Capitulo 24
A Última Rosa -- Capítulo 24
Marcela ficou pensativa por longo tempo. Depois balançou a cabeça.
-- Acho arriscado fazer parceria com os produtores. Eu não confio neles, na primeira oportunidade que tiverem assinarão com outra empresa que pague um pouco melhor que nós.
-- Em uma parceria deve haver confiança de ambas as partes -- Jessica retrucou, um pouco indignada com a forma de pensar de Marcela -- Eles provavelmente devem estar pensando a mesma coisa da Parker.
-- Nós já discutimos sobre isso milhares de vezes -- reclamou Marcela -- A Michelle continuará a fazer o trabalho dela, sem se envolver nesse assunto -- com uma torcida do pulso, Marcela girou sua cadeira de rodas, de modo que pudesse encarar Michelle -- Amanhã você vai novamente com a Jessica, como combinamos -- dito isso Marcela saiu da sala, guiando a sua cadeira ferozmente por entre os móveis.
Michelle virou-se para encarar Jessica, surpresa e consternada.
-- Que pensamento antiquado para uma empresária tão bem sucedida.
-- Também não entendo a Marcela -- Jessica tomou um gole do vinho, degustou o líquido dourado e deixou-o escorrer pela garganta -- Você não mudou nada -- disse ela, mudando rapidamente de assunto -- Ainda tem esses olhos brilhantes e esse olhar de...
Michelle levantou as sobrancelhas curiosamente. Mas, Jessica se arrependeu do que disse e não terminou a frase.
-- Tome muito cuidado com a Marcela, ela é uma mulher instável, explosiva e que desenvolveu uma estranha fixação por mim. Existe algo nela muito frio e distante. Ela não se deixa conhecer completamente, nunca fala de si mesma. Mas, ao mesmo tempo, às vezes deixa transparecer um lado mais sensível, vulnerável e romântico, quase carente, quase doce. Ela é um mistério, até mesmo para mim.
Jessica se levantou e Michelle mais uma vez constatou como ela era bonita. Mesmo vestindo uma roupa casual, era linda demais, sorriu Michelle. Sacudiu a cabeça, afastando qualquer pensamento erótico.
-- Ela está sendo muito boa comigo -- disse a secretária, com sinceridade -- Não tenho o que reclamar.
-- Repito, às vezes ela deixa transparecer um lado mais sensível, vulnerável e romântico, quase carente, quase doce. Esteja sempre alerta, pois, se fizer algo que a desagrade, ela vai tentar fazer de sua vida um inferno -- havia total convicção em sua voz -- Bem, vou dormir -- disse Jessica -- Vá descansar, amanhã terá de levantar cedo. Boa noite!
A situação entre as duas era muito constrangedora. Michelle tinha vontade de tomá-la nos braços e beijá-la. Mas sabia que não devia.
-- Boa noite, Jesse.
Observando a perfumista se afastar, Michelle se perguntou se ela era feliz. De modo que ficou onde estava, olhando para ela por sobre a desordem da mesa de jantar. Não, ela não é feliz. Pelo menos tentava se convencer disso.
Enquanto caminhava em direção ao seu quarto, Michelle pensou em tudo o que aconteceu naquele dia, desde o minuto em que ela entrou no carro pela manhã. Jessica estava sendo tão gentil e delicada, fazendo tudo para ela ficar bem. Era exatamente esse tratamento que a deixava perdida. Estava em dúvida se Jessica amava Marcela, ela parecia disposta a tudo para que o casamento funcionasse.
Começava a suspeitar que sua ideia de uma vida perfeita com Jessica era boba e imatura. E em grande parte nada realista.
Ela, mais que ninguém, deveria saber que nossas vidas não seguem planos estabelecidos. Se fosse assim, não estaria com a vida tão enrolada.
Não poderia esperar que de uma hora para outra Jessica simplesmente se separasse de Marcela e caísse em seus braços. Ela precisará de tempo para aceitar tudo aquilo, aceitar que ainda a ama e que só será feliz ao lado dela. Ela teria de manter o coração frio e esperar. Esperar que Jessica se cure desse sentimento de culpa que a domina e a mantém presa a esposa.
Quando pensava nisso durante aquela noite, mais do que doer, ficava triste. Triste por elas, pela ironia do destino que as separou e as colocou nessa sinuca de bico.
Pela manhã, Michelle teve praticamente que correr para acompanhar Jessica enquanto atravessavam o pátio da casa e seguiam na direção do carro.
-- Hoje você dirige -- disse Jessica, para Michelle que estava de pé ao lado do carro.
Michelle olhou para o automóvel esporte vermelho-brilhante novo em folha e rapidamente decidiu que de forma alguma queria dirigir aquela perfeição pelo trânsito.
