O encontro por MarianaK
Capitulo 3
Marcela
Confesso que aquele encontro estava despertando em mim alguma coisa. Só não sabia ainda o que era direito. Estar com aquela menina, que aos poucos foi se mostrando gentil e muito humilde, estava me deixando completamente balançada.
Mas eu não poderia me deixar levar agora, não era o melhor momento para esse tipo de sentimento.
Depois de várias tentativas de encontrar o amor da minha vida, eu simplesmente entendi que isso não existe na verdade, isso é só história de filme. Na real a gente encontra alguém que goste em algum momento, mas isso não dura para sempre.
A tempos que não tinha uma noite tão agradável com alguém que mal conhecia. Depois de terminarmos de jantar quase que em silêncio, resolvi que já era mais do que hora de descansar, o corpo estava pedindo um bom banho e minha cama.
- Obrigada pela companhia de hoje, espero que tenha amenizado o estrago que te fiz hoje. - Falei olhando para ela, enquanto desligava o motor no carro.
- Eu já entendi que não fez por mal Marcela, pode ficar tranquila.
- Bom, então já que minhas desculpas foram aceitas, podemos marcar algum dia de novo, gostei mesmo de você.
Liz ficou em silêncio mais uma vez, entendi que aquilo era um não.
- Acho que preciso ir, meu pai deve estar uma fera comigo. - Foi a única coisa que disse, abrindo a porta do carro e descendo.
Fiquei parada olhando a porta do carro ser fechada, e logo ela sumiu para dentro da casa. Mas ora, o que afinal eu havia dito? Foi um simples convite, nada demais.
- Tava bom demais, nem boa noite me deu. - Resmunguei sozinha no banco do carro.
Segui direto para minha casa, amanhã o dia seria bem logo ainda, tinha muitas coisas para resolver até o final de semana.
Teria que passar uns dias em Dubai, resolvendo uma pendência da junção da minha empresa com uma construtora de lá. Era o grande negócio da minha vida, nada poderia dar errado.
A semana transcorreu tranquila, falei com a Liz apenas por telefone, e apenas para resolver a questão da moto. Por sorte consegui uma oficina que consertasse bem rápido, assim ela poderia voltar a sua rotina.
Mas ao mesmo tempo que fiquei aliviada, me senti triste. Agora o motivo que tínhamos para conversar tinha sido resolvido.
Mas enfim, foi apenas um encontro ao acaso, nada que mudasse a vida de ninguém.
- Meu Deus, preciso correr, nem fiz a mala ainda. - Pensei alto, enquanto olhava o relógio.
Já era quase 15hs de sexta, meu voo era às 21hs da noite e ainda não tinha arrumado nada. Precisava de ajuda, e sabia muito bem que poderia me ajudar.
- Me ligando a essa hora de uma sexta? Deve ta querendo alguma coisa. - Ouvi a voz do outro lado do telefone ainda sonolenta
- Por favor, não me diga que ainda não se levantou da cama? Já é tarde. Faça o favor de ficar pronta, estou passando aí. - Só desliguei o telefone e peguei as chaves do carro.
Não era possível que Patrícia ainda estava na cama a uma hora dessas. Até imagino o que a fez dormir até agora.
Paty era minha melhor amiga, uma das únicas tirando o Mateus, a Isabela e o André. Tínhamos um grupo formado na faculdade, tirando a Paty, todos nós conhecemos durante os anos que estudamos.
Eu e Patrícia morávamos na mesma rua, éramos um terror em forma de criança, enquanto as outras meninas da nossa idade ficavam brincando com bonecas e de casinha, nós duas estávamos sempre correndo, descalças e cheias de machucado.
Quando adolescentes, meus pais até acharam que tínhamos algum tipo de relacionamento, mas na verdade nunca passou mesmo de uma grande amizade, ela é a irmã que eu não tinha, sempre me ouvia e me ajudava. Me tirava de todas as enrascadas que me metia.
