O encontro por MarianaK
Capitulo 2
Marcela
Só consegui parar por alguns minutos para comer alguma coisa, e logo voltei ao trabalho, embora o dia não tenha começado da melhor forma possível, precisava finalizar pelo menos um dos meus projetos, um dos maiores que já peguei esse ano e só me faltava alguns detalhes para apresentar ao meu cliente.
Mas não foi tão fácil assim conseguir concentração para trabalhar, lembrar dos olhos e da maneira como aquela menina sorria, estava me deixando no ar.
- Marcela? Ta me ouvindo?? MARCELA!!
- Oi Mateus? Acabei me distraindo aqui.
Mateus era um dos meus amigos mais próximos, nos conhecemos na faculdade ainda e as vezes ele fazia uns trabalhos comigo, era formado em arquitetura e muito bem conceituado na área.
- Precisei fazer uma alteração no projeto da Escola de Artes e queria sua opinião, mas parece que ta perdida em outro mundo, o que aconteceu? - Mateus disse já colocando o seu computador na minha mesa.
- Não aconteceu nada, estava pensando apenas. Nada demais.
Continuamos nossa conversa voltada ao trabalho e quando olhei no relógio novamente, já era noite e nem notei. Precisava descansar, o dia tinha sido bem longo e pelo que me aguardava, o seguinte seria igualmente conturbado.
Qual não foi minha surpresa quando encontrei a dona da moto brigando na portaria do prédio.
- Mas senhor, eu preciso falar com ela.
- Desculpa moça, mas a essa hora ninguém mais recebe visita aqui, sem contar que nem trabalhando mais eles estão. - Seu Pedro já não sabia mais o que argumentar
Eu havia ligado na portaria um pouco mais cedo, e pedi para não deixar mais ninguém subir.
- Como que não estão se o senhor acabou de me informar que ela ta aqui ainda? Mas não é possível!
- Moça, ela até está por aqui ainda, mas já é tarde, não posso deixar você subir, e só estou autorizado a ligar em caso de extrema emergência.
Fiquei parada, observando a situação e de onde eu estava, dificilmente eles teriam me visto.
Essa moça era realmente muito esquentadinha, deve ser mal da juventude de hoje, querem tudo na hora…
Depois de uns minutos que ela tinha saído, ainda estava parada no mesmo lugar, não sei fazendo o que, mas continuei ali ainda com a imagem dela e com aquela voz ecoando na minha cabeça.
Quando passei pela portaria, seu Pedro tentou me contar o que havia acontecido, apenas disse que tudo bem e lhe desejei um boa noite, estava realmente cansada depois de todos esses acontecimentos no dia.
Entrei no carro, já era 20hs quando o dia finalmente parecia que estava terminando, quando me assustei com um celular tocando no banco do passageiro.
Como foi que não vi aquele aparelho ali?? Já tinha certeza de que sabia de quem era…
No visor aparecia não identificado, fiquei entre atender ou não, quando resolvi que atenderia, pelo visto não ia parar de ligar mesmo.
- Não acredito que além de tudo você ainda atendeu meu celular. - A voz do outro lado parecida desacreditar.
- Se não fosse para atender, por que estaria ligando incansavelmente? Mas não precisa responder, já imagino que esteja procurando por ele. Parece que encontrou. - Falei rindo no final, o que parece que a deixou um pouco mais irritada.
- Não sei onde você vê graça, perdi todo o meu dia de hoje, era melhor que tivesse ficado dormindo.
- Ei, calma, não precisa ser tão agressiva assim. Só tentei amenizar a situação. - Tentei dizer com a voz suave. - Posso levar o celular até sua casa se quiser, não demoro muito a chegar.
Não sabia se ela ainda estava por perto depois de não conseguir falar comigo no escritório, e não iria dizer que fiquei observando a sua tentativa de longe e não fiz nada…
- Pode me encontrar em outro lugar? Não estou em casa nesse momento e preciso muito do meu celular. - Parecia mais calma dessa vez.
- Só me dizer onde está, eu vou até você em qualquer lugar. - Minha fala saiu com uma animação que não deveria. - Digo, pra entregar seu celular.
Ela pareceu achar meu desconcerto engraçado, pelo menos acredito que ouvi um riso do outro lado.
- E então, onde nos encontramos?
- Estou perto do seu escritório, estive por lá tentando falar com você… - E lá estava aquela voz rouca novamente, com uma entonação de irritação nítida.
