Sigamos, fortes emoções daqui pro fim.
Capitulo 41: Ponto fraco
A recepcionista da emergência pediu que Catarina aguardasse um pouco para ser liberada, apontando para os bancos em frente ao balcão. A jovem aproveitou o curto espaço de tempo para retornar as inúmeras ligações de Érika, ignoradas desde o incidente com Débora.
Na noite passada, resolveu não acompanhar a gerente como combinado. Ao invés disso, vagou de volta para casa, certificando-se, ao chegar, que estava sozinha. Entrou em seu quarto, trancou a porta e se atirou na cama. Não teve coragem de estar com Érika depois do que havia acontecido com Rodolfo, e as ofensas gritadas por Débora na calçada da lanchonete terminaram de inflamar o estado de culpa que se instaurou em sua consciência. Queria gritar, espernear como uma criança mimada que não ganhou o presente de natal prometido pela mãe, mas se conteve em chorar até dormir.
A enfermeira enfim a liberou para a visita e ela encerrou a chamada que tentava fazer sem muitos problemas, pois Érika não a atendia. Sentiu um nó na garganta ao pensar que talvez a amada estivesse tão magoada com seu sumiço repentino que não iria querer sequer conversar com ela. Não pôde remoer essa ideia por muito tempo, tamanho foi o susto que tomou ao entrar no quarto. Deixou o celular cair, espatifando a película protetora da tela frontal. Logo, o susto deu lugar a culpa, que voltou a lhe consumir com uma força voraz. Não reconhecia seu próprio pai.
Ele dormia tão profundamente que não despertou com o impacto da queda do celular. Catarina estava em choque, observando, temerosa, as olheiras, o rosto magro e o cabelo desgrenhado daquele homem que antes demorava mais de uma hora para escolher a gravata que usaria durante o dia. Quando a enfermeira chegou para conferir a medicação, Cate pensou em sair correndo dali, antes que ele a visse, ao menos até que ela conseguisse respirar sem embargos novamente. Se abaixou para pegar o celular que ainda estava largado pelo chão, mas, antes de sair, foi interrompida pela voz dele:
- Ca... Cate ... bebê... você veio...
Não aguentou mais segurar o choro, vê-lo vulnerável daquela forma a comoveu por completo. Segurava a barra da camisa com força, trêmula e gelada da cabeça aos pés.
- Não chore, querida. Papai vai ficar bem. Já estou melhor só por ver que você está aqui.
Ela fitava o suporte de soro sem nada responder. Ele acenou para que chegasse mais perto. Ela se aproximou devagar, ficando de joelhos próxima à cama. Rodolfo então acariciou seu rosto, depois tomou as mãos dela e as beijou:
- Minha garotinha. Como eu senti falta da minha garotinha...
- Pai...
- Por favor, me dê um abraço! Como nos velhos tempos!
O abraço aconteceu, mas nem de longe semelhava às demonstrações de afeto que os dois demonstravam antes da ruptura. Cate enxugou as lágrimas e aos poucos foi se acalmando do baque, formulando diplomaticamente as falas:
- Como se sente?
- Como eu te disse, bem melhor depois de sua companhia. Débora não soube me dizer se você voltaria ou não para me ver.
- "Não soube" ... - Catarina fez sinais de aspas com as mãos.
- Não pude deixar de notar que vocês estão distantes uma da outra.
- Não é hora de se preocupar com isso, você tem que cuidar de si mesmo em primeiro lugar.
- Mas é lógico que vocês duas são as minhas maiores preocupações! Nunca deixaram de ser, mesmo com o divórcio... O que está havendo, Cate?
- Não quero conversar sobre esse assunto.
- Tem alguma coisa a ver com a Érika?
- De onde tirou isso? - Catarina arregalou os olhos.
- Estou sabendo que ela foi te procurar. Débora me contou, achando que eu estivesse por trás disso. - Rodolfo franziu as sobrancelhas, teatralmente melancólico de repente.
- Então ela te contou... - Cate sentiu um frio na espinha espontâneo. - O que mais ela te disse?
- Nada mais. Filha, por favor não me esconda, você mantém contato com Érika, não é? Por isso ela te procurou, vocês duas ficaram amigas?
Catarina hesitou antes de responder. A verdade ainda não poderia ser dita, não diante do estado de saúde do pai. Desconversou:
- Nós nos falamos algumas vezes...
- Como ela está? Como está Jorge?
- Estão bem... você precisa descansar, pai...
- Céus, ele precisava de uma cirurgia, mas a mãe dela me avisou que o plano não cobriria mais, isso ano passado ainda! Você sabe se conseguiram realizar o procedimento?
- A... acho que sim...
- Ah, Érika... por que tinha que ser tão orgulhosa... - O homem abaixou a cabeça, seus cabelos lisos cobriram parte de seu rosto, Cate numa os vira tão compridos e descuidados antes. Observou também que o lençol abaixo do rosto dele começava a ficar molhado.
- Pai?
