Renée acordou com o telefone tocando, era Bia aos prantos avisando do falecimento de Cris, a linda cantora respirou e voltou para o quarto onde Sophia dormia abraçada a um travesseiro e completamente nua envolta entre os lençóis...

- amor?... - Falou o mais delicadamente possível e com um profundo pesar de ter que retirar a namorada do seu sono tão gostoso.

       Sophia espreguiçou, sentindo o corpo completamente relaxado, depois abriu um enorme sorriso e se aconchegou nas coxas da namorada.

- ai amor como é gostoso acordar e ter o seu colo, que delícia...

      Renée continuou calada, as mãos fazendo um delicado carinho nos cabelos da namorada, até que lentamente a fez sentar.

- olha, tenho uma notícia para te dar, preciso que seja forte... - Sophia levantou assustada, os olhos azuis brilhando intensamente em uma mistura de medo e apreensão.

- você quer terminar comigo, é isso?.

- que é isso linda, jamais, eu te amo, quero você ao meu lado o tanto de anos que Deus e os Orixás permitirem, sou feliz contigo, demais...não é isso!!.

- ai que alívio amor, por um instante pensei que não me quisesse mais.

- minha linda, preciso te dizer uma coisa séria e triste...infelizmente....a Cris se foi...

- Meu Deus, é sério isso??, como assim?...

- foi um aneurisma cerebral, a Bia acabou de ligar para avisar.

      Sophia sentiu uma mistura de sentimentos, passou um filme em sua cabeça e lamentou demais, queria que Cris tivesse tido tempo de se arrepender, de mudar, de tentar ser feliz...Em seguida, assou a mão na nuca suada perguntando:

- E ela disse quando será o velório, o enterro, essas coisas?.

- Sim, o velório já está acontecendo, agora o enterro vai ser as 11h, você quer ir?, eu te levo...

      Renée buscou a namorada para um abraço, acarinhou suas costas,  enquanto Sophia deixou que as lágrimas banhassem seu ombro.

- eu preciso, tenho um passado com ela, conheço pessoas ligadas a Cris, então, preciso estar presente mesmo que não goste dessa ideia.

- vou contigo meu amor, não se preocupe...

     Renée e Sophia se arrumaram, e chegaram ao velório rapidamente, de mãos dadas, cumprimentaram algumas pessoas e escutaram as falas de um padre, de um kardecista e de um pai de santo, todos a sua maneira e de acordo com sua crenças falaram sobre o perdão e explicaram que a vida não acaba nesse plano. Da mesma forma, todos os que estavam presente também rezaram a seu modo para que Cris conseguisse a paz que nunca encontrou em vida..

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NO MUNDO ESPIRITUAL

       Enquanto observava as pessoas ladeadas em seu enterro Cris em espírito com a ajuda de Vanessa era amparada enquanto mostrava a mais nova amiga todas suas ex namoradas que estavam presente.

- olha isso Vanessa, todas tristes com a minha partida, sempre as tratei tão mal, é estranho isso, o pior que não consigo me arrepender, não consigo...

- Sabe Cris, tudo tem um porque, mas, veja, o pai criador te deu inúmeras chances de mudar, olha quantas pessoas boas encontrou no seu caminho...em todos os momentos você foi amparada, sabe porque?, tinha uma pessoa boas que reza todos os dias por você e continua rezando.

- quem será?, nunca fui bacana com ninguém.

       Vanessa não respondeu, resolveu mudar o assunto, sabia que ainda não era o momento ideal de revelações, Cris anda precisava de um amadurecimento espiritual. E ainda tinha um longo caminho até isso acontecer.

- olha Cris, quero aproveitar e agradecer a ajuda que deu a Léo, tenha certeza que não foi pouca, você foi o início do que percebo ser o processo de mudança da minha irmã, isso não esquece. Agora vamos preciso te levar até a cidade espiritual.

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       Vanessa mal tinha terminado de falar sobre Léo quando olhou a irmã chegando, os olhos vermelhos de tanto chorar, Leonarda aproximou-se do caixão, e carinhosamente passou a mão no rosto de Cris.

- Meu amor, eu vou seguir seus conselhos, eu vou ser uma boa pessoa, vou mudar a minha vida e dai de onde estiver vai se orgulhar muito de mim, sou química, vou dar continuidade aos meus estudos, escreve ai linda, ainda vou ser uma professora universitária, e você vai me aplaudir de pé, minhas vitórias serão suas...