Combinei de encontrar com ela em uma praça que fica a uns dois quarteirões do escritório, estava me sentindo ansiosa, como uma adolescente que está prestes ao primeiro encontro. E olha que não tinha nada de romântico no que estava acontecendo, e por todo o ocorrido, romantismo pelo visto passaria longe.
Liz
Já estava ficando impaciente com tamanha demora, por mais que o relógio não tenha rodado mais de 10 minutos. Queria acabar com aquele dia logo, aconteceu tudo de uma única vez. Primeiro a moto, depois o celular e ainda por cima ter sido barrada na entrada do prédio foi a gota d’água.
Por mais que fosse tarde, o que eu queria não era um encontro a trabalho, apenas meu celular. Precisava muito dele… Quando tentei ligar de um telefone público, não imaginei que ela atenderia, liguei mais por desencargo mesmo, me surpreendi quando ouvi sua voz do outro lado. E estranhamente, uma corrente percorreu meu corpo.
Notei que ela parecia até um pouco animada demais por todo o ocorrido do dia, vai ver estava mesmo se divertindo às minhas custas. Tudo que mais queria era resolver mesmo a situação da moto e pegar meu telefone e encerrar com aquele dia o quanto antes.
- Me desculpe por ter atendido seu telefone e por não ter conseguido falar comigo no escritório. - Ela me encontrou sentada no banco de uma praça, mal desceu do carro e já foi falando.
- Tudo bem, não tem problema. - Respondi já com meu celular nas mãos e me preparando para levantar-se e ir embora.
- Ei, espera um minuto. - Ela disse segurando uma das minhas mãos.
E nesse momento, nossos olhos se encontraram novamente, e pela terceira vez no dia, aquele contato com ela estava me trazendo arrepios. Fiquei apenas esperando o que ela diria após aquilo, mas ambas ficamos quietas, até que ela rompeu o contato.
- Me desculpe novamente… acho que vou indo. - Desviando o olhar dos meus, ela deu dois passos em direção ao carro e logo se virou novamente.
Ficamos nos olhando de novo, e eu ainda não conseguia dizer nenhuma palavra, só conseguia me concentrar nos olhos dela…
- Liz, está tudo bem? Você está sentindo alguma coisa? - Foi quando enfim consegui despertar de um transe que pareceu eterno. E lá estava ela, a um palmo de distância de mim.
- Minha vez de pedir desculpas, acho que esse dia foi cansativo demais. Preciso ir embora. - Consegui dizer, mas ainda não conseguia sair de perto dela.
- Eu deixo você em casa, me lembro do caminho, sou boa com isso. - Ela sorriu me olhando.
Queria perguntar se era boa com caminhos ou com deixar pessoas em casa. Estranhamente, senti um nó se formando na garganta, imaginei que fosse por toda aquela situação, estava ficando sem jeito com aquela proximidade toda. Nunca fui muito disso.
- Não precisa, eu vou por minha conta mesmo.
- Mas eu faço questão, além de estar tarde, eu causei tudo isso, não é? Então sem discussão, eu deixo você em casa. - Parecia minha mãe falando comigo, não me deu espaço para resposta e caminhou até o carro.
Eu ainda relutei em sair do lugar, mas Marcela parou ao lado do carro, com a porta aberta e ficou me olhando, como quem diz “vamos, estou esperando”.
Dentro do carro, meu estômago deu sinal de vida, mas também pudera, cheguei em casa e não comi, acabei dormindo e sai sem comer novamente, já era de se esperar.
- Também estou com fome, podemos comer alguma coisa, se não se incomodar. - Marcela falou com uma simplicidade sem ao menos desviar os olhos da rua.
- Acho que vou ter que aceitar, estou sem comer nada o dia todo. - Resolvi que ia baixar um pouco a guarda, que mal teria de estender um pouquinho a noite??
Ela parou o carro em frente a um desses restaurantes que os funcionários faltam te carregar no colo. Eu fiquei extremamente sem graça, estava com as roupas de ir para aula mesmo, camiseta, calça e tênis. Marcela estava com uma roupa ou pouco mais social, camisa e calça que por mais tarde que pudesse ser, ainda estavam perfeitos, parecia que tinha acabado de colocá-los.
- Pensei que fossemos comer alguma coisa na rua. - Disse enquanto ela já entregava as chaves do carro ao manobrista.
- Não se preocupe, é do meu pai esse restaurante. - Entramos e logo uma moça muito gentil nos encaminhou a uma mesa mais afastada.