- Boa tarde seu Moacir, como vai? - Cumprimentei o porteiro do prédio onde ela morava.
- Tarde Dona Marcela, como vai a senhora?
- Nem senhora nem dona, por favor, só Marcela mesmo. - Disse me aproximando do elevador.
Paty tinha deixado avisado que não precisava avisar quando eu chegasse, que poderia ir direto sem precisar interfonar, mas ainda assim ele resolveu me advertir.
- Desculpa dona Mariana, não é por nada não, mas se eu fosse a senhora avisava que tá subindo. - Ele me disse fazendo aquela cara típica de vizinho fofoqueiro.
Eu apenas assenti com a cabeça e subi, mas resolvi ligar do corredor, não estava muito a fim de estragar a diversão de ninguém, ainda mais no meio da tarde de uma sexta feira né.
Depois de sair com a Paty da casa dela, comemos alguma coisa rápida na rua e fomos ao meu apartamento.
- Não acredito que deixou essa mala pra última hora Marcela. Bem a sua cara mesmo né.
- Você veio para me ajudar ou julgar? Vamos, seja mais rápida e fale menos.
- Além de folgada, é exigente! Só eu mesmo pra te aguentar.
Caímos na risada, e enquanto eu ia tirando as roupas de dentro do guarda-roupas, Paty ia colocando dentro da mala.
- Ei, não precisa de tanta coisa também né. São 10 dias apenas, não é 1 mês não. - Paty me repreendeu pela quantidade de coisas que estava separando.
- São os 10 dias mais importantes da minha vida toda até aqui Patrícia, você sabe disso.
- Tudo bem, mas o que você vai fazer em Dubai com esse casaco? Nessa época tudo lá é quente, até a Lua. - Riu enquanto me jogava o casaco.
- Dessa vez acho que tem razão… estou um pouco ansiosa Paty, nada pode dar errado. - Me joguei na cama, no meio de toda aquela bagunça.
- Calma meu bem, vai dar tudo certo! Só não posso ir com você, porque tenho coisas para resolver aqui. Mas estarei aqui torcendo por você.
- Eu sei disso, não se preocupe… - Me apoiei nos braços. - Quer saber, essa mala já basta, aproveito os dias a mais e compro algumas coisas por lá.
- Aproveita quando for às compras e vê se arruma alguma diversão por lá, você anda muito parada ultimamente.
- Estou indo simplesmente a trabalho Paty, você sabe que não vou misturar os dois… - Me levantei da cama, colocando fim aquela conversa e toda a bagunça que está o quarto.
Quando o relógio marcou 20hs era a hora de enfim sair de casa e ir direto ao aeroporto. Não poderia nem em sonho me atrasar e perder o voo. Despedidas nunca foi meu forte, e nem precisava disso, era uma viagem rápida, então dispensei qualquer companhia até o aeroporto.
- Larga de ser desse jeito Marcela, eu vou com você até lá.
- Já falei que não precisa Paty, sério. É sexta, sei que tem planos. - Disse lhe dando um abraço.
- Tá certo então senhora dona da razão. Mas por favor, vê se liga assim que chegar em.
Me despedi dela ainda na porta do meu prédio, e entrei no táxi. Depois desses dez dias, se tudo saísse como o planejado, minha vida iria mudar completamente. E esse era meu objetivo.
Dentro do avião, olhando entre as nuvens no céu, um sorriso se vagou pelo meu pensamento. Por que será que não consigo parar de pensar nessa menina?
LIZ
A semana passou tão rápido que nem percebi, e já era sexta feira quando me dei conta. Graças a deus tudo tinha voltado ao normal, pelo menos era o que eu queria acreditar. Mas sabia que bem lá no fundo, estava triste por saber que não teria mais contato com aquela louca que me atropelou.
- Ahh, mas tenho que assumir conhecer essa maluca mexeu comigo. - Pensei em voz alta enquanto terminava meu café.
- Falou alguma coisa minha filha?