-- Eu não vou dirigir esse carro.
-- Porque não? -- perguntou Jessica, achando estranho -- Eu sei que você dirige muito bem.
-- Porque eu tenho medo, esse carro deve ter custado uma fortuna e...
-- Vamos logo -- ela deu de ombros e se acomodou no banco do carona -- Deixa de bobagens, é só um carro.
Mesmo contrariada, Michelle sentou no banco do motorista e depois de duas tentativas, conseguiu dar partida no motor. O som do carro começou a tocar assim que o motor foi acionado! Nirvana tocava um rock pesado.
-- Essa música não combina com você. Está tentando me convencer de que não é romântica -- comentou Michelle.
Jessica olhou para ela com um humor irônico.
-- Eu também tenho música romântica no porta-luvas.
-- Interessante. Não a imaginava como uma garota que gosta de rock.
-- Só porque a presenteava todos os dias com uma rosa? Os rockeiros também amam e são românticos -- Jessica estendeu o braço e desligou o som -- Você precisa virar à esquerda logo que passar pelo posto -- disse ela, enquanto se aproximavam de um cruzamento movimentado.
Jessica sentiu-se estranha e para disfarçar, começou a folhear alguns papéis. Desejou que não precisassem ir juntas para a empresa. Precisava trabalhar com ela e era melhor ter o mínimo de conversas pessoais e manter um relacionamento frio e profissional. O estranho era que descobrira que isso estava cada vez mais difícil, Michelle era alguém com quem era fácil conversar. Mas ela tinha que ser cuidadosa, pensou de repente, não podia se abrir e revelar seus sentimentos mais íntimos.
Depois de alguns momentos, sentiu os olhos dela sobre si novamente. Por que sentia que Michelle a observava com mais atenção do que o habitual? Jessica olhou para ela interrogativamente.
-- Desculpa, há algo errado?
Michelle balançou a cabeça.
-- Só percebi que você fez uma tatuagem na nuca. É uma samambaia, não é mesmo? O que significa?
-- Significa recomeço. Samambaias são conhecidas por crescerem até mesmo nos ambientes mais difíceis e com pouca água. Fiz assim que cheguei em Hills.
Com uma clareza surpreendente, Michelle entendeu e aceitou a resposta como um tapa na cara. Agora não tinha dúvidas de que Jessica viajou para Hills decidida a esquecê-la para sempre. A única dúvida era se ela havia conseguido.
-- Samambaias não são as minhas preferidas, mas representavam o meu momento -- disse Jessica, sorrindo.
-- Será que agora não é o momento de você tatuar uma rosa? -- Michelle sorriu e voltou a olhar para a estrada.
-- Não vejo o porquê. A rosa simboliza a perfeição, o amor, o coração, a paixão, a alma, o romantismo, a pureza, a beleza, a sensualidade. Tudo o que ficou no passado.
Michelle não poderia culpá-la por isso, mas o comentário provocou um desconforto tão grande entre elas, que pelo resto do trajeto se mantiveram em silêncio.
Jessica a direcionou até a avenida e algum tempo depois elas pararam diante dos portões da empresa. Um segurança levantou a barreira e deixou-as entrar.
-- Pode deixar o carro em frente a empresa. Pretendo sair daqui a uma hora.
-- Sim, claro -- Michelle ficou olhando-a como se estivesse hipnotizada.
Jessica abriu a porta da frente e desceu do carro.
-- Eu vou direto para o laboratório, nos encontramos daqui a uma hora no meu escritório. Pode ser?
-- Sim -- Michelle concordou -- Algo importante?
-- Mais ou menos, depois eu te explico. Até mais.
Jessica saiu apressada. Michelle percebeu que uma jovem mulher que caminhava em direção ao prédio lançou-a um olhar de admiração, Jessica disse algo a ela e depois segurou a porta para que entrasse na sua frente no edifício. Ela a olhava como se fosse desmaiar. Não era de se admirar, porque Jessica era realmente linda de morrer, pensou Michelle de maneira sonhadora. Tudo nela era sexy, desde a maneira como se vestia.
Percebendo que estava sentada lá olhando para ela, Michelle deu uma sacudidela mental e, saindo de seu torpor, pegou sua bolsa, abriu a porta do carro e andou em direção a entrada principal.
A balconista sorriu assim que viu o rapaz entrar na loja.
-- Bom dia senhor. Em que posso ajudá-lo?
Ele olhou ao redor da loja vazia, depois, de volta para ela.
-- Gostaria apenas de uma informação. Pode ser?
-- Claro, se estiver ao meu alcance.
