Capítulo X – Desabafos e panos limpos
- Tem sido complicado.
- E você está pulando de cama em cama, isso não vai te sustentar por muito tempo. Tem que colocar a cabeça no lugar, cara. A única vez que saiu nesse um ano, que não seja para pegar mulher que conheceu em aplicativo ou para caçar mulher em balada, foi para ir no aniversário do seu primo e, de quebra, ainda trouxe o amor adolescente junto.
- Eu não era adolescente. E eu sei, mas ainda é foda confiar em alguém para ceder assim. Carol é perfeita, tem tudo, mas Isabella me levou quatro milhões que eram para dar de aposentadoria para os meus avós. Ela me roubou enquanto fazia juras de amor na cama e desviava dinheiro dos consultórios - As lágrimas vinham sem parar e Dani sabia que tinha aberto um buraco e agora não daria para estancar - Porr*, amiga, eu achei que ia casar com ela. Ela roubou dinheiro até na compra das alianças e eu nem tinha dinheiro direito. Estava juntando para montar as coisas. Ela armou tudo. Até meu cachorro aquela piranha levou. Como que eu vou ficar com a Carol do jeito que eu sempre quis quando aquela filha da puta entrou na minha vida, me tirou toda a liberdade, me roubou e fugiu?
Dani passava a mão no meu cabelo e me abraçava meio sentada, meio de lado.
- Você gosta da Carol desde que a gente se conhece, trazer ela aqui já é um passo enorme para você. Morar aqui, comprar os carros que sempre quis, fazer aquela maluquice de ter um barco, tudo isso faz parte de passos que você está dando, Mafê. Mas tenha calma com você mesma.
- Tem uma coisa que eu não contei nem para a psicóloga ainda, você quer ouvir? Acho que consigo falar em voz alta.
- Quer que eu pegue gin para ajudar? - Ela foi em direção ao bar que ficava no escritório e voltou com dois copos de whisky.
- Achei que tinha dito gin.
- Daria trabalho e a coragem dura dez segundos, conta. - Ela segurou com a mão livre.
- Isabella não me deixava sair sem ela saber onde eu estava. Para isso, contratou um motorista dizendo que era para preservar minhas mãos da tendinite. Um dia, Carol mandou mensagem falando que precisava falar comigo, que era urgente e eu fui sem avisar a ninguém. Peguei o carro e fui. Isabella me ligou duas vezes e eu estava tão feliz por ver Carol que nem ela conseguiu arruinar aquele dia. Quando cheguei em casa, achei que ela estava em POA ainda, cheguei feliz, me sentindo livre. Mas quando abri a porta ela estava sentada na sala. - Eu comecei a soluçar e Dani me segurava com força, para me incentivar a falar. Tomei mais um gole da bebida que queimava minha garganta, mas que dava coragem - Ela me bateu pela primeira vez naquele dia. Quebrou a chave do carro, me arrastou até a cozinha, me socou e quebrou meus dedos de uma das mãos com um batedor de carne e me trancou em casa por dois dias. Mandou um médico dela me ver, enfaixaram meus dedos e depois ela me abraçava chorando falando que a culpa era minha, que eu devia ter obedecido ela. Que eu só tinha ela no mundo. E por um tempo eu acreditei nisso. Você lembra que eu sumi. Tem mais coisas, mas um dia eu conto.
Danielle me olhava completamente atônita. Eu não conseguia mais falar, só chorar, compulsivamente, eu engasgava de tanto chorar e Dani sussurrava que tinha passado, que ia melhorar e que ela nunca mais ia voltar.
- Amiga - Eu disse entre soluços - Me desculpa
- Pelo que, meu anjo? A gente não sabe como sair dessas merd*s. Nunca foi sua culpa - Ela segurou meu rosto com as duas mãos - nunca foi - Concordei com a cabeça e ela me abraçou mais forte - A gente não tinha ideia de nada disso. A gente eu digo eu e nossas amigas. Bruna mataria ela se soubesse - Nós éramos um quarteto, desde o 5º ano do Ensino Fundamental. Parecia que nos completávamos. Dani era o cuidado, Bruna era o cuidado bruto, Jenyffer era a justiça e eu era a consciência, até não ser mais e me afastar delas.
- Eu pensei em me matar tantas vezes que nem sei. Tentei três, mas Isabella dizia que eu não podia morrer - Foi a última coisa que consegui soltar antes de ouvir a porta sendo aberta por Carol, que me olhou naquele estado e deixou um lanche do Mc Donald’s cair no chão. Há quanto tempo ela estava ali? Há quanto tempo eu estava desabafando com Danielle? Ela correu até onde eu estava sentada e segurou minha outra mão e me olhou com olhos sinceros.
- Pelo amor de Deus, o que houve para você estar nesse estado? - Ela segurou meu rosto e olhou para Dani como se a pergunta não tivesse sido feita para mim.