      Em seguida uma policial se aproximou dizendo que estava na hora de ir embora, antes Léo encostou os lábios nos de Cris e sem que ninguém percebesse cortou uma mexa do seu cabelo com um canivete, colocando dentro do bolso.

- Eu nunca vou esquecer de você Cris...nunca...

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        Cris não pode deixar de chorar com a sinceridade das palavras de Léo e por ter percebido que era de fato amada por ela.

- Eu...eu...não fazia ideia Vanessa...

- Se perdoe Cris...esvazie esse seu coração...vem...vamos embora, o ambiente não vai te fazer bem.

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       Rafaella seguia os dias amparada pelo casal de idosos, a cada dia se encantava mais com o carinho e cuidados que recebia, era feliz e criara verdadeiro laços de afeto e a recíproca era totalmente verdadeira, já tinha acordado que mesmo que a memória voltasse completamente continuaria a morar com o casal de idosos, afinal, seus pais apareceram uma única vez, bem no meio da semana e apenas para deixar o dinheiro de uma parte do aluguel do apartamento da filha, aproveitaram para ver como ela estava, percebendo que estava tudo certo foram embora aliviados, nunca haviam aceitado bem a filha que fugia totalmente das regras da igreja que congregavam.

      Em relação a memória de Rafa, tudo foi voltando aos poucos, foi como se tivesse ocorrido um click dentro do cérebro e tudo foi voltando, a primeira pessoa que lembrara com detalhes fora Sophia, assim como o relacionamento rápido que tiveram, depois chegaram as imagens dos amigos, da infância, da adolescência, assim como da faculdade, junto a isso lembrou de sua profissão e achou incrível que seus conhecimentos voltaram de imediato, inclusive o número da clínica e dos pacientes, e foi assim que de forma animada ligou para a sócia e avisou que voltaria na semana seguinte. Feliz, Rafaella ia retornando sua vida, só faltava lembrar das circunstâncias que conhecera Karina e dos pais. Estava descansando quando ouviu batidas na porta do quarto.

     - Rafa, tem visita para você...

      Olhou assustada.

 - Dra. Virna, aconteceu alguma coisa?, tem alguma novidade?...

- pode me chamar de Virna...Rafaella, desculpe te assustar, não vim aqui como Delegada, apenas eu...eu queria saber como estava, desculpe...

- que é isso, eu que me precipitei...quer sentar?.

- vamos tomar um sorvete, um suco, qualquer coisa?.

- O sorvete eu gosto...só um  minuto que vou prender os cabelos...

      Virna ficou conversando com o casal, as mãos para trás nos bolsos da calça jeans indicava que estava cheia de receios.

- estou pronta, vamos?.

        Rafaella deu um abraço no casal que considerava como uma espécie de pais adotivos. Virna sorriu e perguntou.

- Desculpe, como os senhores se chamam?.

- Inácio e Gênova. - Respondeu a mulher, prendendo os longos cabelos pretos.

- Não se preocupe que trago a mocinha cedo Dona Gênova.

       As duas saíram juntinhas, conversando amenidades e sentiram uma conexão profunda.

- Vejo que fez uma amizade muito bonita com a Dona Gênova e com Seu Inácio, não tem nada melhor do que ser bem acolhida em situações tão complicadas quanto a sua. Desculpe perguntar, continua sem memória - . Falou a delegada enquanto mexia nos cabelos loiros e cacheados, observando Rafaella com seus imensos olhos verdes.

- Sabe Virna, primeiro lembrei de Sophia, uma vizinha que tive um rolo, fui apaixonada...

- E continua...

- De jeito algum, Sophia é uma querida amiga, nos falamos sempre, e ela está bem casada...

- Que bom....

        Rafaella riu do jeito espontâneo da delegada que tratou de se explicar.

- Desculpa, estou dizendo que bom que superou já que ela está casada - Falou Virna sentindo todo o rosto corar. 

- Tudo bem, relaxa, eu entendi, estava apenas brincando com você. - Respondeu a ruiva piscando o olho para a Delegada que voltou a corar. Enquanto isso Ana Carolina tocava no ambiente.

- outro tempo começou pra mim agora...

Fim do capítulo