Capitulo 26
A Última Rosa -- Capítulo 26
Ainda da porta, Michelle olhou diretamente para Jessica, esperando que ela dissesse algo, mas ela olhava para frente, fria e distante apesar do sorriso.
Diante do incômodo silêncio e vários pares de olhos observando-as, Michelle falou primeiro.
-- Está precisando de mim, dona Jessica? -- Michelle perguntou com um sorriso cínico.
-- Não, na verdade quem está querendo falar com você é a Marcela. Ela está esperando-a no escritório.
Michelle inclinou sua cabeça e fixou o seu olhar em Jessica.
Estranhamente, não sentiu medo como das outras vezes. Estava incrivelmente calma e tranquila para enfrentar a chefe.
-- Eu já estou indo. Vou apenas fazer um lanche rápido.
-- Pode comer tranquila -- um tenso sorriso curvou seus lábios -- Ainda é cedo -- disse ela, encaminhando-se para a porta.
-- Obrigada.
Assim que Jessica saiu, Michelle soltou o ar que prendera no peito e sentou-se.
-- O que tem de bom para eu comer? -- perguntou para Valquíria -- Só quero um sanduíche.
-- Vou preparar um sanduíche de camembert com salame.
-- Ótimo Valquíria, obrigada.
Pepe escreveu um bilhete e entregou para Michelle ler.
Não sei por que, mas cada vez que você e a chefinha se encontram, tenho a sensação de que vai acontecer um curto circuito e queimar toda a casa.
Michelle amassou o papel e jogou na cabeça dele.
-- Você é tão desagradável, Pepe!
Valquíria virou rapidamente a cabeça.
-- O que ele fez?
Michelle pensou um pouco antes de responder, não queria dar asas à imaginação da amiga.
-- Nada não, o sanduíche está pronto?
-- Está -- ela colocou o prato com o sanduíche sobre a mesa na frente de Michelle, antes de se sentar -- Você percebeu que o Pepe não está falando?
-- Pois então, que milagre é esse?
Pepe escreveu:
Aquela branquela nazista me proibiu de falar. A tia Inês fala que a sobrinha é luz na vida dela, pra mim, tá mais pra gambiarra.
Michelle sorriu para o rapaz, enquanto dava uma mordida em seu sanduíche.
-- Pois eu concordo plenamente com ela. Você às vezes passa dos limites, Pepe.
-- Do jeito que vai, daqui a pouco, ele não poderá nem escrever -- disse Valquíria, se levantando para lavar a louça.
-- Abre o olho, Pepe -- recomendou Michelle, se levantando também -- E agora, se me dão licença, vou passar o relatório do dia para a dona Marcela.
Michelle saiu da cozinha e caminhou em direção ao escritório.
Percorrendo o corredor, lembrou-se dos comentários que Jessica fez sobre a esposa. Se ela soubesse que Marcela a incumbiu de vigiá-la na empresa, ficaria uma fera.
Bateu educadamente à porta, obtendo uma resposta logo em seguida. Ao entrar na sala, ela conteve o fôlego por um momento. Marcela estava ao telefone, com sua voz aguda e profunda dando ordens a alguém do outro lado da linha. Seu tom não era autoritário, mas bastante enfático, demonstrando tratar-se de uma pessoa acostumada a ser obedecida.
Michelle olhou-a por um momento. Marcela fez um sinal para que ela se sentasse, embora não houvesse parado de falar ao telefone.
O nervosismo que não sentira até então, de repente pareceu se manifestar, diante da presença da esposa de Jéssica.
Em nenhum momento imaginara que um dia trabalharia para a pessoa que dividia a mesma cama com o seu amor. Michelle estremeceu e desviou o olhar, enquanto esperava ela terminar a conversa ao telefone.
-- Então, Michelle! Algo para me informar? -- perguntou Marcela, assim que colocou o aparelho no gancho -- Aquela vagabunda finalmente colocou as garras de fora?
A expressão usada por ela fez Michelle hesitar, imaginou-se no lugar de Natália.
O olhar direto de Marcela parecia tão perturbador quanto sua presença. Além de dura como uma pedra, ela também parecia muito segura no que dizia, que chegava a ser quase intimidadora.
Sem dúvida, tratava-se de alguém acostumada a lidar com o poder, embora fosse tão jovem.
Forçando um sorriso polido, tentou manter a voz calma ao dizer:
-- Não vi nada que me levasse a pensar que a dona Jessica está interessada na Natália, muito pelo contrário, até penso que para uma secretária, ela tem pouco contato com a chefe.
-- Como assim? -- perguntou ela, impaciente.
