Capítulo IX – Difícil não me sabotar
Mafê - dias atuais – Pode ler ao som de Caught in the Middle
Tenho certeza absoluta que Carol havia dormido comigo, pois sentia seu cheiro nos lençóis, o perfume de seu cabelo permeava no travesseiro ao meu lado, no meu braço, em mim, eu tinha um pedaço de Carol em mim. Me sentia um pouco zonza, pelo efeito do whiskey e do sossega leão que, com certeza Danielle aplicou em mim. Mas, por outro lado, meu pé estava um pouco menos inchado e eu não sentia dor. Jane me ajudou a passar pela tortura da crioterapia e me entregou o celular, que foi quando vi a mensagem de Carol no celular e sorri confirmando respondendo sua mensagem.
“Quarteirão duplo para mim, fritas grandes, nuggets e coquinha para ficar no grau”
Meu quarto ainda tinha o perfume de Carol, meu corpo gritava e queimava por ela. E aquilo estava me deixando completamente louca. Precisava entender o que estava sentindo, mas como entender sem forçar? Sem ativar tantos gatilhos? Nos últimos meses, custei conseguir sair, não conseguia permitir que me tocassem, mas Carol me deixava em incêndios, com dores de tanta tentação, sem ao menos estar ali.
Mandei uma foto do meu pé para o grupo dos meninos, marquei Fabinho e escrevi “Vai ter volta, otário”
Meu celular vibrou de novo e era uma foto de Júlia no hotel. Só de toalha com a legenda. “Uma horinha comigo vai machucar mais o pé?”
Balancei a cabeça em negativo e respondi mordendo o lábio, vendo que aquele momento era o que eu precisava para aliviar toda a tensão que Carol despejava em mim, soltar um pouco do tesão acumulado e entender o que estava passando pela minha cabeça que não deixava Carol de lado. Deveria ser abstinência de outras mulheres, não era possível.
“Onde você está?”
“A localização vai chegar aí. Quarto 705”
Disquei para o número de um segurança da empresa, falei que precisava ver uma cliente e que ele precisava me buscar com urgência. Mas não me aguentei, era como se precisasse justificar porque demoraria, mesmo que não quisesse demorar. Resolvi que enviaria uma mensagem para Carol.
“Estou indo fazer um atendimento, chego antes de você”
“Se chegar depois perde os nuggets”
Bento tocou o interfone meia hora depois comigo já pronta para sair. Jane permitiu que ele subisse e comentou que havia me providenciado muletas para facilitar na locomoção e comentou que eu estava diferente, ao questionar, jane disse.
- Não sei explicar, parece que a senhora está brilhando, mas também está em uma névoa. Parece confusa mas feliz. Eu sinto como se a senhora estivesse no meio de um furacão, tendo um monte de confusão em volta mas, se olhar para cima, vai ver o céu limpo como a esperança.
- Ih Jane, você e suas sensações místicas. Pelo amor de Deus, chega de furacão na minha vida.
- Para sair a senhora tem que enfrentar o furacão e, mesmo que minha opinião não seja tão válida, a senhora trocar as mulheres na cama só está trocando o esparadrapo desse machucado - Cheguei perto dela e beijei seus cabelos, repetindo pela milésima vez que ela não precisava me chamar de senhora, eu repetia isso para todos os funcionários da casa, mas só uma ou duas conseguiam fazer isso.
No carro, Bento perguntou se eu demoraria, para que ele pudesse almoçar ou me esperar. Falei que não passaria de uma hora e que depois ele poderia almoçar lá na empresa, pois passaria lá de surpresa para dar uma olhada no movimento.
- Faz bem, dona Fernanda. O gado engorda no olho do dono - ele sorriu enquanto parava na garagem do hotel. - bom atendimento para a senhora - me entregou minha mochila de emergências e eu entrei no hotel. Me identifiquei e fui guiada pelo concierge ao andar correto. Um hotel de luxo, próximo da Barra da Tijuca, com vista para o mar e, saindo pelo carpete do corredor, o jovem, que não aparentava mais de dezenove anos me fintou e apontou a porta branca, dupla e enorme à minha frente. Lhe dei 50 reais de gorjeta e falei que nunca estive ali. Ele concordou sorrindo e eu bati à porta, que, prontamente fora aberta por Júlia, vestindo apenas um robe preto transparente que revelava sua nudez total.
- Para que tanta roupa, Fefê? - Julia sorriu e me puxou pela camisa para dentro do quarto. Guiada pelas muletas, me apoiei na cama e a empurrei, já soltando o robe e deixando completamente nua, para que eu pudesse cair por cima de seu corpo.
- Uma horinha - eu disse beijando-a e passando as mãos em seus seios que já estavam com os mamilos endurecidos. Ela gem*u quando apertei com força e mordi seu lábio.