Elas me pareceram muito próximas, mas também, o restaurante era dela, todos ali poderiam ser próximos a ela, menos eu. Depois de nos sentarmos, um outro rapaz se aproximou da mesa:
- Boa noite Senhora Marcela, como vai? Posso trazer o de sempre? - Ele disse com toda a educação do mundo, colocando sobre a mesa um cardápio.
- Boa noite Vitor, vou bem. Aguarde alguns minutos, por favor. Vamos escolher ainda. - Ela disse abrindo o cardápio que estava a sua frente.
Acabei fazendo o mesmo que ela, mas deveria não o ter feito, não sabia se ficava assustada com o nome ou o preço da comida, e as bebidas então. Preferia ter parado no tio do hot dog na esquina de casa.
- Você costuma beber o que? - Ela disse me olhando, enquanto colocava o cardápio de volta na mesa.
- Na verdade, acho que não quero beber nada. Ou uma água talvez.
Marcela acenou para o rapaz, que prontamente voltou a nossa mesa, e ficou apenas aguardando o que ela diria.
- Vitor, por favor, traga uma garrafa do Bordeaux Saint-Émilion 2005. - Parece que ela tinha ignorado o que eu disse.
- Toma uma taça de vinho comigo, sei que ainda é segunda-feira, mas acho que deve fazer mal algum, não é?
Apenas acenei com a cabeça, e logo comecei a olhar mais atentamente para o lugar onde estávamos. Era realmente um lugar lindo, acho que por isso os preços do cardápio, as pessoas não pagavam apenas pela comida e pela bebida, mas pelo ambiente no todo, durante as aulas de arquitetura, eu sonhava em projetar lugares como aquele. Rico em cada detalhe, tudo combinava, estava em perfeita sintonia. Era realmente luxuoso.
- Meu pai herdou do meu avô. Na verdade, ele deixou apenas um e meu pai tornou um restaurante pequeno em uma grande rede deles. - Parece que ela percebeu minha curiosidade.
- É tudo muito bonito aqui, é de uma arquitetura muito rica mesmo. Espero um dia trabalhar com projetos assim. - Disse ainda olhando algumas coisas.
- Você gosta de arquitetura?
- Eu estudo isso, estou no meio do curso na verdade. Ainda falta um pouco para concluir, mas é o que eu mais amo fazer. - Agora já olhava para ela.
- Meu pai sempre sonhou que eu fizesse isso, ele é arquiteto por sinal. Eu não escapei muito disso, mas gosto mais da ação, do dia a dia.
Ficamos conversando mais um pouco sobre nossas profissões, ela já era consagrada no que fazia, e eu ainda aspirante em formação.
Descobri algumas coisas sobre ela, sobre os pais, como foi que ela veio parar em São Paulo. Descobri também o que eu já suspeitava sobre sua orientação sexual e acabei sorrindo quando ela disse que só namorava com mulheres.
- Agora me fala um pouco sobre você, acho que falei demais. - Ela disse enquanto deu mais um gole na taça de vinho.
- Eu não tenho muito a dizer, perto de tudo o que você já fez e viveu, eu sou só mais um que corre o dia inteiro, e divide a vida entre trabalhar e estudar. - Essa era a minha realidade.
Acabei desviando a conversa, aquele não era o assunto que eu queria continuar, também não queria que ela ficasse algum tipo de pena, ou comovida por mim, nunca na vida que precisei disso, só disse a verdade.
- Vamos pedir o que comer, foi pra isso que viemos né. - Mais uma vez, lá estava o rapaz ao lado da mesa, anotando o que ela dizia.
- Vitor, por favor, eu vou querer um robalo ao vapor na emulsão de champanhe com purê de batata, e você Liz? - Ela disse me olhando.
- Pra mim pode ser só um filé mignon ao molho madeira com salada de folhas, por favor. - Foi a única coisa que tinha no cardápio com que me identifiquei.
Conversamos mais um pouco, e não demorou muito nossos pratos vieram. Eu estava realmente com fome. Comemos em silêncio, apenas trocamos olhares, olhares esses que já estavam me deixando perdida.
Fim do capítulo
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brinamiranda
Em: 25/02/2021
Gostei da química das duas...continue, estou gostando da história e prometo acompanhar.
Resposta do autor:
A quimica é boa, a fisica também kkk
Continua com a gente em ♥♥♥
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