-- Dias atrás uma moça fez uma compra com cartão de crédito aqui em sua loja. Ela é uma amiga muito querida que perdi o contato. Como é uma cidade pequena, pensei que talvez você lembrasse dela.
-- Como é o nome da moça?
-- Michelle Simas, ela é ruiva e tem os olhos castanhos claros. Eu tenho uma foto dela, olhe aqui -- ele mostrou a foto para a balconista que balançou a cabeça devagar.
-- Sinto muito, mas eu não me recordo dela. Muitos turistas compram em nossa loja, principalmente na época de verão.
-- Eu entendo -- o rapaz disse, frustrado -- Ela não deve estar aqui fazendo turismo. Acredito que tenha vindo para morar em Hills e deve estar trabalhando.
A moça pensou um pouco antes de falar.
-- As pessoas que moram em Hills geralmente trabalham na empresa de cosméticos Parker, nas lojas do centro da cidade ou nas propriedades de cultivo de rosas.
-- Tudo bem, obrigado.
Virando-se, o rapaz saiu da loja resmungando irritado.
-- Droga, encontrar a Maya será tão difícil quanto achar uma agulha num palheiro.
Uma hora depois, Michelle foi até a sala de Jessica, como combinado.
-- Estou indo até a fazenda de um dos fornecedores.
-- A representante das Lojas Fergon está agendada para às dez. Quando ela chegar, devo pedir que a aguarde no laboratório? -- perguntou Michelle.
-- Não, porque você não estará aqui. Vou levá-la comigo.
Michelle ficou surpresa.
-- Mas tenho que continuar a analisar os contratos para a dona Marcela, e...
-- Vamos lá, estamos mais do que atrasadas. Deixe isso para depois, o que vamos fazer é muito mais importante -- Jessica pegou uma pasta com documentos e caminhou até a porta.
Relutante, Michelle a seguiu.
Novamente estaria com Jessica em um lugar que não era a empresa ou a mansão. Ela precisaria redobrar a atenção sobre si mesma.
Novamente o trajeto foi feito em silêncio. Jessica parecia concentrada em seus documentos e não tinha dito uma palavra sequer desde que saíram da empresa. Michelle não suportou aquela situação angustiante.
-- Impressão minha ou está evitando falar comigo?
Para responder, Jessica precisaria mentir ou revelar demais, de modo que preferiu mentir. Deu uma olhadela para fora depois, olhou para Michelle.
-- Se não quisesse falar com você, não seria mais fácil não trazê-la?
Michelle pensou um pouco.
-- É, você tem razão -- Michelle decidiu não insistir no assunto -- Pode me contar o motivo da visita?
-- Sim -- Jessica fez suspense -- tãn tãn tãn tããããn...
-- Fala logo, Jesse -- Michelle pediu, sorrindo -- Sua bobinha!
-- Vou financiar a destilaria -- ela disse muito orgulhosa, muito cheia de si.
Michelle levantou uma sobrancelha, preocupada.
-- Mesmo contra a vontade da Marcela?
Jessica, porém, estava decidida:
-- Sim, mesmo contra a vontade da Marcela -- ela fez uma pausa para ajeitar os papéis dentro da pasta.
-- Como vai fazer para ela aprovar o investimento? Você é a presidente, mas mesmo assim vai precisar do aval do setor financeiro.
Jessica parou o carro em frente a um enorme galpão, desligou o motor e virou-se no banco.
-- Não vou precisar da assinatura dela -- Jessica esfregava as mãos como se estivesse fazendo algo de errado e perigoso -- Vou usar o meu próprio dinheiro.
Michelle sorriu ligeiramente admirada pela astúcia dela, depois a contemplou por um segundo.
-- Não sei se você está sendo corajosa ou louca. De onde tirou essa força repentina?
Jessica gostaria de poder dizer a verdade. Dizer que ela era o motivo de sua força e de sua coragem. Dizer que com ela ao seu lado enfrentaria Marcela e o mundo se fosse preciso. Mas, não podia. Estava presa a Marcela pelo resto de sua vida, esse era o seu destino.
-- Não foi de repente, venho pensando nisso a muito tempo. Porém, não sou muito boa em cálculos, orçamentos, planilhas, isso é para quem entende -- a linha da boca se curvou num sorriso -- E eu sei que você é muito boa nisso.
Michelle inclinou a cabeça na direção dela.
-- Isso está me cheirando a motim e você está me convidando para participar. Saiba que sou totalmente fiel a minha chefe.
Jessica deu uma gargalhada.
-- Não, não é motim, muito menos estou tramando pelas costas dela. Apenas acho que chegou o momento de sair da sombra da esposa super protetora e ter algo somente meu.