-Trinta minutos é o suficiente para como eu estou - dobrei o joelho deixando o pé (e a maldita tala) para o lado de fora enquanto roçava minha coxa ainda vestida com calça jeans contra sua vagin*. Uma das mãos que deslizavam pela sua cintura foi guiada direto para seu clítoris. Era um ótimo jeito de manter minha calça limpa e ela, entretida. Seus gemidos eram altos, ela puxava meu cabelo e mordia minha orelha. A penetrei com dois dedos de maneira lenta, três. Quatro. Cinco vezes. E ela pedia mais. Usei três dedos e estoquei com força e velocidade até que Júlia cedeu, relaxando todos os músculos e sorrindo de olhos fechados. Eu girei, peguei minhas muletas e fui ajeitar minhas roupas. Peguei outra camisa na bolsa e abotoei. Júlia se enrolou nos lençóis e me observou.
- Está ocupada mesmo, falei uma hora brincando - eu sorri de canto. E a olhei pelo espelho.
- Eu não estava brincando, preciso trabalhar, Júlia - A cabeça saía de Carolina? Não. Beijar aquela menina e trans*r com ela ajudou? Não. A maldita consciência queria me tirar dali, estava começando a me sentir enjoada pelo perfume doce que estava grudado em mim. Observei Júlia, enrolada no lençol sentada na cama e me observando fugir como uma gatuna.
- Fernanda, você está me tratando igual puta, qual foi? - Cheguei perto da cama e a beijei com calma, fazendo carinho em seu rosto, imaginando que deveria estar com Carolina. Precisava de uma desculpa para sumir.
- Eu estou cheia de trabalho, eu comentei com você que nem conseguiria vir te ver e, mesmo com o pé doendo, não neguei te ver um pouco. Desculpa por ir embora assim - ela mudou a feição, já sorria e concordava.
- A gente se vê outro dia então - Julia se levantou, ainda enrolada no lençol e me deu um selinho enquanto abria a porta. Voltei à garagem, avistei Bento que, após eu entrar no carro, me olhou pelo retrovisor e perguntou.
- Direto para a empresa, dona Fernanda?
- Sim, Bento e, pelo amor de Deus, me chama só de Fernanda.
- É só o hábito - ele riu. E ligou o som. Eu liguei para Felipe plugando o fone no ouvido.
“Chora”
-Fiz merd*. Onde você está?
“Perto do teu prédio”
-Me encontra lá em meia hora
“A merd* tem nome?”
-Julia
“PORRA FERNANDA. Julia BH?”
-A própria. O que eu faço? Tava comendo a menina e pensando que ela não é metade da Carol
“Vinte minutos no teu escritório”
-Felipe, me mata
“Eu vou te salvar de você, sua escrota”
Vinte minutos depois, encontrei Felipe na porta da Clínica. O letreiro precisava de um retoque, preciso ver isso com a equipe se publicidade “Cañas - Odontologia” estava com o backlight sujo, talvez pela chuva. Mandei uma mensagem para a equipe de publicidade e olhei para Felipe.
- Nunca vou entender isso de você ter comprado cinco consultórios aqui em um leilão e depois ter comprado quase o prédio inteiro - ele sempre perguntava a mesma coisa quando chegava ali.
-Era de uma empresa de implantes que decretou falência. Pedi um empréstimo, juntei com todas as economias trabalhando naquele bar perto da faculdade e consegui comprar cinco salas por R$200.000. Aluguei quatro delas para que se pagassem e depois fui comprando as salas do andar com o dinheiro do investimento. Como era meu, a localização era cara, limitei meu nome e as regras. Dai ficou tudo do meu jeito mesmo - Felipe analisava alguma coisa dentro de sua própria cabeça enquanto andávamos em direção ao meu escritório. Cumprimentei as pessoas que pareciam surpresas em me ver ali e sentei em minha sala. - Fiz o MBA para aprender a administrar melhor e resolvi expandir. Agora vou para outras áreas mas eu já te falei isso.
- Estava ganhando tempo para pensar no que você vai fazer para desfazer o que fez.
- Felipe, ninguém sabe o que eu fiz, só você
- E sua consciência, que é uma merd* e quando você estiver bêbada, vai chorar pitangas pedindo perdão para a Carol. Eu te conheço. Manda uma mensagem para ela perguntando como está o dia.
- PARA QUE?
- Para saber se ela tem outras pessoas, ué.
- Mais tarde vamos conversar e eu pergunto isso. - Quando eu pensei que minha cabeça não pudesse se foder mais, meu celular tocou com um número que eu conhecia, bem até demais - Felipe, atende
- Que? Pode ser cliente, ta doida? - Eu tremia e sentia meu sangue sumir.