- Panos limpos e desabafos. Me ajuda a colocar ela na cama - Carol assentiu e as duas me ajudaram a deitar. Carol ligou o ar condicionado e foi trocar de roupa. Dani virou para mim e falou baixo.
- Você quer que eu conte para ela? Acho que você não precisa passar por isso duas vezes - Assenti com a cabeça e pedi que ela avisasse que qualquer coisa a mais, qualquer dúvida, Carol tinha que vir falar comigo. Quando ela apareceu no quarto, passou a mão em minha cabeça e beijou minha testa. Olhei em seus olhos e falei.
- Dani vai te contar tudo. Mas preciso que você a ouça e, com calma, a gente esclarece todas as suas dúvidas. Eu realmente preciso dormir agora - Ela concordou e me deu um beijo na bochecha. E eu apaguei.
Carol – Dias atuais
Eu e Danielle nos encaminhamos ao segundo andar do apartamento, onde Maria Fernanda fizera um espaço com piscina, churrasqueira, banheiro e suíte de hóspedes. Mesmo sem ter estado fisicamente ali, eu havia projetado cada canto daquele espaço de acordo com o que ela ia conversando e como eu imaginava que ela gostaria.
Danielle apontou para a borda da piscina, pegou algumas latas de cerveja e me estendeu uma.
- Não vai conseguir ouvir isso sóbria. - eu assenti e comecei a beber enquanto ela contava sobre o dia em que Mafê havia ido em minha casa. Sobre a agressão e aquela sessão de horror narrado durou aproximadamente quarenta minutos. Minha cabeça latej*v* em pensar que ela havia passado por algo do tipo e, pior, em silêncio.
-Mas como ela não falou para ninguém? - indaguei com os olhos cheios de lágrimas.
-Como todo relacionamento escroto, provavelmente ela foi manipulada a esse ponto. Você não conheceu a Isabella. Se ela mandasse Maria Fernanda quebrar uma garrafa na parede, ela quebraria. E, para nós, que éramos mais próximas, ela só parecia estar trabalhando muito. Coisa que ela faz normalmente - Dani tomou uma das últimas latas de cerveja e me olhou como se precisasse de mim para uma missão - Olha, Carol, a gente não se conhece direito, eu só sei de você o que a Fê falou algumas vezes, mas sei que você é uma boa pessoa. Se for para sacanear ela, some de uma vez e, se for para ficar, estou aqui para te dar um ombro porquê aguentar esse pepino é complicado e eu não vou te julgar.
- Ontem eu vi Mafê pela primeira vez depois de sei lá quanto tempo. Achei que a gente trans*ria e continuaria trans*ndo porque é bom e eu meio que sentia falta disso. Eu senti a falta dela esses anos todos como amiga e como o que eu não sei denominar que a gente tem. Preciso ficar aqui essa semana, já que prometi para ela que ajudaria com as coisas. Mas - coloquei a mão na cabeça apoiando o rosto - acho que se for para ser, a gente tem que ter calma. Maria Fernanda já chegou me emprestando um carro que custa mais que minhas economias inteiras e oferecendo um andar inteiro de um empreendimento praticamente de graça. E pior, eu sei que ela fez isso como forma de se compensar por tudo o que passou dependendo da Isabella.
- Cara, isso é tão ela que chega a ser assustador. A verdade é que essa semana pode ser boa para vocês conversarem e se conhecerem. - Assenti e fui descendo as escadas com Dani. - na verdade se conhecerem de novo. Vocês estão se cruzando desde que tinham quantos anos?
- Acho que eu tenho foto com Fernanda quando tinha seis anos, então é por aí - eu ri e abri a porta da sala. Dani me abraçou de saída.
- Acho que o destino está sendo bom com vocês.
-Eu espero que sim - e fechei a porta. Tomei um banho no quarto de hóspedes refletindo sobre tudo o que Dani havia contado. Maria Fernanda, tinha saído da minha casa e apanhado por isso. E talvez essa nem fosse a pior parte de tudo isso. Coloquei um pijama e abri a porta do quarto de Mafê, que dormia profundamente. Ajeitei sua perna para que ficasse para o alto e a apoiei em meu ombro. Ela, sonâmbula, murmurou.
- Achei que você iria embora depois de ouvir o que eu falei para Dani. Obrigada por ficar. - beijei o topo de sua cabeça e dormi, colocando o alarme para 7h, precisava estar na obra cedo. Antes disso, digitei uma mensagem à Maria Fernanda.
“Oi, quando você acordar, não vou estar com você. Calma que não foi um sonho, eu estou do seu lado, como sempre estive. Tenho que visitar uma obra agora cedo e deve me ocupar o dia. Topa Mc Donald’s como nos velhos tempos para jantar?”
Fim do capítulo
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