Michelle se inclinou para frente.
-- A dona Jessica passa a maior parte do dia trabalhando no laboratório e tem pouco contato com a secretária.
Marcela arqueou as sobrancelhas.
-- Mas isso não garante que elas não se encontrem à sós.
-- Sim eu sei, mas...
-- Eu vou pensar em uma forma de colocar você dentro do laboratório -- afirmou ela, olhando para alguns papéis sobre a mesa.
Michelle quase caiu da cadeira. Jessica vai à loucura. Pensou, achando irônico que a própria esposa esteja tramando para aproximá-las.
-- Pode deixar, Michelle. Eu vou conversar com a Jessica.
Michelle deixou o escritório rindo sozinha de tanta satisfação.
-- Por essa a Jessica não esperava.
-- Falando sozinha? -- A voz de Valquíria soou bem próxima. Ela não notou sua presença.
Michelle olhou para ela com os olhos arregalados.
-- Estou. Será que é loucura?
-- Você está aprontando. Seus olhos não me enganam.
-- E daí? -- ela riu.
-- Porque não me conta as coisas? Sou sua amiga ou não sou? Parece não confiar nem um pouco em mim.
Michelle refletiu durante um longo tempo, antes de pedir para a amiga sentar-se na cama.
-- Eu vou contar, mas tem que me prometer que não vai abrir a boca para ninguém.
-- Prometo, claro que prometo -- garantiu a chef.
-- Prometa-me também que você não vai me matar -- uma lágrima escorreu pelo rosto dela.
-- Eu não vou te matar a menos que comece a contar logo -- Valquiria respondeu bruscamente -- Você está me assustando.
Michelle sentou-se ao lado dela na cama. Valquíria, passou a mão pelo ombro da amiga, incentivando-a a falar.
Jessica ficou em silêncio por um longo momento, como se não acreditasse no que ouvira. Então, suspirou longamente.
-- Sinceramente, não sei o que uma secretária vai fazer dentro de um laboratório de pesquisas. Você está passando dos limites, Marcela -- Jessica levantou-se da cama nervosa e começou a esbravejar, enquanto andava pelo quarto -- Essa mulher vai ficar me aporrinhando o dia todo.
Marcela olhou para ela desconfiada. Jessica mostrava-se fria nas crises, eficiente até demais e nunca tinha mostrado o menor nervosismo, diante de assuntos tão irrelevantes como o seu pedido.
-- Você não acha que a sua reação está um pouco exagerada?
Jessica ajeitou seus suaves cabelos loiros, num gesto de puro nervosismo, enquanto Marcela a observava.
-- Está trabalhando em uma fórmula secreta ou algo assim? É, por que só isso explica a sua negação em ter a Michelle em seu laboratório.
Por um instante Jessica parou para pensar. Não estava sendo nenhum pouco esperta. Respirou fundo e tentou corrigir o erro.
-- Tudo bem. Então, me convença. Qual é o objetivo desse estágio de laboratório?
-- Só quero que ela passe por uma integração na empresa. E nada mais justo que comece pelo laboratório. É lá onde tudo começa.
-- Por quanto tempo?
-- Não tenho um tempo previsto, prefiro esperar e ver o que ela aprende com a experiência.
-- Certo -- Jessica enfim concordou. Talvez, os conhecimentos que Michelle adquirisse no laboratório fossem úteis para ela no futuro -- Hoje eu sou responsável por controlar a qualidade de insumos e de matérias-primas, coordenar ações para o cumprimento de normas legais, desenvolver atividades de divulgação e de pesquisa e prestar suporte técnico a clientes internos e externos. Gostaria de transferir algumas dessas funções à ela. O que você acha?
Marcela hesitou.
-- Não acho que seja necessário.
-- Porque não? Pelo o que percebi, você está pensando em mantê-la no trabalho. Você nunca tratou as outras secretarias da forma que trata a Michelle.
-- Eu confio nela -- confessou, Marcela -- Mas...
-- Então, está decidido -- disse Jessica, sem deixar que ela terminasse -- A partir de segunda ela vai aprender a controlar a qualidade de insumos e de matérias-primas -- Jessica se levantou da cama sem dar oportunidade a Marcela de se opor a sua decisão.
-- Aonde vai?
-- Perdi o sono, vou até a sala tomar um drink, logo volto -- ela saiu do quarto deixando Marcela pensativa.
-- Ah, meu Deus -- Valquíria lamuriou, ficando gradativamente paralisada pelo choque -- Você é louca!
-- Você ficou mais chocada quando eu contei da Jessica do que quando eu contei que sou fugitiva da polícia. Pode isso?
