no meu perfil a maioria dos homens e mulheres, tentavam chamar a minha atenção de alguma forma, motivo pelo qual fechei meu perfil e passei a ser mais seletiva na definição de quem acessa as minhas postagens na rede.
No início da manhã de segunda, lá estava eu no estágio tentando focar o máximo possível nos pacientes e no estudo dos casos. A minha futura profissão seria uma desafio diário, cada caso era único, cada pessoa é única. Não existe receita de bolo, teria que absorver o máximo de aprendizado possível, enquanto havia mentores por perto. Logo, estaria por conta própria, a formatura seria no final do ano. Não pretendia abrir um consultório nem nada do gênero. Quando me formasse tentaria direto a residência em cirurgia pediátrica e continuaria atendendo em unidades básicas de saúde de forma voluntária.
Saí do hospital já passava das três da tarde. Cheguei em casa, fiz um lanche e fui para a academia que tínhamos em casa. Após o treino voltei a estudar, teria prova no dia seguinte. Estava concentrada nos estudos quando meu celular indicou uma nova notificação. Era uma mensagem da Juliana no direct do Instagram. Pensei imediatamente em não responder, afinal estava estudando para uma prova difícil e não tinha tempo para ficar de papo furado. Imediatamente lembrei de Beatriz, só poderia ser por incentivo dela que a menina teve a petulância de me chamar para sair. Sim, me chamou para sair, não aguentei a curiosidade e visualizei a mensagem, mas não respondi. Azar o dela, ia ficar aflita, assim como fiquei sem resposta da Naomi. Aliás, até hoje sem resposta. Acho que ela pensou que após o nosso encontro no parque aquela mensagem já não tinha mais validade.
A noite caiu, parei os estudos para jantar com meus pais. Logo depois minha irmã ligou, ficamos uma hora inteira conversando por vídeo, sentia muita saudade dela, éramos um trio e tanto quando nosso irmão estava vivo. Apesar da diferença de idade, Marina era muito ligada a nós e me atrevo a pensar que fugiu, pois sofreu tanto quanto eu, já que era a mais velha e sentia-se uma segunda mãe. Marina é advogada, assim como meu pai. Hoje trabalha na Advocacia Geral da União, servidora pública efetiva, lotada na superintendência do Rio de Janeiro, capital. A família inteira era puro orgulho dela. Não foi fácil chegar a essa posição e ao que tudo indica ela terá uma grande carreira no órgão.
Durante a conversa com a minha irmã, contei que havia conhecido uma mulher que me chamou muita atenção, mas era proibida. Mostrei o perfil da Naomi e contei a história dos nossos dois únicos encontros. Recebi como conselho dar uma chance para a menina que estava afim de mim, Juliana, e esquecer Naomi, apesar de ter achado ela incrivelmente linda e uma excelente candidata a cunhada.
- Mana, este tipo de mulher é perigosa. Se você se aproxima, não tem escapatória. Melhor essa loira estonteante evitar ao máximo, sabe por que? Ela não vai resistir, mana. Se você tomar a iniciativa ela não vai deixar passar um mulherão como você e aí é que mora o perigo. O terceiro elemento dessa equação, a noiva.
- Eu sei. Mas nem por isso vou sair com alguém que não me desperte nada.
- Como você sabe se nem a conhece?
- Olha, já a vi muitas vezes na faculdade, em outros lugares com os nossos amigos, nunca tive a menor intenção ou desejo de me aproximar. Posso dizer que a conheço muito mais do que conheço a Naomi.
- Pensando por este ponto de vista, você tem razão, mas não tira pedaço de você se divertir de vez em quando. Mudar o foco ajuda. Neste caso, você precisa muito mudar o foco. Eu não quero você sofrendo por ter sido rejeitada. A criatura é linda, parece ser realmente interessante, mas como você mesma disse, já tem dona. Esquece. Cai fora.
Minha irmã era sempre tão “delicada”. Achava-se a dona da razão devido aos seus 8 anos de diferença de idade. Despedi-me de Marina e fui dormir pensando no que ela falou. Naomi era um terreno perigoso e que não saberia caminhar, poderia cair e me machucar com facilidade. O melhor a fazer era só admirar mesmo, mas não forçar nenhuma aproximação.
Dias se passaram, consegui obter êxito nas duas provas que tive naquela semana. Os treinos de corrida estavam indo bem. Fiquei feliz com os elogios que recebi do meu treinador. Após a bronca por ter corrido 4 km a mais no final de semana, passei os demais dias cumprindo à risca tudo que foi planejado na minha planilha. No final da semana seguinte, voltamos a fazer um treino longo, terminando no Ibirapuera. Dessa vez não encontrei Naomi. Estava um pouco frustrada, mas era melhor assim.