- Nada não pai, só pensando alto mesmo. - Disfarcei colocando a xícara na pia. - Vou indo pai, já estou em cima da hora.
- Vê se não esquece de passar no banco e resolver aquela pendência pra mim, sabe que fica difícil pra mim filha…
- Pode deixar pai, eu resolvo isso assim que o banco abrir. - Peguei meu capacete e dei um beijo no velho. - Até mais tarde.
Meu pai teve que se aposentar depois de um acidente que o deixou sem os movimentos das pernas, eu tinha uns 10 ou 11 anos quando aconteceu, foi um dos momentos mais difíceis da minha família.
Minha mãe precisou largar o emprego que tinha como cozinheira na casa de uma família rica do Rio de Janeiro, depois disso acabamos nos mudando para São Paulo. Achou que se meu pai ficasse mais distante da vida que tínhamos antes, ele pudesse se sentir melhor, mas de nada adiantou…
Minha manhã foi corrida, como sempre, as sextas feiras sempre têm mais trabalho, e os paulistas sempre precisam de tudo na hora, e trabalhar de moto estava me rendendo uma graninha boa.
- Parece que todas as entregas desse mês caíram no mesmo dia. - Brinquei com um colega que fazia coleta no mesmo lugar que eu.
- Pois é menina, hoje parece que não termina nunca. – Rimos
Parei com as entregas apenas para comer e ir ao banco, meu pai me mataria se não fosse. Continuei trabalhando até quase cair a noite. Sexta não era dia de aula, então dava pra dar uma esticada e fazer um dinheiro a mais.
Relógio marcava quase 20hs quando peguei a última entrega que faria naquele dia, meu corpo já estava cansado, e andar de moto não era algo muito confortável para se fazer o dia todo.
Senti uma leve corrente elétrica percorrer meu corpo quando percebi qual era o endereço da última entrega.
- Boa noite. - Disse me aproximando do balcão.
- Boa noite menina. Pera um tantinho ai, eu conheço você… - Disse o senhor se levantando da cadeira. - Claro que conheço ue, você veio atrás da dona Marcela dia desses, mas olha, ela não tá aqui mais não moça.
O senhor disse de uma forma tão rápida, que parecia com medo de alguma coisa.
- Não vim falar com ela não senhor, vim fazer uma entrega apenas. - Disse tirando o pacote de dentro da bolsa.
- Então não vai ficar brava dessa vez? Que alívio menina, achei daquela vez que me comeria vivo. - Riu voltando a se sentar na cadeira e relaxar o corpo.
Fiquei sem graça pela observação do senhor, será que fui tão rude assim por causa de um celular? Mas pudera, aquele dia tinha começado muito mal, ainda bem que o jeito como terminou foi bem diferente.
Me perdi por uns instantes pensando na noite com Marcela no restaurante e depois me lembrei de como saí quase que correndo do carro. Depois daquele dia, só conversamos por telefone, acertando a situação da minha moto, e não nos vimos mais. Não deveria, mas estava incomodada com isso.
- Ei menina! Vai entregar onde?? - O porteiro me cutucou chamando minha atenção.
- Desculpa, me distrai, é na sala 2211. Entrega para Mateus Cordeiro.
- Que coisa, é na sala da dona Marcela. Ela e esse rapaz parece que vivem pra trabalhar… - Disse mais para ele do que pra mim.
Aguardei o porteiro interfonar na sala e aproveitei para prestar mais atenção no lugar.
Era um prédio bem chique, daqueles que a gente vê em novela, deu até pra imaginar uma cena ali.
Pessoas todas vestidas de social, com pastas, e perdidas em suas rotinas. Parecia uma ótima maneira de trabalhar, mas não fazia nem de longe seu estilo.
- Menina, ele pediu pra você subir viu. É no último andar. - Me entregou um cartão de acesso e voltou sua atenção para o que fazia antes da minha entrada.