-- Acho isso louvável -- comentou feliz -- Está pensando em ter o seu próprio laboratório. É isso? -- Michelle perguntou, entusiasmada.
Jessica assentiu, abrindo a porta do carro.
-- Agora vamos, quero te mostrar como é feita a colheita das flores que dão origem aos perfumes da Parker.
Já passava das onze horas da manhã quando Jessica e Michelle retornaram à empresa.
-- Vamos almoçar juntas? -- perguntou Michelle, com um sorriso animado.
Jessica esfregou a mão no rosto. Odiava toda aquela situação, odiava ter que ouvir a razão. Confusa. Era a única palavra que Jessica conseguia achar para explicar como se sentia ultimamente. Muito confusa, como se as coisas na sua vida tivessem sido tiradas do lugar.
-- Acho melhor não, Michelle -- disse ela, tentando ser firme -- Não quero criar problemas para você. Se a Marcela ficar sabendo que estamos passando muito tempo juntas, é bem capaz de te demitir.
-- Eu não me importo, Jesse. Tudo o que eu quero é ficar o maior tempo possível ao seu lado. Que se dane o que irá acontecer depois.
-- Mas eu me importo! -- de súbito, os olhos de Jessica se encheram de lágrimas. Ela segurou Michelle pelos ombros, puxou-a para si e a beijou.
Produção do óleo essencial das rosas
https://www.youtube.com/watch?v=01gCYQ-5nMY&ab_channel=DWBrasil
https://www.facebook.com/vandinhacontos
Fim do capítulo
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Manuella Gomes
Em: 04/02/2021
Achei que o beijo ainda ia demorar e que fosse a Michelle a tomar a iniciativa, apesar das duas estarem se segurando pra não avançarem o sinal. Gostei de mais um capítulo. Quero saber as consequências desse beijo.
Resposta do autor:
Olá Manuella.
Foi cedo né. Pois, aguarde e verá que não é tão facíl assim.
Beijão. Até.
brunafinzicontini
Em: 03/02/2021
Capítulo muito gostoso - exceto pela aparição do homem misterioso à caça de Maya. Seja ele quem for - alguém da polícia ou o antigo parceiro, representa problema para Michelle. Felizmente para ela, Jéssica já está ao seu lado e deverá poder ajudá-la. Pelo menos é o que espero.
O beijo inesperado fechou o capítulo com chave de ouro! Aconteceu bem antes do que eu imaginava. Será difícil continuar a representação de indiferentes diante da Marcela. Quem sabe Jéssica, cuidando agora de desenvolver um negócio próprio, consiga libertar-se da prisão em que se colocou por seu remorso com relação à esposa. Seja como for, a situação é muito delicada e seria preciso encontrar uma saída diplomática para esse "imbroglio".
Muito interessante o vídeo sobre a extração de óleo da rosa damascena da Bulgária. Parabéns, Vandinha! Sempre nos enriquecendo com "algo mais" além da história por si só encantadora.
Abraço,
Bruna
Resposta do autor:
Olá Bruna!
O beijo foi realmente inesperado. Até mesmo para elas.
Vamos ver o que vai rolar agora.
Beijos. Até.
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Mille
Em: 03/02/2021
Oi Vandinha
Quem será que esta a procura da Maya??? Problemas para a ruiva???
Jéssica deixando a emoção falar mais alto, e agora José!!!!
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá Mille
Pois é, quem você acha que é?
Será que vai ser tão facil assim entre Jessica e Michelle?
Sei não.
Beijos. Até.
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HelOliveira
Em: 03/02/2021
Eita que a Jesse não resistiu, e acaba vem na hora do beijo como assim rs.
Então tá chegando mais confusão, esse rapaz que está procurando a Michelle é o mesmo que meteu ela nessa confusão será, ou é alguém da polícia que já descobriu o nome falso.
Adorei o capítulo.
Resposta do autor:
HelOliveira.
Kkkk... sempre tem que acabar assim Hel. É pra criar expectativa.
Beijos. Até.
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NovaAqui
Em: 03/02/2021
Pode isso produção: um beijo?
Pode isso produção: um motim?
Será que esse cara que está procurando Maya é o antigo amigo? Será? Será?
Pepe! Você mereceu o puxão de orelhas. Agora fica no sapatinho, que a tia Van vai tirar você da geladeira!!!!! #ficaadica kkkkkkkk
Agora depois desse beijo tia Inês vai ter que aparecer para ver a sobrinha.
Abraços fraternos procês aí
Resposta do autor:
Olá NovaAqui.
Suas perguntas ficarão no ar, ao menos por enquanto.
O Pepe voltou, será que ele tomou jeito?
Abraços fraternos.
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