- Felipe, é a Isabella - ele soltou um NAAAAAAO e pegou o celular da minha mão trêmula colocando no viva voz.
- Ora ora, abriram o portão do inferno? - Felipe dizia me encarando, entregando o próprio celular com o número da Carol.
- Felipe, querido! Há quanto não nos falamos. Preciso falar com minha mulher.
- Você usou que droga, Isabella? Fernanda não é sua mulher- eu abaixei a cabeça, tudo rodava, quando acabaria? Quando ela sumiria?
- De acordo com a lei ela é sim. Preciso falar com ela – Eu chorava de cabeça baixa e sentia seu olhar sob meus ombros.
- Só sob meu cadáver. Nosso advogado entrará em contato - E desligou o telefone me olhando atônito - Fernanda, o que essa doida está dizendo? – Eu soluçava, coloquei as mãos no rosto e abaixei a cabeça, sem parar de chorar. Felipe parecia ligar para nossos advogados mas eles não saberiam dizer nada. Só Jenyffer, uma das minhas melhores amigas, tinha ciência do que Isabella havia falado. Respirei fundo me recompondo e firmei o que podia de sentimentos.
- Lipe, liga para a Jeny. Chama todo mundo. Pede para a secretaria marcar reunião com o conselho administrativo – olhei o relógio que marcava 13h e voltei olhar para ele – às 17h. Vai demorar. E eu vou tomar um banho porque esse perfume está me deixando enjoada - Apertei o ramal para falar com a secretária e instruí que precisava de dois bancos no banheiros pois precisava de um banho com urgência. Meu escritório era uma extensão de casa, tinha um armário com roupas, jalecos e algumas coisas extras para qualquer urgência, além de um banheiro caso acontecesse algo como, por exemplo, ficar alagada no Rio de Janeiro e chegar ensopada na empresa.
Felipe falava ao telefone com as pessoas, primeiro, o ouvi falando com Jenyffer e confirmando que precisava dela com urgência, explicando a situação por alto. Em seguida, me olhou questionando se precisava de ajuda para o banho, o qual neguei com a cabeça e agradeci mentalmente por ele estar ali, ainda que por motivos completamente alheios à situação.
O banheiro, completamente branco com detalhes cinzas escandinavos, tinha sido projetado por Carol, que usou um nome masculino e mandava alguém da empresa vir aqui como se fosse o arquiteto e designer todas as mil vezes que Isabella solicitava alguma alteração para o seu próprio escritório que, agora havia sido convertido em uma área de descanso para os dentistas e funcionários que precisavam desopilar por alguns momentos. Inclusive, no escritório dela, pedi que instalassem uma bicama em um canto com proteção acústica, tendo em vista que, as vezes, virávamos noites em turnos com alguns casos que apareciam em cima da hora.
Assim que colocaram o banco no local para meu pé, sentei-me e comecei a tirar aquele cheiro doce do perfume da J-lo que Júlia usava. Sei qual era pois lhe dei um de aniversário no ano anterior. Mas agora ele realmente embrulhava o estômago, talvez fosse fome, talvez fosse o soco invisível que senti ao ouvir a voz de Isabella ao telefone. Não saberia explicar naquele momento. Não demorei, pois tinha medo de molhar a tala e, mesmo que fosse de velcro, tinha mais medo ainda de fazer alguma besteira e ter que passar mais tempo daquele jeito.
Me vesti usando calça de estilo terninho, porque saias eram impensáveis. Soltei os velcros da tala e, com um cuidado cirúrgico, passei uma das pernas pelo buraco. Coloquei a tala novamente no local como se fosse um crime estar fazendo aquilo. Vesti uma camisa branca simples e um blazer preto. Sequei os cabelos com uma velocidade assustadora e voltei para a sala. Sem perceber, já estava conversando com Carol por mensagens. Ela contava sobre alguns terrenos, sobre as plantas que precisava e algumas coisas sobre fundação de obras que eu não entendia, mas ria mentalmente e concordava com tudo o que ela mandava, parecendo empolgada demais. Por segundos, minha mente se esvaiu dos pensamentos de Isabella reaparecendo em minha vida.
Minha psiquiatra atendeu no terceiro toque, falou algo sobre exercícios e respiração, sobre racionalizar e eu ainda me questionava porque estava ligando para ela. Ao final, perguntou se eu queria marcar uma consulta para que ela pudesse ver com minha psicóloga a necessidade de remédios a mais para acalmar minha mente.
Felipe entrou na sala avisando que todos estavam a caminho e pontuou.
- Que merd* você fez com a Isabella para ela dizer que ainda é sua mulher? - Ele sentou à minha frente e estendeu uma garrafa de água fechada para mim - Explica sem enrolar.