-- Claro, eu tenho mais medo da dona Marcela do que da polícia -- ela disse, imaginando o tanto que a amiga deveria estar sofrendo -- Poxa Michelle, como você se mete em encrencas com facilidade.
-- Nem me diga.
-- Sabe que pode contar comigo. Sempre -- disse a chef -- E eu. Eu prometo que nunca vou contar a ninguém o que me contou. Eu prometo!
-- Obrigada! -- ela agradeceu e em seguida abraçou com força sua grande amiga.
-- Preciso levantar cedo para ir à praia com a Vitória. Não está afim de ir com a gente?
Michelle pensou um pouco e resolveu aceitar para fugir um pouco da rotina.
-- Eu vou sim. Que horas?
-- As sete e trinta o café da manhã, depois, praiaaa... -- ela disse, feliz da vida.
-- Combinado.
Valquíria levantou a cabeça, dando um leve beijo no rosto dela.
-- Boa noite, Val. E obrigada.
Por alguns segundos Michelle olhou para a porta que Valquíria acabara de fechar, a tristeza apertando o coração. O ciúme a machucava, ao imaginar Jessica e Marcela juntas na cama, os corpos se tocando. Todavia, ao descer para tomar um copo de suco na cozinha, descobriu Jessica bebendo um drink sozinha numa poltrona da sala.
Michelle suspirou aliviada, sentando-se numa cadeira próxima a ela.
-- A Marcela já conversou com você?
-- Já.
-- E então? O que acha?
-- Não sei direito o que pensar. Parece que quanto mais penso em me afastar, mais me aproximo -- ela disse, desanimada.
-- Você não acredita em destino? -- perguntou Michelle.
-- Depois de tudo o que aconteceu em minha vida, sou obrigada a acreditar -- ela chacoalhou o copo e deu um gole na bebida -- A tia Inês me disse que o destino não é imposto por Deus, mas por nós mesmos através de uma lei de causa e efeito.
-- E eu acredito. Deus não tem culpa de eu ser tão boba e deixar aquele salafrário me dar o golpe. Como fui tonta, meu Deus!
-- Falando nisso -- Jessica ajeitou-se na poltrona -- Chamei um advogado para defender a sua causa.
Michelle curvou-se na cadeira com os olhos fixos em Jessica.
-- Sério? E ele aceitou o meu caso?
-- Doutor Gerson nunca recusa um caso.
-- Você contou para ele? O que ele disse? -- Michelle olhou ansiosa para Jessica, mas a moça parecia tranquila e relaxada.
-- Ele me disse que já pegou casos bem piores, então, fique tranquila. O doutor Gerson dificilmente perde uma causa.
-- Você conhece ele há muito tempo?
-- Ele é um velho conhecido da tia Inês. Morava aqui em Hills, era um advogado rico e famoso, mas depois que a mulher o abandonou, caiu na bebida e perdeu tudo o que tinha. Ajudamos ele a se reerguer e logo voltou a ser o advogado respeitado de antes -- disse sorrindo, em seguida levou a taça aos lábios -- Portanto, fique tranquila, mocinha.
Michelle sorriu, admirando aqueles olhinhos verdes tão bondosos.
-- Obrigada, Jess -- tinha tanto que agradecer a ela que um obrigado não parecia suficiente. Aproximou-se dela, dando um leve beijo em seu rosto -- Boa noite, Jess. Você é um anjo -- ela arrepiou-se com o olhar que Jessica lhe lançou, observando-a da cabeça aos pés de um modo, como se a estivesse despindo. Rapidamente saiu da sala sem dizer mais nada. Entrou em seu quarto e atirou-se na cama.
Jessica continuou sentada na poltrona, pensativa e absorta, sem vontade de voltar para o quarto. Como poderia dormir sossegada, sabendo que ela está no quarto ao lado?
De repente, ouviu o barulho de algo caindo na sala ao lado.
-- Quem é? -- perguntou assustada e ninguém respondeu -- Quem está aí?
-- Sou eu.
-- Ahhhh -- Jessica soltou um grito curto, mas apavorado -- Meu Deus, que susto! O que você faz aqui?
Pepe pegou uma caneta.
-- Não! -- disse Jessica, irritada -- Pode falar.
O rapaz soltou o ar, aliviado.
-- Obrigado por me libertar, beautiful.
-- Está bem, está bem -- ela levantou a mão, pedindo para que ele parasse. Seus olhos mostravam uma certa urgência, e foi com curiosidade que perguntou: -- Foi você quem fez esse barulho lá na sala de jantar?