Enquanto subia, fiquei com a minha mente vagando, por mais que aquele estilo de vida não era o que queria, imaginou como tudo seria mais fácil se tivesse a segurança de um trabalho assim, com a certeza de um pagamento no final do mês.
Sabia que Marcela era formada em engenharia, será que quando terminasse sua faculdade também ficaria presa a um escritório, sentada em frente a um computador, trabalhando sem ver o dia passar?
Esperava muito que tivesse muitos trabalhos, mas que isso não lhe tirasse a oportunidade de viver. Por mais que nunca tenha sido de sair muito, não era de dispensar convites para curtir um final de semana na praia, e não perdia uma oportunidade que fosse de ir ao Rio visitar uns amigos.
Quando o elevador enfim parou, ele teve noção da altura que estava, o corredor era todo espelhado, e dava para ver praticamente tudo lá fora. Um dos prédios mais altos da Avenida Brigadeiro Faria Lima e pelo visto um dos mais caros também. As pessoas e os carros lá embaixo, pareciam pequenos pontos se movimentando.
- É, cada lugar fica mais chique que o outro… tenho certeza que o Pedro ficaria louco com esse lugar. - Falei baixinho.
- A vista daqui de cima é linda mesmo, precisa ver quando está amanhecendo ou durante o pôr do Sol.
Me assustei quando ouvi o homem falando logo atrás de mim.
- Desculpa senhor. - Fiquei envergonhada pela minha curiosidade. - Vim entregar sua encomenda.
- Não precisa se desculpar, é realmente fascinante essa vista, tem que olhar mesmo. Pode me acompanhar por favor? - Disse apontando para dentro de uma das salas daquele andar.
Fiquei ainda mais encantada quando vi aquele escritório. Nunca pensei que um lugar de trabalho poderia ser tão lindo como aquele.
Logo na entrada, tinha uma mesa, não muito grande, com um computador e alguns objetos de decoração, que possivelmente era da secretaria, a esquerda tinha uma sala não muito grande, com uma mesa próxima a janela, um pequeno sofá e uma prateleira cheia de livros e muito bem decorada, já a sala da direita era bem maior, tinha uma mesa de ficava com a vista lateral da janela, mais ao lado tinha também um pequeno sofá com duas poltronas, e uma televisão maior que da minha sala, tinha também uma decoração muito singular, com os móveis em branco e preto em contraste com o piso amadeirado, era assim em todo aquele escritório.
Segui com o homem até a sala da esquerda, que pelo visto era onde ele trabalhava, tinha uma bagunça de papéis com várias plantas desenhadas.
- Desculpa a bagunça, e alias nem me apresentei. - Disse esticando a mão. - Mateus, muito prazer.
- Não tem problema, já estou acostumada. - Disse retribuindo o gesto. - Pode me chamar de Liz.
- Acostumada com a bagunça? Uma moça tão bonita, duvido que seja desorganizada. - Riu
Eu apenas sorri de lado, e não dei muita atenção, estava acostumada com clientes que mal cumprimentavam a gente e os que faziam era por algum interesse.
- Aqui está senhor, o pagamento já foi feito. - Disse enquanto entregava a encomenda e fechava a bolsa.
- Me desculpe o mal jeito, é um costume ser direto. - Ele disse percebendo que não dei resposta à sua pergunta.
- Tudo bem, com isso que estou acostumada também, agora preciso ir. - Disse me dirigindo a porta.
Dei mais uma olhada para a sala que estava vazia, pelo visto aquela deveria ser a sala da Marcela. Não estava conseguindo lidar com a sensação que ela deixou em mim…
Fim do capítulo
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brinamiranda
Em: 25/02/2021
Viu como apenas uma batida de moto pode mudar o rumo de uma história...rsrsrsrs.
Muito bommmmm....não parece publicar, eu quase não acompanho histórias, só escrevo e essa me interessou.
Resposta do autor:
Uma manhã pode mudar tudo né?
Feliz em saber que esta com a gente, continue ta ♥
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