- Ela converteu os papéis de união estável em certidão de casamento usando algum esquema do cartório. Não sei como, eu só assinei. Ela me prometeu uma festa de casamento como eu queria, aliás, ela me prometeu muitas coisas.
- Só cumpriu o chifre e sugar o que é seu. Olha, Mafê, essa história nunca me desceu, Isabella nunca foi boa para você e ninguém nunca entendeu você aparecer namorando com ela do nada depois de uma choppada. Eu sei que amor de sapatão se muda em três meses, mas você parou de falar com todo mundo por mais de dois anos. No máximo era seca com mensagens. O que aconteceu, afinal?
- Lipe, é tudo muito mais complicado do que deveria ser. Você lembra que naquela época eu estava maluca pela Carol, eu catava tempo, matava aula, montei meu horário para bater com o dela porque eu queria conquistar aquela mulher de qualquer jeito - Felipe riu e revirou os olhos.
- Pelo amor de Deus, era só ter me perguntado que eu te falava que a Carol é apaixonada por você desde as festas juninas da escola do Bernardo. Aliás, ela mesma já contou a vez que você dançou com ela, mesmo sem saber a coreografia porque o par dela faltou. Isso deve ter uns vinte anos, Fernanda.
- E daí? Eu queria fazer direito, levei ela na choppada da própria turma e ia chamar ela para jantar no dia seguinte. Daí, no meio da festa, eu encontrei ela beijando uma menina e fiquei translocada. Puxei a primeira loira que vi e, pela infelicidade do destino, era Isabella. Nos beijamos, levei ela para trás da reitoria e trans*mos. No dia seguinte ela estava lá, no outro também, fazíamos algumas aulas juntas e eu estava com ódio da Carol. Quando a vi conversando com a menina dos beijos no restaurante universitário, pedi para Isabella namorar comigo no mesmo dia. E deu tudo tão errado, que demorou até para eu descobrir o que tinha acontecido na festa de verdade. Eu estava cega de raiva e fiquei mais ainda porque aquilo me consumia.
- Foi quando você foi conversar com a Carol depois de alguns meses, certo? Lembro que depois da formatura você apareceu noiva da doida da Isabella e aquilo não era nada sua cara. Sua mãe dizia que aquela garota era tenebrosa - Rimos com o comentário, sinal de mãe é tudo.
- Foi. E depois daquele dia eu só falei com a Carol anteontem, na festa do Bê. E fui nocauteada por aquela mulher. Como que ela pode ser tão maravilhosa depois de tantos anos? Ela continua com o mesmo ar de adolescente, a mesma intensidade, mas ao mesmo tempo é madura demais, você precisa ver como conversamos.
- E você continua apaixonada por ela.
- E planejei levar ela para jantar e conversar sobre isso. Preciso falar com ela inclusive da Júlia e da Carmem - Felipe arregalou os olhos e deixou a água escorrer pelo canto da boca.
- Carmem, tia Carmem?
- A própria, me coagiu a ch*par ela. Só sentou na minha cara - Felipe engasgou e começou a gargalhar.
- Caralh*, essa você pode omitir. Por favor, omite. Carmem é completamente doida. Ela já deu para metade do nosso grupo. Aquilo ali é um demônio.
- Mas mesmo assim, a Júlia não dá. Ela brota lá em casa e daria merd*, porque ela sempre aparece seminua. Jane odeia ela porque uma vez eu não sabia que ela estava indo lá para casa e, quando a Jane abriu a porta, ela abriu o robe e você imagina o grito que Jane deu - Fechei os olhos lembrando da cena e comecei a rir - Tadinha da Jane.
- Mas qual é a dessa menina? E coitada da Jane mesmo, imagino que tenha invocado todos os palavrões do mundo.
- Um dia pede para ela te contar. Hoje ela estava reorganizando minha agenda para ter mais tempo livre e cuidar mais de mim, talvez voltar a treinar, não sei. E sobre a Júlia, não passa de sex*. A gente transou na época do MBA, depois trans*mos porque ela estava em um evento aqui, enfim… é a foda certa.
- E você não quer mais suas fodas certas.
- Se eu continuar pensando na Carolina desse jeito, a única foda certa vai ser ela pelo resto da vida.
- E está esperando o quê? Mais vinte anos para falar para a garota que você é apaixonada desde a adolescência que ficou de quatro por ela na hora que a viu? Pelo amor de Deus, Fernanda, você não tem dez anos mais, nem ela. Você vai fazer trinta anos.
- Eu só preciso resolver Isabella antes. Não dá para jogar todas essas merd*s na Carol de uma vez.
- Você precisa perguntar e ela quer estar nessa merd* com você, não ficar nesse jogo de proteção sem saber se ela quer ser protegida.
- Felipe, você fica insuportável quando tem razão.
Fim do capítulo
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