Naquele final de semana resolvi dar uma chance a Juliana e marcamos de ir a um pub na Vila Mariana. Acabei me atrasando e cheguei ao local meia hora depois do horário combinado. Pobre Juliana, esperou uma semana para ter a sua mensagem respondida e ainda teve que me esperar por mais de meia hora no dia marcado. Enfim, vamos ver se conseguirei compensar.
Cheguei ao local às 8:30 da noite. As mesas estavam todas ocupadas. Após alguns instantes procurando por Juliana e logo a vejo abrindo um enorme sorriso em minha direção. Ela estava em uma mesa no mezanino, o local era maravilhoso para ver de ótima posição todas as pessoas que ocupavam o salão de baixo e também para observar as bandas que se apresentavam ali. Andei por entre as pessoas que abriam espaço me deixando passar, sem dificuldade. Estava com uma calça jeans branca colada ao meu corpo e um colete preto que ia até o meu umbigo. Carregava uma bolsa preta e usava uma sandália de salto fino da mesma cor. Meus cabelos estavam soltos e caiam sobre meus ombros, tapando meus seios. Sim, estavam enormes. Sentia-me linda. Não é porque não estou a fim da garota que sairei de casa mal arrumada.
Assim que me avistou, Juliana levantou e veio ao meu encontro. Beijou a minha face e demos um breve abraço. O cheiro dela era bom e estava bonita. Usava um vestido verde escuro colado até a cintura e solto até acima do joelho. Também estava de sandália e o cabelo estava em um coque meio solto que valorizou muito o seu rosto.
As horas passaram rápido na companhia dela. Ao contrário do que imaginava acabamos rindo muito juntas. Ela era engraçada e realmente me fez bem passar aquelas horas em sua companhia. Tomamos alguns drinks, degustamos alguns petiscos e entre um assunto e outro sentia breves momentos de hesitação por parte dela, parecia tímida. Tentando quebrar o gelo, sempre puxava alguma conversa totalmente aleatória para que ela pudesse esquecer qualquer pensamento que a estivesse deixando desconfortável. Juliana era uma garota legal, estava visivelmente interessada em mim, não sei se poderia corresponder, mas tentaria ser uma boa companhia naquela noite.
Perto das 11 da noite outra banda começou a tocar, Juliana já estava um pouco mais solta, devido ao número de bebidas que já havia consumido. Puxou-me para a pista de dança. Fui achando graça do jeito dela e da forma como ficou desinibida após alguns drinks. A música era um folk pop, não era muito agitada, mas ótima para mexer o corpo enquanto bebíamos mais um drink. Depois de algumas músicas, senti suas mãos ao redor da minha cintura, puxando-me em sua direção. Agora visivelmente tentava me seduzir. Fazia algum tempo que não ficava com ninguém e aceitei as suas investidas. Senti ela puxar o meu corpo contra o seu, seguimos o embalo da música mexendo nossos corpos, agora colados, suas mãos percorriam minhas costas e sem muito avisar, avançou sobre os meus lábios.
O beijo iniciou lento, um reconhecimento, uma carícia. Aos poucos Juliana começou a intensificar os seus movimentos, apertando-me mais contra si e invadindo minha boca com fome. O beijo era bom, mas não tirou meu chão. Permiti-me aproveitar aqueles momentos. A companhia estava ótima e de certa forma tive uma grata surpresa com aquele “encontro”. Passamos o resto da noite naquela dinâmica, estava gostando, mas ao contrário dela, não queria passar dos beijos. Informei que iria embora quando já estava próximo da 1:00 da manhã e segui em direção ao banheiro antes de ir para casa. No caminho até o banheiro juro ter visto uma mulher parecida com Naomi. Só poderia ser um truque da minha imaginação, afinal, já estava levemente alterada desde alguns drinks atrás.
Entrei em uma cabine, fiz meu xixi e sai aliviada. Já estava a algum tempo com vontade. Lavei minhas mãos, olhei-me no espelho, continuava linda. Retoquei o batom e saí do banheiro em direção ao caixa para fechar a minha conta. No caminho, vejo novamente alguém parecida com Naomi e dessa vez sigo na mesma direção para onde a mulher caminhava. No meio do caminho sou interceptada por Juliana e invento uma história qualquer sobre ter visto uma colega de corrida e queria cumprimentá-la antes de ir embora. Bem, isso não era uma invenção, mas o motivo pelo qual queria cumprimentar a colega, este não revelaria em nenhuma circunstância. Juliana insistiu em me seguir até o local onde a morena parou. Imediatamente vi que na mesa estavam dois professores, mais quatro colegas de assessoria, dentre eles, Naomi, ela estava ali de verdade, não era fruto da minha imaginação.