-- Eu não, nem passei perto da sala.
-- Então, quem foi?
Eles olharam em direção à porta da sala de jantar.
-- Eu vou ver o que foi -- depois de uma pequena hesitação, Jessica caminhou até à sala, com Pepe logo atrás. Então, vagarosamente olhou ao redor da sala e viu um porta-retratos espatifado no chão.
-- Que estranho, né chefe?
Jessica abaixou-se e pegou a foto que estava no meio dos vidros quebrados.
-- Interessante, eu não conheço o senhor desta foto. Conheço todos os outros, menos este.
-- Quem são essas pessoas, chefe?
Havia fotos em porta-retratos ovais sobre a lareira e estante. Homens e mulheres de meia-idade, vários deles com crianças em poses diferentes. E no meio de uma mesa de retratos, ao lado do sofá, um homem de pose formal se destacava dos demais.
-- Esse aí é Nicolau Parker, bisavô da Marcela, o homem que começou a criação de perfumes. Ele criava seus próprios perfumes em uma saleta nos fundos da casa. Eu admiro muito esse homem.
-- E esses outros? -- Pepe apontou para vários porta-retratos do lado oposto da pequena mesa.
-- Esses são, o pai da Marcela e os tios dela -- Jessica olhou para a foto em sua mão. Quanto mais ela olhava, mais curiosa ficava -- Vou perguntar para a Marcela, com certeza ela sabe.
Jessica encaminhou-se para o quarto decidida a descobrir quem era o homem da foto. Ficou feliz quando abriu a porta e viu que Marcela estava assistindo televisão.
-- Marcela, quem é a pessoa desta foto?
-- Deixe-me ver -- ela pegou a foto da mão de Jessica. Os olhos de Marcela fixaram-se na foto, e sua expressão tranquila imediatamente mudou para uma expressão sombria e preocupada -- Onde você achou essa foto?
-- Estava na sala de jantar, o porta-retratos caiu e se espatifou no chão.
Marcela olhou novamente para a foto.
-- Era um funcionário do meu bisavô -- olhou para o closet, pensativa -- Amor, pega uma caixa vermelha que está na primeira gaveta do closet.
Jessica pegou a caixa e entregou-a.
-- Aqui está.
Marcela revirou-a procurando por algo.
-- Estranho! -- disse, levantando a cabeça para fitar a esposa.
-- O que foi? -- Jessica estranhou.
-- Esta foto está guardada há anos nessa caixa. Como foi parar em um porta-retratos na sala?
CRÉDITOS:
https://www.facebook.com/vandinhacontos
Fim do capítulo
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line7
Em: 11/02/2021
Medo com esse retrado caindo aqui....kkkkk...espero que seja um espírito do bem ^^ será que a família Park tem algum segredo cabeluda? Acho á Marcela bem obsessiva, Jess coitada está das vez na parede.
Oiee amei o capítulo e até e um abração
Resposta do autor:
Olá
Também espero. Já temos vilões demais nessa história.
Marcela e o seu jeito mandão e carente.
Beijos, até.
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HelOliveira
Em: 10/02/2021
Eita esse quadro caindo é um mistério, e ainda mais foi parar como?
Coisas vão começar a acontecer...
Jessica não adianta a Marcela vai colar a Michelle em vc... difícil vai ser resistir..
Bjos
Resposta do autor:
Olá
Mistérios a desvendar. Quem será o homem da foto? O que ele tem a ver com a história?
Próximos capítulos.
Beijos, até.
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Marta Andrade dos Santos
Em: 10/02/2021
Mistério!
Resposta do autor:
Olá
Sim Marta, mistério. Qual será a relação desse homem da foto com a história?
É o que veremos nos próximos capítulos.
Beijos, até.
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Mille
Em: 10/02/2021
Oi Vandinha
A Jessica querendo ficar distante da Michele e a Marcela empurrando para cima. Força loira kkkkk
E esse quadro caindo será que tem fantasmas na casa ou gente curiosa de olho nas duas??
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá
Mistérios Mille. Quem será o homem da foto? E qual a relação dele com a história?
É o que veremos nos próximos capítulos.
Beijos, até.
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NovaAqui
Em: 10/02/2021
Mistério em torno do porta retrato. Como ele foi parar lá?
Quanto mais as duas querem se afastar mais juntas vão ficando
Abraços fraternos procês aí!
Resposta do autor:
Olá
Sim, mistério. Jessica ainda não parou para pensar a respeito. Nos próximos capítulos ela começará a observar melhor os acontecimentos ao seu redor.
Abraços fraternos.
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