Léo chegou ao presídio e se encaminhou a capela, sentou no banco olhando em direção ao enorme crucifixo de madeira em cima da parede, não entendia muito bem de religião e sempre fugiu das aulas de catecismo, mas, resolveu fazer uma prece de coração, não a Jesus, mas, a Deus, aquela pai criador de todas as coisas, se posicionou e fechou as mãos em concha.

       "Querido Deus" - Pensou a frase e em seguida baixou os olhos com um pensamento.

       "Mas, nem tenho essa intimidade para chama-lo de querido, vou recomeçar, ai como sou desajeitada"

       "Deus, sei que não temos propriamente uma intimidade, que andei meio perdida no caminho sem saber como chegar até o senhor, mas, é que tem tantas possibilidades de religião, onde o senhor está?, em todas?, em nenhuma?, quem está certo?, o padre católico, o pastor evangélico?, o dirigente espírita?, o pai de santo?, o bruxo?, sei que tudo isso tem o dedo humano portanto todas tem suas falhas, mas, o que queria mesmo saber era...como posso te encontrar?, dizem que dentro de mim, mas, dentro de mim não sei de certo se tem algo que possa te prestar, talvez tenha um carinho pelos seres humanos, por alguns mais do que de outros, o senhor sabe?, mas, a verdade é que gostaria de fazer tudo diferente, seguir por outro caminho e não sei como mudar, Não sei o que fiz da minha vida, mas, sei que é uma carga tão grande que não consiga suportar sozinha, então, como dizem que Deus suporta, estou te entregando e esperando que seja um instrumento de mudança em minha vida. Só peço que me indique um caminho e torne as coisas mais fáceis para mim, sou fraca e não sei lidar com tantas pedras assim".

       Após finalizar a prece Léo seguiu com o coração apreensivo e aliviado, queria de fato mudar, na mesma semana foi transferida ao antigo presídio, onde pediu para trabalhar na biblioteca, com muito cuidado separou todos os livros, e passou a organizar por temas, teve muito trabalho e nenhuma ajuda, e sua rotina passou a ser a mesma, acordava, tomava café e um pouco de sol e seguia a biblioteca, passando a limpar e organizar tudo, estava feliz, embora casada, tinha avisado a quadrilha que não queria traficar e como eles queria o lucro apenas para si, colocaram olheiros para ver se ela não estava organizando nenhum tipo de golpe, mas, logo perceberam que o que ela queria mesmo era mudar de vida, e Léo se tornou assunto esquecido, os meses foram passando, Léo já tinha lido tudo que havia sobre o Kadercismo e tinha adotado a doutrina como uma filosofia de vida, e quem chegava claramente percebia sua mudança. Estava sentada em uma mesinha lendo "Violetas na janela" quando viu que uma novata se aproximou.

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- Oi Léo, posso perguntar o que está lendo?.

- Claro, esse livro chama "Violetas na janela", conta a história de uma moça que desencarnou com 19 anos, a Patrícia, ela era sobrinha da médium e morreu de aneurisma cerebral, conta da adaptação dela como espírito...

- Você acredita em reencarnação?.

- Sim, como é seu nome mesmo?, desculpa perguntar eu esqueci...

- É Ricarda, mas, pode me chamar de Ric.

- Sabe Ric, eu nunca me fixei em nenhuma religião e muito mesmo uma doutrina, mas, acredito mesmo que esse seja o meu caminho, se tem algo que me faça acreditar é essa certeza que me apego que todos temos uma segunda chance, as vezes em vida como é o meu caso, outras depois da morte, não importa, pois creio que somos imortais...

- Interessante Léo, nunca pensei nisso, eu posso pedir transferência para te ajudar aqui?.

- Claro, quero começar uma campanha para que mais pessoas leiam, não necessariamente livros espíritas, mas, porque a literatura salva, nesses meses eu aprendi muito lendo...

- Nossa, você leu tudo?.

- Não, de jeito nenhum, aliás, eu consegui pedir uns livros com a ajuda da administração da Civil, e ligamos para umas editoras, essa semana  vão chegar livros novos com umas estantes, hoje começo a pintas todas as prateleiras, uma de cada cor, vai ficar tudo ainda mais bonito, é bom que queira me ajudar Ric, precisava mesmo de uma ajuda.

- De nada, vai ser um prazer, viu?, eu admiro todo esse trabalho seu por aqui, mas, fiquei com vergonha de me aproximar.

       Léo sorriu e agradeceu por ter alguém para ajudar no seu processo.

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       Dona Gênova pediu licença para entrar e viu Rafaella terminando de se arrumar, o vestido floral em estilo trapézio pertencia a Vanessa, mas, caia direitinho em seu corpo.

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 - Mamys, obrigada por me dar as roupas da Vanessa, olha como fica perfeito.

- Vocês tem o mesmo corpo, fico feliz que que esteja usando com tanto carinho, com certeza minha filha...quer dizer minha filha número um vai ficar muito feliz.

- Olha, sou muito feliz aqui....me sinto realmente sua filha, mas, temos uma história que a senhora precisa recomeçar...