Vi que ela estava sem a noiva. Aproximei-me de forma calma, estava levemente alterada, não poderia de forma alguma tropeçar estando no campo de visão dela. Nossos olhares se cruzaram e eu me afundei naqueles olhos avermelhados com uma intensidade que me assustou. Pelo visto ela também, pois abriu e fechou a boca algumas vezes e depois desviou o olhar. Mexi com ela. Abracei primeiro os professores da assessoria e continuei cumprimentando cada um na mesa, deixando-a por último. Assim que encostei ao seu lado, estendi a mão para segurar a sua. Pela primeira vez senti o contato de nossas mãos demoradamente. Estavam quentes e o contato com a maciez daquela pele foi maravilhoso. Senti-me tremer quando a puxei para um beijo no rosto e inalei o cheiro daquele corpo, daquele cabelo. Uma delícia.
Quando nos afastamos, novamente os nossos olhares se encontraram. Senti uma eletricidade percorrer todo o meu corpo. Algo que não senti em horas trocando beijos e amassos com Juliana. Suspirei e sorri, sem saber o que dizer, mas ao mesmo tempo tentando dizer algo pelo olhar. Algo que nem eu sabia o que era. A única coisa que eu tinha certeza é que algo nela me atraía, me fazia querer fazer parte da vida, do mundo dela. Estar presente no seu dia a dia e saber quem era Naomi.
- Bela, como estás bela hoje. - brincou um dos professores da assessoria. - Sente-se conosco.
E agora, o que faria? Estava louca para ficar, mas minutos atrás disse a Juliana que iria embora, não faria sentido agora mudar de ideia. Ela ainda estava ali, esperando para sair do pub comigo. Mesmo contra vontade, respondi que já estava de saída, apresentei Juliana a todos, pois seria de mau tom deixá-la escanteada e seguimos em direção a saída. Antes de sair, ainda observei Naomi de longe, enquanto esperava para pagar a conta. Ela estava linda com os cabelos levemente ondulados do meio para baixo, caindo em ondas perfeitas sobre o ombro esquerdo. Estava com ele todo penteado para um único lado, o que a deixava com um ar mais sexy. Usava uma camisa preta de seda aberta até um pouco acima dos seios e uma calça de jeans colada ao corpo. Irremediavelmente linda e sexy, assim a defini. Vestida para matar e eu indo embora sem poder aproveitar aquela oportunidade única de aproximação.
Na saída, esperávamos o Uber e Juliana aproximou-se tentando me beijar novamente. Dessa vez não consegui. Beijei-lhe a face e pedi para irmos com calma. Não queria dizer que não iria rolar depois dos amassos trocados, por outro lado, tudo o que queria estava dentro daquele bar e meu coração estava agitado por isso. Tão perto e tão longe. Tão inatingível, tão inalcançável. Assim fui pra casa com o coração aos pulos, o corpo ardendo só de ter sentido o cheiro dela e uma vontade louca de mandar uma mensagem. Movida pelo álcool, com certeza, entrei no seu Instagram, abri o direct e mandei a primeira coisa que me veio à mente.
“Isso não é justo. Saem em grupinho e não me convidam. =/”
Minutos depois…
“Nem eu sei como vim parar aqui. Foi tudo de última hora. Juramos”
“Queria ficar aí” - respondi apressada para ela não fechar a conversa.
“Daqui a pouco já vamos embora. Não faltarão oportunidades” - Era a minha deixa…
“Corrida na segunda, às 6:00 da manhã. Só assim vou acreditar que foi algo de última hora e, por isso, excluíram a mim e a todo o resto da assessoria. =)”
“Combinado. Na pista do Ibira.”
“ Sim senhora. Até segunda. Não se atrase!” =P”
“Até”
Deus, vou desmaiar antes de chegar em casa. Vou vê-la na segunda. Apenas nós. Muito melhor do que ficar em um ambiente barulhento, cercada de pessoas. Agora tenho certeza, o meu domingo passará extremamente arrastado…
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
patty-321
Em: 05/03/2021
Será q a Naomi não é tão feliz assim no relacionamento com a Fernanda.?
Resposta do autor:
Olha, complicado afirmar. Às vezes as pessoas não conseguem enxergar o quão felizes são até perder. Acham que são infelizes somente porque se encontram em uma situação de monotonia, falta de novidades na vida, na relação. Talvez seja esse o caso da Naomi, afinal as duas já estão juntas há bastante tempo.
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