Naquela semana haveria um evento na empresa. Algo que percebi não ser tão incomum, apesar de raro em outras localidades. O pessoal sempre gostava de comemorar o que quer que fosse. Era uma forma de aliviar a tensão do cotidiano e confraternizar. Aliás, cidade pequena, praticamente todo mundo se conhece. Embora eu tenha me tornado mais fechada ao longo dos anos, esses momentos me agradam e as pessoas ao meu redor geralmente se sentem cativadas por mim. Costumo dizer que uso do meu sorriso como forma de contagiar as pessoas, fui ensinada assim, a ser simpática e delicada com todos, por mais que em meu âmago, eu gritasse em querer ser totalmente eu mesma, que eu posso sim ser mais introvertida e bruta em determinados momentos e isso ser normal.

    No evento, não iriam apenas pessoas do ambiente corporativo, cada um poderia levar quem quisesse ao encontro, afinal, era aniversário do Diretor Geral. Então, como seria um pouco diferenciado dos que eu anteriormente havia presenciado, resolvi me arrumar um pouco mais. O meu estilo sempre foi de usar roupas sociais, então hoje eu decidi que estaria impecável. Assim o fiz, saí do trabalho direto para casa, consegui me arrumar e ir ao espaço reservado em tempo certo.

    Cá estou eu conversando com um grupo de mais quatro pessoas, sendo uma da minha área com seu acompanhante e outras duas que acabo de conhecer de distintos departamentos. A conversa se mantém tranquila e animada, já se foram alguns aperitivos, então eu já estava mais leve e tudo fluía. Já não me importava tanto em estar em um ambiente com tantas pessoas. Como forma de analisar o ambiente no qual estou inserida, passo o olhar na aglomeração formada de convidados e para a minha surpresa, lá está ela conversando com um casal o qual curiosamente eu já conhecia. Qual a relação dela com os meus superiores?!

    Acredito que fiquei hipnotizada por alguns segundos, talvez breves minutos, já não mais presto tanta atenção ao que está sendo dito. Ela está simplesmente deslumbrante! Percebo que ela sentiu o meu olhar e redirecionou o dela ao meu. Eu não poderia deixar transparecer que estava encantada, nem a ela nem a ninguém, nem a mim mesma eu queria admitir. Faço um ligeiro aceno com a cabeça em um meio sorriso e tento retornar a minha atenção ao grupo. Mas meus pensamentos não estavam conseguindo acompanhar e eu só me perguntava se ela se lembrava do desastroso encontro naquele corredor. Não mais aguentando de ansiedade, os meus olhos me traem novamente e dessa vez quem está me olhando sorrateiramente é ela. Reparo quando pede licença ao casal e começa a caminhar em minha direção para o desespero do meu coração.

Fim do capítulo