- Ai Rafinha, a Leonarda é complicada, eu fui tantas vezes com Inácio no presídio, ela sempre me trata tão mal, é sério, não quero ter meu coração de mãe novamente ferido...

- Entendo, mas, e seu eu levar a senhora, mamys o que ela mais gosta de comer na vida?.

- Bolo de nozes com brigadeiro...

- Vamos fazer, eu te levo...quanto é a visita?.

- Nas quintas...

- Pois quinta vamos lá domar a fera, vamos levar o bolo e se por acaso ela não quiser a gente come todinho, se der certo, semana que vem levaremos o papis.

- Pois eu aceito...filha, você ainda está triste com seus pais depois que lembrou de tudo?.

- Mamys, eu já os perdoei, deixei que fiquem com uma boa parte do pagamento do aluguel do meu apartamento, tenho o meu trabalho e estou aqui com vocês, não preciso mais de nada...

- Que bom filha, eu sei que é uma menina do bem, agradeço a Deus por ter colocado você no nosso caminho...

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       A batida na porta e a voz de Inácio interrompeu o diálogo.

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- As duas luluzinhas da casa podem abrir a porta?.

- Já vai marido, eita do homem curioso.

       Gênova riu e abriu a porta com um enorme sorriso

- O que foi homem?.

- Ora...a Dra. Virna está aqui e as duas fofocando...

      Rafaella viu e abraçou Inácio pelo pescoço, ficando na ponta dos pés.

- Papis estávamos conversando coisa de mulher, viu?, mas, eu também tenho assuntos só com você.

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      O senhor Inácio sorriu orgulhoso e saiu dizendo que avisaria a Virna que Rafaella estava quase pronta. A ruivinha colocou um batom clarinho e junto a Dona Gênova seguiu até a sala, sorrindo ao ver Virna toda arrumada, de calça jeans, blusa de seda azul ultramar e um delicado colar de cristais.

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- Boa noite meu amor, chegou cedo?.

- Consegui finalizar um caso e consegui sair antes... - Virna falou caminhando até Dona Gênova e Seu Inácio, após delicado beijo foi até a namorada e deu um selinho para dizer.

- Está linda princesa, vamos?.

- Vamos sim amor...Papis e Mamys estamos indo, tem certeza que não querem mesmo comer uma pizza conosco?.

- Não filha, não queremos atrapalhar...

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       Virna se adiantou e sorrindo disse.

- Que atrapalhar, formamos uma família, vão se arrumar que esperamos...

       Dona Inácia abriu um grande sorriso para dizer.

- Vamos homem, nossa filha e nora fazem questão da nossa presença, vamos se arrumar... - Depois se virou para Virna e Rafa para completar a fala - Nós não demoramos nada, fiquei ai no sofá namorando....

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       Rafaella puxou Virna até o sofá e deu um beijo apaixonado, a Delegada retribuiu o beijo, mas, depois se afastou para falar.

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- Meu bem, precisamos conversar, infelizmente tenho notícias não tão boas pra ti...como sabe a vítima foi identificada, enfim, a família saiu daquele estado de não saber onde está a filha para ter um corpo, puderam se despedir, mas...pela minha investigação, tudo indica que foi Karina que a matou para por no seu lugar, entende?.

- A gente já sabia que nada do que ela me contou é verdade, só não esperava por essa, como assim Karina assassina?, é assustador...

- Amor, os anos trabalhando na Polícia me fez acompanhar cada história macabra que essa é fichinha, depois conversamos, seus pais devem estar voltando

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       Dona Gênova e Seu Inácio seguiram até a sala arrumados e felizes, e a noite e pizza em família foi bem interessante. Virna sorriu e engolindo um pedaço de pizza comentou após se deliciar com a fatia.

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-  Esqueci de comentar, ontem um bebê de dias foi encontrado abandonado em uma praça, a mulher que o encontrou já entrou com o pedido para adoção, agora, adivinhe quem é essa mulher?.

- Não faço ideia amor...

- Sophia, ela estava correndo na praça e viu o bebezinho dentro de um balaio, ai segundo ela enrolou cuidadosamente e seguiu com a namorada e o bebê até a delegacia, agilizamos tudo para que ela ficasse como tutora enquanto correm os trâmites, ela está muito feliz.

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- Renée amor, vem ver o Renatinho....rápido.

- O que foi amor?.

- Linda, vê se ele está respirando direito, olha ele está puxando o ar, será que está respirando?.

- Meu bem, ele está fazendo forcinha, Renatinho vai é encher a fralda daqui a pouco, espera só para você ver...

       O menino abriu os olhos orientais fazendo forcinha para logo após encher a fraldinha, Sophia fez uma careta para em seguida comentar.

- Ai como pode uma criaturinha tão pequena fazer cocô com o fedor de gente grande, ai filho, que horror...sua mãe Renée vai te deixar limpinho e depois te dou um banho.

- Espertinha você amor hahahahaha...mas, tem nada não, vai ter muitos outros cocôs para você limpar, se prepara...

         Sophia sorriu feliz, estava cansada, mas, sentia pela primeira vez na vida que ali encontrara sua verdadeira família.

Fim do capítulo