- Me desculpe, filha. É que falar dela ainda me deixa assim... eu acreditava muito no nosso amor! Eu sei que fiz tudo errado, que não deveria ter mentido para ninguém, que o momento de viver nossa paixão talvez não fosse aquele, que magoei todas vocês..., mas eu as amo... as amo muito! - Ele soluçava, sôfrego.
- Você ainda... ainda ama a Érika assim...
- Sim, eu amo...
- Apesar de...
- Eu queria o perdão de todas vocês... pra ter gosto pela vida novamente...
- Eu já te perdoei.
- Obrigado, meu anjo. O seu perdão é muito importante, o da sua mãe também. Mas sem o da Érika, não consigo mais viver!
- Mas acho que é hora de recomeçar as coisas, pai. Eu o ajudo, não precisa mais estar sozinho nessa, mas você também precisa fazer a sua parte.
- Se você estiver ao meu lado também, eu faço tudo!
- E eu não acho que... que seja o momento de investir no passado e...
- Cate, me ajude. Ajude a me reaproximar dela.
Para a jovem, os olhos de Rodolfo irradiavam uma dolorosa esperança. Deveria quebrar aquela expectativa antes que uma tragédia acontecesse. Ele apertou as mãos dela e continuou:
- Eu sei que Débora já está refazendo a vida, sei que deve estar de namorado novo e isso me alegra! Eu também sei que Érika ainda me ama, não é possível que tenha me esquecido assim depois da intensidade do que tivemos, entende?
- Pai, eu... eu não posso... eu...
- Quando me vi sozinho naquele apartamento, percebi que sou um miserável, mas ao mesmo tempo um abençoado. Conheci a melhor companheira para ser mãe de um filho meu, alguém que merece a mais plena felicidade que o planeta terra possa oferecer, e ajudei a gerar você, razão da minha vida. Mas, por último... ah, por último... eu conheci o amor de novo, na forma de uma mulher esplêndida e de princípios inquestionáveis. Minha história com Débora chegou ao fim, mas minha história com Érika mal começou!
- Nós estamos aqui, pai. Tanto eu como a mamãe estamos aqui por você, então...
- Mas sem ela, minha filha, sem ela a vida está perdendo o sentido. Não quero mais, não posso mais viver sem Érika!
- Você precisa descansar, eu volto depois!
- Prometa que vai falar com ela...
- Não depende de mim...
- Prometa que vai tentar! Prometa!
- Não posso fazer isso!
- Por quê? Você não me perdoou de coração? Não quer me ver feliz?
- Não é isso... só não dá! Eu... eu volto depois!
O desejo de contar o verdadeiro porquê transpassava pelos polos de Catarina, mas ela passou a temer as consequências que o ato traria para Rodolfo. Deixou o hospital às pressas, atordoada.
Quando Érika chegou do trabalho, encontrou a namorada sentada ao pé da porta, com a cabeça entre os joelhos. Se ajoelhou junto a ela e disse suavemente:
- Meu amor, ainda bem! Eu estava tão preocupada contigo! O que faz aqui do lado de fora? O que houve com seu celular? Eu vi suas ligações mais cedo, mas não consegui retornar, deu número inexistente!
Cate a abraçou instantaneamente, devastada. Érika ficou temerosa:
- O que tá acontecendo? Sua mãe falou mais alguma coisa?! Seu pai...
Talvez como forma de refúgio, a mais nova procurou os lábios da outra de forma desesperada. Se beijaram apaixonadamente ali mesmo, na frente da casa. Os vizinhos já estavam recolhidos em suas próprias existências.
- É... É... Érika...
- Vamos entrar, vem. Calma, estou aqui, estou aqui.
De volta ao hospital, Rodolfo, agora sozinho, brincava com o suporte de soro, satisfeito, ao ver que havia conseguido o que queria: "agora é só questão de tempo", sorria, enquanto esperava a nova medicação.
Fim do capítulo
Sempre agradecida pelos comentários.
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Naty24
Em: 18/02/2021
Ele ta achando que vai voltar com a gerente? É isso mesmo? Coitado ñ sabe da missa o terço. O psicológico da Cate está numa constante luta entre se entregar a emoção pura,ou ir totalmente com a razão ilógica das coisas.
Resposta do autor:
Pois é, ele acha muitas coisas, já pensou?
Capítulo novo já postado! Abraço!
Cma24
Em: 18/02/2021
Passando despretensiosamente por aqui e me surpreendo com esse capítulo.
Pena que ele acabou justo nesse reencontro :(
Ainda desconfio de que o desfecho será positivo para Cate, mas a garota vai sofrer mais um pouco, né?
Resposta do autor:
Pois é, dá uma olhadinha no capítulo de hoje pra sentir o drama ://
Obrigada pelo comentário, abraço!
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Marta Andrade dos Santos
Em: 18/02/2021
Desgraçado!
Resposta do autor:
Dá raiva, né?
Obrigada pelo comentário, abraço!
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